“A religião diz: o corpo é uma culpa.A ciência diz: o corpo é uma máquina.A publicidade diz: o corpo é um negócio.O corpo diz: eu sou uma festa”.
Espiritualidade
significa viver segundo a dinâmica profunda da
vida,
sob aação do
Espírito.
O termo designa a
totalidade
do ser humano enquanto energia,sentido e vitalidade.É
unidade
num processo dinâmico mediante o qual vai se construindo a integralidade da pessoa e sua
integração
com tudo que a cerca.A
espiritualidade
emerge do
cotidiano
marcado pela luta,emerge das
relações
de reciprocidade,emerge do
corpo,
o lugar mais concreto para a epifania de Deus.Essa forma de viver a
espiritualidade
compreende o reconstruir a própria história pessoal e coletiva a partir da realidade
corpórea
e contextual.
O Corpo na Espiritualidade
Vive-se hoje uma busca de
reconstrução
da vida, a começar pelo respeito e valor ao
corpo.
Aqui a
espiritualidade
quer ser uma palavra de esperança para os
corpos
que choram machucados no seu ser inteiro.Uma
espiritualidade
que parta do
corpo
significa redimí-lo, acolhê-lo no bem que traz, na sua materialidade com um abraço divino.Partir do
corpo
é partir do Reino de Deus, anunciado e já realizado em Jesus que dá a saúde, que devolve a vista, que levanta os caídos e que ressuscita os mortos.
Espiritualidade
e
corporeidade
não representam realidades estranhas, paralelas ou até mesmo opostas, mas vivências que se influem mutuamente, em permanente osmose entre elas:uma não pode existir sem a outra, e somente numa correspondência unitária constroem, realizam e revelam a totalidade da pessoa.A
corporeidade
penetra toda a nossa auto-realização como seres humanos.O
corpo
não é simplesmente
“organismo vivo”
ou mera
“exterioridade”
oumero
“instrumento do espírito”.
O
corpo
é de importância máxima para a experiência que temos de nós mesmos e para a comunicação com Deus, com os outros e com anatureza.
A consciência do respeito e do valor ao
corpo
é necessária para amaturidade afetiva.A desvalorização do
corpo
resulta na mutilação da expressividade, da comunicação de sentimentos e prejudica a maturidade afetiva-social-espiritual.
“Quem quer que sejais, se quiserdes transformar a vós mesmos, começai pelo vosso corpo”
(P.Salomon)
Uma relação negativa com a
corporeidade
equivale a uma relação negativa consigo mesmo, com os outros e até mesmo com Deus, e vice-versa.A pessoa não pode desinteressar-se de seu
corpo
sem danificar sua própria
espiritualidade,
assim como toda ruptura da harmonia do corpo com o espírito,prejudica ambos.A pessoa é uma
totalidade
unificada, um
“todo espiritual”
e um
“todo corpóreo”,
tanto que não existe fenômeno corpóreo que não tenha um reflexo no espírito, nem experiência espiritual que não se reflita no corpo. O
corpo
participa, de maneira imprescindível, na atuação do
eu
espiritual e vice-versa.A
“linguagem espiritual”
acompanha a
“linguagem corporal”,
assim como a linguagem do
corpo
reforça a linguagem
espiritual.
O
corpo
fala por si mesmo, comunica, reage... O
corpo
é expressão de nossa masculinidade ou feminilidade, de nossa sexualidade integrada ou reprimida, de nossa saúde ou doença, de nossa alegria ou tristeza, realização ou frustração, de nossa consolação ou desolação.O
corpo
é expressão e comunicação daquilo que somos.
O próprio Deus se fez
corpo,
no corpo de uma mulher:
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
A
espiritualidade cristã
é
“encarnada”.
A
Encarnação
foi o caminho que a Trindade escolheu para se aproximar dahumanidade e fazer história conosco. Nosso
corpo humano
, feito de barro – vaso frágil equebradiço – tornou-se o lugar privilegiado da chegada e da revelação do amor trinitário.
“Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós?”
1Cor,6,19
O nosso
corpo
é o
“templo”
santo e santificado, onde Deus Trino faz sua morada.A
Encarnação
de Jesus não autoriza qualquer desprezo da corporeidade; pelo contrário, valoriza o ser humano na sua totalidade (Mc. 2,9-11).Jesus cura a pessoa toda a começar pelas doenças do corpo, doenças psicológicas e espirituais.
Cultivar o corpo para recuperar a saúde, combater o stres, harmonizar mente e corpo, razão e emoção,isto é benéfico.A deturpação desumanizante do corpo aparece quando ele é visto como fim em si mesmo.Temos muitas ofertas para o corpo:
ginásticas, academias, cosméticos, bioenergéticas, yoga,dança, expressão corporal, cirurgias plásticas, implantes, massagem...
Cuidar sim, idolatrar não; é preciso caminhar para a superação do medo do corpo, mas sem idolatrá-lo.
O
corpo
se plenifica na comunhão com outros corpos, com Deus e com o corpo da natureza.Nosso
corpo
é pura
relação.
Nele ficam registradas todas as marcas de nossa vida, de nossa história.A
pele
é a memória mais fiel de tudo o que nos acontece externamente. É por isso que diante de pessoas ou coisas temos reações inesperadas de repulsa,aversão, ou de empatia e acolhida.
Eu
não me manifesto ao
tu
que está à minha frente senão mediante minha
“comunicação corpórea”,
do mesmo modo em que não posso lhe exprimir meus sentimentos – juntamente com a linguagem verbal – senão em formas visíveis, corpóreas, seja só com um olhar ou mediante um aperto de mãos.O
corpo
é
presença
(no sentido latino do
“prae-esse”
) e
linguagem:
tudo nele fala: fala o rosto, falamos olhos, falam os movimentos e as posturas, falam os gestos, acompanhando, reforçando e expressando a intenção íntima.É no
corpo
que o
eu
da pessoa historicamente se constitui em relação aos outro e às suas escolhas.
A
corporeidade
é
comunicação.
Estruturado como ser de
relação
e plasmado pela
relação,
o
corpo
está na origem da sociedade que se estrutura em um grupo, em um corpo, com um sistema próprio de linguagem, uma ritualidade própria , uma cultura própria...
Corpo
e
cultura
caminham contemporaneamente.
Se é verdadeiro que a
corporeidade
é a razão de ser da individuação pessoal, essa é também, e aomesmo tempo, a forma de uma
“existência com”,
de um ser
com
os outros, para construir juntos o
“corpus”
social, na troca e na comunicação.A relacionalidade expressa pelo
corpo
não deve ser compreendida, por outro lado, só em uma dimensão horizontal; essa se entrelaça com uma relacionalidade de tipo vertical que a fundamenta e a caracteriza em direção do
Absoluto.
“A
corporeidade
é a primeira mensagem de Deus ao homem, quase uma espécie de sacramento primordial, entendido como sinal que transmite eficazmente no mundo visível o mistério invisível oculto em Deus desde a eternidade.Existe um segundo significado de natureza teologal: o
corpo
contribui a revelar Deus e seu amor criador, enquanto manifesta a condição de criatura do homem, sua dependência de um dom fundamental, que é dom de amor. Este é o
corpo:
testemunha do amor como de um dom fundamental, consequentemente, testemunha do amor como manancial.
Fonte : Pe Antonio Mota
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