MERGULHAMOS NO METAVERSO PARA ENTREVISTAR A VICE-PRESIDENTE DA META


Maren Lau fala ao TechTudo direto do metaverso — Foto: Divulgação/Meta

Maren Lau fala ao TechTudo direto do metaverso — Foto: Divulgação/Meta

Mergulhamos no metaverso para entrevistar a vice-presidente da Meta

Exclusivo • Maren Lau afirma que esta é a maior oportunidade comercial desde a invenção da internet. Ela dá dicas para creators e marcas que queiram explorar a nova realidade e explica medidas de segurança.


Por Thássius Veloso *(@thassius), do TechTudo — Metaverso


 

Este texto já começa diferente. Normalmente o jornalista assina a matéria e informa o local de onde escreveu. A questão é que eu viajei a São Paulo para ter acesso a óculos de realidade virtual (VR) que me permitiriam mergulhar no metaverso. Até agora tem sido assim: o conceito de que, para experimentar o futuro da internet, seria necessário um dispositivo especial. Nossa entrevistada, Maren Lau, vice-presidente regional da Meta (antigo Facebook) para a América Latina, discorda dessa visão. Ela acredita que o metaverso terá vários “pontos de entrada”, dentre os quais se destacam os celulares, presentes praticamente no bolso de todo mundo.


Maren afirma que o metaverso é a maior oportunidade comercial desde a invenção da internet. Ela dá dicas para os criadores de conteúdo e para as empresas que querem nadar de braçada nessa nova realidade. Também fala sobre a segurança num ambiente novo com grandes chances de esbarrar na toxicidade das demais redes. Você verá as respostas mais abaixo.

Mas antes, preciso dar o meu relato pessoal sobre como é fazer uma entrevista no metaverso sobre o metaverso proposto pelo conglomerado Meta. Seria uma metaentrevista?


Feche os olhos e visualize uma sala de reunião com a estética do The Sims. A mesa tem formato semicircular, com uma tela num dos cantos. Há diversos assentos à disposição. Se você olha para a esquerda, enxerga um painel gigante para anotações em tempo real, como se fosse uma lousa. Um local totalmente corporativo, certo?

Quando olha para a direta, porém, vê formações rochosas e um calmo mar turquesa. Só faltou o cheiro da maresia para enganar este repórter carioca. Tudo bem, não é para tanto, mas de fato percebemos uma quebra de paradigma neste tipo de construção 3D. Já que é possível criar qualquer ambiente, por que não fazer algo diferente do que as pessoas estão acostumadas no tal do mundo físico?

Meta Quest 2 — Foto: Divulgação/Meta

Meta Quest 2 — Foto: Divulgação/Meta

Para chegar neste local são necessários os óculos cuja bateria dura duas, talvez três horas. Não é muito. A aclimatação com aquele pequeno peso na cabeça ocorre rapidamente. A tela de alta resolução não deixa evidentes os pixels que formam as imagens.

Nos dois cantos há alto-falantes que criam o efeito estéreo. Ele é muito bem-vindo quando há diversas pessoas na sala pois dá para perceber de onde está partindo o som.

Este é um dos maiores desafios da realidade virtual e, por conseguinte, do metaverso: conseguir replicar a experiência do olho no olho. A Meta até tenta quando cria uma inteligência artificial para mexer a boca dos avatares conforme chega a voz real das pessoas. Engana bem, mas os momentos de falha bastam para denunciar que ainda não é uma solução perfeita.

Outro problema diz respeito às pernas dos personagens em 3D: elas não existem. Todo o convívio dentro do ambiente construído em Workrooms, uma das plataformas da empresa, envolvia bonequinhos vistos somente da cintura para cima. No começo é divertido e diferente, mas depois se torna um tanto esquisito.

Por fim, a interação com os elementos em 3D se dá por meio de sensores nos controles dos óculos VR. Eles devem ficar em cima de uma mesa próxima para mapear seus gestos. Dá para acessar um computador 3D dentro do metaverso e realizar algumas tarefas. Requer perícia e certa paciência. Nem sempre os cliques e toques funcionam de primeira.

High five de avatares na plataforma Workrooms — Foto: Divulgação/Meta

High five de avatares na plataforma Workrooms — Foto: Divulgação/Meta

Na verdade foi assim — Foto: Thássius Veloso/TechTudo

Na verdade foi assim — Foto: Thássius Veloso/TechTudo

Em alguns momentos os bonequinhos parecem mudar bruscamente de posição. Em especial os punhos fazem movimentos pouco naturais – diria até que atentam contra a nossa biologia humana.

