Nossa Senhora das Dores,Aleijadinho
Obra de arte (trabalho artístico ou somente obra) é uma obra criada ou avaliada por sua função artística ao invés de prática. Por função artística, se entende a representação de um símbolo, do belo. Apesar de não ter isso como principal objetivo, uma obra de arte pode ter utilidade prática.
Pode consistir num objeto, uma composição musical, arquitetura, um texto, uma apresentação, um filme, um programa de computador, dentre outros. Entretanto, o que é considerado uma obra de arte depende do contexto histórico e cultural, e do próprio significado de arte.
O que é uma obra de arte ?
Uma obra de arte é algo da intimidade da pessoa e que, ao ser colocado no mundo, toca as outras naquilo que têm de mais íntimo.
Penso que cada um de nós é uma obra de arte.
No século 21 temos as condições históricas para funcionarmos como artistas. Ou seja, aqueles seres privilegiados que proclamam sua singularidade, o seu jeito único de ser ao mundo, e ainda por cima se sustentam sendo o que são.
Não nos esqueçamos que o nosso tempo dá boas-vindas à criatividade, à inovação, ao diferente e, portanto, à unicalidade de cada um.
No entanto, jogamos tantas obras de arte no lixo.
Isto é, a meu ver, o que promove a pobreza no mundo, a pobreza das relações, principalmente.
As pessoas nos dão belos presentes, que são suas joias e obras de arte: um sorriso, o brilho no olhar, uma frase tirada do fundo de sua experiência. E nós? O que fazemos nós?
Nem notamos.
Jogamos no lixo.
Dia desses tive uma história banalmente rica. Estava esticada na cadeira da dentista, que habilmente consertava um dente quebrado. Com aquele avental sobre mim, a boca cheia de objetos diversos entrando e saindo, e eu ali completamente impotente.
De repente, a mão da Alessandra, a auxiliar, com imenso carinho e delicadeza, aliviou-me retirando um tufo de cabelo que me caía sobre a testa.
Aquela mão delicada sobre minha fronte me trouxe imenso conforto naquele momento.
Não bastasse isso, de vez em quando ela ajeitava meu avental ou secava uma gota d’água na bochecha.
Isso é belo. Isso é arte. Arte de viver, respeitar e amar o ser humano que precisa da gente em dado momento.
Silvia, a dentista, com grande preocupação com o meu conforto e com a perfeição que exigia de seu trabalho, era também um tesouro, que eu registro, reconheço e agradeço.
Ou o dr. Rafael, que, na manhã em que meu marido dormia na UTI, me viu no corredor, chegou com um sorriso, pegou minha mão, me olhou fundo nos olhos e disse que estava tudo bem. Eu quis pular em seu pescoço ao agradecê-lo. O que acabei fazendo, sem conter as lágrimas no aeroporto, num encontro casual em que chegava com sua mulher grávida de sua filhinha Júlia.
Dinheiro paga o profissional. Nada paga o cuidado humano respeitoso e o carinho.
Retribuo jogando essas experiências no mundo para animar a galera a parar com esse desperdício de obras de arte.
Quantos presentes ganhamos no dia a dia e não registramos nem degustamos? É o caixa que faz um gracejo, o motorista do carro que te dá passagem no corre-corre...
Obra de arte é o ser humano lutando para viver feliz sabendo que pode morrer a qualquer momento. Que pode perder um ente querido, ser visitado pela desgraça.
Somos todos artistas da arte de viver. Não nos esqueçamos de dar a isso o justo valor.
Luciene Godoy é psicanalista
Definir exatamente o que é uma obra de arte não é tarefa fácil. Não existe um conceito unificado, ou esse conceito varia de acordo com o período histórico. A explicação de que a obra de arte é uma experiência estética parece simplista demais. Todo objeto, feito ou não pelo homem, pode ser experimentado esteticamente. Pode-se apreciar a beleza natural de uma paisagem sem essa ter sido alterada pelo homem e nem por isso, essa paisagem é uma obra de arte. A obra de arte necessariamente é produzida pelo ser humano, então vamos excluir as belezas naturais, mas isso na quer dizer que elas não podem ser apreciadas.
