AS RAÍZES DO CANDOMBLÉ

Candomblé é uma religião derivada do animismo africano1 onde se cultuam os orixásvoduns ou nkisis, dependendo da nação.2 Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil.2 Também é possível encontrar o chamado povo do santo em outros países como UruguaiArgentina3 , Venezuela,ColômbiaPanamáMéxicoAlemanha4 , ItáliaPortugal e Espanha5 6 .
Cada nação africana tem, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas nomeavam um zelador de santotambém conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres.
A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus orixás/nkisis/voduns, sua cultura, e seus idiomas, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras,foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros.7
Diz Clarival do Prado Valladares em seu artigo "A Iconologia Africana no Brasil", na Revista Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p. 37, que o "surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do século XVIII". O autor considera difícil para "qualquer historiador descobrir documentos do período anterior diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos". O documento mais remoto, segundo ele, seria de autoria de dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo visitador de Minas Gerais em 1726, divulgado nos "Mandamentos ou Capítulos da visita".
Embora confinado originalmente à população de negros escravizados, inicialmente nas senzalas, quilombos e terreiros, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. Estabeleceu-se com seguidores de várias classes sociais e dezenas de milhares de templos. Em levantamentos recentes, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total) declararam o candomblé como sua religião.8 Na cidade de Salvador existem 2.230 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, (Universidade Federal da BahiaMapeamento dos Terreiros de Candomblé de Salvador.
Entretanto, na cultura brasileira as religiões não são vistas como mutuamente exclusivas, e muitas pessoas de outras crenças religiosas — até 70 milhões, de acordo com algumas organizações culturais Afro-Brasileiras — participam em rituais do candomblé, regularmente ou ocasionalmente.9 Orixás do candomblé, os rituais, e as festas são agora uma parte integrante da cultura e uma parte do folclore brasileiro.
O candomblé não deve ser confundido com umbandamacumba, e/ou omoloko, e outras religiões afro-brasileiras com similar origem; e com religiões afro-americanas similares em outros países do Novo Mundo, como ovodou haitiano, a santería cubana, e o obeah, em Trinidade e Tobago, os shangos (similar ao tchamba10 11 africano, xambá e ao xangô do nordeste do Brasil) o ourisha, de origem iorubá, os quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidos no Brasil.

Etimologia

O termo "candomblé" é uma junção do termo quimbundo candombe (dança com atabaques) com o termo iorubá ilé ou ilê (casa): significa, portanto, "casa da dança com atabaques".12

Nações

Barracão de candomblé em Pernambuco
Os negros escravizados no Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os iorubás, os ewe, os fon e os bantos. Como a religião se tornou semi-independente em regiões diferentes do país, entre grupos étnicos diferentes evoluíram diversas "divisões" ou "nações", que se distinguem entre si principalmente pelo conjunto de divindades veneradas, o atabaque (música) e a língua sagrada usada nos rituais.
A lista seguinte é uma classificação pouco rigorosa das principais nações e subnações, de suas regiões de origem, e de suas línguas sagradas:

Crenças

O candomblé é uma religião monoteísta,15 16 embora alguns defendam a ideia que são cultuados vários deuses, o deus único para a Nação Ketu17 é Olorum, para a Nação Bantu18 é Nzambi e para a Nação Jeje é Mawu, são nações independentes na prática diária e em virtude do sincretismo existente no Brasil a maioria dos participantes consideram como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica.
Os orixás/inquices/voduns recebem homenagens regulares, com oferendas de animaisvegetais e minerais, cânticos, danças e roupas especiais. Mesmo quando há na mitologia referência a uma divindade criadora, essa divindade tem muita importância no dia a dia dos membros do terreiro, mas não são cultuados em templo exclusivo, é louvado em todos os preceitos e muitas vezes é confundido com o Deus cristão.
O candomblé cultua, entre todas as nações, umas cinquenta das centenas deidades ainda cultuadas na África. Mas, na maioria dos terreiros das grandes cidades, são doze as mais cultuadas. O que acontece é que algumas divindades têm "qualidades" que podem ser cultuadas como um diferente orixá/inquice/vodun em um ou outro terreiro. Então, a lista de divindades das diferentes nações é grande, e muitos orixás do queto podem ser "identificados" com os voduns do jeje e inquices dos bantos em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são totalmente diferentes.
Adeptos do candomblé
orixás têm individuais personalidades, habilidades e preferências rituais, e são conectados ao fenômeno natural específico (um conceito não muito diferente do Kami do japonês xintoísmo). Toda pessoa é escolhida no nascimento por um ou vários "patronos" Orixás, que um babalorixá identificará. Alguns Orixás são "incorporados" por pessoas iniciadas durante o ritual do candomblé, outros Orixás não, apenas são cultuados em árvores pela coletividade. Alguns Orixás chamados Funfun (branco), que fizeram parte da criação do mundo, também não são incorporados.
Acreditam na vida após a morte, e que os espíritos dos babalorixás falecidos possam materializar-se em roupas específicas, são chamados de babá Egum ou Egungun e são cultuados em roças dirigidas só por homens noCulto aos Egungun, os espíritos das iyalorixás falecidas são cultuados coletivamente Iyami-Ajé nas sociedades secretas Gelede, ambos cultos são feitos em casas independentes das de candomblé que também se cultuam oseguns em casas separadas dos Orixás.
Acreditam que algumas crianças nascem com a predestinação de morrer cedo são os chamados abikus (nascidos para morrer) que podem ser de dois tipos, os que morrem logo ao nascer ou ainda criança e os que morrem antes dos pais em datas comemorativas, como aniversário, casamento, e outras.

Sincretismo

No tempo das senzalas, os negros, para poderem cultuar seus orixás, nkisis e voduns, usaram, como camuflagem, um altar com imagens de santos católicos e ,por baixo, os assentamentos escondidos. Segundo alguns pesquisadores, este sincretismo já havia começado na África, induzida pelos próprios missionários cristãos para facilitar a conversão.
Depois da libertação dos escravos, começaram a surgir as primeiras casas de candomblé, e é fato que o candomblé de séculos tenha incorporado muitos elementos do cristianismo. Imagens e crucifixos eram exibidos nos templos, orixás eram frequentemente identificados com santos católicos, algumas casas de candomblé também incorporam entidades de caboclos, que eram consideradas pagãs como os orixás.
Mesmo usando imagens e crucifixos, inspiravam perseguições por autoridades e pela Igreja Católica, que viam o candomblé como paganismo e bruxaria, muitos mesmo não sabendo o que era isso.
Nos últimos anos, tem aumentado um movimento em algumas casas de candomblé que rejeitam o sincretismo aos elementos cristãos e procuram recriar um candomblé "mais puro" baseado exclusivamente nos elementos africanos.22

Templos

Os templos de candomblé são chamados de casas, roças ou terreiros. As casas podem ser de linhagem matriarcal, patriarcal ou mista: Casas pequenas, que são independentes, possuídas e administradas pelo babalorixá ouiyalorixá dono da casa e pelo Orixá principal respectivamente. Em caso de falecimento do dono, a sucessão na maioria das vezes é feita por parentes consanguíneos, caso não tenha um sucessor interessado em continuar a casa é desativada. Não há nenhuma administração central.
Casas grandes, que são organizadas tem uma hierarquia rígida, não é de propriedade do sacerdote, nem toda casa grande é tradicional, é uma Sociedade civil ou beneficente.
A lei federal 6 292, de 15 de dezembro de 1975, protege os terreiros de candomblé no Brasil contra qualquer tipo de alteração de sua formação material ou imaterial. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN) e o Instituto Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) são os responsáveis pelo tombamento das casas.
A progressão na hierarquia é condicionada ao aprendizado e ao desempenho dos rituais longos da iniciação. Em caso de morte de uma ialorixá, a sucessora é escolhida, geralmente entre suas filhas, na maioria das vezes por meio de um jogo divinatório Opele-Ifa ou jogo de búzios. Entretanto, a sucessão pode ser disputada ou pode não encontrar um sucessor, e conduz frequentemente ao rachar ou ao fechamento da casa. Há somente três ou quatro casas em Brasil que viram seu 100° aniversário.

