Albertina Takiuti. (Foto: Viridiana Brandão)
Dra. Albertina, licença poética da medicina
Cena 1: Palácio do governo de São Paulo, 4 de março de 2013, a doutora Albertina Duarte Takiuti recebe a "Medalha Ruth Cardoso" em reconhecimento ao seu trabalho como coordenadora do Programa Estadual Saúde do Adolescente. Cena 2: Ambulatório de Ginecologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, 6 de março de 2013, a doutora Albertina recebe uma cestinha com uvas de uma paciente de oitenta anos. As duas cenas, a homenagem formal e o presente singelo, delineiam o perfil dessa mulher respeitada por seu pares e acarinhada por suas clientes. "Depois de tantos anos de medicina, continuo acreditando na união entre o saber científico e o relacionamento humano. Você só ajuda a curar se ouvir não apenas a queixa clínica, mas também a circunstância de vida da pessoa. A escuta é essencial", afirma a doutora.
Ouvir as mulheres de todas as idades: a menina que menstruou aos dez anos, a senhora madura que precisa eliminar os miomas e deseja preservar o útero, a garota que se sente um garoto. A doutora ficou famosa na mídia devido ao consistente trabalho com adolescentes. Compromisso que começou em 1975, quando a jovem médica coordenou uma pesquisa para saber quem era a mãe paulista, na qual se descobriu que 25% das parturientes eram adolescentes. "Não vejo nenhum problema em uma adolescente engravidar, desde e sempre que seja uma escolha. Ruim é quando ela engravida porque não tem nenhum projeto de vida. Ela não sabe bem o que fazer, então vira mãe", pondera Albertina.
Saúde, sexualidade, maternidade, contracepção, projetos de vida de meninas. "Mas agora ampliei a abordagem. Estou muito interessada no que chamo da adolescência da terceira idade. Porque as mulheres estão sempre em ebulição, não importa se elas estão com 8 ou 80 anos", ela fala abrindo um grande sorriso. Albertina marcou a entrevista no Ambulatório do HC. Enquanto conversamos, pessoas da sua equipe entram para consultá-la ou relatar algum caso. A porta de sua sala está sempre aberta. A sua mente também. Dra. Albertina topa qualquer ideia criativa para melhorar a dinâmica dos atendimentos. "Até pouco tempo atrás diziam que eu era louca. Falavam que eu era competente, mas tinha um pensamento fora da caixinha. Eu continuo fora do quadrado, só que agora não me consideram mais doida", ela diz e acha graça.
Albertina Duarte nasceu em Portugal e veio ainda criança para o Brasil. Seus pais resolveram deixar o país comandado pelo ditador Salazar. Desembarcaram em São Paulo para uma vida de trabalho duro. O pai era pedreiro e a mãe dona de casa. A decisão de fazer medicina veio em uma experiência dramática. O irmão foi hospitalizado e precisava ser operado. Só que o médico demorou para chegar. Albertina sussurrou para o garoto: "Espere. Quando eu crescer vou ser médica. Aí vou salvar você". O menino não resistiu, mas a menina cumpriu a promessa de se tornar médica. Ela complementa: "Também me recordo que quando alguém ficava doente em casa, eu preparava chás, punha bolsa de água quente. Eu tinha nove anos quando fiz minha primeira cirurgia. Um pintinho feriu o pescoço num arame farpado. Eu limpei a ferida e dei pontos com a linha de costura da minha mãe. Ele sobreviveu até virar um galo cantante."
Estudar foi a sua carta de alforria
Para cumprir promessa e vocação, Albertina trabalhou e estudou muito. "Minha família era pobre. Minha mãe dizia que medicina era faculdade para rico. Ela achava que eu deveria trabalhar numa padaria, ou então no Ceasa que ficava pertinho da nossa casa. Mas eu era e sigo sendo obstinada. Sabia que o estudo seria a minha carta de alforria", ela rememora. De livros de anatomia até altas horas, plantões aos domingos por sete anos seguidos e uma curiosidade infinita, Albertina foi se tornando uma excelente médica. Mas ainda não estava satisfeita, encarou o curso de Saúde Pública para pensar a saúde no coletivo. "Eu participei de muitas lutas para que todos tivessem acesso à saúde. Militei para valer pelo SUS - Sistema Único de Saúde e pelo PAISM - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher", ela frisa. Ela também batalhou muito pela aprovação da vacina do HPV para prevenção de câncer. "Sempre pergunto: quanto custa uma vacina? quanto custa o tratamento de um câncer?"
