A ESPIRITUALIDADE XAMÂNICA
É, já faz alguns anos... Foi em 1996 que ouvi um amigo espiritual dizer as seguintes palavras:
“Aprende a cultivar uma atitude de respeito para com todos os caminhos espirituais existentes. Se você mantém esta atitude, se você respeita, está honrando a sua própria integridade, a sua própria espiritualidade.
Cada um possui sua própria visão, seu próprio rito, seu próprio meio de re-conexão.
Mas o que o aconselho hoje, é a experiência da compreensão, viva, inteligente, que faz crescer a consciência e ampliar o coração”.
Anotei as suas sábias palavras num diário espiritual e agora as compartilho pela ressonância com o tema que hoje iremos abordar, nestas poucas linhas que é: a espiritualidade xamânica.
A espiritualidade xamânica nasce com os seres humanos. Temos indícios de práticas xamanistícas existentes há 44 mil anos, desde a época do homem Neandertal. Na realidade inicia-se quando o ser humano começa a descobrir o mundo invisível. Quando começa a descobrir os mistérios da natureza, a sentir com maior intensidade o sagrado, a sonhar, a se comunicar com a natureza e com os espíritos.
Esta espiritualidade ancestral tem como templo a própria natureza, o ambiente do qual o ser humano interage em seu cotidiano. Tudo torna-se sagrado na espiritualidade natural. As formas existentes na natureza eram então respeitadas como sendo espíritos que formavam uma única família, a família do Grande Espírito, do TODO QUE ESTÁ EM TUDO, do Grande Mistério.
Assim, o Céu torna-se o Pai que ensina o caminho das estrelas e das origens ancestrais. A Terra torna-se a Mãe que ensina os caminhos das relações, das integrações e da evolução na matéria. O grande Avô é o Sol que, com seu sorriso caloroso, ensina todos os dias a sabedoria dos ciclos e do círculo da vida. Então a Avó Lua com sua serenidade, ensina a arte de sonhar e os mistérios que iluminam os caminhos pelas noites da vida. As Árvores e Vegetais tornam-se o Povo em Pé; as Águas, o Povo das Águas; o Trovão, o Espírito do Trovão; as Pedras, o Povo de Pedra e todos os Animais tornam-se os Irmãos mais jovens, cada um com sua medicina particular. Tudo possui uma energia vital, uma força, um espírito. Tudo torna-se sagrado!
Estes seres humanos, que se comunicavam com o invisível, eram chamados de xamãs. Os antropólogos adotaram o termo saman, de origem siberiana, palavra que foi adaptada para shaman em inglês, para designar “aquele que é inspirado pelo espírito”, “aquele que não perdeu a integração”, “aquele que está em conexão”. Ele é o poeta, o músico, o intuitivo, o conselheiro, o terapeuta, o curador, o sensitivo, o paranormal, o contador de histórias, o dançarino, o visionário, o guardião da Mãe Terra, o guerreiro, o medicine-man. É aquele que compartilha sua medicina interior, seu poder pessoal, sua energia, seus conhecimentos e sabedoria de vida, em beneficio de outros.
Embora o primeiro uso registrado do termo shaman na língua inglesa date de 1698 e o termo shamanism (xamanismo) de 1780 - como nos explica o xamã Bari Meri: “o xamanismo existe há milhares de anos”. Temos registros de que em épocas remotas, estas práticas xamânicas se propagaram pela Sibéria, América do Sul, América do Norte, China, Índia, Tibete, África e Austrália. E é bem provável que, numa época ou outra, tenha existido em todas as partes do mundo sendo conhecido por nomes diferentes.
Hoje podemos ver muito daquilo que é a essência do xamanismo presente nas crenças e práticas de várias religiões, em muitos trabalhos terapêuticos e até na programação neurolingüística. Acessando a internet, você poderá pesquisar vários tipos de conhecimentos xamânicos: siberiano, inka, andino, esquimó, guarani.
Existe uma gama de informações revestidas em mitos, ritos e símbolos que pode ajudar a despertar a espiritualidade natural no ser humano. Todas elas, sem exceção, em seus respectivos contextos, transmitem a idéia de reconexão com a essência, com o espiritual. Não é voltar ao passado ou ficar preso ao passado, é renovar no presente, com ferramentas que a experiência comprova que funciona e agir e viver e ser feliz.
Sempre que falo de mito, nos treinamentos xamânicos, lembro-me do conselho do grande historiador Joseph Campbell: “Siga a sua felicidade!” É um simples conselho, assim como são simples as práticas xamânicas... mas que sabedoria!
Faço uma pausa nestes escritos para os leitores perguntarem ao seu coração:
- Estou feliz?... Estou seguindo a minha felicidade?... Estou realmente seguindo a minha felicidade?
Todos sabemos as respostas que o coração nos dá! Todos podemos ouvir, só precisamos parar para escutar. Iremos escutar ou vamos deixar que a buzina dos carros e dos aparelhos eletrônicos roubem a nossa atenção?
- Qual é a pessoa mais importante para você nesta vida?
Espero que sua resposta seja você mesmo!
Valorize as suas qualidades! É sempre importante reconhecer as nossas riquezas e agradecer por elas existirem dentro de nós. A auto-estima é importantíssima, se amar é fundamental!
Michael Harner, afirma que o xamanismo “é um conjunto de antigas técnicas, que os xamãs utilizam para obter e manter o bem-estar e a cura, para eles próprios e para os membros das suas comunidades”. Estes processos de cura, do qual o xamã interage e facilita, englobam os aspectos físicos, energéticos, emocionais, mentais e espirituais.
Eles falam assim com suas vozes roucas, pausadas e ancestrais, repercutindo no vento:
- Por favor, abram os olhos!... Vocês estão dormindo?... Acordem! As luzes renovadoras da alvorada convidam a co-criar uma nova vida... Que seja a sua!
Vamos olhar para dentro de nós mesmos para poder chegar a uma maior compreensão da nossa dinâmica interior, da nossa história, da realização do sonho do Criador. Vamos lá, assim poderemos descobrir com profundidade que nossa vida tem significado, finalidade, propósito e que estamos conscientes.
É! Todo processo de mudança começa dentro de si... Agora, lembro-me das pacíficas palavras de Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo!”.
O verdadeiro resgate ancestral ou xamânico é a redescoberta da essência espiritual e eterna que é presente em todos nós. Sim, para aqueles que reconhecem o sagrado dentro, tudo torna-se sagrado!
Deixo com você uma saudação xamânica, utilizada pelas tradições nativas da América do Norte: Mitakuye Oyassin! Que significa: “Por todas as nossas relações!”. É proferido em várias cerimônias para honrar todas as nossas conexões com a teia da vida, com tudo o que existe. Todas, sem exceção. Isso é muito abrangente... Estão inseridas no mantra aquelas pessoas de nosso convívio, todos aqueles que cruzaram e cruzam os nossos caminho no dia a dia, com seus ensinamentos, sejam eles quais forem. Aqueles que vieram antes de nós. Aqueles que virão depois de nós. É honrar aos nossos amparadores, toda a Mãe Natureza, o Grande Espírito. Vamos dizer que é uma afirmação de que Somos Todos Um!
Como a espiritualidade xamânica é sentir, espero que você esteja se sentindo muito bem!
Um grande abraço!
Hoo!
por Samuel Souza de Paula - samuks@ig.com.br
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