O QUE SIGNIFICA FELICIDADE INTERNA BRUTA(FIB) ?

O que significa Felicidade Interna Bruta (FIB)?

Primeira parte do discurso proferido por Jigme Y. Thiney, o então Exmo Ministro da Habitação e Assuntos Culturais do  Butão (atual primeiro-ministro) na 2ª Conferência Internacional sobre FIB, Canadá 21.06.2005. Desde 2008,  Jigme Thiney é o primeiro- ministro do Butão.

Introdução

Felicidade Interna Bruta, como filosofia que guia o processo de desenvolvimento do Butão, foi pronunciada por Sua Majestade Rei Jigme Singye Wangchuck, logo após sua coroação, em 1972. Durante décadas, muitas conferencias e discursos levaram à um contínuo refinamento e desenvolvimento desse conceito, bem como de sua prática. Nosso Rei foi claro ao afirmar que a felicidade é o desejo final , mas não necessariamente seguido por cada butanês, na verdade, tão pouco por todo ser humano. Todas as outras coisas pelas as quais lutamos são meios para cumprir esse desejo. Ainda assim, é irônico que a sociedade seja suscetível em confundir entre esse simples objetivo e a sua complexidade. Isto explica porque o desenvolvimento convencional ou o paradigma do crescimento da economia é seriamente falho. É animador observar que entre o final do ultimo século e o começo do novo milênio, os processos de reflexão e análise no âmbito das sociedades estão reconhecendo a necessidade da busca por uma proposta clara e mais racional para o desenvolvimento. Existe um crescente nível de insatisfação em relação ao caminho que vem impulsionando a sociedade, pelas forças de suas ações, sem uma clara e significativa direção, pela força de suas próprias ações. É também notório que o processo de desenvolvimento convencional e o estilo de vida contemporâneo não são sustentáveis. Nós vemos o FIB oferecendo uma aproximação mais racional e humana ao desenvolvimento:
1º, o FIB se suporta nas necessidades holísticas humanas individuais – bem estar físico e mental. Enquanto os indicadores de desenvolvimento contribuem inegavelmente para fortalecer o bem estar físico, o estado da mente mais importante do que o corpo, não é condicionado somente por circunstâncias materiais .
2º, o qual é consequência do primeiro ponto, é que o FIB procura promover uma consciência , uma busca interior para a felicidade e habilidades necessárias as quais devem estar em harmonia com gestões benéficas e o desenvolvimento de circunstâncias exteriores.
3º, o FIB reconhece que a felicidade não deve ser interpretada ou vista como bem competitivo a ser atingido pelo individuo. Isso respalda a noção de que a busca e realização da felicidade dentro do contexto do bem maior da sociedade oferecem maior possibilidade de felicidade sustentável do indivíduo. Além disso, ao reconhecer que a felicidade não pode ser considerada como um bem ou um serviço, insisto sobre a importância de que seja respeitada como uma responsabilidade puramente individual, sem que o Estado tenha um papel direto. Deve ser enfatizado que a sociedade como um todo não pode obter a felicidade se os indivíduos competirem irresponsavelmente por ela, a todo custo. Sua Majestade acredita que a legitimidade de um governo deve ser estabelecida com base em seu comprometimento de criar e facilitar o desenvolvimento das condições que viabilizem as metas dos cidadãos na busca de seu objetivo mais importante e o propósito da vida. Para este fim, o FIB enfatiza a felicidade coletiva como uma meta a ser diretamente perseguida através de políticas públicas nas quais a felicidade se torna um critério explícito no desenvolvimento de projetos e programas.
4º, como a felicidade é de interesse comum do eleitorado individual e coletivo e transcende valores ideológicos ou controvertidos, as políticas públicas baseadas no FIB, são muito menos arbitrárias do que as baseadas nos instrumentos do padrão econômico.