Hierarquia


No Brasil, existe uma divisão nos cultos: IfáEgungunOrixáVodun e Nkisi são separados por tipo de iniciação ao sacerdócio.
  • No culto de ifá, participam tanto homens quanto mulheres, sendo um culto patriarcal conduzido pelos babalaôs.
  • No culto aos egunguns, participam tanto homens quanto mulheres, sendo Culto patriarcal que lida diretamente com a ancestralidade, conduzidos pelos Ojé.
  • No candomblé queto, participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens (babalorixás) quanto por mulheres (ialorixás), entram em transe com orixá.
  • No candomblé jeje, participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens quanto por mulheres Vodunsis, entram em transe com vodun.
  • No candomblé banto, participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens quanto por mulheres iniciadas muzenzas: entram em transe com nkisi.

Sacerdócio

Nas religiões afro-brasileiras, o sacerdócio é dividido em:

Temas polêmicos

Preconceito

Manuel Raimundo Querino foi um abolicionista ferrenho, lutou contra as perseguições existentes aos praticantes das religiões afro-brasileiras que eram rotuladas de religiões bárbaras e pagãs.
Procópio de Ogum teve o seu reconhecimento por ter participado da legitimação da religião do candomblé, durante a perseguição às religiões afro-brasileiras promovida pelas autoridades do Estado Novo. Nesse período, o Ilê Ogunjá foi invadido pela polícia baiana, sob a supervisão do famoso delegado Pedrito Gordo. Procópio foi preso e espancado. O jornalista Antônio Monteiro foi uma das pessoas que ajudou na libertação de Procópio. Tal acontecimento - caso Pedrito - registrou o nome de Procópio na história popular baiana, chegando mesmo a fazer parte de uma letra de samba-de-roda:
Cquote1.svg"Não gosto de candomblé que é festa de feiticeiro quando a cabeça me dói serei um dos primeiros Procópio tava na sala esperando santo chegá quando chegou seu Pedrito Procópio passa pra cá Galinha tem força n’aza o galo no esporão Procópio no candomblé Pedrito é no facão." "Acabe com este santo Pedrito vem aí lá vem cantando ca ô cabieci"Cquote2.svg
— (Alvarenga, 1946, p. 200)
Cquote1.svgO Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa Ilê Iyá nassô: "Foram presos e colocados à disposição da polícia Cristóvão Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, crioulos livres; os escravos Rodolfo Araújo Sá Barreto, mulato; Melônio, crioulo, e as africanas Maria Tereza, Benedita, Silvana... que estavam no local chamado Engenho Velho, numa reunião que chamavam de "candomblé"".Cquote2.svg
—Pierre Verger.
Brasília - Ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial para Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com a Baiana Mãe de Santo Raida, naConferência Regional das Américas
intolerância e a perseguição às religiões afro-brasileiras continua até os dias atuais, a liberdade religiosa constante da Constituição Brasileira nem sempre é respeitada.
Abdias do Nascimento conta, em uma entrevista concedida ao Portal Afro:
Cquote1.svgOs cultos afro-brasileiros eram uma questão de polícia. Dava cadeia. Até hoje, nos museus da polícia do Rio de Janeiro ou da Bahia, podemos encontrar artefatos cultuais retidos. São peças que provavam a suposta delinquência ou anormalidade mental da comunidade negra. Na Bahia, o Instituto Nina Rodrigues mostra exatamente isso: que o negro era um camarada doente da cabeça por ter sua própria crença, seus próprios valores, sua liturgia e seu culto. Eles não podiam aceitar isso.Cquote2.svg

Homossexualidade

A homossexualidade está presente na maioria das religiões, porém oculta, indiscutivelmente abafada e muitas vezes negada pelos ditos ex-homossexuais.
No candomblé, a homossexualidade é amplamente aceita e discutida nos dias atuais, mas já teve um período que homens heterossexuais e homossexuais não podiam ser iniciados como rodantes (termo usado para pessoas que entram em transe), não era permitido em festas que um homem dançasse na roda de candomblé mesmo que estivesse em transe.
O mais famoso e revolucionário homossexual do candomblé foi sem dúvida Joãozinho da Goméia, que afrontou as matriarcas e ocupou seu espaço tornando-se conhecido internacionalmente. Tiveram muitos outros, mas nenhum conseguiu suplantá-lo em ousadia e popularidade.

Aborto

As religiões afro-brasileiras, que, na maioria, são religiões derivadas das religiões tribais africanas, são contra o aborto: o africano vê o filho como a continuação da própria vida, filho é o bem mais precioso que o homem africano possa ter. Em consequência disso, foram trazidos para o Brasil alguns conceitos.
  • No conceito social: amparam e orientam adolescentes e mulheres grávidas.
  • No conceito religiosoOxum é quem rege o processo de fecundidade, cuida do embrião, evita o aborto espontâneo, não aprova o aborto provocado, mantém a criança viva e sadia na barriga da mãe até o nascimento. Uma mulher quando não consegue engravidar, recorre à Oxum.
  • No conceito jurídico: só aprova a interrupção da gravidez, nos casos previstos em lei.
Mas, como em toda religião, quando acontece uma gravidez indesejada, muitas mulheres procuram soluções alternativas fora dos terreiros, como: chásremédios e até mesmo clínicas de aborto.

Sacrifício

Mudança de hábitos e costumes

As casas de candomblé são frequentadas e habitadas por um número variável de pessoas, pode variar de 20 a 300 pessoas dependendo do tamanho da casa e da ocasião ou do evento. Fora do período de festas na casa só ficam as pessoas residentes, mas nas obrigações e festas além dos residentes virão os outros filhos de santo da casa, os visitantes e convidados. Quanto maior o número de pessoas, maior será a preocupação com a higiene e alimentação. Os animais são abatidos pelo Axogum e limpos, as comidassão preparadas sempre sob a vigilância encarregada da cozinha e responsável pela qualidade dos alimentos tanto para os orixás como para as pessoas.
A maior preocupação nas casas de candomblé e das outras religiões afro-brasileiras sempre foi com as doenças infecciosas, principalmente a tuberculose e hepatite, por serem transmissíveis através de copos e talheres. Por esse motivo, cada filho da casa deve ter seu prato e caneca identificados, iyawos durante o período de recolhimento não usam talheres, só passam a usá-los depois da caída de quelê. A higiene com pratos, talheres e copos sempre foi constante. Nos tempos modernos, quando já existem os materiais descartáveis, ficou um pouco mais fácil de lidar com o problema.
Com o surgimento de novas doenças como a aids,24 muitos hábitos e costumes do candomblé tiveram que ser mudados.25 Na iniciação os Iyawos tinham suas cabeças raspadas e curas feitas por uma única navalha que a Iyalorixá recebia de sua mãe-de-santoquando da posse do cargo, isso passou a ser feito com mais cuidado, adotando-se navalhas individuais ou descartáveis.
Um dos maiores problemas enfrentados nas casas de candomblé tem sido com a dengue, principalmente nas regiões onde os focos do mosquito estão sendo combatidos. Os potes de abô (infusão de folhas sagradas) foram esvaziados para evitar possível proliferação do mosquito, os banhos são preparados com água e folhas frescas e usados imediatamente.
A presença de crianças durante as festas de candomblé tem sido foco de discussões nos terreiros da Bahia, após a proibição feita pela Federação Baiana do Culto Afro-Brasileiro.26

