Thiago Lobo
A criatura que rompeu com o Criador
Texto Wendel Lima
Colaboração Allan Novaes
Reportagem Bruno Elmano e Paulo César de Oliveira
Colaboração Allan Novaes
Reportagem Bruno Elmano e Paulo César de Oliveira
A começar pelo título provocativo, o documentário Expelled: No Intelligence Allowed (Expulso: Inteligência não Permitida) tinha tudo para ser massacrado por uns e ovacionado por outros. E foi. Afinal, a produção, apresentada pelo ator Ben Stein, tocava em questões que dividem os norte-americanos há décadas, como a validade científica de teorias que questionam o darwinismo e o papel delas na academia e no espaço público.
Usando de ironia, Stein abordou evolucionistas e defensores da teoria do design inteligente. A tese central do documentário é a de que existe uma inquisição velada contra os cientistas que questionam o evolucionismo. E para confirmar sua suspeita, o ator entrevistou cinco pesquisadores com sólida formação acadêmica que dizem ter sido prejudicados profissionalmente por apoiar de forma pública a teoria do design inteligente. Ele interrogou também as instituições que empregaram esses cientistas, mas todas negaram que essa tenha sido a motivação das sanções.
Reação
Mas o ponto do documentário que gerou as reações mais fortes da crítica foi a relação que Stein fez entre as ideias de Charles Darwin, o conceito de eugenia (purificação das raças) e o genocídio nazista. Para ele, a crença na existência de raças superiores e na sobrevivência do mais apto pode ter influenciado a política desumana de Adolf Hitler.
Apesar de entrevistar diversos evolucionistas – incluindo o evangelista do neoateísmo, Richard Dawkins – e questionar se o design inteligente não seria propaganda religiosa disfarçada, Expelled foi criticado por ser unilateral, promover um espírito anticientífico e ser um Fahrenheit 9/11 criacionista. O National Center for Science Education, por exemplo, fez questão de publicar um site (expelledexposed.com) somente para desmentir as denúncias feitas pelo documentário.
Mesmo tendo sido lançado em 2008, Expelled traz à tona uma discussão recorrente e que de longe não é restrita aos Estados Unidos. Ciência e religião poderiam dialogar? Quando e por que elas se divorciaram? A universidade poderia ser um espaço para esse debate? Isso é o que a Conexão 2.0 se propõe a discutir.
Redutos
Em outubro do ano passado, a Unicamp sediaria um fórum inédito sobre filosofia e ciências das origens. Sediaria. O evento foi cancelado às vésperas, depois que professores evolucionistas pressionaram a direção da entidade, afirmando que universidades públicas não deveriam abrigar eventos religiosos e que criacionistas não têm formação sólida para falar de ciência.
O caso gerou grande discussão em blogs e redes sociais, com direito a comentários ofensivos de ambos os lados. A revista IstoÉ, de 25 de outubro de 2013, pautou o ocorrido como uma “batalha da fé” e criticou olobby ateu por dificultar o debate plural na universidade, mas se equivocou ao classificar o evento como religioso.
A polêmica também rendeu uma matéria de 20 minutos num telejornal da TV Novo Tempo, emissora mantida pela Igreja Adventista. O canal deu tempo considerável para que o físico Leandro Tessler, professor da Unicamp, e o arqueólogo Rodrigo Silva, professor do Unasp, falassem em nome das duas partes.
Em resumo, Tessler argumentou que o criacionismo é uma pseudociência assim como a astrologia e, por isso, não deveria ter o endosso institucional de uma universidade prestigiada como a Unicamp. Rodrigo, por sua vez, disse que não pretendia fazer proselitismo religioso, mas apresentar um modelo filosófico alternativo ao evolucionista-materialista. Além dele, participariam um geólogo, um bioquímico e um jornalista.
Em nota, a assessoria de imprensa da Unicamp disse que o evento havia sido organizado por um grupo de funcionários da universidade, e que os próprios organizadores, e não a reitoria, cancelaram o fórum. A razão? “Faltavam integrantes que pudessem debater o tema sob todos os pontos de vista, conforme deve ocorrer no meio acadêmico.”
Porém, os acadêmicos convidados argumentaram que, desde que o evento foi aprovado, a universidade sabia da natureza do fórum e quem seriam seus palestrantes. Além disso, a Unicamp não pediu desculpas por cancelar o evento em cima da hora e sem justificativas.