Predisposições sócio culturais para o FIB 

A política tradicional do Butão, alicerçada na cultura Budista, sempre foi direcionada ao FIB. O equivalente budista ao “Contrato Social”, declarado no Butão em 1675, estabelece que a felicidade de todos os seres sencientes e os ensinamentos de Buda são mutuamente dependentes. A Legislação de 1729 visa que as leis devem promover a felicidade de seres sencientes. Como é conhecido popularmente , muito do que podemos chamar de Budista, ciência da mente, é sobre gerir sentimentos e emoções. Assim, uma grande parte do conhecimento cultural e educacional na sociedade tradicional visou condicionar a mente para dar ou causar felicidade para todos os seres. Iluminar o interior ou a natureza humana torna-se uma tarefa consideravelmente maior do que dominar a natureza e manipular o mundo para ganhos pessoais ou mesmo nacionais.
Isso ajuda a explicar porque o butanês deve, em geral, ter a predisposição para uma meta de desenvolvimento mais holístico e não convencional que reconheça a felicidade como o principal e talvez o único objetivo de desenvolvimento.

Contexto internacional 

Em geral, modelos para países desenvolvidos e em desenvolvimento não incluem, claramente, a felicidade como um objetivo final e medidas contemporâneas de progresso normalmente não costumam abordar a felicidade. É assumido que a felicidade é o resultado colateral das políticas sócio econômicas. Isso não deve sugerir que devemos rejeitar todas as abordagens completamente atuais e seus parâmetros. De fato, os objetivos do Desenvolvimento Humano, Desenvolvimento Sustentável e as metas de Desenvolvimento do Milênio são nobres e apoiadas por indicadores bem concebidos. Da mesma forma , o Índice de Progresso Genuíno , pioneiro aqui na Nova Escócia, é uma notável medida do verdadeiro avanço humano. Igualmente, existem outras instituições e indivíduos, na America do Norte e na Europa, que estão desenvolvendo um trabalho semelhante. Contudo, precisamos estar cientes da possibilidade de que metodologias variadas e cenários resultantes possam ser diferentes dos objetivos do FIB.
O que o FIB procura é uma abordagem holística e abrangente para o desenvolvimento. O FIB contempla as políticas publicas proativas, programas de intervenção e o comprometimento dos recursos necessários. Mas nós podemos concordar que esses diversos esforços e convergências dos interesses podem e devem contribuir para o desenvolvimento da felicidade como um estado grave de responsabilidade e que não deve ser rejeitada convenientemente como utopia ou ideologia.
É gratificante notar que os meios de comunicação, e acadêmicos, especialistas em desenvolvimento e sociólogos tem igualmente mostrado crescente interesse no tema da felicidade, nos últimos anos. O desejo e a viabilidade da felicidade como um objetivo essencial e como meta da sociedade tem sido ressaltada com resultados empíricos e um aumento nas pesquisas. Certamente, isto são reflexos das crescentes preocupações populares e interesses da sociedade – esta sociedade não está satisfeita com o nosso estilo de vida insustentável, insatisfatório e infeliz com os sinais ameaçadores de nosso futuro coletivo. Isto deve ajudar a gerar mais compreensão , conhecimento e sabedoria, através de atividades dignas como aquelas nas quais estamos presentemente envolvidos. Estou certo que o interesse público no assunto não é uma tendência passageira e que a aceitação pública do poder e razões fortes, servirão para impulsionar um aprofundamento da pesquisa e da política de intervenção.
