Chatos existem porque existem, oras. Existem porque são chatos e são chatos porque existem. Se não existissem não seriam chatos.
Não há dúvidas: o texto aí em cima é chato! E o principal motivo é o fato de ele repetir quatro vezes as palavras “chato” e “existem”. “Qualquer situação repetitiva é difícil de suportar. A contramão da chatice é a criatividade”, diz o psicanalista Raymundo de Lima. Raymundo é um estudioso de Tratado Geral dos Chatos, escrito em 1962 por Guilherme Figueiredo. “O livro é uma referência sobre o assunto. Além de pioneiro, fugiu da linguagem acadêmica, que é muito chata”, diz.
Figueiredo classificou diversos tipos maçantes, dando a eles nomes e explicações pseudocientíficas. O que ele não imaginava era que, em apenas algumas décadas, seria possível apontar motivos biológicos para esse estado humano. “A razão mais comum para a chatice é a crise de mania, quando o sistema de recompensa – a área do cérebro responsável pelo prazer – fica superexcitado”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Hozel, da UFRJ. Durante a crise, a pessoa sente prazer em fazer ou falar a mesma coisa. “Ela não sabe que está sendo desagradável pois o cérebro produz a sensação de que aquilo é legal”, diz Suzana.
Mas, antes de sair por aí dizendo “Ah! Então é por isso que (use o nome do seu conhecido mais chato) é assim!”, saiba que ninguém está imune à chatice aguda. “Essas crises são comuns, mas existem em várias gradações. Podem ser bem leves ou chegar ao delírio paranóico, quando a pessoa se sente Deus.” Se você se identificou, está em vantagem considerável em relação ao resto da humanidade. Afinal, de acordo com Figueiredo, “os chatos não se chateiam”.
Visão raio-xato
Aprenda a identificar ostipos mais comuns em festas
Galanchateador
Sutileza é uma palavra desconhecida para esse tipo. Ele é capaz de incomodar todo o contigente feminino de uma festa e sair de lá achando que arrasou. Quando não está exercendo seu poder de sedução, confidencia aos amigos. “Tá vendo aquela ali? Pois eu já...”
Folgado
Esse cara leva ao pé da letra expressões cordiais como “sinta-se em casa” ou “fique à vontade”. Tem uma relação tão íntima com a sua geladeira que reclama quando você compra uma nova marca de requeijão e avisa que a cerveja está acabando
Existenchatista
É chato porque existe. Segundo Guilherme Figueiredo, esse tipo está rodeado pelos “anéis de chaturnos”, fazendo com que sua chatura seja sentida à distância. É azarento e sem graça. Não tem amigos e mesmo os animais de estimação são avessos à sua companhia
Diabinho
Cinco minutos perto dessa criança são suficientes para você entender por que alguns casais optam por não ter filhos. Em geral, vem acompanhada de tias e outros familiares dispostos a fazer de tudo para agradá-la
Bebê chorão
“Toda criança é chata”, escreveu Guilherme Figueiredo. Algumas muito, outras mais ainda. E as choronas são as campeãs desse segundo grupo. Berros, grunhidos, choros e soluços compõem a trilha sonora de uma das espécies mais difíceis de suportar
O prestativo
Peca por excesso de boas intenções e falta de desconfiômetro. Acredita que está apto a consertar e aprimorar o funcionamento de todo e qualquer aparelho doméstico, inclusive daqueles que estão trabalhando perfeitamente
Telemaníaca
A versão feminina é mais comum, apesar de também existirem homens da espécie. Ela é capaz de passar horas ao telefone, sem perceber a insatisfação das pessoas ao redor. Pior do que esbarrar com uma durante a festa é deixar que ela descubra seu número de telefone
Cuspidor
O cara é bem informado e sempre fica sabendo das fofocas em primeira mão. Mas, se você quiser escutar o que ele tem a dizer, vai ter que agüentar uma boa dose de chuva salivar. Há duas variações para o tipo cuspidor: os que berram e os que sussurram. Difícil saber qual é o mais chato
A sem noção
Ela se preocupa com o que você come, bebe, fala, faz e pensa. Não desgruda de você um só minuto e não respeita a distância mínima que deve haver entre desconhecidos. Até que não seria tão mal, se ela não fosse velha ou feia. Afinal, “só as mulheres feias são chatas”, escreveu Guilherme Figueiredo, que morreu em 1997
Chatimbanco
É fã das pegadinhas: tira a cadeira quando você vai sentar, cola bilhetes engraçadinhos nas suas costas, pisa no pé de todo mundo que aparece de sapato novo. Enquanto você é obrigado a controlar sua vontade de enforcá-lo – pelo bem da festa – o chatimbanco se derrama em risos histéricos
Chato-etílico
Bastam algumas latinhas e todos estamos sujeitos a essa condição. Os chatos-etílicos têm trajetória decrescente: começam num estágio de melancolia dócil, reclamando da vida, passam por momentos de agressividade, quando qualquer coisa é motivo para briga, e terminam em derrocada total, vomitando na piscina da sua casa
Para saber mais
Na livraria:
Tratado Geral dos Chatos - Guilherme Figueiredo, Civilização Brasileira, 1993
Fonte:http://super.abril.com.br/
SOBRE OS CHATOS
Se existe algo que me deixa muito preocupado é a possibilidade de ser um chato, mesmo sem querer. Ninguém está imune a esta “doença” que afeta milhões e milhões de pessoas no planeta, e que, por contágio, termina atingindo os outros tantos milhões que não a têm.
