OS SÍMBOLOS E ARQUÉTIPOS DE JUNG



Para que possamos falar de símbolos e arquétipos, é necessário explicar o conceito de inconsciente coletivo. De maneira simples, inconsciente coletivo é a parte do inconsciente individual que resulta da experiência ancestral da espécie, ou seja, ele contêm material psíquico que não provêm da experiência pessoal.
Jung compara o inconsciente coletivo ao ar, que é o mesmo em todo o lugar, é respirado por todos e não pertence a ninguém.

O conteúdo psíquico do inconsciente coletivo são os arquétipos. Que são uma forma de pensamento universal com carga afetiva, que é herdada. Os arquétipos são como diferentes “formas de bolo”, que dão características ao bolo. Eles dão origem as fantasias individuais e também às mitologias de todas as épocas. Por exemplo, todo mundo quer encontrar seu “par perfeito” ou alma gêmea, pode-se dizer que isto se resulta de um arquétipo, da figura de Adão e Eva, ou de outra, pois em todas as religiões existe uma história que ilustra a união entre “as polaridades”.

Este conceito se propaga e por mais que qualquer pessoa negue, sempre existe um desejo ainda que inconsciente de se encontrar alguém muito especial que corresponda ao que esperamos. Esta é uma fantasia individual resultante de um mito. Jung nos diz que o conceito de arquétipo é muito mal compreendido, pois este não expressa uma imagem ou conteúdo definido, mas sim uma variação de detalhes e um motivo, mas nunca perdendo a configuração original.

Seguindo o mesmo exemplo anterior das almas gêmeas, existe o desejo de encontrar alguém que seja o mais próximo possível da perfeição (talvez você esteja negando isto bem agora, mas lembre-se que isto é inconsciente!), mas o que é ser perfeito? Para cada pessoa existe um conceito. Entendeu agora?!

Todo arquétipo traz características positivas e negativas, por exemplo, você pode querer ser o príncipe da Branca de Neve, com o cavalo branco e tudo, mas também existe uma imagem e um medo de que este vire um sapo, ou que o romance acabe como o de Romeu e Julieta.

Estes arquétipos e muitos outros presentes em nós, como a figura materna, a figura do irmão ou da irmã, entre outros, não podem ser destruídos e permaneceram em nós por toda a nossa existência, mas necessitam ser constantemente trabalhados. As principais estruturas formadoras de nossa personalidade são arquétipos.

Bom, agora vamos falar um pouco sobre os símbolos, estes não podem ser comparados aos arquétipos, já que os arquétipos não tem um conteúdo definido. Nosso inconsciente se expressa basicamente pelos símbolos.

Os símbolos podem ser individuais ou coletivos. Jung se interessou mais pelos coletivos ou universais como: a estrela de Davi, a Cruz entre outros, em sua grande maioria religiosos. Um dos mais famosos símbolos é o Martelo de Thor, adotado por Hitler como Suástica. O Martelo de Thor (Deus do Trovão), é do tempo dos Víkings e simboliza a proteção divina contra o perigo. Mas como foi mal usado por Hitler, hoje vemos esse símbolo com medo e desaprovação. Para conseguir desprogramar esse estado, não basta saber a verdade, mas sim repeti-la várias e várias vezes até se reprogramar a mente.

Os símbolos podem ser nomes, imagens familiares entre outros, eles possuem um significado obvio, mas também trazem conotações específicas. A imagem, o nome ou outra coisa, só pode ser considerada símbolo quando evoca algo mais que seu simples significado.
Por exemplo, o nome de Jesus, não é apenas um nome, tornou-se símbolo, porque traz consigo muitas outras coisas, mesmo para quem não é um cristão. O nome Jesus traz um aspecto inconsciente, que não pode ser definido ou explicado plenamente. Assim são os símbolos.

O símbolo é algo dinâmico e vivo, que vai além do consciente. Eles podem ser encontrados nos sonhos com uma representação individual ou coletiva. Por isso, quando aparecerem símbolos em seus sonhos, procure saber o que eles representam para você, fazendo uma ponte para com a sua situação de vida. Jung dizia que como uma planta produz flores, assim também a psique cria os símbolos.