Pluralidade
Em novembro, por pouco, a história não se repetiu na Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais. Professores do departamento de Biologia protocolaram um pedido para que a reitoria cancelasse o 1º Encontro de Ciências da Terra, Geociências e Arqueologia. A solicitação foi negada, e cerca de 50 pessoas acompanharam quatro palestras sobre o tema, a partir da perspectiva criacionista.
Ponto para a pluralidade de ideias, pelo menos na opinião da estudante de Nutrição, Queisiele Carvalho. “Foi um evento que contribuiu muito para uma formação plural, porque fomos expostos ao contraponto de teorias que recebemos aqui. É o que se espera de uma universidade pública inserida num Estado laico”, assinalou.
Ronaldo Luiz Mincato, diretor do Instituto de Ciências da Natureza da Unifal, também viu com bons olhos a iniciativa e alertou para o risco de se vetar eventos semelhantes: “No momento em que a gente começar a cercear, a gente vai entrar na inquisição novamente e acabar discriminando as pessoas por sua fé.”
Para um dos organizadores do encontro, Paulo Henrique de Souza, coordenador do curso de bacharelado em Geografia da Unifal, o evento não teve proposta religiosa, mas acadêmica. Ele acredita que as universidades públicas, custeadas pelos impostos de todos os cidadãos, devem “servir de modelo de pluralidade e tolerância, incentivando a coexistência pacífica entre posições e o confronto de paradigmas”.
Abertura
Além da Unifal, outras universidades têm dado espaço para o debate sobre a origem da vida. O geólogo Nahor Neves de Souza Júnior, um dos palestrantes do evento em Alfenas, tem dedicado os últimos 20 anos a divulgar o criacionismo na academia e na imprensa. O ex-professor da USP e da Unesp, já visitou universidades como UnB, UFMG, UFBA, UFSC, UFPA e a própria Unicamp, para falar sobre seus trabalhos de campo e a leitura alternativa que faz da coluna geológica.
Em junho de 2005, em parceria com uma bióloga criacionista, o geólogo ministrou um minicurso sobre o origem da vida na Universidade de Taubaté (Unitau), no interior paulista. Durante o dia, eles apresentaram palestras e, à noite, diante de 200 alunos, debateram o tema com dois professores evolucionistas da instituição.
O biólogo Edson Timóteo Soares foi o principal articulador do evento. Na época, ele era estudante e um dos líderes do diretório acadêmico. Edson lembra com satisfação que seus colegas prontamente aceitaram realizar o encontro e até pagaram uma inscrição para assistir ao minicurso.
“Os estudantes gostaram muito do evento e elogiaram, embora tenham havido algumas críticas. Quanto aos professores, uma parte repudiou, e a outra aprovou com ressalvas, mas aprovou”, relembra. Edson revela que até o fim do seu curso, vários colegas manifestaram interesse em entender melhor o criacionismo.
Berço religioso
Apesar de algumas pontes terem sido construídas entre ciência e religião, o divórcio histórico sofrido entre as partes parece ter aberto um abismo, para muitos, intransponível. O ponto é que poucos sabem que nem sempre foi assim. E mais: desconhecem as causas dessa separação, o que torna mais difícil o diálogo e até a harmonização delas.
Para começar, a ciência moderna teve seu berço na cultura ocidental cristã. No livro E se Jesus não tivesse nascido?, D. James Kennedy e Jerry Newcombe argumentam que dificilmente o método científico teria sido elaborado, por exemplo, numa cultura muçulmana, na qual tudo é predeterminado; ou num contexto budista ou hinduísta, que ensinam que o mundo físico é irreal.
Entre os povos de crenças animistas, como os das regiões central e sul da África, fazer experiências com o mundo natural também não teria sentido, porque eles acreditam que espíritos habitam em pedras, árvores e animais. Mesmo os gregos, séculos antes de Cristo, pararam num estágio protocientífico porque tinham no estudo da natureza objetivos mais contemplativos do que de controle e transformação.