É possível que muitos dos meus alunos e ex-alunos me vejam como um chato, pois, aos olhos deles, estou no time dos que cobram, dos que “pegam no pé”. Mas até aí tudo bem, pois não dá mesmo para querer unanimidade das pessoas no que quer que seja; muito menos dos que fazem parte de uma geração que tem na contestação geral uma de suas principais bandeiras. Meu temor é ser chato em situações e para quem me esforço para ser exatamente o contrário.
Esse assunto desperta interesse e é capaz de arrancar boas risadas, principalmente se for tratado com a devida seriedade. Pois é exatamente o tema abordado no livro “Tratado Geral dos Chatos”, lançado na década de 1960 pelo escritor Guilherme Figueiredo. Ao classificar diversos tipos de pessoas consideradas maçantes, o autor deu a elas nomes e explicações pseudocientíficas.
Um dos tipos, o “galanchateador”, tem como marca registrada o desconhecimento da palavra sutileza. Numa festa, por exemplo, normalmente ele incomoda todas as mulheres e ainda sai dizendo que arrasou. Conheci alguns deles, mas me lembro bem de um colega dos tempos de adolescência que sempre repetia o mesmo ritual: aparecia subitamente nas rodinhas de amigos com metade do frasco de perfume despejado na roupa; chegava por trás de alguma garota e colocava as mãos em seus olhos, para, em seguida, babujar o seu rosto com um beijo estalado. O chato saía minutos depois com um ar triunfal de conquistador, sem perceber que a garota beijada fazia questão de limpar o rosto na frente de todos.
Um outro tipo, muito fácil de ser encontrado em todos os lugares, é o que Guilherme Figueiredo chama de “chato-etílico”. Pela sua definição, “os chatos-etílicos têm trajetória decrescente: começam num estágio de melancolia dócil, reclamando da vida, passam por momentos de agressividade, quando qualquer coisa é motivo para briga, e terminam em derrocada total, vomitando na piscina da sua casa”. Sem falar que normalmente eles adoram segurar o braço do primeiro que encontram, tentam se equilibrar parados e conversam lançando jatos de saliva etílica no rosto dos desafortunados de plantão.
São ainda citados no Tratado Geral dos Chatos o “folgado” (que leva ao pé-da-letra as gentilezas costumeiras, como “sinta-se em casa” e “fique à vontade”), o “chatimbanco” (aquele fã das pegadinhas, que tira a cadeira quando alguém vai sentar ou pisa no pé de qualquer um que aparece de sapato novo) e o “existenchatista” (que “é chato porque existe”, tendo como principais características a eterna queixação da vida e o fato de ser “GSE” – Gente Sem Expressão).
Intolerâncias à parte, pois até mesmo os chatos merecem ser felizes, é preciso que a verdade seja dita: mantê-los a uma distância segura é mais do que um cuidado com a saúde; é uma questão de sobrevivência.
É possível que muitos dos meus alunos e ex-alunos me vejam como um chato, pois, aos olhos deles, estou no time dos que cobram, dos que “pegam no pé”. Mas até aí tudo bem, pois não dá mesmo para querer unanimidade das pessoas no que quer que seja; muito menos dos que fazem parte de uma geração que tem na contestação geral uma de suas principais bandeiras. Meu temor é ser chato em situações e para quem me esforço para ser exatamente o contrário.
Esse assunto desperta interesse e é capaz de arrancar boas risadas, principalmente se for tratado com a devida seriedade. Pois é exatamente o tema abordado no livro “Tratado Geral dos Chatos”, lançado na década de 1960 pelo escritor Guilherme Figueiredo. Ao classificar diversos tipos de pessoas consideradas maçantes, o autor deu a elas nomes e explicações pseudocientíficas.