Os objetos feitos pelo homem, que não exigem uma experimentação estética, são chamados de “práticos”. Segundo Guinsburg, os objetos práticos por sua vez, podem ser subdivididos em dois grupos: Os veículos de Comunicação e os aparelhos (ferramentas). Os veículos de comunicação tem a intenção de transmitir um conceito, os aparelhos e ferramentas tem a intenção de preencher uma função. A obra de arte também podem estar dentro dessas duas categorias. Um poema ou uma pintura histórica podem possuir intenção de transmitir um conceito, portanto é um veículo de comunicação. O Panteão e o saleiro de Benvenuto Cellini são em certo sentido, aparelhos. O túmulo de Lorenzo de Medice, esculpido por Michelangelo, são em certo sentido, ambas as coisas.
Mas chamar essas construções e objetos de meros “veículos de comunicação ou “aparelhos” não transmitem suas reais importâncias. Isso porque nesses objetos existe uma atenção exagerada na “forma”. O foco de interesse então, daquele que a produz, não está concentrada unicamente em sua função, mas está equilibrada junto com um interesse na forma.
No entanto, o elemento “forma” se encontra em todos os objetos sem exceção e não é possível determinar em que medida esse elemento forma é a que recebe uma ênfase maior. Portanto não se pode definir em que momento o objeto passa a ser obra de arte. Assim, a esfera em que o campo dos objetos práticos termina e o da arte começa depende das intenções de seus criadores. Quanto mais o objeto é projetado com ênfase na idéia e na forma, mais ele revelará o que é chamado de “conteúdo”.
Para Peirce, conteúdo é aquilo que a obra denuncia, mas não ostenta. É a atitude básica de uma nação, período histórico, classe social, crenças religiosas e pensamentos filosóficos, condensado de forma inconsciente em uma obra. Esses conceitos podem emergir, principalmente, quando o elemento “forma” e “idéia” é voluntariamente enfatizada ou suprimido.
Referências:
Panofsky, Erwin. SIGNIFICADOS NAS ARTES VISUAIS. Ed. Perspectiva.
Fonte:http://luizvilarinho.wordpress.com/2011/09/06/definicoes-sobre-a-obra-de-arte/
A Obra do Artista
Ao confrontar o mistério da existência, o homem se comove. E cria. Cria como artista, como cientista, como pai, como mãe, como cidadão. A “Obra” é o esforço por encontrar respostas, por gerar mais dúvidas, o resultado da inquietação que nos leva ao conhecimento. Por não sabermos tudo, por não termos todas as respostas, buscamos incessantemente. Essa busca nos define, nos leva a escolher, a abrir trilhas, a construir pontes. Nesta obra instigante, Frei Betto presta homenagem à grande Obra, à Criação, à totalidade da existência, tecendo conexões entre o que ocorre desde o coração do átomo aos confins do cosmo. Em seu universo, o amor é o elo universal, o sentimento que dá sentido à matéria, o princípio criativo que está em tudo e todos, o coração palpitante do Mistério.
Somos nós os representantes desta conexão entre o inanimado e o consciente, aglomerados de átomos capazes de se questionar sobre o sentido da existência e a origem do Universo. Baseando-se na visão científica moderna, Frei Betto demonstra que não existe incompatibilidade entre ciência e espiritualidade. Mais ainda, que a ciência é uma busca essencialmente religiosa, como o disse também Einstein. Ao ler este livro, o leitor entenderá que somos nós o grande mistério, capazes de nos emocionar com a Obra do Artista e, mais importante ainda, de escrevê-la.Marcelo Gleiser, físico teórico e escritorBaseando-se na visão científica moderna, Frei Betto demonstra que não existe incompatibilidade entre ciência e espiritualidade. Mais ainda, que a ciência é uma busca essencialmente religiosa,como o disse também Einstein.
Por que apreciar uma obra de arte faz tão bem! | |||
por Monica Aiub |
Há sempre um copo de mar, para um homem navegar...
Mas qual não foi meu espanto quando fui convidada pelas jornalistas Fabíola Cidral e Petria Chaves, do programaCaminhos Alternativos da rádio CBN (http://cbn.globoradio.globo.com/programas/caminhos-alternativos/CAMINHOS-ALTERNATIVOS.htm), para gravarmos um programa na Bienal, juntamente com o artista plástico Dalton de Lucca. Todos nós visitando pela primeira vez a Bienal, com a perspectiva de um passeio, no qual partilharíamos nossas sensações, impressões, reflexões...
