A CATEQUESE NEW AGE EM "A PROFECIA CELESTINA"

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A Catequese New Age em “A Profecia Celestina”

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Cena do filme A Profecia Celestina (The Celestine Prophesy, 2006)

No mundo do cinema, uma das fontes mais comuns para os roteiros é a história extraída dos livros, sobretudo dos best-sellers. Muitos deles resultam em ótimas adaptações para o cinema e, com isso, arrecadam milhões em bilheteria. Entretanto, nem sempre as transposições para a tela são bem-sucedidas, existem os fracassos, por isso existe o seguinte ditado no mundo cinematográfico: “um bom livro gera um péssimo filme”. Um dos exemplos de fracasso monstruoso na adaptação de livro para o cinema foi do best-seller A Profecia Celestina (The Celestine Prophesy: An Adventure – 1993) de autoria de James Redfield. Um dos livros mais vendidos na história do mercado editorial, com mais de 25 milhões de exemplares vendidos, permaneceu por três anos na lista dos mais vendidos no jornal New York Times, foi traduzido para 34 línguas.
            No entanto, a adaptação para o cinema, em um filme homônimo de 2006, dirigido pelo novato Armand Mastroianni, foi um desastroso fracasso de bilheteria. O orçamento ficou em cerca de US$ 3 milhões e a arrecadação mundial não ultrapassou US$ 1,5 milhão. Isto é, um espetacular sucesso literário transformado em um monstruoso fracasso cinematográfico. Com uma direção e um elenco de novatos, esta aventura New Age recebeu um bombardeiro de críticas, o jornal LaSalle a colocou em terceiro lugar em uma lista dos 10 piores filmes de 2006. O crítico do Los Angeles Times, Mark Olsen, avaliou o filme como “categoricamente mal produzido, sem qualquer sentido e graça”. Diante da mediocridade do filme, é difícil entender como formidáveis atores como Joaquim de Almeida e Héctor Elizondo, os quais já trabalharam em bons filmes com ótimos diretores, aceitaram atuar, nos papéis do crédulo padre Sanchez e do rancoroso cardial Sebastian respectivamente, neste precário filme.
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O livro foi um grande sucesso de vendas, enquanto o filme um monstruoso fracasso de bilheteria.
            Quando o filme foi lançado em 2006, o movimento New Age já era um assunto quase esquecido, seu auge foi nos anos 1970 e 1980, já o livro, lançado em 1993, pegou carona com os rastros do Movimento dos anos 1990. Este livro de aventura alcançou tanto sucesso que muitos leitores, influenciados pelas ideias do Movimento New Age, passaram a acreditar que o mesmo não era somente uma ficção, mas também um guia para a vida espiritual. Então, interpretações, comentários e guias sobre o livro foram escritos e publicados, foi criado até um coaching para a Profecia Celestina. O próprio autor, James Redfield, escreveu alguns anos após a publicação, juntamente com Carol Adrienne, um guia com o título de The Celestine Prophesy: An Experiential Guide (A Profecia Celestina: Um Guia Experimental), pois muitos passaram a acreditar que não se tratava apenas de um livro de ficção, mas sim também de um livro com ensinamentos esotéricos.
            Então, esta mudança na percepção do livro, de ficção para doutrina, pode ter sido o principal motivo do fracasso do filme nas bilheterias, uma vez que, quando o filme foi produzido, na metade da década de 2000, o livro já era visto por muitos como doutrina esotérica, e não apenas como uma aventura com ideias extraídas do Movimento New Age. Com isso os roteiristas desviaram a aventura mais para o lado da doutrinação do que do entretenimento. Então, o filme ficou mais catequético do que emocionante. Do jeito que foi feito, o filme parece algo como um filme gospel, cujas ideias cristãs foram substituídas por ideias esotéricas. O objetivo doutrinário é flagrante no desenvolvimento da história. Portanto, um filme para agradar exclusivamente o público New Age, que não era mais tão numeroso quanto era na época do lançamento do livro na primeira metade dos anos 1990.
            E como doutrinação, a exposição no filme é obscura, uma vez que a palavra energia é repedida dezenas de vezes, porém, em momento algum, é definida ou esclarecida a natureza desta energia, uma vez que temos incontáveis modalidades de energias no universo: energia elétrica, energia nuclear, energia solar, energia eólica, energia escura, etc., etc., etc., apenas a vaga menção de que esta “energia” é uma energia divina.
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O ator Joaquim de Almeida no papel do padre Sanchez, um formidável ator em um filme medíocre.
            O Movimento New Age floresceu nos anos 1970 e 1980, nas pegadas do Movimento Contracultura dos anos 1960 e 1970. Recebeu o nome de New Age (Nova Era) por pregar o advento de uma nova era de paz e de prosperidade, a qual aconteceria após grandes transformações culturais, sociais e políticas na Terra, com a chegada da Era de Aquários, a qual sucederia a Era de Peixes, por volta do ano 2000. Entretanto, à medida que se aproximava o ano 2000, durante a década de 1990, e as transformações não aconteciam, o Movimento foi perdendo força, até se transformar em um Movimento quase esquecido a partir dos anos 2000. Ademais, a previsão das ocorrências das transformações para o ano 2000, nunca foi coincidente entre os astrólogos e os esoteristas, diferentes astrólogos previam distintas datas para o início dos acontecimentos, com isso a ocorrência das mudanças se transformou em uma incerteza. Em razão disso, a mudança do caráter fictício para o caráter catequético transformou o filme em uma mensagem intempestiva.


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