Um dos tipos, o “galanchateador”, tem como marca registrada o desconhecimento da palavra sutileza. Numa festa, por exemplo, normalmente ele incomoda todas as mulheres e ainda sai dizendo que arrasou. Conheci alguns deles, mas me lembro bem de um colega dos tempos de adolescência que sempre repetia o mesmo ritual: aparecia subitamente nas rodinhas de amigos com metade do frasco de perfume despejado na roupa; chegava por trás de alguma garota e colocava as mãos em seus olhos, para, em seguida, babujar o seu rosto com um beijo estalado. O chato saía minutos depois com um ar triunfal de conquistador, sem perceber que a garota beijada fazia questão de limpar o rosto na frente de todos.
Um outro tipo, muito fácil de ser encontrado em todos os lugares, é o que Guilherme Figueiredo chama de “chato-etílico”. Pela sua definição, “os chatos-etílicos têm trajetória decrescente: começam num estágio de melancolia dócil, reclamando da vida, passam por momentos de agressividade, quando qualquer coisa é motivo para briga, e terminam em derrocada total, vomitando na piscina da sua casa”. Sem falar que normalmente eles adoram segurar o braço do primeiro que encontram, tentam se equilibrar parados e conversam lançando jatos de saliva etílica no rosto dos desafortunados de plantão.
São ainda citados no Tratado Geral dos Chatos o “folgado” (que leva ao pé-da-letra as gentilezas costumeiras, como “sinta-se em casa” e “fique à vontade”), o “chatimbanco” (aquele fã das pegadinhas, que tira a cadeira quando alguém vai sentar ou pisa no pé de qualquer um que aparece de sapato novo) e o “existenchatista” (que “é chato porque existe”, tendo como principais características a eterna queixação da vida e o fato de ser “GSE” – Gente Sem Expressão).
Intolerâncias à parte, pois até mesmo os chatos merecem ser felizes, é preciso que a verdade seja dita: mantê-los a uma distância segura é mais do que um cuidado com a saúde; é uma questão de sobrevivência.
Fonte : Roberto Darte-http://www.recantodasletras.com.br/
Tratado Geral dos Chatos
Tempos atrás descobri num sebo o “Tratado Geral dos Chatos” escrito pelo Guilherme Figueiredo, irmão do João Batista Figueiredo, aquele cara que foi presidente da república. Nunca mais vi o livro, mas graças à internet recuperei algumas pérolas. Veja em que categoria de chato você se enquadra.
Hamletianos:
Desastrados bem-intencionados. O autor se inspirou no personagem de Shakespeare que assassinou seu empregado Polônio sem querer, levou a bela Ofélia à loucura sem intenção e acabou matando todos os amigos e a própria mãe. Mas não foi por mal.
Catalítico:
Aqueles que não precisam fazer nada para serem chatos. Sua simples presença basta. Mesmo sem se moverem ou falarem, emitem partículas de chatice que giram ao seu redor, os chamados anéis de Chaturno.
Vivissectólogos:
Aqueles que não conseguem contar um caso sem fazer uma digressão, sem voltar atrás, sem entremear uma história com outra. Para falar de uma salada de frango, têm que mencionar o nome do dono da granja.
Tartufoclocos:
Instalam-se na casa alheia. Exemplos: parentes do interior, cunhados, sogras e amigos de infância. Inspirado em dois personagens inconvenientes da história do teatro, Tartufo, de Molière, e Clo-Clo, de Marcel Achard.
Postulantes:
Os que têm sempre uma encomenda a fazer, seja uma peça para o computador ("Já que você vai mesmo a Nova York") , seja um cigarro para fumar depois.
Ofertantes:
Aparentemente, são o oposto da categoria acima. Dizem sempre "Você manda, não pede", e "Disponha sempre!" Mas depois emendam "Isso eu não posso fazer. Quem sabe numa próxima?"
Catequéticos:
Os que tentam nos catequizar. O tempo todo querem converter-nos à sua religião, ao seu partido, ao seu time de futebol, ao seu esporte preferido.
Pirotécnicos:
Identificáveis por expressões do tipo: "Como vai essa força?!" Dão muitos abraços, tapas nas costas e usam pontos de exclamação em toda as frases!
Artesanais:
Estão sempre dispostos a consertar qualquer coisa, sejam lâmpadas, isqueiros, relógios ou computadores. Irritantemente habilidosos.
Faisões:
Usuários compulsivos do pronome "eu". Só sabem falar de si mesmos.
