Amigo, no seio da noite escutei tua canção.
Lembrei-me de ti, e o meu coração sorriu.
Senti tua presença, mesmo sem te ver.
Inspirado, pensei em escrever um poema,
Mas não possuo a tua habilidade de escrever.
Nem tenho o teu talento de tecer as palavras,
Com aquelas harmonias das esferas astrais.
Então, fechei os olhos, e uma estrela surgiu,
À minha frente, na tela mental.
Em seu brilho, veio uma inspiração,
Que, no meio da luz, disse-me:
"Tu és o que és!
Pedacinho estelar na carne,
Estrelinha aprendendo no mundo.
O divino feito homem,
O homem feito espírito.
Jamais esqueças que és um espírito.
A glória das estrelas brilha em tua fronte.
O brilho de bilhões de sóis não é páreo
Para o brilho de teu corpo glorioso!
Tu sentes saudades da imensidão sideral,
Mas o Eterno te colocou na Terra por um tempo.
Aceite isso, com sabedoria, mas, quando possível,
Não deixe de voar...
A liberdade virá com o teu labor bem feito.
Para quem trabalha, um sonho de liberdade
Não é uma quimera, é efeito da causa justa.
Estude e trabalhe... Não deixe de voar...
O teu caminho não é só teu,
Pois muitos melhoram com a tua melhoria.
A tua vida não é só tua, pois o Eterno
Vive contigo na morada do coração.
Mesmo os teus sonhos são compartilhados...
Por aqueles que sonham com a mesma liberdade.
Por aqueles que buscam o mesmo que tu,
E que também sentem saudades, sem saber por quê.
Há laços invisíveis que ligam os espíritos,
Mesmo em orbes distantes.
Há amores que se reencontram, algures...
Mesmo enquanto os corpos dormem.
Há pensamentos e sentimentos que voam na noite,
Ao encontro de seus pares...
Enquanto os corpos descansam,
As estrelas se encontram e se encantam.
Mesmo na Terra, é possível voar espiritualmente.
O sono é o recreio da estrela-espírito.
Mesmo a reencarnação não consegue segurar
A estrelinha em tempo integral na carne.
Quando o sono afrouxa os liames carnais,
Lá vai ela, novamente, ao encontro de seus pares.
Na abóbada sideral, as estrelas se beijam.
Algumas delas estão projetadas lá temporariamente,
Pela ação do irmão sono.
Outras são estrelas livres, à espera de suas irmãs.
Então, quando a saudade apertar, lembra-te:
Tu és um espírito! Tu és uma estrela! Tu és o Eterno na carne!
Tuas irmãs livres jamais te esqueceram.
E, quando o teu corpo dorme, elas vêm!
E te levam junto para a abóbada sideral.
Tu estás na Terra, nesse momento,
Porque é preciso em teus estudos e experiências.
É o teu lugar, por enquanto.
Mas, não deixes de voar...
As estrelas livres, tuas irmãzinhas celestes,
Estão te esperando com saudades também."
Pois esse foi o recado da estrela, meu amigo.
Gostaria de ter feito um poema em tua homenagem,
Mas não tenho o teu talento para isso.
Por isso a minha irmã estelar veio dar uma força.
Com ela aprendi que os pensamentos e sentimentos
Voam na noite ao encontro de seus pares.
Com essa esperança, torço para que esses escritos
Voem na noite e cheguem a teu coração.
Que, mesmo em planos distantes, nós possamos celebrar juntos
A ação daquela Mão Invisível que teceu o Grande Mistério,
E incrustou na abóbada sideral as incontáveis estrelinhas,
Nossas irmãs siderais, nossas companheiras de vôo espiritual.
Sim, meu amigo, que possamos celebrar juntos
A obra do Grande Arquiteto Do Universo,
O Grande Espírito, A Grande Estrela, O Pai-Mãe de todos,
Criador das estrelas e de todos nós.
Mesmo em planos diferentes agora,
Que os nossos pensamentos e sentimentos possam
Voar juntos na noite, ao encontro daquelas estrelas
Esquecidas de sua própria natureza sideral.
Que, de alguma maneira, nós possamos tocá-las em segredo.
Para lembrá-las de que é possível voar na noite, em espírito.
Meu amigo, não tenho aqui a poesia de que gostaria.
Só tenho esses pensamentos e sentimentos que
Voam na noite, inspirados pela estrela-guia.
Aceite-os!
Pois, se não tenho a tua habilidade em escrever,
Pelo menos ainda consigo voar...
P.S.:
Senhor, em teus pés deposito essa guirlanda de flores astrais.
Elas cresceram no jardim do meu coração.
Foram regadas pelas lágrimas da saudade estelar,
E adubadas pelo suor da sadhana*.
Foram iluminadas pelo sol e beijadas pela lua,
Em muitas existências.
E me ensinaram a grande lição:
Na casa do coração, estamos todos juntos.
TAGORE
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