Os autores ainda destacam que a revolução científica foi precedida pela protestante; que gênios como Francis Bacon, Johannes Kepler, Blaise Pascal e Isaac Newton conciliavam a ciência e a Bíblia; e que foram religiosos que fundaram a sociedade científica de Londres, em 1660. Nessa fase inicial, o exercício da ciência consistia em descobrir as leis que Deus estabeleceu para organizar o Universo.
“A ciência foi criada num contexto monoteísta, em que se aceitou que a natureza pode ter leis universais”, reconhece o físico Leandro Tessler. Mas ele acredita que pais da ciência, como Newton, integravam ciência e Bíblia porque tinham visão de mundo diferente da que predomina hoje. “Newton foi um dos primeiros a praticar o método científico, e obviamente não tinha à disposição nada de teoria da evolução, mecânica quântica ou de física estatística. Não se poderia esperar que ele pensasse ou atuasse além do que era possível na época”, rebate o professor da Unicamp.
Separação
Talvez, o gradual, mas crescente distanciamento da ciência de suas bases teístas, possa ser explicado pelo clima de intolerância criado pelo catolicismo medieval. Prova disso é que os movimentos culturais e filosóficos que surgiram a partir daí, como Renascimento, Iluminismo e Positivismo, tiveram a mesma tônica: romper com o absolutismo da religião (veja o box “A história do divórcio”).
Para o professor Rodrigo Silva, a palavra “divórcio” não seria a mais apropriada, porque ainda hoje cientistas conseguem integrar suas pesquisas com a Bíblia. Na opinião dele, a perda de espaço da religião no meio científico foi uma reação às “mazelas eclesiásticas da Idade Média”.
Ao que parece, todo esse processo histórico preparia Darwin para conceber sua teoria, e a comunidade científica para aceitá-la. “O darwinismo foi uma ruptura. Já existiam outras teorias evolucionistas antes da dele, como o lamarquismo. Mas as ideias de Darwin tinham implicações na teleologia, ou seja, na existência de propósito para o surgimento da vida e seu desenvolvimento na Terra”, explica Wellington dos Santos Silva, doutor em Patologia Molecular pela UNB.
“Podemos dizer que o darwinismo completou o processo de mecanização iniciado com Galileu, Newton, Kepler e outros, mas com uma diferença. Os pais da ciência não eram contra a Bíblia e o Criador, enquanto Darwin não admitia em hipótese nenhuma uma ação sobrenatural no surgimento das espécies”, acrescenta Wellington, que é professor de ciência e religião da Faculdade Adventista da Bahia.
Neutralidade?
Wellington argumenta também que o espírito da época era alimentado não apenas por interesses científicos e de liberdade de expressão, mas por questões econômicas. Segundo ele, a teoria de Darwin serviu de pretexto para a exploração capitalista, que se valeu do binômio competição-evolução para sugerir outro: miséria-progresso. No campo educacional, o darwinismo impulsionou a secularização do ensino, desqualificou o clero e minimizou o poder da Igreja Anglicana.
“Geralmente, as pessoas pensam que o divórcio entre ciência e religião se deu no famoso julgamento de Galileu Galilei. Todavia, historiadores da ciência propõem que isso aconteceu lá pela segunda metade do século 19, pelo avanço da ciência e por razões ideológicas de materialistas que desejavam se desvencilhar do poder temporal eclesiástico vigente”, reforça Enézio Eugênio de Almeida Filho, mestre em História da Ciência pela PUC-SP.
Tessler admite que o contexto histórico da Inglaterra no século 19 deve ter favorecido a elaboração e aceitação da teoria de Darwin: “A ciência é uma construção humana e, portanto, está sujeita a todas as idiossincrasias do comportamento humano.”
Porém, o físico discorda que o darwinismo tenha se popularizado apenas por esses fatores contextuais: “Interesses de classe podem ter influenciado sua divulgação, mas ela não seria aceita pela comunidade científica se não oferecesse uma descrição coerente e plausível da realidade.”
Enézio, por sua vez, contesta que as ideias de Darwin ainda desfrutem de tanta credibilidade. “A teoria evolucionista de Darwin é um conglomerado de pelo menos cinco teorias. Ideias, muitas delas, conflitantes entre si. A atual teoria, a Síntese Evolutiva Moderna, necessita ser profundamente revisada ou simplesmente descartada”, dispara.
