Quem consegue unir (lindamente) uma pintura de Sandro Botticelli, uma maquete de Richard Meier, uma escultura de Anish Kapoor, uma cadeira de Gerrit Rietveld, um vídeo de Bill Viola, uma instalação de Mario Merz e uma obra sonora de Marina Abramović? Axel Vervoordt, claro! Para a exposição Proportio, o decorador e antiquário belga fez a vez de curador, ao lado de Daniela Ferretti, e emocionou galeristas, artistas, colecionadores e curadores que foram até Veneza para conferir a Bienal de Arte.
A ideia é apontar para a onipresença da chamada “proporção de ouro” e a “geometria sagrada” na arte, ciência, música, design e arquitetura – em todos os tempos e todas as civilizações. Ok. O assunto é interessante e os artistas são nível peso pesado, mas a forma como Vervoordt montou as obras no maravilhoso palazzo gótico torna tudo mais especial. O espaço, aliás, já vem com muita história inspiradora: serviu como ateliê de Mariano Fortuny que além de pintar, fotografar, criar cenografias e tecidos, desenhava luminárias e colecionava tapeçarias que ainda estão por lá – fazendo parte das composições do curador-decorador.
Na entrada, pavilhões desenhados por Vervoordt, em parceria com Tatsuro Miki, de acordo com as tais dimensões sagradas, ajudam o espectador a sentir, na própria pele, o poder das proporções. No segundo andar, não deixe de observar obras que lidam com as medidas do corpo – como Antony Gormley, Marta dell'Angelo, Berlinde de Bruyckere, Henri Foucault e Marisa Merz – em diálogo direto com desenhos e maquetes de Le Corbusier, Erwin Heerich e Richard Meier. Recado dado: o corpo humano é, essencialmente, a primeira forma de arquitetura.
Já as pesquisas de proporções feitas pelos minimalistas e o grupo ZERO estão ao lado da “biblioteca ideal”, segundo Vervoordt, composta por estudos publicados por arquitetos renascentistas como Sebastiano Serlio e Leon Battista Alberti. Depois de mergulhar neste laboratório das proporções e do belo, vale assistir o novo filme de Hans Op de Beeck, Night Time (extended).
No terceiro andar, um respiro com aroma de chiqueria: somente trabalhos brancos assinados por nomes como Sol Lewitt, Agnes Martin, Carl Andre, Rachel Whiteread, Wolfgang Laib e a brasileira Fernanda Gomes, entre outros. No último piso, peças dos criativos mais místicos: o tema é a proporção dos cosmos e suas consequências. Lá você vai encontrar Morandi, de Kazuo Shiraga (representando a turma do Gutai) e um site-specific sonoro de Marina Abramović. A instalação da finlandesa Maaria Wirkkala é poesia pura: Depending on é composta por copos cheios de água sobre balanço. Ao fundo, uma janela revela Veneza.
Proportio Data: Aconteceu até 20 de novembro 2015 Local: Palazzo Fortuny Endereço: S. Marco, 3780, Veneza, Itália
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