Toda essa história de símbolos, arquétipos e inconsciente coletivo, nos deixa várias portas abertas à diferentes interpretações. Um médico poderia dizer que tudo isto é transmitido geneticamente, um sociólogo, poderia dizer que é pelo meio-ambiente e a cultura que impõe esses conceitos desde cedo, ou ainda um espiritualista pode compreender isto como uma referência à imortalidade do espirito e à bagagem da alma em suas muitas viagens pelo planeta.
Escolha sua!

Rodrigo De Souza-Site Somos Todos Um

ARQUÉTIPOS REPRESENTAM a parte herdada da PSIQUE; padrões de estruturação do desempenho psicológico ligados ao INSTINTO; uma entidade hipotética irrepresentável em si mesma e evidente somente através de suas manifestações.
A teoria dos arquétipos, de Jung, desenvolveu-se em três estágios. Em 1912 ele escreveu sobre imagens primordiais que reconhecia na vida inconsciente de seus pacientes, como também em sua própria auto-análise. Essas imagens eram semelhantes a motivos repetidos em toda parte e por toda a história, porém seus aspectos principais eram sua numinosidade, inconsciência e autonomia (ver NUMINOSO). Na concepção de Jung, o INCONSCIENTE coletivo promove tais imagens. Por volta de 1917, escrevia sobre dominantes não-pessoais ou pontos nodais na psique, que atraem energia e influenciam o funcionamento de uma pessoa. Foi em 1919 que pela primeira vez fez uso do termo arquétipo, a fim de evitar qualquer sugestão de que era o conteúdo e não o esboço ou padrão inconsciente e irrepresentável que era fundamental. São feitas referências ao arquétipo per se para que fosse claramente distinguido de uma IMAGEM arquetípica compreensível (ou compreendida) pelo homem.
O arquétipo é um conceito psicossomático, unindo corpo e psique, instinto e imagem. Para Jung isso era importante, pois ele não considerava a psicologia e imagens como correlatos ou reflexos de impulsos biológicos. Sua asserção de que as imagens evocam o objetivo dos instintos implica que elas merecem um lugar de igual importância.
Os arquétipos são percebidos em comportamentos externos, especialmente aqueles que se aglomeram em torno de experiências básicas e universais da vida, tais como nascimento, casamento, maternidade, morte e separação. Também se aderem à estrutura da própria psique humana e são observáveis na relação com a vida interior ou psíquica, revelando-se por meio de figuras tais como ANIMA, SOMBRA, PERSONA, e outras mais. Teoricamente, poderia existir qualquer número de arquétipos.
Padrões arquetípicos esperam o momento de se realizarem na personalidade, são capazes de uma variação infinita, são dependentes da expressão individual e exercem uma fascinação reforçada pela expectativa tradicional ou cultural; e, assim, portam uma forte carga de energia, potencialmente arrasadora a que é difícil de se resistir (a capacidade de fazê-lo é dependente do estágio de desenvolvimento e do estado de CONSCIÊNCIA). Os arquétipos suscitam o AFETO, cegam o indivíduo para a realidade e tomam posse da VONTADE. Viver arquetipicamente é viver sem limitações (INFLAÇÃO). Entretanto, dar expressão arquetípica a alguma coisa pode ser interagir conscientemente com a imagem COLETIVA, histórica, de forma tal a permitir oportunidade para o jogo de polaridades intrínsecas: passado e presente, pessoal e coletivo, típico e único (ver OPOSTOS).
Todas a imagens psíquicas compartilham, até certo ponto, do arquetípico. Esta é a razão por que os sonhos e muitos outros fenômenos psíquicos possuem numinosidade. Comportamentos arquetípicos têm a maior evidência em tempos de crise, quando o EGO está vulnerável ao máximo. Qualidades arquetípicas são encontradas em SÍMBOLOS e isso, em parte, responde por sua fascinação, utilidade e recorrência. DEUSES são METÁFORAS de comportamentos arquetípicos e MITOS são ENCENAÇÕES arquetípicas. Os arquétipos não podem completamente ser integrados nem esgotados em forma humana. A análise da vida implica uma conscientização crescente das dimensões arquetípicas da vida de uma pessoa.
O conceito do arquétipo, de Jung, está na tradição das Idéias Platônicas, presentes nas mentes dos deuses, e que servem como modelos para todas as entidades no reino humano. As categorias apriorísticas da percepção, de Kant, e os protótipos de Schopenhauer também são conceitos precursores.
Em 1934, Jung escreveu:
Os princípios básicos, os archetypoi, do inconsciente são indescritíveis em virtude de sua riqueza de referência, muito embora recognoscíveis em si mesmos. O intelecto discriminador naturalmente prossegue tentando estabelecer-lhes significados únicos e, assim, perde o ponto essencial; pois aquilo que, antes de tudo, podemos estabelecer como compatível com sua natureza é seu significado múltiplo, sua quase ilimitada riqueza de referência, que torna impossível qualquer formulação unilateral (CW 9i, parág. 80).
Ellenberger (1970) identificou o arquétipo como uma das três principais diferenças conceituais entre Jung e Freud na definição do conteúdo e do comportamento do inconsciente. Seguindo Jung, Neumann (1954) via os arquétipos recorrentes em cada geração, mas também adquirindo uma história de formas baseada em uma ampliação da consciência humana. Hillman, fundador da escola da Psicologia Arquetípica, cita o conceito de arquétipo como o mais fundamental na obra de Jung, referindo-se a essas mais profundas premissas do funcionamento psíquico como delineadoras do modo pelo qual percebemos e nos relacionamos com o mundo (1975). Williams argumentou que, se a estrutura arquetípica permanecer vazia sem uma experiência pessoal para preenchê-la, a distinção entre dimensões pessoais e coletivas da experiência ou categorias do inconsciente pode ser algo acadêmica (1963a).
Noções de estrutura psicológica inata existem na psicanálise hodierna, marcadamente na escola kleiniana; Isaacs (fantasia inconsciente), Bion (preconcepção) e Money-Kyrle (cf. Money-Kyrle, 1978). A teoria dos arquétipos, de Jung, também pode ser comparada ao pensamento estruturalista (Samuels, 1983 a).
Com o uso crescente do termo, encontramos freqüentes referências a fenômenos tais como “um necessário deslocamento do arquétipo paterno” ou “o arquétipo em deslocamento da feminilidade”. A palavra foi incluída no Dictionary of Modern Thought de Fontana, em 1977. O biólogo Sheldrake encontra correspondência relevante entre a formulação de Jung e sua teoria dos “campos morfogenéticos” (1981).