Confidenciais:
Os que pensam saber as notícias de primeira mão. Geralmente seguram você pela ombro e contam coisas óbvias, que todo mundo já sabe.
Otelos:
Têm ciúme em excesso, e não só do cônjuge, mas também dos amigos. Ficam ofendidos quando não são chamados para um almoço ou um cinema, mesmo que não pudessem ir.
Dom-juanescos:
Paqueradores compulsivos, costumam se gabar de suas conquistas com os amigos
Iagos:
São invejosos e escolhem uma vítima - escritor, músico ou político - para alvo permanente. Muitos críticos profissionais pertencem a esta categoria.
Sursumcordistas:
Fazem promessas. Invariavelmente otimistas, dizem coisas como "A coisa vai melhorar".
Gratitudinenses:
Sempre lembram que você lhes deve algo. Suas frases típicas são "Troquei muito a sua fralda" e "Ajudei muito o seu pai quando ele estava em dificuldade". O duro é quando o gratitudinense é também postulante.
Logotécnicos:
São os que gostam de falar palavras difíceis, termos técnicos ou trocadilhos.Como você deve ter percebido por essa classificação, é nesta categoria que se enquadra o autor do livro, embora ele mesmo não soubesse disso.
Interchatos
Essa é por conta do Bar do Bulga. São os que se utilizam da internet para fazer uso de sua chatice. Quer coisa pior do que receber aqueles trabalhos em powerpoint, cheios de imagens de gosto duvidoso, com texto de terceira categoria e com uma musiquinha brega no fundo, tentando nos dar lição religiosa, de moral ou de chatice?
Fonte:http://bardobulga.blogspot.com/
Tratado geral dos chatos, o remake
Por Xico Sá-
http://www.cronopios.com.br/
Aqui vai uma livre atualização do clássico almanaque “Tratado Geral dos Chatos”, que o escriba Guilherme Figueiredo pôs no mundo há mais de meio século. Cá estamos com uma nova lista destas criaturas capazes de nos subtrair a paciência e nos deixar tão inquietos quanto as vítimas do Pediculus púbis, como são conhecidos cientificamente os insetos homônimos que atacam as partes mais baixas e indefesas de um cristão de fé.
Bons e inocentes tempos aqueles em que os chatos se resumiam aos tipos agrícolas, como o chato-pra-chuchu, ou às criaturas crentes na meteorologia, como os chatos-de-galocha, que já saíam de casa prevenidos contra qualquer enchente, vento ou maré. Haviam ainda os menos ofensivos, como os da espécime aforismática _sempre com uma filosofia de pára-choque na ponta da língua para importunar.
O certo é que eles se multiplicaram como os invertebrados homônimos e hoje dominam o país, os lares, as repartições, os logradouros públicos, as salas de espera... Existem os chatos-24 horas, estes vampiros da paciência alheia, como diria o bruxo do Cosme Velho _só para citar outro tipo fenomenal de chato, que é aquele que sempre inicia uma conversa com a inseparável locução “como diria...”
Enfim, só nos resta ser mais chatos ainda, o que tenho buscado nestas linhas, afinal de contas ainda não nasceu o ser humano capaz de chatear um chato sem que portasse a mesma peçonha. Como perdemos, nesses tempos corretos, o gosto pelo assassínio e maltratos do gênero, sobra a este cabeça-chata que vos impacienta mapear os maçantes mais visíveis e contemporâneos. Ei-los:
Megasuperultrahype – O chato mais veloz do Oeste. Trata-se da criatura atualizadérrima nas últimas tendências e apostas do mundinho dos modernos da noite e da mundanidadeem geral. Sabe a nova gíria dos clubes de Londres e já baixou no computador a última faixa do DJ paquistanês pós-electro que será a sensação no inverno novaiorquino. Na hora de falar, apresenta-se como um Guimarães Rosa clubber, ninguém compreende um só vocábulo.
Fêmea sitcom – Aquele tipo metropolitano metido a chique que acha que a vida é um seriado americano, um Sex and City sem fim. Nos salões, principalmente nas bocas-livres, está sempre com um prosseco à mão. Adora vernissages.
Chatos de época - Rabugentos, inconsoláveis, sempre a resmungar pelo borogodó que se foi. Não é uma questão de idade, ataca também raparigas em flor, como as gazelas que fazem um tipo “virgens suicidas” e ouvem Renato Russo e Smiths como se fossem mademoiselles do século XIX.
