BEYONCÉ CRITICA VIOLÊNCIA POLICIAL CONTRA NEGROS : 'PAREM DE NOS MATAR'

Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade' (Foto: Divulgação)

Beyoncé critica violência policial contra negros: 'Parem de nos matar'



08/07/2016 09h15 - Atualizado em 08/07/2016 21h02

Cantora publicou carta em seu site oficial: 'Estamos fartos e cansados'.
'A guerra contra as pessoas de cor e minorias deve acabar'; leia a íntegra
.


A cantora americana Beyoncé publicou nesta quinta-feira (7) uma carta aberta com fortes críticas às recentes mortes de negros por policiais dos Estados Unidos e afirmou que a comunidade não precisa de compaixão, mas sim respeito por suas vidas (leia o texto abaixo).

Ela citou as mortes de Alton Sterling, um homem negro de 37 anos morto na terça-feira (5) em Baton Rouge, na Louisiana, por dois policiais brancos, e do jovem Philando Castile, que morreu na quarta-feira (6) em Falcon Heights, em Minnesota, em outro incidente com agentes que o prenderam por uma infração de trânsito.Os episódios geraram indignação e protestos.
"Estamos fartos e cansados dos assassinatos de homens e mulheres jovens em nossas comunidades. Depende de nós tomar uma posição e exigir que eles 'parem de nos matar'", escreveu a cantora.
"Nós não precisamos de compaixão. Precisamos que todos respeitem nossas vidas. Nós vamos nos mobilizar como comunidade e lutar contra qualquer um que acredite que o assassinato ou qualquer outra ação violenta contra aqueles que juraram nos proteger devem continuar constantemente impunes", completou Beyoncé.
A cantora, geralmente reticente a falar com a imprensa, tem se mostrado especialmente ativa em erguer sua voz contra a brutalidade policial como com o clipe que gravou sobre o tema, "Formation", lançado em fevereiro, e que gerou críticas por parte de alguns políticos conservadores americanos.
"Estes roubos de nossas vidas nos fazem sentir desamparados e sem esperança. Mas temos que crer que estamos lutando pelos direitos da próxima geração, pelos homens e mulheres que acreditam no bem", acrescentou a cantora, ao ressaltar que esta é "uma luta humana".
"Não importa a raça, o gênero ou a orientação sexual. Esta é uma luta para qualquer um que se sente marginalizado e que não tem direito à liberdade e aos direitos humanos. "
Na mensagem, a cantora quis deixar claro que o texto não é uma crítica contra todos os policiais, mas contra "aqueles seres humanos que não sabem avaliar a vida". "A guerra contra as pessoas de cor e contra todas as minorias deve acabar. O medo não é uma desculpa. O ódio não vencerá."
Leia, abaixo, a íntegra da carta aberta de Beyoncé:

Estamos fartos e cansados dos assassinatos de homens e mulheres jovens em nossas comunidades.

Depende de nós tomar posição e exigir que eles "parem de nos matar".

Nós não precisamos de compaixão. Nós precisamos que todos respeitem nossas vidas.

Nós vamos nos mobilizar como uma comunidade e lutar contra qualquer um que acredite que o assassinato ou qualquer outra ação violenta contra aqueles que juraram nos proteger devem continuar constantemente impunes. 
Estes roubos de vidas nos faz sentir desamparados e sem esperança mas nós temos temos de acreditar que estamos lutando pelos direitos da próxima geração, pelos homens e mulheres jovens que acreditam no bem.
Esta é uma luta humana. Não importa sua raça, gênero ou orientação sexual. Esta é uma luta por qualquer um que se sente marginalizado, que está lutando por liberdade e direitos humanos.
Isto não é um recado a todos os oficiais de polícia mas para todo ser humano que não valoriza a vida. A guerra contra pessoas de cor e todas as minorias precisa acabar.
Medo não é uma desculpa. O ódio não vencerá.
Nós todos temos o poder de canalizar nossa raiva e frustração para a ção. Nós devemos usar nossas vozes para fazer contato com políticos e legisladores e nossas comunidades para pedir mudanças sociais e judiciais.
Enquanto nós rezamos pelas famílias de Alton Sterling e Philando Castile, também rezaremos pelo fim desta praga de injustiça em nossas comunidades.
Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade' (Foto: Divulgação)
Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade' (Foto: Divulgação)
Clique para fazer contato com os políticos e legisladores na sua área. Sua voz será ouvida.
- Beyoncé
Fonte:http://g1.globo.com/musica/noticia/2016/07/beyonce-critica-violencia-policial-contra-negros-parem-de-nos-matar.html