Arquétipos e desenvolvimento psíquico

Resumo
A individuação é o processo arquetípico que representa a jornada do ego em busca do Self. O presente artigo aborda os principais arquétipos do inconsciente coletivo como elementos que estruturam o crescimento psíquico e guiam a individuação.


“(...) os conteúdos do inconsciente desencadeiam um desenvolvimento ou uma verdadeira metamorfose da psique” Jung


1. INTRODUÇÃO

Jung (1989, p. 19) inicia o prólogo de sua autobiografia com a afirmação: “minha vida é a história de um inconsciente que se realizou”. Essa frase resume aquilo que ele dedicou toda a sua vida e representa sua maior contribuição: o estudo do inconsciente.
Esse estudo ocorreu através da análise das produções simbólicas das civilizações, de seus pacientes e principalmente, pelo submetimento aos desígnos de seu próprio inconsciente.
O período de sua vida após o rompimento com Freud que ele chamou de “confronto com o inconsciente” foi particularmente importante, pois segundo ele, foi um período de desorientação em que buscava sua própria posição teórica e de vida (sua visão de homem e mundo) (ibid, p. 152).
A importância que as imagens – símbolos tiveram em sua vida pode ser vista na seguinte passagem:
“Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida e neles todas as coisas essenciais se decidiram. Foi então que tudo teve início e os detalhes posteriores foram apenas complementos e elucidações. Toda minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos e que inicialmente me inundara: era a matéria – prima para a obra de uma vida inteira” (ibid., p. 176).