1. Uma das primeira boas justificativas, corroboradas por estatísticas incontestáveis, é que o múltiplo crescimento da renda real em vários países altamente industrializados nos últimos 50 anos não levou a incrementos iguais de felicidade. Resta, evidente, que as vitórias na exaustiva rotina para ganhar mais dinheiro, ter mais e consumir mais, não trazem a verdadeira e duradoura felicidade. O rico, o poderoso e o glamouroso, ao que parece, são frequentemente os que são mais empobrecidos espiritualmente e socialmente e portanto, menos felizes. Embora exista espaço considerável para melhorias para “o que” e “como medir a riqueza e a felicidade”, a falta de qualquer correlação entre os dois, após satisfazer as necessidades básicas, indica claramente que a felicidade não pode ser encontrada no caminho, sem rumo, sem fim, alimentada pela ganância insaciável do homem.
2. Isto me leva à segunda razão – a ilusão da felicidade mercadológica, ou seja “orientada pelo mercado”. O mercado exige grande eficiência e alta produtividade. Exige maximização do lucro, demanda impiedosa de competição, e se utiliza do engodo como meio. Mas estas são as causas básicas que servem para desumanizar a sociedade e minar os fatores que criam a felicidade. Como foi bem documentado, trabalho exigente e pesado que são necessários para a eficiência e a produtividade, é difícil de ser balanceado com prazer e vida social que nos traz satisfação. Além disso, mobilidade e mudanças de emprego impostas pelo mercado são inconsistentes com a necessidade vital para o sustento de vida comunitária assim como a segurança emocional é diminuída pela economia de mercado. E vale a pena repetir que, alijando os fracos, tornando o lucro o motivo central da indústria e capitalizando os instintos mais básicos da inveja e da ganância não constituem os ingredientes para uma sociedade harmônica.
3. Relacionado com mudanças de mobilidade e localização como ditadas por nossas vidas profissionais, é nossa tarefa , ao mesmo tempo, ficarmos conectados através dos melhores meios virtuais e reais. Uma outra preocupação vem da realidade de que as pessoas estão vivendo cada vez mais distantes, apesar de estarem sempre conectadas. Nós somente temos que lembrar da quase completa desintegração da estrutura familiar ou redes nas sociedades urbanas ou industrializadas , os altos índices de divórcio, pais solteiros, quebra de confiança e perda da verdadeira amizade que são conhecidos como fatores de infelicidade. Se a educação por pais solteiros é um aspecto crescente da vida moderna, o envelhecimento por si só é também uma perspectiva crescente. É irônico que a longa vida oferecida pela ciência e pela medicina sirva para prolongar as dores da solidão e desolação.
4. A quarta razão é encontrada no aumento de doenças mentais, alcoolismo e crimes relacionados em todas as faixas etárias. Em seguida, há o suicídio , que é um claro sinal de ausência de suporte emocional e psicológico. É um sintoma de falta de qualquer propósito na vida e na perda da esperança da felicidade. Taxas de depressão também são substanciais em várias sociedades e a mais recente estatística americana é alarmante mas reveladora. Minha lista, claro, não é exaustiva. Estes exemplos representam algumas das várias preocupações populares, alvos de destaque nos meios acadêmicos e de comunicação. Tendo em vista os impulsos sócio-culturais internos e as evidências externas, não foi com pouca consideração ou convicção que nós, no Butão, optamos por um processo de desenvolvimento que alguns reconhecem como um novo paradigma.
Tradução:  Gleisy Coimbra 