Referências

  1. Ir para cima L'animisme au Bénin
  2. ↑ Ir para:a b Religions - CandombléBBC. 15 de setembro de 2009. Página visitada em 7 de janeiro de 2014.
  3. Ir para cima Umbanda e candomblé enfrentam a tradição católica argentina e constroem terreiros na terra do tango
  4. Ir para cima Umbanda e candomblé na Europa
  5. Ir para cima Cadastro de terreiros, ilês, tendas, casas de culto de umbanda, candomblé e outros cultos afros situados em Portugal e na Europa
  6. Ir para cima Europa discute fortalecimento do candomblé
  7. Ir para cima Revista da USP-De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião-por Reginaldo Prandi
  8. Ir para cima Identidade também nas religiões
  9. Ir para cima Candomblé e umbanda no mercado religioso Prof.Reginaldo Prandi
  10. Ir para cima Mama Tchamba
  11. Ir para cima http://mamiwata.com/tchamba.html Mami Wata]
  12. Ir para cima CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1982. p. 146.
  13. Ir para cima A origem da palavra Jeje
  14. Ir para cima As duas africanidades estabelecidas no Pará
  15. Ir para cima Festivais da Mitologia e Religião Yoruba
  16. Ir para cima Religiões africanas são monoteísta
  17. Ir para cima Negritude e Experiência de Deus por Josuel dos Santos Boaventura *Teocomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 156, p. 203-222, jun. 2007
  18. Ir para cima Bantus no Brasil
  19. Ir para cima O Culto de Ifá e UNESCO
  20. Ir para cima Vodoun
  21. Ir para cima Mitologia Bantu
  22. Ir para cima Mãe Stella: "Candomblé não é brincadeira" por Claudio Leal
  23. Ir para cima Preconceito ainda marca religiões afro
  24. Ir para cima AIDS: O que é e como evitá-la
  25. Ir para cima Pais-de-santo querem evitar Aids em candomblé da Bahia
  26. Ir para cima Crianças no candomblé