2. PRINCIPAIS CONCEITOS

Mas como Jung definiu o inconsciente ?
De acordo com sua teoria, há dois tipos de inconscientes: Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo. O primeiro abriga eventos pessoais e cotidianos que são reprimidos ou simplesmente esquecidos. Também fazem parte dele, percepções subliminares às nossas sensações. Ele é dinâmico e exerce uma função compensatória à consciência. (JUNG, 1985). Esse conceito aproxima-se do que Freud compreendeu como inconsciente.
O Inconsciente Coletivo representa a dimensão universal do indivíduo. É constituído por conteúdos herdados e que nos ligam simbolicamente à toda a humanidade. Esses conteúdos são imagens primordiais chamadas de Arquétipos (ibid.). A elaboração desse conceito foi um dos grandes divisores de águas entre as teorias de Jung e Freud, pois Jung aprofunda a visão de inconsciente, resgatando as dimensões simbólica e religiosa.
Os arquétipos são princípios, formas sem conteúdo. Segundo Jung (1989, p. 352), eles são “vazios em si”, que serão preenchidos pelas experiências de vida de cada um. Por não possuírem uma forma, eles manifestam-se através de símbolos ou comportamentos. De acordo com Santos (1976, p. 26), eles constituem “possibilidades de o indivíduo agir de uma certa maneira diante de certas situações da vida”. Por exemplo, uma mulher grávida “preencheria” com suas experiências maternas o arquétipo maior de Mãe.
Jung (1989) afirma que esse conceito surgiu através das observações dos mitos, contos, fábulas universais, pois eles abordam temas e representações específicas que apareceram em diferentes povos de todas as partes do mundo. Um exemplo disso ocorre com o conto “As orelhas do Rei” que trata da sombra (defeitos, medos, etc.) presente por trás do herói, possui correspondentes como: as histórias judaicas “O Sonho do Rei” e “O Avarento”, o conto russo “O Czar e o Anjo”, o conto indiano “O Rei que queria ser mais forte do que o destino” ou “Sonhos”, da China.
Segundo Magalhães (1984) seria difícil distinguir ao certo os dois tipos de inconsciente, pois todos os elementos que surgem à consciência possuem algo de arquetípico. Os arquétipos per se não são acessíveis à consciência e sim suas representações ou imagens – símbolos.
Podemos afirmar que as imagens – símbolos atuam como uma ponte de acesso ao nosso inconsciente coletivo. No entanto, elas podem acumular-se no inconsciente pessoal e ligar-se à emoções, sentimentos, vivências positivas, auxiliando o desenvolvimento psíquico ou então, à conteúdos reprimidos, formando complexos (MAGALHÃES, 1984).
Os complexos possuem em sua estrutura, um arquétipo atrelado à conteúdos com elevada carga afetiva que consome grande parte da energia psíquica. É a nossa inconsciência (ignorância) dele que lhe fornece essa carga energética. Quando são mobilizados por conteúdos internos (lembranças, sensações, sentimentos) ou externos (situações específicas), os complexos podem constelar à consciência, influenciando diretamente os comportamentos do indivíduo (ibid.).
Segundo Lindmeier (2000), além de integrarem os complexos, as imagens - símbolos podem ser projetadas para pessoas e objetos do ambiente, limitando nossa percepção. Um indivíduo com um complexo paterno, em função de um trauma, por exemplo, pode projetar essa imago paterna para indivíduos do sexo masculino, manifestando raiva ou rejeitando essas figuras. Ou ainda, pode sentir-se profundamente mobilizado por situações, imagens, histórias, etc, que expressem a relação entre pai e filho.

3. PRINCIPIUM INDIVIDUATIONIS
Segundo Jung (1986), o psiquismo está em constante transformação. Ele chamou de Individuação, o processo universal e arquetípico de mudança e crescimento psíquico.
De acordo com Gorresio (1997, p. 113), esse conceito (principium individuationis) é antigo no pensamento filosófico, ligando – se ao filósofo neoplatônico romano Plotino (205 – 262 d.C.). Contudo, foi Jung quem evidenciou a alienação do homem em relação ao Si – Mesmo (Self – Selbst), vivendo em um constante estado de desarmonia interior. Nesse contexto, a individuação é a grande “jornada do ego na busca e no aumento do Si – mesmo”.
Ele expressa o processo de voltarmos a olhar para nós mesmos e reconhecermos como somos, o que gostamos e o que não, quais são os nossos defeitos, “demônios”, e qualidades. É a reconstrução de nossa identidade individual e universal, já que esse é um processo arquetípico.
Várias histórias, mitos, contos, retratam essa “inclinação” humana ao desenvolvimento psíquico e evolução espiritual. Dentre eles, podemos citar, por exemplo, a lenda do Santo Graal e o mito de Eros e Psique. De acordo com Bulfinch (1965), psique em grego significa borboleta ou alma. No mito, psique representa a purificação da alma, que após uma longa jornada cheia de infortúnios e sofrimentos, pode gozar da mais pura felicidade e tornar-se imortal.
A individuação é o deslocamento do centro da nossa consciência do Ego para níveis mais profundos do Self. De acordo com Von Franz (1964), é como se o ego existisse somente para auxiliar a realização da psique, não consistindo assim, nossa realização última. Dito de outra maneira, a estruturação do ego não é um fim em si, mas necessária para que ele nos auxilie em nosso desenvolvimento mais amplo. Nesse processo, devemos contar com a participação ativa de um ego estruturado que seja capaz de tomar decisões, cooperar e principalmente, escutar atentamente os símbolos (sinais) advindo do Inconsciente, pois eles que indicarão o caminho a seguir.
Segundo Gorresio (1997), isso representa o aspecto ético da individuação, pois o ego se propõe a observar os símbolos do inconsciente e ser fiel à eles. Esta seria uma grande questão da pós – modernidade. Estamos a maior parte do tempo voltados para o mundo externo, para o excesso e acúmulo de informações e negligenciamos os cuidados com o nosso corpo e nossa alma.
Tenzin Gyatso (2000, p. 58) reforça a dimensão social do desenvolvimento interior. Segundo ele “um ato ético é aquele que não prejudica a experiência ou a expectativa de felicidade de outras pessoas”. Seguir o caminho interior nos põe em contato com o Outro. Não estaremos “plenamente” realizados se aqueles que amamos sofrem.

