O sentimento de amor se transforma ao longo da vida
Foto: JJack/Thinkstock/Getty Images
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Dos 20 aos 60 anos: mulheres contam como é se apaixonar em diferentes fases da vida
Cinco mulheres demonstram como a descoberta do amor pode assumir diferentes significados conforme a idade, o histórico de realizações e as ambições profissionais.
O título não deixa dúvida a respeito do conteúdo. Lançado pela editora Paralela, selo da Companhia das Letras, O Amor Chegou Tarde em Minha Vida é uma biografia franca de uma das jornalistas mais famosas do país (veja entrevista no final da matéria). Aos 48 anos, Ana Paula Padrão conta, sem pudores, como foi deixar a disputada bancada do Jornal da Globo, em 2005, para dedicar mais tempo ao segundo marido, o economista paulistano Walter Mundell, com quem se casou aos 36.
Uma decisão, segundo ela, possível apenas quando já se atingiu certo grau de maturidade e realização profissional. Ela alega que não queria mais o trabalho no centro de sua vida, justificando a resolução, que causou celeuma na época."O amor fez toda a diferença. Hoje, sou uma pessoa completa."
Suas confissões demonstram como a descoberta do amor pode assumir diferentes significados conforme a idade, o histórico de realizações e as ambições profissionais. Com o tempo, acumulamos vivências, boas e ruins, e ficamos mais racionais. O avanço da idade gera novas expectativas. A atração física, imperiosa no começo da vida afetiva, cede espaço à busca por companheirismo e afinidades na profissão, nas finanças e nos gostos pessoais.
Da mesma forma, a dor do amor desfeito assume diferentes matizes. Enquanto o mundo parece desmoronar na adolescência, com o tempo aprendemos que coração quebrado tem conserto. Nem por isso a emoção de amar diminui com a idade, como comprovam as histórias a seguir.
Aos 20 - "O amor tem mais afinidade com a coragem".
Natasha Siviero
Foto: Everton Nunes
Foto: Everton Nunes
"Hoje, quando alguém me diz que vai se casar aos 21 anos, até acho cedo. Mas comigo não foi - e não me arrependo. O Rafael tinha 24 anos e estávamos na mesma turma na faculdade de comunicação. Ele era charmoso, chamava a atenção com seu olhar oblíquo e pernas longas. Entendi que a atração física era amor quando passei a querer dormir com ele todas as noites. Deixei para trás o meu quarto, a convivência diária com meus pais e irmãos, o forró de domingo... Tive dúvidas, claro, mas não precisei de certezas para decidir pelo casamento.
O amor tem mais afinidade com a coragem. Não sou mais a mesma pessoa, o que é visível no meu blog Samba Pras Moças. Eu, que sempre fiz um dramalhão das pequenas coisas, passei a amar o que é pequeno em sua miudeza. Das dores homéricas, amores e paixões, minhas crônicas ganharam outros temas: vieram parar no carrinho de compras do condomínio e nas tarefas da babá, mas sem abandonar a intensidade de quem é jovem. Não tenho ciúme, sou segura. Quando o Miguel nasceu, há dois anos, nosso amor mudou. Ficou mais livre, cheio de compaixão, de entrega e mansidão, sem urgências."
Natasha Siviero, 26 anos, escritora
Aos 30 - "Eu não sonhava com casamento, mas acabei sendo atropelada pelo amor".
Luciana Canuto
Foto: Filipe Redondo
Foto: Filipe Redondo
"O Paulo César é ator e eu o conheci no palco, quando participava de uma peça produzida por alguns amigos. Foi amor à primeira vista; não conseguia tirar os olhos dele. Eu estava prestes a completar 33 anos; ele tinha 31. Do espetáculo, fomos para um churrasco e logo ficamos amigos. Começamos a sair pouco depois, mas o primeiro beijo demorou semanas para acontecer. Engatamos um namoro cheio de idas e vindas, pois ele morava em Belo Horizonte e viajava bastante a trabalho.
Eu, em São Paulo, passava por um momento profissional muito bom. Achava que um relacionamento não caberia na minha vida. Era engraçado, minhas amigas da mesma idade estavam todas desesperadas pela pressão do relógio biológico e das famílias. Eu sempre era madrinha dos casamentos, mas não sonhava com aquele tipo de romance para mim - só que acabei sendo atropelada pelo amor. Cerca de dois anos depois, decidimos morar juntos.
Se fôssemos mais jovens, não teríamos tido estrutura para modificar tanto a nossa vida. Ele trocou de cidade e deixou a família para morar comigo. E eu, que sou filha única e sempre fui individualista, aprendi a conviver. Nossa filha, Marina, nasceu em 2008. Ela já tinha completado 3 anos quando casamos de papel passado, e a cerimônia coroou um momento importante da nossa história. Nem por isso digo que vivemos um conto de fadas, pois a rotina no casamento é difícil. Ao olhar para trás, porém, e ver tudo o que passamos juntos, tenho certeza de que valeu muito a pena."
Luciana Canuto, 42 anos, funcionária pública
Aos 40 - "Quando jovem, persisti num amor sem retribuição. Hoje, sei que o amor é recíproco."