Segunda parte do discurso proferido por Jigme Y. Thiney, o então Exmo Ministro da Habitação e Assuntos Culturais do  Butão (atual primeiro-ministro) na 2ª Conferência Internacional sobre FIB, Canadá 21.06.2005.

Resposta Política no Butão : Quatro pilares do FIB 

FIB é um conceito amplo e mais profundo nas suas implicações do que aqueles transmitidos pelo atual conjunto de prioridades políticas, representado pela metáfora dos pilares no Butão. Dentro do Butão, as quatro áreas de prioridade do FIB são notadas como um meio definido para promovê-lo, isto é, para criar condições que possam permitir que cada cidadão busque a felicidade com uma razoável chance de sucesso. Nós admitimos que isto pode, não necessariamente, ter aplicação universal. Mas, devo afirmar que a idéia de medir a felicidade foi extraída com a observação: “olhe para os rostos da pessoas e veja a amplitude de seus sorrisos”. Ao invés disso, nós focamos em prioridades políticas, amplas, que foram assumidas para serem macro condições da felicidade coletiva.
O que é claro para nós é que em um Estado que leve em conta a responsabilidade pela felicidade coletiva, o FIB deve ser um sério mediador das políticas públicas. E o FIB, como um programa para mudanças sociais e econômicas para remover os obstáculos que levam à felicidade, deve se concentrar no conteúdo e na natureza das políticas públicas. Se a promoção da felicidade é a principal proposta do FIB ,entao é essencial que os programas institucionais de uma sociedade reflitam sobre esse valor. É até mesmo muito desafiador contemplar como deve ser o FIB. A natureza e os fundamentos teóricos de um desenvolvimento moderno ou estado democrático moderno são bem conhecidos. Mas as estruturas e o processo do FIB ainda precisam ser definidas mais claramente. Se isso tudo precisa ser feito, deve ser distinto de qualquer estado ascendente liberal ou de um estado socialista em declínio. Qual será a natureza politica economica do FIB? O que será o bem estar social adequado, fundamentos legais e constitucionais para o FIB ? Quais serão suas políticas de saúde e educação? Como deveria mudar a politica ? E assim por diante.
Existem muitas questões que requerem um exame inicial com os princípios básicos. Nao estou nem mesmo em posição de sugerir, nesse momento, que o Butão seja um estado FIB, embora tenha essa aspiração para tal. Através de conferências como esta e pesquisas sobre a felicidade , nós esperamos encontrar experiências e aprender, enquanto continuamos a elaborar políticas públicas consistentes com o FIB .
Neste estágio no Butão, e como eu mencionei , a criação de um ambiente propício para o FIB está sendo realizada através de um conjunto de quatro estratégias-chaves popularmente conhecidas como os quatro pilares, a saber:
(1) Desenvolvimento sócio econômico sustentável e equitativo
(2) Conservação do meio ambiente
(3) Preservação e promoção da cultura
(4) Promoção de uma boa governança
Estas áreas temáticas podem ser como um catálogo incompleto da política de bom desenvolvimento, mas elas abrangem as áreas importantes de concentração que servem para o objetivo pretendido. Ao construir e fortalecer esses quatro pilares, devemos ficar atentos a sua inter dependência, como de fato, na realidade, para assegurar um desenvolvimento holístico. Somente com esta perspectiva holística, as externalidades que são eliminadas as custas de um setor não serão manifestadas em outro. Também acrescentaria que políticas alternativas para o FIB são , certamente, concebíveis. Seria interessante ver o que esta conferência pode produzir a este respeito.
Desenvolvimento sócio econômico sustentável e equitativo 
A necessidade de desenvolvimento material é clara a partir da escala do sofrimento econômico enfrentado pela maioria da população mundial. Ignorância, doenças , privação e pobreza nas suas formas mais desprezíveis ainda são sérios desafios enfrentados por boa parte do mundo em desenvolvimento. O crescimento econômico é de absoluta necessidade para erradicar a pobreza. E portanto, é correto dizer que para muitos países e vastas áreas de nossa comunidade global onde sobrevivência física é um desafio diário, a política econômica é o que mais importa. A criação de empregos e condições de subsistência são pré requisitos para a felicidade. Para eles, as políticas econômicas são políticas de felicidade, mas não o contrario. Em geral, aparecem três considerações que devem guiar para o desenvolvimento econômico orientado do FIB .
1. A economia do FIB , os meios e a natureza das atividades econômicas escolhidas são tão importantes como o seu resultado em termos de crescimento econômico. Como refletido pela pesquisa do Indice de Progresso Genuino ,a economia do FIB deve fazer distinções qualitativas no conjunto de atividades econômicas para o mesmo nível de crescimento e tamanho da economia.
2. O sistema de medida da economia do FIB deve ser , necessariamente, diferente da aferição convencional do PIB. Isso deve valorizar as contribuições sociais e econômicas das famílias, o tempo livre e o lazer, dado os papéis desses fatores na felicidade .Os indicadores não devem ser voltados para o consumo. Deve-se levar em conta a conservação de capital social, ambiental e humano.
3. A economia do FIB deve ser concentrada na redistribuição da felicidade através da redistribuição de renda . Isto nao é somente uma proposta ética, mas sim porque nós não podemos escapar da realidade de viver em um mundo de percepções distorcidas onde as pessoas obtêem satisfação relativa e não absoluta na riqueza ou no consumo. A vicioso espiral auto destrutiva de emular ou superar a qualidade de vida da família vizinha em meio à exorbitante desigualdade é um obstáculo para a felicidade coletiva. Ainda, a orientação de nossas percepções em relação as reais e absolutas necessidades e a habilidade para encontrar satisfação após ter cumprido essas necessidades é em si um desafio quase impossível mas inevitável para a economia FIB.