4. ARQUÉTIPOS
Dentre os principais arquétipos anunciados por Jung, estão aqueles que configuram o psiquismo: a persona, a sombra, a anima, o animus e o Self.
A palavra Persona significa “máscara” e representa a forma como nos apresentamos ou somos levados a nos apresentar à sociedade. Assim, possui relações com o nosso Ego Ideal e nem sempre corresponde com nossa identidade real (MAGALHÃES, 1984). Segundo Jung (1985, p. 32) “como seu nome revela, ela é uma simples máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando, na realidade, não passa de um papel, no qual fala a psique coletiva”.
A máscara é expressa por nossos títulos, ocupações, papéis, nomes que são necessários e dizem respeito a nós mesmos, no entanto, não em um nível mais profundo. A identificação extrema do indivíduo com esses conteúdos ou ainda com os complexos constelados, pode levá – lo ao que Jung (1986) chamou de Inflação.
Outro arquétipo o qual no deparamos é o da Sombra. Ela expressa tendências e impulsos que podem ser positivos ou negativos e que negamos em nós mesmos. Geralmente são defeitos e impulsos que não aceitamos como sendo nossos e, portanto, projetamos em outras pessoas (JUNG, 1986).
“Portanto, seja qual for a forma que tome, a função da sombra é representar o lado contrário do ego e encarnar, precisamente, os traços de caráter que mais detestamos nos outros” (VON FRANZ, 1964, p. 173). Por isso, ela pode conter forças vitais positivas que devemos elaborar e assimilar ao invés de reprimirmos. Caberia ao Ego realizar essa diferenciação.
Com essa dimensão arquetípica, compreendemos que a visão de homem na psicanálise é a de um ser com tendências conflitivas (opostas), com aspectos positivos e negativos. No entanto, esse conflito não é visto como um impedimento à realização. Pelo contrário, o ser humano realiza-se pela superação do conflito, pois este o impulsiona `a busca e à transcendência. Aceitar a sombra é aceitar a incerteza, aceitar que falhamos, que muitas vezes não conseguimos, não nos realizamos, nos frustramos, temos defeitos, não ajudamos ou compreendemos ou outros, somos maus.
Esses aspectos dicotômicos também estão presentes nos arquétipos anima e animus. A Anima expressa as tendências psicológicas femininas na psique masculina. É a imago materna, já que a primeira projeção da anima do filho é em sua mãe (JUNG, 1986). Segundo Von Franz (1964, p. 177) são características da Anima, os “humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a capacidade de amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas nem por isso menos importante, o relacionamento com o inconsciente”. Algumas funções da anima seriam: a escolha da esposa, sensibilização da mente masculina aos seus valores internos, auxiliar no discernimento interno e mediar o contato do ego com o Self.
Já o Animus são os aspectos masculinos na psique feminina, correspondendo ao Logos paterno. Suas características são: as convicções, opiniões, argumentos, etc. Atender ao seu animus, auxiliar a mulher a ter mais iniciativa, coragem e objetividade em suas decisões, características essenciais do Logos (palavra, verbo, criação) (ibid.).
Esses dois arquétipos mediam nossas relações com o Outro, a alteridade, a diferença, a realização da polaridade (feminino e masculino) (MAGALHÃES, 1984). Eles geralmente são projetados para os indivíduos do sexo oposto. Por esse motivo, a forma como lidamos com o sexo oposto nos fornecem indícios sobre como lidamos com as nossas características femininas e masculinas.
Por fim, temos o Self (Si – Mesmo, Selbst) que é o arquétipo central e regulador do psiquismo. É a totalidade psíquica, integrando todos os arquétipos e característica ao seu redor. Jung (1986, p. 29) afirma que “o conceito de totalidade (...) é hierarquicamente superior à sizígia (anima/ aminus) e à sombra, mas mantém uma relação com estes já que a sizígia representa simbolicamente a união dos opostos”, condição indispensável à individuação.
Sendo o “núcleo mais profundo da psique”, o Self é expresso simbolicamente em sonhos, contos, histórias, etc, sob diferentes formas. Na mulher pode surgir como uma figura feminina superior como uma sacerdotista, uma feiticeira, etc. No homem, como um guru, um velho sábio, etc. além disso pode aparecer sob a forma de um ser gigante que contém em si todo o universo, sob seres bissexuais, animais sagrados, uma pedra preciosa (como a pedra filosofal da alquimia, lapis philosophorum), etc. Ele pode se manifestar em nossos sonhos, nos momentos críticos e que devemos tomar importantes decisões ou que períodos de transição (VON FRANZ, 1964, p. 196).
Um símbolo bastante significativo do Self é o mandala. Os mandalas (sânscrito, círculo) são figuras circulares e simétrias, considerados um dos símbolos mais antigos encontrados em manifestações artísticas e religiosas de diferentes povos e épocas. Jung (1986, p. 30) percebeu que eles apareciam no processo psicoterapêutico de pacientes, em momento de desorientação e desorganização psíquicas. “Eles (os pacientes) exocizam e esconjuram sob a forma de círculos mágicos, as potências anárquicas do mundo obscuro, copiando ou girando uma ordem que converte o caos em cosmos”.
Por ser superior ao Ego, o Self também foi chamado de Deus, Daimon, Voz Interior, que fornece as direções, a energia (“o impulso ético”) para a individuação (GORRESIO, 1997, p. 115).
Ao contrário do que possamos pensar, a individuação não equivale ao individualismo, ou seja, a distinção do homem enquanto uma absoluta individualidade destacada do contexto. A jornada da individuação nos põe em contato com nossos aspectos internos e à medida que aprofundamos esse contato, percebemos a profunda integração existente entre o indivíduo e o contexto. Desse modo, o crescimento psíquico nos põe em contatos mais estreitos com aqueles que nos cercam, pois percebemos que as distinções, em um extremo, não existem. Por isso, podemos pensar que o engajamento social e a assunção da responsabilidade pelo meio são conseqüências desse processo, pois tudo é visto como em um grande sistema de inter-relações.