Dra. Albertina olha para o relógio. Avisa gentilmente que o tempo da entrevista acabou. Antes de eu ir embora, ela faz questão de me apresentar uma a uma as pessoas de sua equipe. Mas antes do cumprimento final faço uma última pergunta: "Doutora, por que você escolheu a especialização em ginecologia?" Seus olhos sorriem enquanto ela responde: "Optei por ser ginecologista quando, recém-formada, fiz meu primeiro parto. Foi maravilhoso ver a cabecinha do bebê vindo. Era uma menina. A mãe ficou nervosa. Ela dizia que o marido se decepcionaria com ela, pois eles já tinham quatro mulheres. Então expliquei que quem determina o sexo do feto é o homem. E acrescentei: ter mais uma menina é maravilhoso! A mãe serenou e eu tomei a minha decisão."
Fonte:http://br.mulher.yahoo.com/albertina-duarte-takiuti-190243510.html
Carolina Batista, médica de ação sem fronteiras
O Perfil De Carolina Batista, Diretora Médica Do MSF Brasil
Imagine uma jovem estudante de Engenharia Química, bastante envolvida com o seu curso, "largar tudo" da noite para o dia por causa de um simples vídeo! Não, o vídeo não era nada simples: mostrava uma reportagem sobre a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Resultado: Carolina Batista deixou de lado cálculos matemáticos precisos, leis da biotecnologia e da física - universo em que transitava bem - para voltar aos cadernos de vestibular, especialmente os de biologia. Seu novo objetivo de carreira: Medicina; seu objetivo de vida: formar-se e ingressar no MSF para salvar e auxiliar vidas!
Pois bem, o happy end desta história real se deu alguns anos depois, numa solenidade de formatura de Medicina da Universidade Federal Fluminense - UFF. Dentre as formandas, a idealista Maria Carolina Batista dos Santos, que viria a se especializar em Medicina Tropical na Universidade de Basel, na Suíça.
O tal happy end da estudante se formando representava apenas um grande começo. A partir dele, uma série de episódios da vida real viriam a assinalar vários pontinhos geográficos no mapa de vida da nossa protagonista.
Essa história pode até parecer utopia, mas é a pura realidade de uma "médica de ação sem fronteiras". Carolina Batista é o retrato vivo e contemporâneo de uma mulher voltada para o bem-estar social, ativista de causas nobres e profissional itinerante de uma medicina humanitária e universal. Se você continua pensando que esse perfil parece irreal, pense em alguém que, numa Líbia em conflito, fez partos sucessivos em barracões improvisados em meio a permanente fogo cruzado!... Arrepiou-se? Pois esta é apenas uma das performances da nossa heroína de jaleco do terceiro milênio.
Carolina e a bandeira do MSF
Carolina Batista já está há seis anos no MSF, ONG internacional que proporciona ajuda médica emergencial a vítimas mundiais de conflitos armados, desastres naturais, epidemias e demais situações de grandes alardes, sem quaisquer distinções de gênero, etnia, credo ou convicções políticas. Os Médicos Sem Fronteiras - espalhados em mais de 60 países - levam sua ajuda àqueles que precisam, independentemente do lugar ou do lado da guerra em que se encontrem. É nesse contexto que atua a profissional de saúde em foco - uma carioca de 36 anos -, escolhida para personificar a médica de projeto social neste caderno especial do Dia da Mulher.
Carolina mostra seu entusiasmo e, sobretudo, seu idealismo ao fazer parte de uma organização criada para aliviar a dor humana em circunstâncias extremas. Ela manifesta: "Diante do carinho que recebo e das situações vividas, ganho dessas pessoas carentes até mais do que ofereço".
A atuação em países da África
A profissional de saúde é, na verdade, uma valorosa militante da causa social no mundo, com atuação heróica em países como Camarões, Somália e Líbia, por exemplo: "Ao chegar à Somália, em 2007, tive a impressão de que havia acabado de cair uma bomba por ali... Tudo era devastação num país assolado por uma guerra civil de anos e anos (...) Vi mães carregando nas costas crianças doentes e famintas, ao mesmo tempo em que me deparava com grupos de guerrilheiros armados até os dentes".
Durante o período que passou na Somália, a médica do MSF trabalhou com saúde reprodutiva e cuidou de pacientes com calazar. Sua rotina no país africano ditava regras de acomodação nada fáceis: em sua casa havia apenas uma cama rústica de tábua com um colchonete de levíssima espessura. Sua alimentação incluía somente carne de camelo e de bode. Mas o pior era a insegurança das condições locais, já que Carolina trabalhava ouvindo o espocar do fogo cruzado! Ela, entretanto, sintetiza assim o período: "A experiência na Somália foi a realização de um sonho pra mim (...) Apesar de estar em um contexto de intensos conflitos, de fome e de maldades inerentes a qualquer situação de guerra, pude testemunhar naquele povo a bondade, nos gestos mais simples. Vi mães somalis batizando suas filhas com o meu nome, e isso é algo muito gratificante". Carolina passou o Natal de 2007 - longe da família e do Brasil - no deserto da Somália.
Já em 2011, a médica foi enviada pela organização MSF para a cidade sitiada de Misrata, na Líbia. A médica brasileira, então, lá permaneceu durante violento período de conflitos entre governo e forças rebeldes de oposição. Resistente e determinada, ela ofereceu total assistência e treinamento médico aos feridos, bem como às equipes médicas locais.