Ver também

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Candomble


Candomblé


O Mundo dos Orixás


O Monoteísmo na Religião Tradicional Yorùbá
Por: Kofi Johnson, Ph. D. (Fayetteville State University), Raphael Tunde Oyinade, Ph. D. (Claflin University), Traduzido por Mário Filho*, M.A., (PUC/SP),
Original em:
http://organizations.uncfsu.edu/ncrsa/journal/v03/johnsonoyinade_yoruba.htm(Thinking About Religion, Magazine, Volume 3, 2004)
Introdução
Os Yorùbá, uma população aproximada em 40 milhões, ocupam o sudoeste da Nigéria. É um dos maiores grupos étnicos daquele país, dotado de uma rica cultura e, de várias maneiras, uma das populações mais interessantes da África. Sua tradição lhes dá um lugar único entre as sociedades africanas. Têm contribuído pelo estabelecimento das culturas do Caribe e da América do Sul, particularmente Cuba e Brasil, locais onde a religião Yorùbá é praticada. Na Nigéria os Yorùbá são um dos três maiores grupos étnicos. Segundo Ìdòwú (1962) “os Yorùbá compreendem vários clãs que se aproximam pela língua, tradições, crenças religiosas e práticas” (p.4). O propósito deste trabalho é descrever o conceito monoteísta de Deus entre os Yorùbá e suas divindades (òrìşà) de apoio. É nossa convicção que qualquer tentativa de construir uma teoria que descreva o conceito de Deus entre os Yorùbá não nos dará um quadro verdadeiro; portanto, este trabalho discutirá os pontos de vista de alguns estudiosos, seguindo por descrições dos atributos do Ser Supremo, concluindo com uma discussão de Olódùmarè como um Deus monoteísta, comparável com o conceito judaico-cristão. Uma certeza sobre os Yorùbá é o fato de que é muito difícil encontrarmos um Yorùbá que não crê no Ser Supremo. Se existe tal pessoa, ele ou ela deve ter sido exposto/a influências não africanas. Os Yorùbá creem no Ser Supremo, que é responsável pela criação e manutenção do Universo (Awólàlú 1979). Boudin, Sacerdote católico de descendência francesa, escreveu sobre o Deus Yorùbá nestas palavras: Os negros não possuem estátuas ou símbolos que representem Deus. Consideram-no como Ser Supremo Primordial, criador e pai das divindades e seres espirituais. Ao mesmo tempo, creem que este Deus, após iniciar a organização do mundo, encarregou Obàtálá de concluí-lo e governá-lo, então Ele se retirou para descansar e desfrutar de Sua felicidade (Awólàlú 1979, P. 4). Boudin está absolutamente correto ao dizer “os negros não possuem estátuas do Ser Supremo” (Awólàlú 1979). A razão é que Deus “é demasiadamente grande e impressionante para ser retratado ou ter uma forma concreta” (P. 4). Ele está em todo lugar e Ele é o Ser Supremo. O que é preocupante na análise de Boudin é que isso parece implicar que o Ocidente tem uma clara compreensão do conceito de Deus na cultura Yorùbá. Este não é o caso como anota Ìdòwú (1962): “… os autores desse conceito erraram; eles erraram dessa maneira porque ignoraram aquilo que constitui o verdadeiro núcleo da religião que se esforçam em estudar” (p.44). Ìdòwú (1975) aponta que o Ocidente não tem uma clara apreensão do conceito de Deus. O conceito de Deus não é um monopólio da sociedade ocidental tradicional. Examinando-se minuciosamente a declaração de Boudin, observa-se que ele não aprecia a ideia fundamental de Deus como é concebida pelos Yorùbá, especialmente no que diz respeito à criação. O mais preocupante é sua insinuação racial e sua atitude condescendente com os Yorùbá. Outro erudito francês, Bouche (Awólàlú 1979), diz: O homem Yorùbá pensa que Deus é demasiado grande para tratar diretamente com Ele, e Ele delegou os cuidados dos negros aos òrìşà. Senhor do Céu, Deus desfruta da abundância e do descanso, guardando Seu favor para o homem branco. Que o homem branco reze a Deus é natural. Quanto aos negros, eles devem sacrifícios; suas oferendas e orações são somente para os Òrìşà. (P. 4) As observações de Bouche demonstram sua carência de compreensão das crenças e simbolismo da cultura Yorùbá e suas relações com as práticas religiosas. O etnocentrismo de Bouche resulta em uma interpretação baseada na “opinião pessoal [que] é inspirada pelo orgulho racial e pela cegueira” (Awólàlú 1979 p.5). Se Bouche houvesse sido mais sensível culturalmente em seus estudos das crenças Yorùbá, saberia que os Yorùbá creem que todos os seres humanos são criados iguais por Deus e são, de fato, todos da raça humana. Ademais, observamos que Bouche não entendeu a relação entre o Ser Supremo e as divindades (òrìşà) (Awólàlú 1979). No século XIX, um oficial britânico, chamado A. B. Ellis, afirmou: Ọlọrun é o deus do céu dos Yorùbá, quer dizer, Ele é o firmamento deificado, o céu personificado… Ele é meramente um deus naturado, a personificação divina do céu, ele controla somente os fenômenos conectados, na mente nativa, como o “telhado” do mundo. Posto que Ele é demasiado preguiçoso ou completamente indiferente para exercer o controle sobre os assuntos terrenos; o homem, por sua vez, não perde tempo em esforçar-se para propiciar-lhe algo, mas reserva sua adoração e sacrifícios para agentes mais ativos. De fato, cada deus, Ọlọrun inclusive, tem, por assim dizer, seus próprios deveres […] ele não pode violar os direitos de outros (P. 5) Novamente, percebe-se o etnocentrismo dos eruditos ocidentais. Na observação anterior, a primeira, Ellis mostra sua falta de entendimento sobre Ọlọrun, associando-o a um “deus naturado”. Em seguida, Ellis mescla Ọlọrun com Eléèdá. O que Ellis diz está longe da verdade (Awólàlú, 1979; Ìdòwú, 1975) quando afirma que Eléèdá e Ọlọrun significam duas coisas diferentes. Ọlọrun, na terminologia Yorùbá, se refere ao Ser Supremo e Eléèdá se refere a Aquele que controla a chuva, enquanto Olódùmarè é o Recompletador dos riachos. Atualmente, esses termos (Ọlọrun, Olódùmarè, e Eléèdá) são intercambiáveis para o mesmo Deus, Ọlọrun. Eléèdá, na língua Yorùbá, significa aquele que cria e Olódùmarè significa o Todo Poderoso, o Ser Supremo. O erro de Ellis é que ele coloca Ọlọrun num mesmo patamar com as divindades, quando diz: “Ọlọrun não pode violar os direitos dos outros” (Awólàlú, 1979, p.5). Ellis indica que Ọlọrun não é, de maneira alguma, superior às divindades. Isto é falso (Ibid). Os Yorùbá creem que os òrìşà não podem existir independentes do Ser Supremo. Os Yorùbá veem as divindades como “seres espirituais e intermediários entre o homem e o Ser Supremo”. Pode-se compará-los aos anjos de Deus, que são os intermediários do Ser Supremo, de acordo com os conceitos cristãos. Ellis demonstra, claramente, sua ignorância quando ele aponta que a adoração é feita inteiramente aos agentes que seriam mais ativos que Ọlọrun. Seus comentários refletem outras inadequações quando diz que o Ser Supremo é muito preguiçoso, distante e indiferente. Em resposta aos erros de Ellis, Fádípè (Awólàlú, 1979) diz: Nenhuma outra observação poderia apontar o quão Ellis é ignorante sobre a rotina diária dos Yorùbá. Apesar de Ọlọrun ser uma concepção distante para o povo, o Yorùbá mediano usa o nome frequentemente em provérbios, orações e desejos, promessas, no planejamento do futuro, em tentativa de se livrar de acusações, para lembrar seu oponente do dever de falar a verdade em nome d’ele etc. De fato, para todos os fins, é muito natural invocar o nome de Ọlọrun que o de qualquer outro òrìşà. (p.6). Fádípè aclara os erros de Ellis e exibe o impacto de Ọlọrun sobre os Yorùbá. S.S. Farrow apoia Fádípè e vai mais longe, afirmando que “encontramos entre os Yorùbá (…) uma crença em um Ser chamado Ọlọrun, cuja posição é única em vários aspectos… Esta ideia não advém dos muçulmanos ou cristãos” (P. 34). O problema com Farrow, honestamente, encontrasse no seu entendimento do conceito de Ọlọrun, especificamente na frase “um Ser chamado Ọlọrun” (Lucas 1948). Ele parece sugerir que o Deus concebido pelos Yorùbá é diferente do Deus Supremo, que é o Criador de toda a terra (Lucas 1948; Awólàlú 1979). A melhor investigação acadêmica sobre o conceito do Ser Supremo entre os Yorùbá vem de E. B. Ìdòwú. Em seu livro, intitulado Olódùmarè – God in Yorùbá Belief, no qual Ìdòwú afirma que “Olódùmarè é o nome tradicional do Ser Supremo e que Ọlọrun, embora comumente usados na linguagem popular, acabou se tornando proeminente em consequência do impacto do cristianismo e do islamismo sobre os Yorùbá. ” (Awólàlú, 1979).