Todo este relato me serve para concluir que foi interessante participar dessa vivência de metaverso, mas que não sei se toparia futuras reuniões num ambiente ainda limitado. Talvez faça mais sentido para jogos e aplicações que apelem para o lúdico. Se a ideia era replicar o mundo físico no digital, ao menos por ora, a sensação é de que há um longo caminho pela frente.

Maren está conosco justamente para tratar desta trajetória. As perguntas e respostas foram editadas para fins de clareza e brevidade.

TechTudo – Qual é a visão da Meta para o metaverso?

Maren Lau – O metaverso é a evolução das tecnologias sociais. Nós entendemos que é o próximo passo da internet, com a construção de experiências sociais e imersivas. Não é apenas realidade virtual porque pode ser acessado tanto em 3D quanto em 2D. Ele vai permitir coisas que são impossíveis no mundo físico, como a copresença que estamos tendo agora.

Meta vem trabalhando neste projeto há anos, inclusive compraram a Oculus por causa disso. Quais são as regras de convivência no metaverso?

Temos criado várias condições de convívio, como o personal boundaries, que foi anunciado há pouco tempo. Se eu não quero que você se aproxime do meu avatar, posso impor um limite pessoal. Vamos seguir trabalhando com outros atores dentro do ecossistema. Temos como prioridades a privacidade, a segurança e a inclusão.

As redes sociais de modo geral enfrentam desafios como o bullying no ambiente online. Como isso será coibido no metaverso?

Precisamos de responsabilidade neste começo, pois assim podemos conduzir tudo de forma muito consciente. O metaverso deve levar até 15 anos para ficar pronto na sua totalidade. A Meta investiu US$ 50 milhões em dois anos para que ONGs, instituições, acadêmicos e atores cívicos possam pesquisar e trazer as ações necessárias para construir este novo ambiente de forma responsável.

Conceito de WhatsApp no metaverso — Foto: Reprodução/Meta

Conceito de WhatsApp no metaverso — Foto: Reprodução/Meta

Quais são as oportunidades para marcas e creators?

Muitos executivos me perguntam por que se importar com o metaverso agora se é um projeto para daqui a cinco, talvez dez anos. A verdade é que o metaverso será a maior oportunidade econômica desde a criação da internet. Marcas e indivíduos terão a oportunidade de criar e cocriar com recursos que não vemos desde o começo da web. Por exemplo, uma empresa de carros permite ao usuário selecionar as peças, montar o veículo e depois ver o resultado final na garagem. Torna-se uma experiência mais próxima. Minha dica é começar a construir agora mesmo. Hoje em dia, 20% do tempo gasto pelos usuários do Instagram ocorrem nos Reels. As pessoas já estão usando estes formatos. Os criadores de conteúdo podem ajudar empresas a construir pontes com novas comunidades.

Plataforma Spark AR permite criar filtros de realidade aumentada — Foto: Divulgação/Meta

Plataforma Spark AR permite criar filtros de realidade aumentada — Foto: Divulgação/Meta

Vocês pretendem capacitar os creators para operar as ferramentas de metaverso?

O Brasil é um dos países com mais creators. Algumas pessoas têm um conhecimento bem avançado destas tecnologias por usarem a plataforma Sparks AR. Ela é uma ferramenta bem fácil de aprender e de usar. Os filtros de realidade aumentada são um início incipiente. Vemos parte do futuro do metaverso no Instagram por causa disso. Estamos comprometidos com a educação dos influenciadores. Também queremos que as empresas comecem a conhecer os novos recursos.

Há espaço para a diversidade e a equidade?

As pessoas podem escolher exatamente qual será o tom da pele, de modo a refletir a própria identidade. É bem importante ter várias opções de cabelos ou avatares com cadeira de rodas. Recentemente convidamos desenhistas pretos para criar filtros que representam melhor os muitos tipos de pele. Por outro lado, também é importante a questão do idioma na América Latina. O projeto No Language Behind [Nenhuma Língua para Trás, em português] prevê tradução em tempo real, com legendas na tela. A ideia é ter essa funcionalidade também em áudio em algum momento. Poderíamos estar na mesma sala virtual contigo falando português, eu usando o inglês e outra pessoa falando guarani.

O jornalista viajou a São Paulo – para acessar o metaverso – a convite da Meta.

*Thássius Veloso (@thassius) é jornalista especializado em tecnologia, setor que cobre há dez anos. É editor do TechTudo e comentarista da CBN e da GloboNews. Entre em contato pelo email thassius@edglobo.com.br.


Fonte:https://www.techtudo.com.br/noticias/2022/06/mergulhamos-no-metaverso-para-entrevistar-a-vice-presidente-da-meta.ghtml

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