GRAFITE COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL

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Muitas polêmicas giram em torno desse movimento artístico, pois de um lado o grafite é desempenhado com qualidade artística, e do outro não passa de poluição visual e vandalismo. A pichação ou vandalismo é caracterizado pelo ato de escrever em muros, edifícios, monumentos e vias públicas. Embora tenha essa polemica, o grafite também é visto como cultura de arte.

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Para muitos o grafite é uma arte. Para outros é puro vandalismo. Independentemente da forma como o entendemos, podemos certamente afirmar que o graffiti constitui uma cultura, típica dos tempos contemporâneos. Ou seja, para além das expressões visuais que aprendemos a reconhecer como grafite, existe um modo de vida que não se pode dissociar desta prática expressiva. O grafite é uma cultura pelo fato de possuir um sentido de comunidade, uma identidade, uma linguagem, regras e padrões de comportamento que são fundados internamente e conhecidos por todos os que se identificam com a comunidade.
Aqueles que fazem grafite não o fazem no vazio, compreendem o vocabulário cultural, conhecem os instrumentos e as regras de quem pinta na cidade. Intitulam-se writers, possuem um tag e agrupam-se em crews, com o intuito de pintar. O tag é a identidade cultural dos writers, é a forma como gostam de ser reconhecidos na comunidade a que pertencem. Esta é, então, uma cultura que é cultivada há gerações por writers originários dos mais diversos pontos do planeta, que individualmente ou em crew, pintam nas suas cidades, divulgam os seus trabalhos e definem as orientações do movimento.
A prática do grafite não é realizada ao acaso ou de forma caótica. Existem regras que permitem estruturar a comunidade e as suas formas de agir. As regras, aceites de forma relativamente consensual, enunciam os critérios de avaliação das obras e do estilo, o valor dos diferentes spots ou os territórios de ação. Apesar das alterações que se registaram ao longo das últimas décadas, no interior desta cultura, algumas normas e procedimentos mantêm-se praticamente inalterados, sendo transmitidos de geração em geração. Assim, existe uma ética interna, respeitada pela grande maioria dos writers, que define como e onde pintar.
É relativamente consensual a ideia que de existem locais proibidos (como sejam os monumentos) ou que a obra de outro writer não deve ser crossada, exceto em situações muito particulares. Pertencer à comunidade writer passa, então, por aceitar as regras implícitas do movimento. Estas regras são apreendidas com o tempo, geralmente pelo contato com writers mais experientes que cumprem uma função fundamental, na transmissão dos valores, das normas e na preservação da sua história. Esta é uma cultura formada por diferentes modos de viver que correspondem, igualmente, a distintas formas de expressão.

Uma observação atenta do grafite indica-nos, que esta é uma prática basicamente citadina, participa da dinâmica cultural do meio urbano. O lugar do grafite é, por excelência, o espaço público urbano. Tomando por suporte elementos tão distintos da paisagem urbana como as carruagens de metro e comboio, os muros, os viadutos, as fábricas abandonadas ou os sinais de trânsito, os tags e pinturas proliferam nos locais mais imprevistos. Daí que seja relativamente comum a ideia de que o grafite se inclui naquilo que geralmente denominamos de street culture.

Esta correspondência deriva do fato das origens mais remotas deste movimento cultural se situarem no movimento hip-hop, dinâmica cultural nascida nos espaços da pobreza e exclusão da cidade de Nova Iorque, há mais de trinta anos. O movimento hip-hop é, nos seus primórdios, uma verdadeira expressão cultural de jovens que usam o espaço público para compor, através do graffiti, rap e break-dance, modalidades criativas de comunicação em grupo. A street culture pode, então, ser entendida como uma cultura que nasce e se expressa no espaço público, produzida na rua entre aqueles que vivem e comunicam na rua. No entanto, tal como o hip-hop, o grafite sofreu grandes mutações nas últimas três décadas. A transformação mais significativa diz respeito à forma como esta expressão de rua, a princípio restrita e localizada, se converte numa linguagem universal, presente nos mais distantes recantos do planeta.

Outra alteração significativa diz respeito ao modo como o grafite se aproxima das artes plásticas convencionais e do design, tornando esta linguagem mais acessível ao grande público, possibilitando, ainda, a exploração de novas técnicas e modelos criativos. Daí que, apesar do grafite, na sua versão mais pura, ser frequentemente associado à street culture, o que é facto é que atualmente os modelos de expressão são tão distintos que dificilmente podemos falar de uma verdadeira cultura de rua quando falamos de grafite, dada a variedade de orientações presentes.
É, também, frequente associar o grafite a uma prática juvenil. Esta relação, apesar de não ser linear, parece ter um sentido, pois a maioria daqueles que se denominam writers raramente ultrapassam a faixa etária dos 30 anos, apesar de existirem exceções. Esta relação entre grafite e juventude não é fruto do acaso. O grafite representa um estilo de vida que se enquadra bem nos modelos culturais juvenis urbanos, que vivem de solidariedades grupais, de prazer, criatividade e lazer. Para além disso, a dedicação ao grafite exige uma disponibilidade que raras vezes é permitida a quem possui uma profissão a tempo inteiro e uma família.
Para muitos o envolvimento com esta cultura começa cedo, aos 13, 14 ou 15 anos e pode prolongar-se, com períodos de maior ou menor atividade, até perto dos 30 anos.
 Nem todos prolongam a sua atividade durante tantos anos. Daí que o grafite se tenha transformado num símbolo juvenil, presente em muitos dos espaços de convívio jovem, como sejam os skate parks, campos de jogos, bares e discotecas, ou utilizado em diferentes bens de consumo para os mais novos. A linguagem grafite é, então, tida como sinónimo de juventude, utilizada pelos media e pela indústria como emblema da juventude urbana contemporânea.
De alguma forma o grafite parece representar uma forma alternativa de viver, que encerra fortes atrativos, fazendo apelo à transgressão, ao risco, à adrenalina, ao prazer e à criatividade. A ilegalidade, assumida como uma dimensão fulcral é vivida com intensidade, uma espécie de jogo que não comporta consequências graves para os menores de idade.
O crescimento, com o acumular de novas responsabilidades, como sejam a família e o trabalho, impõe novos cuidados a quem se move nos meandros do grafite ilegal. Daí que seja muito comum, os writers irem gradualmente abandonando a atividade, à medida que se aproximam das fronteiras do mundo adulto. Os mais antigos, optam, muitas vezes, pelo grafite de natureza legal, escapando, desta forma, aos eventuais problemas judiciais, sempre presentes na prática do bombing. Deste modo, ultrapassar a fronteira que separa o mundo jovem do mundo adulto determina, na grande maioria dos casos, o abandono ou a reconversão da atividade. A renovação de gerações é, deste modo, um fato e um princípio cultural, na medida em que gera dinamismo, acentua a competição e promove a mudança. Assim se compreende a rapidez com que surgem novas propostas estéticas, num meio que vive essencialmente da criatividade dos mais jovens e da sua capacidade para inovar.

Fonte: Centro Cultural da Juventude do GRAFITE

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