Nomeando Deus: Terminologia Yorùbá e suas definições.
Nossa revisão das opiniões dos estudiosos acerca do conceito de Deus foi uma tentativa de identificar importantes erros em suas assertivas acadêmicas. Infelizmente a maior parte dos estudiosos citados demonstra, em suas análises, uma carência de senso cultural para aqueles que lhes são diferentes. Para alcançar um acurado olhar do conceito Yorùbá do Ser Supremo, é importante examinarmos os nomes e significados que são associados a Ele. Deve ser enfatizado que os Yorùbá, alternativamente, usam os termos listado abaixo para descrever o Deus Supremo, que são conhecidos como “oríkì”, traduzido livremente como “apelidos”. Segundo Ìdòwú, o Ser Supremo é reconhecido por todas as divindades como o Líder a quem pertence toda autoridade e a quem é devido lealdade. Ele não é ninguém entre muitos. Seu estado de supremacia é absoluto… Na adoração, os Yorùbá O têm como última instância, considerando-o o primeiro e o último de cada dia. Ele é o proeminente. (Ibid, p.53). Esses nomes e suas definições estão abaixo (ver Bascom): Olódùmarè: O conceito denota aquele que tem a plenitude ou grandeza superlativa, a majestade eterna sobre tudo aquilo do qual o homem possa depender; Ọlọrun: literalmente o dono do Céu. O dono do céu ou senhor do lugar que está acima. Às vezes os Yorùbá usam Ọlọrun Olódùmarè juntos. Esta dupla palavra significa o supremo cujo domicílio está no céu. Eléèdá: O criador. Como o nome sugere o Supremo. É responsável por toda a criação. Àláàyé: A palavra significa o vivo. Isso significa que o Yorùbá crê que Deus é eterno. Elémìí: Encarregado da vida, Senhor do sopro vital. Usado para se referir ao Ser Supremo, sugere que todos os seres vivos devem sua respiração ao Supremo. Os Yorùbá creem que ao ser retirada a “respiração vital” pelo doador da respiração a alma também é retirada. Olojo Oni: Significa o dono ou o regulador deste dia ou dos sucessivos dias. Para chamar o Ser Supremo de Olojo Oni depreende-se que todos os homens e mulheres dependem totalmente do Ser Supremo.
Atributos do Ser Supremo
Para reforçar melhor a compreensão da crença Yorùbá, é necessário explorar as características de Olódùmarè que O diferenciam de todas as outras coisas que Ele criou. Ele é o Criador. Entre os Yorùbá, o mito da Criação sustenta que no princípio o mundo era um pântano, um deserto aquoso. Olódùmarè e algumas divindades viviam no céu, descendendo e ascendendo através de teias de aranha ou de correntes. Eles freqüentemente visitavam a terra, especialmente para caçar. A humanidade ainda não existia, pois não havia terra (Parrinder 1986). Um dia, Olódùmarè convocou Seu Comandante-em-chefe, Òrìşà-ńlá (Obàtálá), a Sua presença e lhe disse que Ele (Olódùmarè) queria criar a terra firme e que Òrìşà-ńlá seria responsável por isso. Como materiais Olódùmarè lhe deu terra fofa, uma casca de caracol, um pombo e uma galinha. Òrìşà-ńlá desceu à terra pantanosa. Ele lançou a terra da casca do caracol, colocando o pombo e a galinha sobre a terra e eles começaram a ciscar e a dispersar a terra ao seu redor. Òrìşà-ńlá reportou-se a Olódùmarè dizendo-lhe que o trabalho havia terminado. Olódùmarè, então, enviou um camaleão para examinar o trabalho. O camaleão voltou e disse à Olódùmarè que o trabalho estava feito, mas a terra não estava seca o bastante. O camaleão foi enviado uma segunda vez. Desta feita relatou que a terra era grande e seca. Olódùmarè orientou novamente a Òrìşà-ńlá, o Chefe das divindades, a equipar a terra. Òrìşà-ńlá tomou para si Ọrùnmìlá, a divindade do oráculo, como seu conselheiro e orientador. A missão era plantar árvores e dar alimentos e riquezas aos seres humanos. Ele providenciou a palmeira (Igi Ope) que ao ser plantada proporcionaria alimento, bebida, azeite e folhas para abrigo. Após equipar a terra, Òrìşà-ńlá pediu para liderar uma delegação de dezesseis pessoas já criadas por Olódùmarè. Para povoar a terra, Olódùmarè pediu a Òrìşà-ńlá que moldasse formas humanas. Òrìşà-ńlá moldou formas humanas e as guardou sem vida, ainda. Ocasionalmente, Olódùmarè viria e sopraria a vida nestas formas. Tudo o que Òrìşà-ńlá poderia fazer era modelar as formas humanas, mas lhe faltava o poder de lhes dar vida. A criação da vida era confiada, unicamente, ao Deus Supremo, Olódùmarè. Diz-se que Òrìşà-ńlá chegou a ficar com inveja de Olódùmarè por não compartilhar a capacidade para criar vida com Ele. Então, um dia, quando ele havia terminado de moldar formas humanas, ele se escondeu, próximo às formas moldadas, durante a noite, de modo que pudesse ver Olódùmarè. Mas, Olódùmarè, sendo Onisciente, colocou Òrìşà-ńlá para dormir, e quando este acordou, as formas humanas moldadas haviam vindo à vida (Parrinder 1967). Esta é a história da criação contada pelos Yorùbá. Ele é único. Os Yorùbá creem que Olódùmarè é único. Isso significa que Ele é único; não há nada como Ele. Esta crença em sua unicidade previne as pessoas de criar imagens gravadas ou pinturas ilustrativas d’Ele. Há símbolos ou emblemas, mas nenhuma imagem que possa ser comparada a Ele. Talvez, essa seja a razão pela qual os observadores estrangeiros da religião Yorùbá, afirmem, equivocadamente, que Olódùmarè é um Deus distante e sobre quem os homens são incertos. Ele é Onipotente. Como Onipotente o Yorùbá crê que para Olódùmarè nada é impossível. Descrevem-no como “Oba a sè kan ma kù” (o Rei cujos trabalhos são feitos com perfeição). As coisas que ele aprova são bem sucedidas, mas as que não recebem sua bênção tornam-se difíceis ou impossíveis. Os Yorùbá cantam: “A dùn íșẹ bi ohun tí Olódùmarè l’ọwó sí. A sòrò íșẹ bi ohun tí Ọlódùmarè kò l’ọwó sí” (Fácil de fazer como aquilo que recebe a aprovação do criador; difícil como aquilo que o criador não aprova). Por esse motivo chamam-no também de Ọlọrun Alágbára (Deus poderoso), Oba ti dandan re ki Ìşèlè (Rei cujas ordens nunca deixam de ser cumpridas). Ele é Imortal. Olódùmarè nunca morre. Os Yorùbá creem que é inimaginável para o Elémìí (O Dono da Vida) morrer. Eles o louvam cantando “A kí ìgbò ikú Olódùmarè” (Nunca se ouvirá sobre a morte de Olódùmarè). Ele é Onisciente. Olódùmarè sabe tudo. Nada Lhe é ocultado. Ele é o Sábio. Tudo está ao alcance de Olódùmarè. O Seu conhecimento penetra todas as coisas (Mbiti, 1975). Os Yorùbá descrevem-no “A rínú rode Olumọ Okàn” (Aquele que vê o exterior e o interior do coração). Ele é rei e juiz. Os Yorùbá veem Olódùmarè na importante posição de Rei. Eles o chamam de “Oba Ọrun” (Rei do Céu). Referem-se, às vezes, a Ele como “Oba a dáké dájò” (O Rei que se senta em silêncio e distribui justiça). Ọlọrun, conhecido como Olódùmarè, é o Senhor do Céu, conceito reminiscente do Deus judaico-cristão ou do Allah dos muçulmanos. O Senhor do Céu é o criador de todas as coisas e de outros òrìşà, e parecido com o Nyame dos Asanti e de outras culturas da África Ocidental. Ele está acima e além de outros semideuses. Ao contrário de outros òrìşà, Olódùmarè não possui templos; no entanto, orações Lhe são dirigidas, mas não Lhe são oferecidos sacrifícios. Olódùmarè não somente cria, mas sustenta e protege os homens; Ele também protege as pessoas de maquinações de outros homens. Por sua vez, Olódùmarè não está distante e nem desligado para que não intervenha nos assuntos terrenos. A maioria dos sacrifícios prescritos pelo Bàbáláwo, Sacerdote de Ọrúnmìlá, são levados a Ọlọrun por Èsù. De acordo com os Yorùbá todas as pessoas são crianças de Deus. Como deidade a quem se atribui o controle do destino da humanidade, Ọlọrun pode ser considerado como Deus do destino. O que devemos destacar é que os Yorùbá dão ao Ser Supremo vários nomes e que as òrìşà não vivem independentes do Ser Supremo, pois Ele é O Criador deles.
O papel das divindades
Para complementar a compreensão do leitor sobre a crença Yorùbá, é, também, importante entender as divindades. Nosso trabalho irá, agora, identificar as divindades e explicar seus papéis.
