O amor sempre tem uma mão só. E não estamos falando,amigo, daquela máxima do Woody Allen sobre a masturbação, que seria a melhor forma de fazer amor com a pessoa que você mais ama.
Tratamos do amor mesmo, o dos pombinhos, na sua forma mais óbvia. Daí repito: o amor sempre tem uma mão só. Mesmo quando é correspondido, nunca o é por inteiro –sempre um ama mais do que o outro. Eis o grande suspense hitchcockiano da existência.
Daí esta oração para ser lida em voz alta, por você que se acha injustiçado:
Nossa Sra. dos que Amam Sozinho ou amam mais que o outro, perdoa-me pela insistência, nem mais é por tanto querê-la, é por deixar claro, moça que sopra das intimidades dessa oração, que só ela me faz passar da conta, perversa, me faz cair no abismo mais lindo do gozo sem volta, como naquele encosto de beira de estrada, como na rodovia estrangeira de Sam Shepard, crônicas de motel, simbora!
Nossa Sra. dos que só pensam nela, cotovelos lanhados de tanta espera, tantos sustos nas ruas, nos bares: “É ela!!!”.
Nossa Sra. Dos Cotovelos da Surpresa e das janelas, tão gastos, cinzas, peles, dobras, e tanta fome de viver aqui dentro, megalomaníaco, épico, terá sido a força do desprezo?
[Não creio, sr. Albero Moravia, meu guru de tantos ensinamentos amorosos e anarco-comunistas].
É mesmo a paudurescência, nostalgia precoce,compacto dos melhores momentos editado a toda hora no juízo.
Nossa Sra. da Vida Alongada que consegue, nos seus exercícios de Kama Sutra, me levar ao nirvana. Nossa Senhora da Yoga que deixa o corpo dela como nunca dantes na história dessa pátria!
Amor demorado, anjo exterminador da alcova.
Amor por tê-la, rara.
Beijá-la delicadamente, como um católico que dissolve na boca uma hóstia,um evangélico que fala a língua de pentecostes, um budista que levita, o fundamentalismo do homem-bomba.
Amar por horas lá embaixo daquelas tuas vestes modernas que nunca te escondem.
Lua cheia, vida minguante.
Escuto Le Déserteus, do velho Boris Vian, ouviste?.
Nossa Senhora dos que sentem muito e amam sozinho, rogai por nós que recorremos a vós!
O amor é mesmo uma rua estreita, que mesmo com todo progresso e planejamento urbano, sempre terá uma mão só. Engarrafada. Sem saída.
Fonte:http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/
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