Nas informações iniciais, apenas o tema “Há sempre um copo de mar, para um homem navegar” e a conexão com a questão política, pretendendo-se que cada terreiro, cada espaço, pudesse ser o “copo de mar”, a brecha, a possibilidade de constituição de novas formas de vida. Juntamente com a reflexão inicial, muitos questionamentos instigantes nas partilhas com Dalton, Petria e Fabíola, ainda no caminho. O que é isto que a arte provoca? O que é arte? Esta arte, exposta na bienal, representa nosso tempo? Qual o papel da arte? O que faremos aqui? E iniciou-se nossa arte, com um gravador nas mãos, Petria e Fabíola foram conversando conosco enquanto passeávamos, navegando à deriva, sem mapas, sem bússolas, sem direções, somente nos movimentando para onde nossas sensações fossem chamadas. Nos dispusemos a sentir e pensar juntos, trazendo conosco os referenciais de vivências e formação de cada um de nós. Uma instigante experiência, que trouxe muitas reflexões. A percepção clara de que as descrições não eram suficientes para refletir as reverberações provocadas por cada obra; a observação do outro, das reações alheias; as trocas; o lúdico, a diversão livre, sem explicações possíveis, foram a tônica de nosso passeio. Como quem brinca nas ondas do mar, como quem navega à deriva, simplesmente observando cada detalhe sensorial e permitindo as movimentações provocadas pelas experiências do sentir. Dalton relata seu desejo de desenhar, eu relato as provocações ao pensar, Petria e Fabíola animam-se com a ideia de “fazer arte”. Ou seja, cada qual buscando seus veículos de expressão para traduzir, criar algo com o que o contato com a arte provocou. Dalton provavelmente fez seus desenhos, Petria e Fabíola editaram nosso passeio, criando sua própria “arte” e eu partilho com vocês, leitores, algumas das muitas questões que me surgiram neste inusitado passeio. Muitas vezes somos chamados a entender e explicar uma obra de arte, avaliando sua qualidade a partir da utilização de uma técnica; outras vezes somos chamados a avaliar uma obra de arte pelos supostos sentimentos e intenções de seu autor; outras, ainda, somos provocados a expor nossos próprios sentimentos e os temos comparados a padrões, a partir dos quais somos avaliados em nossos graus de sensibilidade. Bom gosto, mau gosto. Belo e feio. Padrões determinados a partir de quais critérios? Seria uma questão de hábito? Uma questão cultural? Uma questão biológica, ligada a nossas defesas orgânicas? Como você, leitor, constituiu seu gosto? Charles Peirce (1939-1914) apresentava a arte como liberdade, a experiência estética como *primeiridade, como contato com a totalidade do universo, como atividade lúdica, que permite o devaneio, mas não permite explicação. Explicar exige observar padrões de regularidade do objeto, e extrair desses uma lei geral. Ao fazê-lo, perdemos esta deriva, este navegar ou devanear tão próprio do fazer e do sentir artísticos.
Obviamente, para compor sua obra o artista necessita técnica, estudo dos materiais, escolha das melhores formas para expressar sua criação ou concepção. E o processo de criação varia de arte para arte, de época para época, de artista a artista, de momento a momento, de estilo a estilo... são muitas as variedades, múltiplas as possibilidades. Como delimitar um critério de escolha?