– Èsù, o Mensageiro divino: Èsù, também conhecido como Elégbà ou Elégbára, é o mais jovial e astuto das òrìşà (Bascom, 1969). Ele é o mensageiro divino que entrega os sacrifícios prescritos pelo Bàbáláwo a Ọlọrun, após terem sido colocados nos altares. O altar é feito de um pedaço de laterita (uma terra vermelha) encontrada em Ilé-Ifè, Nigéria. Os Yorùbá creem que Èsù é um trapaceiro que se delicia em causar problemas ou que ele serve outros òrìşà trazendo problemas aos seres humanos que os ofenda ou que os negligenciem. Para ilustrar, vejamos o que dizem de Sàngó, deus do trovão, que desejava matar uma pessoa com seus raios: ele deve, primeiro, pedir a Èsù que desobstrua os caminhos para ele. Esse pensamento é errôneo! Èsù, na verdade, pode utilizar várias penalidades que tem à sua disposição, pois ele é conhecido como guardião da lei, Olopàá, porque ele pune aqueles não fazem os sacrifícios prescritos pelos Sacerdotes e recompensa aqueles que os fazem. Quando algum dos òrìşà deseja recompensá-los na terra, envia Èsù para fazê-lo. Alguns estudiosos ocidentais têm feito grandes esforços para pintar Èsù como o equivalente do “Diabo” judaico-cristão. Isto é um erro. O papel de Èsù é o de um mensageiro que entrega os sacrifícios a Olorun e para outros òrìşà. Sua notável destreza em realizar seu papel como guardião divino não é coerente para identificá-lo como o Satã dos cristãos ou dos muçulmanos (Bascom 1969). Sem se importar a qual òrìşà é devoto, todos rogam a Èsù com frequência de modo que ele não lhes traga problemas.
– Ifa (Ọrúnmìlá), Òrìsà da adivinhação: É um amigo muito próximo de Èsù. É conhecido como “clérigo” de outros òrìşà e visto como Bàbáláwo. Bàbáláwo é definido como um homem instruído ou um erudito por causa de seu conhecimento e sabedoria nos versos de Ifá. Ele trabalha como intérprete das mensagens entre os òrìşà e os seres humanos. Ọlọrun, o Deus Supremo, deu-lhe poder (Àse) de falar para os òrìşà e se comunicar com os seres humanos através do oráculo. Por exemplo, quando o deus do trovão ou qualquer outro òrìşà requer um sacrifício especial, ele envia essa mensagem aos seres humanos por meio de Ifá. Importante frisar que Ọrúnmìlá é aquele que transmite e interpreta os desejos de Ọlọrun à humanidade. Ọrúnmìlá prescreve sacrifícios os quais são levados por Èsù. Qualquer òrìşà pessoal pode ser adorado, porém todos os crentes da religião Yorùbá recorrem a Ifá em casos de necessidade. Baseados no parecer do Bàbáláwo, os sacrifícios apropriados a Èsù são identificados e feitos sendo levados por Èsù a Ọlọrun (Bascom 1969). Nem todos os devotos de Ifa podem se tornar um Bàbáláwo. O título de Bàbáláwo é dado somente aos devotos especiais que tenham um largo conhecimento de Ifá. Requer-se uma iniciação de alto custo financeiro e muitos anos de aprendizagem para interpretar as figuras (Odù), prescrever sacrifícios e remédios.
– Odùduwà. O Criador da Terra (O Legislador) Os Yorùbá creem que ele é o criador da terra. Consideram-no como progenitor de todos os Yorùbá e o primeiro a governar a terra como rei de Ilé-Ifè.
– Òrìşà-ńlá. Grande Òrìsà Òrìşà da brancura. Òrìşà-ńlá, Òṣàalá ou Obàtálá é melhor descrito como o rei da brancura. Acredita-se que ele seja o criador da humanidade, fazendo os primeiros homem e mulher. Tem o papel de amoldar os seres humanos no ventre, antes que nasçam. Trabalha na escuridão com uma faca; ele esculpe seus corpos como um escultor, separando os braços, pernas, dedos das mãos e dos pés e faz as aberturas para os olhos, nariz e boca. Aquele que ele formou como albino (àfín), corcunda (abuké), aleijados (arò), anão (aràrá) e mudos (odi) serão consagrados a ele. Não são resultado de erros; ele os faz assim para marcá-los como seus seguidores e que sua adoração não será esquecida. Òrìşà-ńlá é conhecido como o “Rei do pano branco”. Seus devotos podem usar outras roupas, mas o branco lhes é o traje mais apropriado.
– Ògún, o deus do ferro:
Ògún é deus do ferro e patrono de todos aqueles que se utilizam de ferramentas de ferro. Conhecem-no como patrono dos caçadores, e dos guerreiros e, em consequência, deus da guerra, patrono dos ferreiros, barbeiros e, recentemente, patrono das locomotivas e automóveis. Os Yorùbá creem que sem Ògún as pessoas não poderiam cortar seus cabelos, fazendas não poderiam ser lavradas, os cursos dos rios e nascentes seriam tomados pelo crescimento de ervas daninhas e ninguém poderia fazer fogo sem as faíscas que eram usadas antes dos fósforos serem importados. Os demais òrìşà dependem de Ogún porque ele limpa os caminhos para eles com seu machete. Ele é notabilizado como ferreiro e guerreiro. Se Ògún é enraivecido ou luta contra qualquer um dos inimigos de seus seguidores, ele poderá causar a morte destes. Por exemplo, a pessoa pode ser mordida por uma serpente; levar um tiro, por engano, de um caçador; ser ferido em um acidente de veículo; ser cortado por uma faca ou um ferreiro pode atingir seu dedo. Ògún é sempre utilizado para validar um juramento, enquanto os cristãos usam a bíblia para fazê-lo.
Ọránmíyàn (Ọrányàn), o filho de Ògún e de Odùduwà: Diz-se que Ọránmíyàn possui dois pais Ògún e Odùduwà. Um mito conta que Ògún, certa vez, trouxe muitos escravos da guerra e os deu a Odùduwà, o rei, exceto uma mulher, conhecida como Lankange. Como Ògún se apaixonou por Lankange, ele a manteve consigo. Quando Odùduwà soube disso ele deu ordens para que Ògún lhe trouxesse Lankange. Antes de fazê-lo, Ògún explicou à Odùduwà que ele havia copulado com Lankange. Não obstante, Odùduwà tomou Lankange como sua esposa. Quando Lankange deu à luz a Ọránmíyàn, a criança era meio branca como Odùduwà e meio negra como Ògún (Bascom, 1969).
– Sàngó, o deus do trovão: Filho de Ọránmíyàn. Vivendo no céu, ele lança tempestades de raios à terra, matando aqueles que o ofendem ou deixando suas casas em chamas. Sàngó luta contra aqueles que causam problemas e com os que se utilizam de magias para prejudicar outros, bem como seus devotos que o ofendem. Sàngó é ligado ao fogo porque ao falar, fogo sai de sua boca. Veneram-no pelos seus poderes mágicos. Segundo um dos mitos, Sàngó deixou Ilé-Ifè (cidade a sudoeste da Nigéria) quando foi derrotado em um combate mágico e, por isso, se enforcou. Quando começou a relampejar, seus devotos gritavam: “Oba kò so” (o Rei não se enforcou) (Tidjani-Serpos, 1996).
Discussão Os Yorùbá, assim como os Akan de Ghana, reconhecem o providencial cuidado de Ọlọrun e de deuses menores dos quais eles se aproximam quando estão em apuros. Creem que a maioria dos deuses menores são agentes de Ọlọrun, o Deus Supremo. Ọlọrun não destrói a vida, ele cria e alimenta a vida. Ele é aquele que atribui o destino. Quando Ọlọrun lhe dá enfermidade, Ele o provê da cura apropriada. Antes do nascimento de uma criança, a alma se apresenta ante Ọlọrun, para receber um novo corpo, novo sopro e seu destino para sua vida na terra. Ajoelhando-se ante Ọlọrun, essa alma recebe a oportunidade de eleger seu próprio destino. Acredita-se que a alma pode fazer qualquer pedido, seja razoável ou não. Destino envolve um dia fixado, no qual a alma retornará ao céu, a personalidade individual, a ocupação e a sorte. A hora da morte não pode ser adiada, mas outros aspectos de seu destino podem ser modificados pelos atos humanos. Os òrìşà ajudam os indivíduos a usufruir o destino prometido por Deus (Ọlọrun). Como resultado, por toda sua vida, deverá fazer sacrifícios ao seu guardião ancestral e aos deuses. Os encantamentos e as magias serão prescritos pelo Bàbáláwo para assistir os indivíduos quando em apuros. Quando se está em apuros, deve-se consultar um Bàbáláwo para determinar o que deverá ser feito para melhorar seu legado na terra. O Yorùbá acredita que quando a pessoa morre, ela se despede visitando os membros do clã. Se a pessoa teve uma vida repleta, suas múltiplas almas prosseguem para o outro mundo, onde vive o Deus do Céu. Quando a alma alcança o céu, ela prestará contas a Ọlọrun. Se a pessoa foi boa e destacada na terra suas almas serão enviadas ao céu bom (Òrun rere). Se seus atos foram maus, como o envenenamento de seu vizinho, assassinato de alguém de quem tinha confiança, ser mentirosa e fraudulenta, ela será condenada ao céu mau (Ọrun burú) ou ao “Ọrun àpadì” pelo Deus do Céu. Aqueles que não viveram completamente suas vidas permanecerão na terra como fantasmas. Por exemplo, aquele cuja vida foi tirada por um acidente de automóvel ficará na terra como um fantasma. Uma coisa é certa sobre o destino atribuído: nenhum mortal poderá mudá-lo. Se cada ser humano vem ao mundo com um destino pré-fixado e se Ọlọrun é tão bom, como os Yorùbá explicam as ocorrências de morte prematura? Os Yorùbá tentam responder a tal questionamento das seguintes maneiras: Primeiro: a pessoa pode ter ofendido aos deuses menores de tal modo que atraíram para si o castigo;