Segundo o coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, com o desenvolvimento da ciência, vieram à tona inúmeras evidências que contestam aspectos fundamentais do evolucionismo. Por isso, ele afirma que teóricos evolucionistas estão trabalhando na formulação de um novo modelo. “A nova teoria – Síntese Evolutiva Ampliada ou Estendida, contrariando Darwin, não será selecionista e deve incorporar aspectos teóricos neolamarckistas”, revela.
Reconciliação
Apesar de questionar a teoria evolucionista, o movimento do design inteligente não se propõe, como o criacionismo, a identificar quem seria o Designer e a reconciliar o conhecimento científico com o conhecimento bíblico-histórico.
Para Tessler, no caso do cristianismo, o que impossibilita essa descrição coerente e plausível da realidade é a leitura literal que alguns cristãos fazem da Bíblia. Ele acredita que o Livro Sagrado não é uma fonte historicamente confiável. Ela apresenta um relato de acordo com a visão de mundo da época em que foi escrita e pode ter sofrido reformulações ao longo do tempo. Logo, a crença religiosa e o relato bíblico não podem servir de ponto de partida para a pesquisa científica. Na visão de Tessler, a religião tem função moral e propõe um relato incompatível com várias descobertas cientificas, cuja função é descrever o funcionamento da natureza.
Rodrigo pensa diferente e acredita numa harmonização. Em primeiro lugar, ele alerta que nem tudo na teoria evolucionista é contrário à Bíblia. “Por exemplo, o entendimento da variabilidade dentro da mesma espécie fazendo com que novas raças sigam surgindo ao longo dos séculos”, exemplifica.
Rodrigo – que é apresentador do programa televisivo Evidências, produção que apresenta descobertas arqueológicas que confirmam o relato bíblico – explica que dois erros são comuns na interpretação da Bíblia: o de entender tudo como literal ou como mitológico. O arqueólogo também defende que os pesquisadores criacionistas devem fazer ciência não com o intuito de provar a Bíblia, mas com o objetivo primário de descobrir verdades sobre a natureza.
“Fazer ciência com o objetivo de provar o evolucionismo ou derrubá-lo é gravitar em torno de um dogma. E isso vale para criacionistas, evolucionistas e pesquisadores da teoria do design inteligente. Uma coisa é querer descobrir a verdade, outra é querer que ela esteja ao meu lado custe o que custar”, argumenta o arqueólogo.
Visão de mundo
Quem há décadas tem estudado sobre a possível integração entre a ciência e a Bíblia é o geólogo Nahor Neves de Souza Júnior. Hoje docente do Unasp e diretor da filial brasileira do Geoscience Research Institute, ele tem publicado artigos que tratam dessa reconciliação no site evidenciasonline.org.
Para ele e outros criacionistas, se o argumento para descredenciar o criacionismo como ciência são seus pressupostos religiosos, o mesmo deveria ser feito com o evolucionismo. Afinal, nenhum cientista vai pesquisar no laboratório ou em campo sem que sua visão de mundo interfira direta ou indiretamente na interpretação dos dados que ele coleta. Para Nahor, o evolucionismo não está baseado simplesmente em metodologia científica, mas numa cosmovisão que tira o sobrenatural da jogada e coloca em seu lugar argumentos filosóficos que revestem a natureza de atributos criativos extraordinários, quase divinos.
“Na verdade, a ciência com fundamento puramente empírico constitui um ideal inatingível, especialmente quando se procura interpretar eventos passados únicos e irreproduzíveis, como a origem da vida. Mesmo o cientista competente, em sua pesquisa, estará sendo guiado não apenas pela objetividade científica, se é que ela existe, mas por sua própria visão de mundo”, argumenta o geólogo.
Diálogo
Se essa discussão já dura séculos e não teria como ser esgotada nesta matéria, diante de todas as informações apresentadas, talvez, a atitude mais sensata para evolucionistas e criacionistas seja o diálogo. Afinal, partindo do fato de que a ciência moderna nasceu em berço cristão e que vários dos pioneiros do conhecimento científico conciliaram a fé pessoal com a pesquisa da natureza, é de se duvidar que o criacionismo representa realmente uma ameaça ou retrocesso para o avanço científico, como defendem os que se opõem ao debate sobre as origens nas universidades.
A história do divórcio
Não foi da noite para o dia que ciência e religião se separaram. Entenda o desenvolvimento desse processo histórico.