“(...) e o fim de vossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos. E conhecê-lo então pela primeira vez”
T.S. Eliot


5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BULFINCH, T. O livro de ouro da mitologia: a idade da fábula. História de deuses e heróis. Rio de Janeiro: Ediouro, 1965.


GORRESIO, Z. M. P. A ética da individuação: um estudo sobre a ética do ponto de vista da psicologia junguiana. Hypnos, v. 2, n. 2, p. 112 – 118, 1997.


JUNG, C, G. O eu e o inconsciente. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

______. Aion. Estudos sobre o simbolismo do si – mesmo. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.

______. Memórias, sonhos e reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.


LINDMEIER, K. Avaliação experimental da interferência dos arquétipos junguianos no fenômeno parapsicológico da clarividência. Psico – USF, v. 5, n. 2, p. 25 – 63, jul./ dez., 2000.


MAGALHÃES, L. M. A. A teoria psicológica de Jung: principais conceitos. In: REIS, A.O.A.; MAGALHÃES, L.M.A. & GONÇALVES, W.L. Teorias da personalidade em Freud, Reich e Jung. São Paulo: EPU, 1984 (Temas básicos em Psicologia, v. 7). p. 132 –162.


SANTOS, C. C. Individuação Junguiana. São Paulo: Sarvier, 1976.


TENZIN GYATSO (Dalai Lama). Uma ética para o novo milênio. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.


VON FRANZ, M. L. O processo de individuação.
In: JUNG, C. G. (org). O homem e seus símbolos. 5ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964.

AUTOR : Ricardo Franco de Lima
Graduado em Psicologia  pela Universidade São Francisco –
Itatiba




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