Francisca Xavier, 60 anos, funcionária pública
Foto: Anna Luiza Fischer
Foto: Anna Luiza Fischer
"Conheci um rapaz no primeiro período da faculdade de direito, aos 20 e poucos anos, e me apaixonei. Cinco anos depois, entrei de cabeça e começamos a namorar, mas ele não mantinha o compromisso e descobri várias traições. Só consegui deixá-lo aos 40. Sentia que havia perdido 13 anos da minha vida e não queria ficar só, mas nunca fui de frequentar bares atrás de alguém. Muito menos naquela idade. Procurei anúncios sentimentais no jornal, mas não gostei de ninguém. Resolvi me inscrever em uma agência de matrimônios. Como nunca encontrava a pessoa certa, decidi tocar a vida sozinha. Até que conheci o José na fila do cinema.
Era viúvo e procurava uma companheira que o ajudasse a criar o filho adotivo, então com 5 anos. Marcamos um encontro. Eu tinha sofrido muito e não estava preparada para casar, muito menos para ganhar um filho, mas o amor aconteceu com o tempo. O Zé e o garoto me conquistaram.
Temos muita cumplicidade e carinho um pelo outro. Ele me pressionou e casamos dois anos depois. Foi difícil encontrar alguém nessa fase da vida, porque sempre trabalhei muito, sem horário certo para chegar em casa. Eu, que não tive filhos e podia bater a porta sem dizer para onde ia, me vi administrando uma carreira, um casamento e uma criança. Mas valeu a pena. São 16 anos de uma relação que não me machuca. Quando jovem, persisti num amor sem retribuição. Hoje, sei que o amor é recíproco."
Aos 50 - "O amor na maturidade envolve menos sexo, mas você aproveita mais."
Maria Magdalena Frechiani
Foto: Everton Nunes
Foto: Everton Nunes
"Na adolescência, sentia borboletas no estômago se gostava de alguém. Conheci o pai das minhas filhas na faculdade de medicina. Era interessante, culto, inteligente... Engravidei na primeira transa e casei aos 21 anos, logo após sair da cadeia - já estava grávida quando fui presa pela ditadura. O Guilherme tinha 23 anos e passamos por dificuldades financeiras e emocionais que minaram o relacionamento. O casamento acabou quando nossa terceira filha estava com 3 anos.
Depois, não tive relacionamentos sérios. Aos 35, namorei um rapaz sete anos mais jovem, meu aluno na residência médica. Mais tarde, mantive uma relação mais ou menos estável com um médico, mas nossos gênios não batiam. Quando terminou, eu tinha pouco mais de 40 anos e achei que chegava. Passei oito anos sem ninguém, não valia a pena me envolver. Até que, aos 54, conheci o Albert a caminho da praia. Ele é irmão da minha vizinha e havia perdido a mulher tragicamente numa cirurgia. Marcamos um encontro no Réveillon, no sul da Bahia, só que ele não apareceu. Cheguei a desistir, mas em janeiro ele surgiu na minha casa e começamos a namorar.
Meus quatro netos acharam o máximo. Aquele janeiro foi muito intenso, realmente me senti uma adolescente apaixonada e ridícula. Sempre fui muito direta, um pouco dura, mas a paixão é química, sempre dá frio na barriga. Seis meses depois, descobrimos que ele tinha câncer no pulmão. Eu mal conhecia aquele homem, mas, depois de operado, passou um semestre em recuperação na minha casa e hoje está bem. Temos diferenças. Ele é possessivo e ciumento, o que não combina comigo, porque nunca fui submissa. Somos, porém, muito companheiros. O amor na maturidade envolve menos sexo, mas você aproveita mais."
Maria Magdalena Frechiani, 62 anos, oncologista pediátrica
O Amor Chegou Tarde em Minha Vida, biografia de Ana Paula Padrão
Foto: Divulgação
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O amor é a questão central do livro?
Há dois tipos de amor. O romântico, que gera o casamento, e o amor por você mesma, que a torna capaz de amar outra pessoa. Enquanto você não se ama, não consegue amar o outro. O livro conta como comecei a me amar.
E por que aconteceu tão tarde?
Boa parte de nós, mulheres dos anos 1980, estava tão intensamente ligada ao trabalho que abdicou da vida amorosa. Quebramos esse ritual feminino para copiar os homens e entrar no mercado de trabalho. No meu caso, precisei de um longo processo para aprender a me amar e querer mais do que o trabalho pudesse oferecer.
O amor exige muito?
Lógico! O amor exige cuidado todos os dias. Fazer um gesto em direção à pessoa, entender suas fraquezas e fragilidades é um exercício diário de concessões para harmonizar os opostos.
A vida afetiva da mulher pesa no mercado de trabalho?
Não tanto quanto a maternidade. A vida afetiva não interfere na carreira, contanto que a mulher continue disponível 16 horas por dia.
Qual a grande mudança que o amor provocou na sua vida?
Sou uma pessoa mais completa. E me sinto menos estranha
Fonte:http://mdemulher.abril.com.br/amor-sexo/reportagem/relacionamento/
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