Segundo: a pessoa pode ter sido destinada a isso, e isso é o que ela requereu a Ọlọrun antes de ter nascido;
Terceiro: podem culpar outras pessoas por terem colocado um “feitiço” nele de modo a lhe causar a desgraça.
Portanto, os Yorùbá creem no poder benevolente de Ọlọrun, ainda que para eles seja possível a ambos (homens e poderes sobrenaturais) induzir as pessoas em certos atos que interfeririam no destino designado por Ọlọrun a cada ser humano individualmente. Assim, quando infortúnios acontecem ninguém culpa Ọlọrun, pois os Yorùbá creem que os agentes (òrìşà) de Ọlọrun é que são os culpados, por terem sido irresponsáveis (Agyakwa 1996, p.59). A questão central é: Como poderá o criador africano, tal como Olódùmarè ser supremo e não ser adorado? A resposta a essa questão levou S. S. Farrow, J. O. Lucas e outros a interpretar erroneamente as funções e as relações entre as deidades e Olódùmarè (Awólàlú P. 7). Em resposta a Farrow e Lucas, John Mbiti e Bòlájí Ìdòwú esclarecem esse mal entendido que tem afetado o monoteísmo africano. Esses eminentes eruditos evidenciam que “os deuses supremos africanos são, de fato, estreitamente envolvidos nos assuntos humanos e foram objeto de adoração religiosa em muitas sociedades. ” (Ray 2000, P. 25-26). Ambos enfatizam que o “conceito africano de Deus se encaixa perfeitamente no modelo de monoteísmo judaico-cristão” (Ibid.). Bòlájí Ìdòwú, em sua obra, Olódùmarè: God in Yorùbá Belief, apresenta evidências de que o conceito do Ser Supremo é um princípio monoteísta da religião Yorùbá. Segundo Ìdòwú, a religião Yorùbá é um “monoteísmo difuso” na qual muitas divindades Yorùbá “não são mais que conceitualizações de atributos de Olódùmarè, o Deus Supremo Yorùbá” (Ray). Como Ray aponta em African Religious: Symbol, Ritual and Community, “Ìdòwú baseou sua interpretação no fato de que a religião Yorùbá concebe Olódùmarè como o regente (Oba) e os deuses menores podem ser pensados como Seus ministros, analogamente à hierarquia política da tradição na qual o rei Yorùbá estabelecia regras aos seus subordinados por meio de seus ministros (veja Awólàlú, p. 17-18; Ray 2000, p. 26). Outra perspectiva diferente que apoia as observações de Ìdòwú foi feita por Philip John Niemark em seu livro The way of Orisha no qual considera Olódùmarè como o Deus Supremo da religião Yorùbá o que significa que o Yorùbá é monoteísta. Ele concebe os òrìşà ou deidades como “energias” ou intermediários de Olódùmarè, que lidam com os seres humanos nos afazeres diários ou frustram o cumprimento dos destinos na terra (ver Neimark, p.14 e Ray. p. 26). A fim de colocar em discussão o argumento de o Yorùbá ser monoteísta, Ray escreve: Semelhante a um regente Yorùbá, ou Oba, Olódùmarè reina supremo no céu distante e regula o mundo através de seus intermediários, os òrìşà. Olódùmarè habita o céu e Ele é transcendente, Onisciente, Todo-Poderoso. Diferentemente dos òrìşà, Ele não tem templos ou sacerdotes, e nenhum sacrifício ou oferendas Lhes são feitas, porque ele não pode ser influenciado ou conquistado por isso. Ainda assim, Olódùmarè pode ser invocado por qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer hora e deixá-Lo saber das necessidades do peticionário. (Ibid. P. 10) Opoku (1978, p. 5) apoia o posicionamento de Ray ao afirmar que é um erro descrever a religião Yorùbá como politeísta. Segundo ele, (…) politeísta é grosseiramente inadequada como descrição da Religião Tradicional Africana, pois uma religião não pode ser tachada de politeísta simplesmente por haver muitas divindades nesta religião. A questão fundamental no que diz respeito ao politeísmo está na relação existente entre os deuses e o panteão, e aqui, a crença religiosa dos egípcios, babilônios e gregos, que são exemplos clássicos do politeísmo, pode lançar considerável luz na nossa compreensão do termo. No politeísmo clássico, os deuses no panteão são independentes uns dos outros. Um dos deuses pode ser considerado como chefe, mas ele nunca poderá ser visto como criador dos outros deuses. Na Religião Tradicional Africana, no entanto, o quadro é totalmente diferente: Deus, o Ser Supremo, está fora do panteão de deuses. Ele é o Criador eterno de todos os demais deuses, do homem e do Universo. Isto O faz absolutamente único, e Ele se distingue de outros deuses ao ter um nome especial. Este nome é sempre no singular, e não é um nome genérico, como Obosom (para os Akan) ou òrìşà (para os Yorùbá). Todas as outras divindades possuem um nome genérico em adição ao seu nome específico. Esta é a maneira africana de mostrar a unicidade de Deus. Isso ilustra a estrutura hierárquica da tradição Yorùbá. Awólàlú lamenta que algumas pessoas que escreveram sobre a religião Yorùbá falharam em considerar a interação da cultura e como a transmite as crenças religiosas aos Yorùbá. O uso do domínio secular para ilustrar o conceito monoteísta de Deus pelos Yorùbá é demonstrado na posição do Oba como Pontifex Maximus (Awólàlú, P. 17) e, perceptivelmente, Olódùmarè representa o Deus conceitual, assim como ele é percebido na cultura ocidental. Awólàlú observa que dessa maneira, Olódùmarè tem a palavra final (Awólàlú, P. 17). Esta interpretação errônea da posição de Olódùmarè levou Tidjani-Serpos (1996, p. 18) a nos advertir: Sim, nós podemos, com humildade e tolerância, ouvir conscienciosamente a crítica à nossa herança cultural, sem, no entanto, recusar-nos a estar em completa sintonia com nosso tempo. Nós podemos, calma e abertamente, discutir com serenidade nosso passado sem optar por olhar nossa própria cultura através do ponto de vista dos valores de outros povos. Essa é a razão pelas qual alguns estudiosos como Mbiti, Ìdòwú, Awólàlú, apenas para citar alguns, não quiseram iniciar um debate entre as antigas e as modernas crenças, mas sim definir um correto registro.
Conclusão - Os modernos investigadores são tendenciosos e prejudiciais em suas análises do conceito Yorùbá de Deus. O que aprendemos ao examinar o conceito de Deus pelos Yorùbá é que a religião Yorùbá é monoteísta. Dos vários nomes dados a Olódùmarè, um claro quadro de Deus emerge. Veem-no como o Senhor do céu, o Criador de toda humanidade, o Doador da vida e Ele é entendido como invisível. Por Sua invisibilidade, os Yorùbá não se preocupam em Lhe erigir um altar ou uma “representação física” (Opoku, P. 18). Ainda que as divindades sejam reverenciadas, elas são criadas por Deus para realizar funções específicas, à semelhança dos anjos, que foram criados para servir a Deus.
Referências - Agyakwa, K. O. (1996). The problem of evil according to Akan and Whiteheadian metaphysical systems. Ìmódòye: A journal of African philosophy, 2, 45-61. Awólàlú, J. O. (1979). Yorùbá beliefs and sacrificial rites. London: Longman Group Ltd. Bascom, W. (1969). The Yorùbá of southwestern Nigeria. New York: Holt, Rinehart, and Winston. Ìdòwú, E. B. (1962). Olódùmarè: God in Yorùbá belief. Ikeje: Longman Nigerian Plc. Ìdòwú, E. B. (1975). African tradition religion. Maryknoll, N. Y.: Orbis Books. Lucas, J.O. (1948). The religion of the Yorùbá. Lagos, Nigeria. Mbiti, J. S. (1975). Introduction to African religion. Postsmouth: Heinemann Educational Books, Ltd. Niemark, P. J. (1993). The way of Orisha. New York: Harper Collins. Opoku, K. A. (1978). West African traditional religion. Accra, Ghana: FEP International Private Ltd. Parrinder, G. (1954). African traditional religion. Westport: Greenwood Press. Parrinder, G. (1967). African mythology. New York: Peter Bedrick Books. Parrinder, G. (1969). Religion in Africa. New York: Praeger Publishers. Ray, B.C. (2000). African religions: Symbol, ritual and continuity (2nd ed). Upper Saddle River, New Jersey: Prentice-Hall. Tidjani-Serpos, N. (1996). The postcolonial condition: The archeology of African knowledge: from the feat of Ògún and Sàngó to the postcolonial creativity of Obatala. Research in African Literatures, 27, 3-19. Thinking About Religion, Volume 3 Copyright © 2004
* Mestre em Ciência da Religião e em Ciências Policiais. Professor universitário no CAES/SP.
Obs. Muitas lendas têm pequenas ou grandes variações de uma região para a outra em território nigeriano, não devemos levar todos os dados ao pé da letra. Devemos nos ater ao conjunto da obra e sua mensagem principal que fala do monoteísmo da religião.
Odé Gbàfáomi