A ciência moderna surgiu da necessidade de se compreender a natureza e a realidade, usando critérios que não fossem da Teologia (catolicismo medieval) e da Filosofia (pensamento aristotélico). E a proposta inovadora para isso era trabalhar com rigorosos métodos de observação e experimentação.
Foi por isso que, na Idade Moderna, a preocupação com temas religiosos começou a dar lugar a questões cotidianas. Encontrar uma nova definição de verdade, que não dependesse da Igreja, se tornou a mola propulsora da sociedade. Pensadores renascentistas como Francis Bacon (1561-1626) contribuíram para esse processo.
No Renascimento, o pensamento humano passou a ser baseado no racionalismo e na crítica. Esse movimento cultural do século 15 deu o primeiro golpe no cristianismo medieval, enfraquecendo a autoridade da Igreja.
No século 17, com o início do movimento iluminista e a morte dos pais da ciência, o afastamento entre ciência e religião se tornou mais perceptível. Nascia ali a crença de que a razão poderia produzir liberdade efelicidade para o ser humano. A ideia de providência divina seria gradativamente substituída pelo conceito de progresso humano.
Mas razão e religião ainda não haviam rompido relações. Filósofos como René Descartes (1596-1650) acreditavam numa visão mecanicista da fé. A natureza e o homem eram regidos por mecanismos criados por Deus e caberia à ciência descobrir essas leis. Deus era o desenhista do Universo.
O passo final da separação seria dado no século 19, por influência do positivismo de Augusto Comte(1798-1856). Para ele, o avanço da sociedade tornaria o método científico o único válido para se obter averdade. Essas ideias também influenciaram a Teologia, que passou a rejeitar tudo o que havia de sobrenatural na Bíblia. Logo, as religiões passaram a ser classificadas como mitos de uma era infantil da humanidade.
Esse ambiente gerou um dogma conhecido como cientificismo, ou seja, a ciência como única dona da verdade. Diante de tanto otimismo, duas crenças triunfalistas ganharam força: a de que a ciência é o únicafonte de conhecimento válida e segura; e de que ela tem ou descobrirá a solução para todos os problemas da humanidade. Assim, o Ocidente rejeitava o Deus judaico-cristão para divinizar a ciência, e o absolutismo migrava da Igreja para a academia.
Porém, a imagem de que a ciência é neutra e seus métodos são caminhos imparciais de se chegar à verdade, sofreria duros golpes. Na transição do século 19 para o 20, algumas descobertas no campo da Matemática e da Física desencadearam uma crise na ciência moderna. O absolutismo científico foi abalado pelas contribuições da teoria geral da relatividade (Albert Einstein), da física quântica e dos novos postulados da geometria. O Universo parecia ser mais complexo do que se pensava.
Com tais questionamentos, surgiu a filosofia da ciência ou epistemologia, área que estuda a natureza, oalcance e a validade do conhecimento científico. Acadêmicos desse campo não estudam os resultados das pesquisas científicas em si, mas os pressupostos e interesses dos cientistas na escolha de determinadosmétodos.
Um dos ícones da filosofia da ciência é Thomas Kuhn (1922-1966). Em seu clássico livro A estrutura das revoluções científicas, ele argumenta que a história da ciência pode ser mais bem explicada pelasubstituição de paradigmas, do que pelo acúmulo e sobreposição de descobertas. Ou seja, até que se rompa com um modelo, as pesquisas de uma área são direcionadas por pressupostos até ali consolidados pela academia.
É verdade que muitos cientistas rejeitam essas ideias com o receio de que elas relativizem o papel social da ciência e enfraqueçam a confiança em seus métodos. Mas é preciso reconhecer que ela, como empreendimento humano, é limitada e passível de interpretações adequadas e inadequadas. Por isso, é questionável ver a ciência como a única fonte segura de conhecimento.
<imagem> cientista e pastor conversando
<imagem> cientista e pastor conversando
Fonte: Jornalismo de controvérsia: uma análise do tratamento jornalístico dado pela revista Superinteressante às incertezas científicas (dissertação de mestrado, Umesp, 2008), de Allan Novaes.
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Fonte:http://conexao.cpbeducacional.com.br/secoes/capa/a-criatura-que-rompeu-com-o-criador
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