Garçonete-cabeça – Aqui encarno um rápido chato de época para lembrar o tempo em que garçom vestia preto e branco, com gravatinha borboleta, o chopp chegava gelado, ele sabia o resultado do futebol e ainda nos servia de ombro para uma dor amorosa de ponta. Hoje, nos bares de moda, as garçonetes são lindas, descoladas, podem passar a noite a discorrer sobre cinema coreano, mas o serviço que é bom... nécaras, como diz o meu amigo Sabião Bestunes, o monstro de Sabará.
Mario de Andrades digitais – Pessoas que escrevem e-mails enormes, como as famosas cartas do modernista paulistano. Esse homem matou muitos pobres e desnutridos carteiros de tanto fazê-los gastar sola de sapato, pois se correspondia com o país inteiro... Embora desse a impressão a cada interlocutor que aquela troca de cartas embutia uma linda e única afinidade eletiva. Todos os anos vem à tona um novo carregamento de missivas do gênero. Escreveu para tocadores de coco do Nordeste, índios, mitos amazônicos, gorilas...
[a lista continua em futuras edições deste papiroblog]
Tratado geral dos chatos, o remake
Por Xico Sá-
http://www.cronopios.com.br/
Aqui vai uma livre atualização do clássico almanaque “Tratado Geral dos Chatos”, que o escriba Guilherme Figueiredo pôs no mundo há mais de meio século. Cá estamos com uma nova lista destas criaturas capazes de nos subtrair a paciência e nos deixar tão inquietos quanto as vítimas do Pediculus púbis, como são conhecidos cientificamente os insetos homônimos que atacam as partes mais baixas e indefesas de um cristão de fé.
Bons e inocentes tempos aqueles em que os chatos se resumiam aos tipos agrícolas, como o chato-pra-chuchu, ou às criaturas crentes na meteorologia, como os chatos-de-galocha, que já saíam de casa prevenidos contra qualquer enchente, vento ou maré. Haviam ainda os menos ofensivos, como os da espécime aforismática _sempre com uma filosofia de pára-choque na ponta da língua para importunar.
O certo é que eles se multiplicaram como os invertebrados homônimos e hoje dominam o país, os lares, as repartições, os logradouros públicos, as salas de espera... Existem os chatos-24 horas, estes vampiros da paciência alheia, como diria o bruxo do Cosme Velho _só para citar outro tipo fenomenal de chato, que é aquele que sempre inicia uma conversa com a inseparável locução “como diria...”
Enfim, só nos resta ser mais chatos ainda, o que tenho buscado nestas linhas, afinal de contas ainda não nasceu o ser humano capaz de chatear um chato sem que portasse a mesma peçonha. Como perdemos, nesses tempos corretos, o gosto pelo assassínio e maltratos do gênero, sobra a este cabeça-chata que vos impacienta mapear os maçantes mais visíveis e contemporâneos. Ei-los:
Megasuperultrahype – O chato mais veloz do Oeste. Trata-se da criatura atualizadérrima nas últimas tendências e apostas do mundinho dos modernos da noite e da mundanidade
Fêmea sitcom – Aquele tipo metropolitano metido a chique que acha que a vida é um seriado americano, um Sex and City sem fim. Nos salões, principalmente nas bocas-livres, está sempre com um prosseco à mão. Adora vernissages.
Chatos de época - Rabugentos, inconsoláveis, sempre a resmungar pelo borogodó que se foi. Não é uma questão de idade, ataca também raparigas em flor, como as gazelas que fazem um tipo “virgens suicidas” e ouvem Renato Russo e Smiths como se fossem mademoiselles do século XIX.
Garçonete-cabeça – Aqui encarno um rápido chato de época para lembrar o tempo em que garçom vestia preto e branco, com gravatinha borboleta, o chopp chegava gelado, ele sabia o resultado do futebol e ainda nos servia de ombro para uma dor amorosa de ponta. Hoje, nos bares de moda, as garçonetes são lindas, descoladas, podem passar a noite a discorrer sobre cinema coreano, mas o serviço que é bom... nécaras, como diz o meu amigo Sabião Bestunes, o monstro de Sabará.
Mario de Andrades digitais – Pessoas que escrevem e-mails enormes, como as famosas cartas do modernista paulistano. Esse homem matou muitos pobres e desnutridos carteiros de tanto fazê-los gastar sola de sapato, pois se correspondia com o país inteiro... Embora desse a impressão a cada interlocutor que aquela troca de cartas embutia uma linda e única afinidade eletiva. Todos os anos vem à tona um novo carregamento de missivas do gênero. Escreveu para tocadores de coco do Nordeste, índios, mitos amazônicos, gorilas...
[a lista continua em futuras edições deste papiroblog]
Comentários
Postar um comentário