Conservação do meio ambiente

Entrando no tema sobre o meio ambiente, a partir das pesquisas sobre felicidade, suponha-se que a biodiversidade e meio ambiente não são fortemente correlacionados com a felicidade. Isto é, em parte, porque aparentemente, ninguém tentou a sério medir a felicidade contra as variáveis do ambiente. Contudo, é dificil argumentar contra o valor do meio ambiente na vida cotidiana, fora nossa felicidade, dado que a nossa saúde e experiências estéticas dependem da qualidade do ambiente físico que nos rodeia. Isto é particularmente verdadeiro para os butaneses que vivem em ambiente extremamente frágil. Entre comunidades agrícolas, como vivem a maioria dos butaneses, vivendo não somente próximo, mas dentro da natureza, o modo de vida depende diretamente da riqueza de seus recursos naturais, o que oferece para eles alimentação, medicina, lazer e uma série de recursos essenciais. Eu afirmo, que até mesmo o desenvolvimento de nossos sentidos mais sutis dependem do nosso regular, se não diário, acesso ao meio ambiente natural. Assim, asseguro que há uma demonstrável relação entre felicidade e ambiente natural.
Dada a nossa intuição sobre meio ambiente e felicidade e nosso medo imediato das consequências da modificação da ecologia do Himalaia, o Butão lançou vigorosas politicas “verdes “de preservação e biodiversidade, cuja implementaçao não tem sido sem custos em termos de oportunidades industriais e comerciais. Mas nosso país é mais ” verde” do que temos na memória, com 26 % dedicado a santuários da vida selvagem e 72% de cobertura florestal.
Mas não é suficiente que tomemos ações locais e nacionais. Existem muitos fatores externos que fazem e afetam diretamente nossa sobrevivência. O aquecimento global, por exemplo, já levou a taxas muito visíveis e alarmantes do derretimento das geleiras, que são as fontes e os reguladores naturais de nossos sistemas fluviais. Previsões sobre a possibilidade concreta do desaparecimento de todas as geleiras na terceira região polar ou seja, no Himalaia, nos próximos 30 a 50 anos são assustadoras.
O mais recente relatório do nosso departamento de geologia e minas, que tem estudado o comportamento glacial desde 1967, não é encorajador. Não só o Butão pode eventualmente se tornar um deserto mas, o processo que levaria a esse estágio poderia ser devastador e prolongado. Muitos de nossos vales férteis poderiam ser varridos pelas enchentes de origem glacial que não são mais um fenômeno raro nas regiões montanhosas do mundo. O impacto de tudo isso nos 2,500 bilhoes de pessoas que vivem na região do Himalaia e pela segurança de todo o mundo é impensável, especialmente a escassez de água que já é uma grande preocupação. Não seriam apenas as Ilhas Maldivas e outras ilhas baixas e costeiras imóveis que estão em risco, a menos que as emissões de gás estufa sejam controladas e reduzidas. Do mesmo modo, a suscetibilidade do Butão aos raios nocivos do sol por conta da destruição da camada de ozônio poderia ser significativamente maior do que nas baixas altitudes.
O mundo precisa, desesperadamente, reconhecer a terra como um organismo que precisa ser nutrida e protegida. Precisa com urgência aceitar as várias evidências que provam que nossos recursos naturais e finitos estão esgotando enquanto a magia da natureza de regeneração e reposição está desaparecendo. O Butão foi chamado de um ponto de acupultura no corpo de nosso planeta doente.