Carolina narra ainda, com emoção na voz: "Em países assim, às vezes só existe um hospital num raio de milhares de quilômetros. Casas antigas são improvisadas - com o acoplamento de módulos de containers - para formarem postos de trabalho onde, normalmente, são realizados cerca de 300 partos por mês. Apesar dos perigos constantes, ao ouvir os sons de morte lá fora (o barulho constante de metralhadoras e bombas fazendo tremer o hospital), é uma alegria poder escutar o som da vida - o choro dos bebês que nascem!... E a maior emoção que tive, nos últimos tempos, foi ajudar uma mãe que dava à luz justamente quando meu sobrinho estava nascendo no Brasil! Quando aquele bebê nasceu, senti uma emoção como seria a de ver o filho da minha irmã chegar".
A luta de Carolina para combater as doenças negligenciadas
Carolina Batista, agora Coordenadora da Unidade Médica Brasileira do MSF, falou de seu grande projeto no momento, que enfoca as chamadas doenças negligenciadas, as quais compõem um grupo de 17 enfermidades classificadas pela OMS - Organização Mundial da Saúde -, entre as quais se acham a Doença de Chagas, a esquistossomose e a hanseníase, por exemplo. A médica explica que as doenças negligenciadas, em sua totalidade de ocorrência, acometem 1/7 da população mundial, ou seja, cerca de 1 bilhão de pessoas. Segundo ela, tais doenças assim são chamadas porque as pessoas que as contraem são a própria "expressão física da negligência" (dos governos, dos sistemas), representando aqueles grupos populacionais abaixo da linha da pobreza e que não têm acesso básico à saúde. Carolina destaca a doença do sono ou tripanossomíase africana: "causada por um 'primo africano' da Doença de Chagas, atinge o sistema nervoso central, levando o infectado à morte".
A profissional de saúde esclarece, ainda, que o principal obstáculo na guerra contra essas doenças é a falta de medicamentos novos e eficazes. Segundo ela, a própria indústria farmacêutica negligencia esses pacientes carentes, não se dispondo à fabricação de remédios para combater as enfermidades, já que o seu público específico não teria poder aquisitivo para adquirir esses remédios. Diante disso, a organização MSF trabalha na pesquisa e no desenvolvimento de tais medicamentos, o que busca em iniciativas e parcerias no âmbito.
A Diretora Médica do MSF Brasil oferece mais dados: "No caso da Doença de Chagas, existem apenas dois medicamentos, e obsoletos, já que foram desenvolvidos há mais de 40 anos".
Perfil e rotina de uma médica de projeto social
Carolina Batista, do mesmo modo, persiste na sua luta, entre compromissos e bandeiras que testemunham sua entrega total à missão da medicina humanitária. Ao conceder esta entrevista para o Yahoo, o fez no primeiro horário da manhã de uma sexta-feira, porque, em uma hora, estaria no aeroporto com destino à Suíça, para uma conferência agregando vários países.
Filha de um jornalista e de uma professora - de escola pública - que subia favelas para ensinar mães de alunos a prepararem uma comida mais saudável, a médica brasileira é a perfeita representação da assistência a populações carentes.
Nesse enfoque do Dia Internacional da Mulher, Carolina Batista é exemplo para toda a categoria feminina, uma heroína possível! Ela é um ícone a ser seguido, em busca de um mundo realmente melhor. E o espírito de doação da médica, que trabalha de 10 a 12 horas por dia, não tem limites quando se refere a seus pacientes: "No final das contas, essas pessoas me ajudaram muito mais do que eu as ajudei, pois graças a elas eu me tornei uma pessoa melhor. Eu vi pessoas que vivem na mais extrema pobreza, mas com uma riqueza de sentimentos fora do comum. A alegria e a generosidade delas, inclusive nos momentos de compartilhar o pouco que têm, são absolutamente inspiradoras, e se eu puder mudar qualquer coisa no sistema para ajudá-las, por menor que seja, todo o meu trabalho terá valido a pena".
Carolina Batista é uma brasileira precursora que representa a categoria feminina de profissionais de saúde como uma valorosa militante de projeto social.
Dados sobre a organização MSF
- A ONG recebeu, em 1999, o Prêmio Nobel da Paz, por atuar com seus milhares de profissionais, de forma independente, para aliviar o sofrimento dos indivíduos, por meio da ação médica e social. Contabiliza cerca de 34 mil profissionais.
- A organização é mantida, exclusivamente, com doações. Hoje, aproximadamente 5 milhões de pessoas contribuem para a sua sustentação. Só no Brasil existem 86 mil contribuidores.
- Site oficial do MSF: http://www.msf.org.br/
Fonte:http://br.mulher.yahoo.com/carolina-batista-m-dica-o-sem-fronteiras-114900525.html
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