Candomblé Festa Iansa e Oxum




Caboclo Boiadeiro


Caboclo Boiadeiro
Os Boiadeiros utilizam chapéus de vaqueiros, laços de corda, chicotes de couro, normalmente chegam girando a mão ou batendo no peito. Com cantigas e ritmos diferenciados dos caboclos da Umbanda, os Boiadeiros enchem de alegria os terreiros com sua forma típica sertaneja. Alguns gostam de ser chamados de Vaqueiro, Laçador, Peão Valente, Tocadores de Viola, etc. Genuinamente mestiço das misturas do índio, branco e negro, Os Boiadeiros representam a própria essência brasileira com costumes, crendices, superstições e muita fé.
Os Boiadeiros também são conhecidos como “Encantados”, pelo povo da região nordeste. São trabalhadores e defendem a todos das influências negativas com muita garra e força espiritual. 
Sabem que a prática da caridade os levará a evolução, trabalham incorporados na Umbanda e  em  algumas nações do Candomblé. Fazem parte da linha de caboclos, mais na verdade são bem diferentes em suas funções. Formam uma linha mais recente de espíritos, pois já viveram mais com a modernidade do que os caboclos, que foram povos primitivos. São rudes nas suas incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é a consulta como os Pretos-velhos, nem os passes e muito menos as receitas de remédios como os Caboclos, e sim o “dispersar de energia” aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema importância essa função pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes, existe essa linha “sempre” atenta a qualquer alteração de energia local (entrada de espíritos).
Quando bradam alto e rápido, com tom de ordem, estão na verdade ordenando a espíritos que entraram no local a se retirar, assim “limpam” o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações. Esses espíritos atendem aos boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para locais próprios de doutrina.
Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ”e no descarrego e no preparo dos médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, como os Exus.
Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes. Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas. São verdadeiros conselheiros e castigam quem prejudica um médium que ele goste. “Gostar” para um boiadeiro, é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele “filho”. Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa.
Trabalham também para Orixás, mais mesmo assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo no entanto as características deles.
Dentro dessa linha a diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros. Existem boiadeiros mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a locais diferentes, como regiões diferentes principalmente o norte, nordeste e centro-oeste. Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.
A linha dos boiadeiros é uma das mais conhecidas e uma das mais importantes linhas de Umbanda, devido a importância e necessidade de se desenvolver e trabalhar com essa maravilhosa linha.
A linha dos boiadeiros é composta por eguns homens que em vida trabalharam eram homens que trabalhavam  com gado, guiando suas boiadas nas comitivas.
Essa entidade é muito requisitada em trabalhos de obsessão, pois laçam esses obsessores e os dispersam no ar.
Segundo pesquisa de Estudiosos de teologia umbandista foi relatado que existem algumas “categorias” de boiadeiros,entre elas :
–Boiadeiros laçadores : boiadeiros que,quando estão em terra giram o braço como se estivessem com um laço na mão (e realmente estão!),  são estes os boiadeiros que laçam os kiumbas.
–Boiadeiros de berrantes : boiadeiros que,quando em terra costumam soltar um brado forte e vibrante, estes com seu brado, afastam os kiumbas e dissolvem qualquer miasma de negatividade que possa estar ou no local ou com alguém que esteja no local.

Alguns nomes de boiadeiros: Zé do laço, Capitão do Mato, Zé Vaqueiro, Cerca viva,Chicote bravo, Zé do berrante, Boiadeiro do Sertão, Boiadeiro Navizala, Bugre do Sertão, Boiadeiro Rei, etc, etc.
Cantiga básica:
“Seu boiadeiro por aqui choveu
 choveu que água rolou
 foi tanta água que o seu boi nadou”
                                                                                                             
Comprimento: Getrua, Xeto marrumba xeto
Comidas: Raízes, cana, carne,frutas, etc
Bebidas :  Cerveja branca, vinho, cachaça com mel, etc.
Fumo:  Charutos, cigarro de palha
Objetos de trabalho : chicote, laço
Objetos de vestimenta : Chapéu, berrante, capa, corda, etc.

Cantiga de Barra Vento:
                             ” A minha boiada é de 31 (bis)
                              Já contei 30 ainda me falta 1″ (bis) 

Pesquisa/texto: sites Internet/Casa Oxóssi Caçador/Fernando D’Osogiyan
Fonte:https://ocandomble.wordpress.com/



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