Preservação e promoção da cultura 

Deixe-me começar pela prioritária área da cultura para o FIB, apontando que a cultura recebeu, ano passado, a atenção da PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) através de um relatório sobre o desenvolvimento humano, intitulado de “Diversidade Cultural no Mundo Atual “. Livre escolha é semelhante a liberdade e sendo fundamental para o desenvolvimento e a saúde. Do começo ao fim, o relatório ressoa com a mensagem de que o indivíduo deve ter o direito de escolha, mudança e correção dos vários elementos de suas múltiplas identidades culturais.
Embora deva haver todo o espaço para a escolha, devemos distinguir situações em que os indivíduos mudam suas identidades voluntariamente a partir de situações em que indivíduos impotentes são modificados por forças profundamente invasivas, tais como regimes de comércio livre a céu aberto, que geram hibridização e perda de identidade natural cultural e deslocamento de economias vernaculares, mesmo antes que se perceba. É particularmente verdadeiro em situações altamente assimétricas como no Butao, onde fortes influências culturais externas poderiam literalmente oprimir valores culturais locais no momento em que, as fronteiras se abram sob o ataque da globalização – daí a necessidade de uma vigorosa promoção das culturas indígenas como um contexto para fazer uma opção real, disponível para os indivíduos. Nós acrescentamos que o estado que não preserva a riqueza de sua cultura é um estado onde as escolhas e o bem estar dos cidadãos são diminuídas e muito limitadas.
Entretanto, é verdade, que também existe a dificuldade de reconciliação dos direitos humanos com os direitos de cultura, grupos coletivos. Como foi mostrado, os grupos não se sentem confortáveis com o conceito de indivíduos autônomos como optantes. Porém, o que nós podemos dizer a favor dos grupos com traços implícitos pela cultura, é que a escolha é um instrumento para a busca do bem estar e da felicidade. Mas como é bastante conhecido, bem estar e felicidade são considerados buscas compartilhadas. Felicidade existe e cresce com partilha.Acho difícil aceitar que o desenvolvimento humano deve ser visto somente a partir do ponto de vista da liberdade do indivíduo e envolvido em “escolhas crescentes para ser e fazer o que se valoriza” (ou deveria dizer o que se quer ?) sem se relacionar com qualquer bem maior social.
Porém a questão sobre direitos humanos e liberdade cultural parece ser mais complexa na realidade. Deixe me mostrar um ponto. Nós precisamos estar atentos aos seres humanos não somente como portadores do mesmo conjunto de direitos universais, mas também como indivíduos mais complexos com particularidades sociais e culturais que os definem. Nós precisamos aderir aos direitos e liberdade humanos como mínimos padrões básicos universais para mediar as reivindicações individuais de um contra o outro ou entre indivíduos e o estado. Mas nós podemos explorar ainda mais a visão de que a completa interdependência só pode surgir quando e se não vermos nós mesmos somente como independentes e como portadores de direitos separados, mas como seres relacionais. Como um estudioso colocou, sofrimento e infelicidade no final, não provém nem das condições reais de perda nem do infortúnio, mas quando o fluxo das relações significativas é bloqueado ou interrompido.
Também acho intrigante a ênfase nas leis do Estado de Direito na regulação das relações humanas. É um paradoxo pregar contra o conformismo e promover, ao mesmo tempo, o Estado de Direito. Excessivas ênfases do estado através das legislações que regulam a maioria das relações humanas e de condutas é, na minha opinião, coerção estatal. Enfraquece a virtude e a indispensabilidade da responsabilidade social e voluntária decorrentes de respeito e crença na sociedade e seus valores. Muitas vezes me perguntei se reduzindo a vida da comunidade juntamente com seus imperativos é o resultado de nossas volumosas leis. Parece razoável, como exemplo, fortalecer os costumes e tradicões que exigem que pessoas casadas sejam boas com seus comjuguês e filhos porque eles veem virtude nisso e querem desfrutar a felicidade gerada ao invés de estar fazendo isso apenas para cumprir a lei.