Talvez isto dependa do modo de ser e de se expressar de cada artista. Alguns escolhem a partir de uma concepção inicial da obra, outros, como relataram grandes artistas, partem de um material e constroem sua obra a partir da manipulação do mesmo, esculpindo, pintando, compondo aquilo que lhes parece já estar contido no material inicial. Que a arte exige técnica para se obter os resultados desejados, não há dúvidas; mas a arte é muito mais do que técnica: somente uma boa, uma excelente técnica é insuficiente para se ter arte. Não se trata também somente de escolher materiais, embora esses sejam de suma importância. Menos ainda se trata de explicitar, de expor uma subjetividade contida, através de um processo catártico. Isto poderá acontecer coincidentemente com a produção de uma obra de arte, mas não é uma necessidade. E se acontecer, o material ali coletado não servirá para uma terapêutica, embora, muitas vezes, coincidentemente, possa ter um valor artístico. Também não se trata de estabelecer um sentido fechado, um único significado para uma obra de arte. É possível atribuir um único sentido à arte sem anulá-la, destruí-la? Sendo a obra de arte polissêmica (possui vários significados), está aberta a muitas indefinidas leituras. E me parece residir ai sua riqueza: ser “nosso copo de mar”. Em nossas partilhas no passeio pela bienal, falamos muito das diferenças entre arte e ciência, e essas possíveis diferenças me remeteram ao texto de Deleuze e Guattari, O que é a filosofia?. Os autores apresentam arte, ciência e filosofia como três jangadas com as quais enfrentamos o caos, em busca de elementos para a construção de nossos planos de realidade. Assim, apesar da fragilidade das jangadinhas, são elas os nossos instrumentos para a construção dos territórios desterritorializados, ou de nossos terreiros de convívio mútuo. Quais as diferenças entre elas?
A ciência trabalha com as variáveis dos objetos – observa constantes e variáveis e extrai delas leis gerais; a filosofia trabalha com as variações do conceito; e a arte, com as variedades de materiais e formas. Enquanto a ciência explica e a filosofia compreende, a arte reverbera.
Como a criança que brinca com o vento, com as folhas, com as ondas do mar, e se não cria seus mundos nesse brincar, ao menos encontra oásis que lhe permitem recobrar o fôlego para a existência, a arte poderá permitir o brincar com a vida, cumprindo o mesmo papel do brincar.
Mas isto ocorre com todo mundo, e diante de qualquer forma de arte? Não. Para alguns talvez isto possa ocorrer diante de qualquer forma de arte; para outros, somente diante de algumas muito específicas; para outros, nada ocorre. E lembro das muitas possibilidades do exercício da arte, relatadas pelos partilhantes no consultório de filosofia clínica.
Algumas pessoas precisam da arte como um escape, para “esvaziar o sax” – como dizia uma partilhante que tocava saxofone. Em outras palavras, um processo catártico, que alivia as pressões e permite olhar para as questões de outra maneira. Este processo é denominado, em filosofia clínica, esteticidade seletiva.
Outras pessoas necessitam da arte para a constituição de suas formas de vida. A arte, tida por muitos como supérfluo, nesses casos é uma necessidade fundamental. Não se trata somente de um veículo de expressão, mas de uma maneira de tornar-se, de ser o que se é.
Considerando o quanto a sociedade contemporânea tem a arte como um luxo, um artigo supérfluo, para muitos o sofrimento está em ter necessidade e não poder supri-la. Daí a importância dos espaços públicos onde se possa não apenas entrar em contato com obras de arte, mas também aprender a produzi-las. Minhas sensações na bienal? Divertida, provocativa, encontrei meu “copo de mar”, e nele muitas e possíveis rotas a serem criadas para navegar à deriva, tendo como guia as sensações; e como construção, a partilha. Há nisto um caráter político, tal como propõe os curadores? Se entendermos política como organização da sociedade e se a concebermos como criação de formas possíveis, talvez nela encontremos uma legítima e genuína política: a construção de nossas formas de vida. Mas estas foram as minhas impressões, sensações, reflexões... poderíamos dizer que há uma verdade nisso? Há uma verdade ou falsidade no sentir? O que você acha, leitor? Que tal experimentar algumas partilhas assim em ambientes artísticos? Poderá ser, minimamente, inusitado; no mais, divertido e, quem sabe, seja a oportunidade para encontrar seu “copo de mar” e “navegar”.
*Primeiridade, é uma das categorias da fenomenologia do Peirce. O que ele denomina interioridade, que é diferente de subjetividade, é liberdade, possibilidade, e ao mesmo tempo, encontro com a totalidade. Ele associa, diretamente, à arte.
Referências bibliográficas: DELEUZE, G; GUATTARI, F. O que é a filosofia? São Paulo: Ed. 34, 2001. PEIRCE, C. Collected Papers. Harvard University Press, 1987. |
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