Boa governança

Em um certo sentido, garantir qualquer bem público , como a felicidade coletiva, depende de uma governança estruturada. Claro, se um governo deve refletir o desejo final democrata ou a opinião do povo, o qual é feliz, então a natureza da governança deve ser também sintonizada para tal. . Mas devo admitir que tanto na teoria quanto na prática estamos longe de fundamentar o FIB em qualquer sistema contemporâneo de estruturas de políticas governamentais , no qual o mais estabelecido é o sistema democrático liberal.
De qualquer forma, de acordo com os tempos, nós no Butão estamos prestes a assumir formalmente a democracia parlamentar. Sua Majestade, o Rei, a fonte de todas essas mudanças positivas, recentemente fez circular uma minuta da Constituição do Reino do Butão que opta por intituições democráticas liberais. Nós tomamos um sistema como o melhor arranjo institucional concebível para proteger os bens públicos e de governança. Mas não devemos nos trair com o princípio de que o sistema liberal democrata é uma maifestação climática em uma evolução linear e convergente das insituições políticas, como pensam alguns estudiosos .
Participantes ilustres, voces estão bem cientes que mesmo na melhor das sociedades democráticas, os valores democráticos como a liberdade e igualdade que os homens tanto lutaram para alcançar nos parecem certos em um momento, mas incertos em outro. Nós estamos bem conscientes da tensão entre a liberdade e a equalidade e a mudança de limites entre eles. Da mesma maneira, somos lembrados das linhas vacilantes entre o domínio privado e o público e entre o secularismo e a política.
Todas as intituições humanas são sistemas de relacionamento entre os indivíduos, que não tem uma natureza inerente. Sempre podemos decidir nos movermos na direção de aperfeiçoar as nossas experiências ou “relacionalidades” compartilhadas nas quais a felicidade surge e se dissolve dependendo da qualidade dos relacionamentos. Ao faze-lo, nós podemos melhorar qualquer arranjo institucional e condições humanas. Por exemplo, mesmo aliviando a pobreza – um objetivo primário de muitos governos e de agências internacionais – isto é apenas uma parcela do alívio das circunstacias materiais objetivas. Como entendo, pobreza resulta da falha de relacionamentos os quais podem ser revividos ou reforçados por melhores valores e intenções no coração das instituições.
O que parece exigir atenção mesmo entre estados democráticos é a questao sobre os valores motivacionais que impulsionam as intituições ao poder, ao invés de somente suas formas. Nós precisamos perguntar se os valores e as intenções que os guiam e os processos empregados para governança, ambos em níveis internacionais e nacionais, estão alinhados com a procura da felicidade, onde é importante a felicidade de cada pessoa . O fato que as governanças nacionais e as relações internacionais estão mais entrelaçadas do que nunca, como a governança nacional é raramente independente do contexto internacional em um mundo globalizado, esta tambem apresenta oportunidades. Fornece possibilidades e razões para refletir as questões e repensar os objetivos ,o conteúdo e a natureza das relações internacionais e das instituições globais. Nós devemos questionar e considerar que a possibilidade de focar na felicidade pode nos levar à um mundo mais pacifico, mais harmonioso e equitativo e à uma real sociedade humana sustentável e civilizada.

 Conclusão

Para resumir, FIB é uma equilibrada e holística aproximação para o desenvolvimento. É baseado na convicção de que o homem é compelido pela natureza para procurar a felicidade, e este é o maior e único desejo de todo cidadão. A única diferença entre o Butão e os outros países é que nós não a rejeitamos como uma busca utópica.
O Butão espera aprender com esse discurso sobre o assunto. Nós estamos profundamente encorajados pelo crescente número de artigos e livros que começaram a surgir sobre esse assunto desde nossa primeira conferência internacional do FIB em Thimphu. Do mesmo modo, nós tivemos o prazer de receber varias pesquisas de estudiosos e proeminentes jornalistas do Butão. Evidente, existe interesse crescente em como ser feliz em oposição a como se ganhar dinheiro. Dólares e centavos não são o ponto de partida da vida. É nossa esperança que quanto mais houver reflexões para essa busca na vida, existirão mais ideias e razões do porque o FIB deveria conduzir o desenvolvimento humano à aperfeiçoar a civilização humana.
Tradução:  Gleisy Coimbra 

As nove dimensões do FIB

Bem-estar psicológico – Avalia o grau de satisfação e de otimismo que cada indivíduo tem em relação a sua própria vida
Saúde – Mede a eficácia das políticas de saúde com critérios como auto avaliação da saúde, invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercícios, sono, nutrição, etc.
Uso do tempo e Equilíbrio – É um dos mais significativos fatores na qualidade de vida, especialmente o tempo para lazer e socialização com família e amigos. A gestão equilibrada do tempo é avaliada, incluindo tempo no trânsito, no trabalho, nas atividades educacionais, etc.
Diversidade e Vitalidade Comunitária – Foca nos relacionamentos e interação nas comunidades. Examina o nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado.
Educação – Leva em conta vários fatores como participação na educação formal e informal, competências, envolvimento na educação dos filhos, valores em educação, educação ambiental, etc.
Resiliência Cultural – Avalia as tradições locais, festivais, participação em eventos culturais, oportunidades de desenvolver capacidades artísticas e discriminação por causa de religião, raça ou gênero.
Diversidade Cultural e Resiliência – Mede a percepção dos cidadãos quanto à qualidade da água, do ar, e da biodiversidade. Os indicadores incluem acesso a áreas verdes, sistema de coleta de lixo, etc.
Governança – Avalia como a população enxerga o governo, a mídia, o judiciário, o sistema eleitoral, e a segurança pública, em termos de responsabilidade, honestidade e transparência. Também mede a cidadania e o envolvimento dos cidadãos com as decisões e processos políticos.
Padrão de Vida – Avalia a renda individual e familiar, a segurança financeira, o nível de dívidas, a qualidade das habilitações, etc.

Ainda sobre o FIB

O artista e web designer Jonathan Harris (nascido em 1979) que vive no  Brooklyn, Nova York, desenvolveu o projeto com alguns butaneses chamado The Ballons of Bhutan, Os Balões do Butão, inspirado no FIB. Ele ganhou três Webby Awards e foi homenageado como “Líder Global Young” pelo Fórum Econômico Mundial. Vale a pena conferir o belo trabalho de Jonathan Harris.
Butão quer ter produção de alimentos 100% orgânica.  Clique aqui e leia a matéria sobre o projeto de tornar a agricultura do Butão 100% orgânica (em português).


Felicidade Interna Bruta

Excelente reportagem exibida no Fantástico feita por Sônia Bridi em 2010 sobre o Butão e o índice de Felicidade Interna Bruta , um marcador que mede o nível de satisfação da população.
“Quanto vale viver no paraíso? Ter água em abundância, plantar e colher com fartura? Como se mede a riqueza de um povo que tem pouco, mas tem tudo? Terra, que tempo é este? Estamos no Butão, um pequeno reino espremido entre a China e a Índia, os dois países mais populosos do planeta, as economias que mais crescem. Mas neste lugar, não há indústrias, o consumo não é incentivado. A medida do desenvolvimento é a felicidade.”

“Para os budistas, não acho que FIB (Felicidade Interna Bruta) seja nada de novo, e de fato foi  ensinado pelo Buda há 2.500 anos, quando ele disse que onde há ganância não há felicidade. ” Dzongsar Khyentse Rinpoche
Um pouco mais sobre o tema. No programa “No Caminho” do canal Multishow, com Susanna Queiroz.

Dois vídeos que valem a pena serem vistos. No primeiro, o Lama Padma Samten fala sobre o papel do lama na sociedade, sobre vida humana preciosa humana e sobre a felicidade dentro do contexto budista. No segundo, um curta de Heloisa A Oliveira, sobre o Butão e o FIB, índice que mede o nível de satisfação da população do Butão.
Felicidade Interna Bruta (FIB) ou Gross National Happiness (GNH) é um conceito de desenvolvimento social criado em contrapartida ao Produto Interno Bruto (PIB). O termo foi criado pelo rei do Butão Jigme Singye Wangchuck, em 1972, em resposta a críticas que afirmavam que a economia do seu país crescia miseravelmente. Esta criação assinalou o seu compromisso de construir uma economia adaptada à cultura do país, baseada nos valores espirituais budistas. Assim como diversos outros valores morais, o conceito de Felicidade Interna Bruta é mais facilmente entendido a partir de comparações e exemplos do que definido especificamente.
Enquanto os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objetivo primordial o crescimento econômico, o conceito de FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, assim se complementando e reforçando mutuamente.

Os Pilares da FIB

Promoção de um desenvolvimento socio-económico sustentável e igualitário
Preservação e promoção dos valores culturais
Conservação do meio ambiente natural
Estabelecimento de uma boa governança
Fonte: Wikipedia
Fonte:http://bodisatva.com.br/felicidade-interna-bruta-2/

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