Bela, revoltada e 'do mal': Beyoncé transforma raiva no ótimo 'Lemonade'


27/04/2016 10h22 - Atualizado em 27/04/2016 16h47

Ela exorciza infidelidade e racismo com voz emotiva, palavrões e ousadia.
Disco tem Jack White, Kendrick Lamar e 'traição especial' de Jay Z; G1 ouviu.


Beyoncé acerta várias coisas em "Lemonade". De cara, um hidrante, vidraças e carros são destruídos por ela com um taco de beisebol, em vídeo do "álbum visual". Nota-se logo: ela está furiosa. Seguem acertos musicais. Ela transforma a raiva em um disco de cair o queixo. 


Traição, racismo e machismo são alvos. As armas são a voz poderosa, ainda mais emotiva que o habitual, a produção com colagens eletrônicas arrojadas e versos confessionais que não escondem dramas, com "fucks" à vontade, sem pedir desculpas pela boca suja.
"Lemonade" tem a mão forte de Beyoncé, mesmo com batalhão de convidados. Jack White, Kendrick Lamar e The Weeknd brilham. Ainda há a sombra extramusical (e extraconjugal) de Jay-Z. Mesmo sem participar, o marido permeia o disco a sua alegada traição.
A arte, ainda bem, é maior do que o marketing. Até porque "lançamento supresa" de um "álbum visual" não é novidade. Só que "Lemonade" tem o que faltava a "Beyoncé", seu trabalho anterior nesta mesma linha: coesão. Se antes ela atirava para muitos lados, agora a mira é mais exata. E o ataque, mais poderoso. Leia a resenha do G1 faixa a faixa:
Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade' (Foto: Divulgação)Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade'
(Foto: Divulgação)
1 - “Pray You Catch Me”
A bomba vem no primeiro verso: "Dá pra sentir a desonestidade / Está no seu hálito". Não dá pra não pensar: Jay Z traiu Beyoncé. No vídeo, ela aparece submersa. A voz não esconde a mágoa. A faixa tem a mão do britânico James Blake. O soul sintético é a cara dele. Assim como Rihanna, Beyoncé é diva com faro para talentos indies.
2 - “Hold Up”
Mais mãozinhas indies. A faixa de 15 (!) autores daria um Lollapalooza. Ezra Koening, do Vampire Weekend, se inspirou em "Maps", dos Yeah Yeah Yeahs, e “Turn My Swag On”, do Soulja Boy, com ajuda de Diplo, Father John Misty e outros. O clima solar contrasta com taco de beisebol do vídeo e a raiva da letra: "O que é melhor, parecer ciumenta ou louca?".
3 - “Don’t Hurt Yourself”
O blues rock de Jack White cai bem no drama de Beyoncé. A boca é imunda: fuck, bitch, ass, dick, motherfucker. Não dá pra traduzir, apenas sentir. Chupa, roqueiro: tem sample de "When the leaves breaks", do Led Zeppelin. Chupa outra, indie: tem cordas de Jon Brion. Chupa, Jay Z: a letra avisa que "se você tentar essa merda de novo, vai perder sua esposa".
'Hold Up' tem 15 autores e daria um Lolla. 'Sorry' tem colagens e cita Becky, amante de Jay-Z
4 - “Sorry”
O refrão traduzido é "desculpa (só que não)". O rap com colagens espertas tem mais palavrões e "dedo do meio ao alto". Primeira ressalva do texto: não é melhor que "Sorry" de Justin Bieber. Seria pedir demais. Cita "Becky do cabelo bom", codinome da amante de Jay Z. Rachel Roy e Rita Ora são as mais cotadas por fãs para o papel de vilã desta novela.
5 - “6 Inch”
Primeira letra em terceira pessoa. Começa a amarrar a traição pessoal à defesa de todas as mulheres e do feminismo. É uma ode à chefona poderosa de salto alto, que trabalha pensando além do dinheiro. Mesmo assim, ela vale cada dólar que ganha. A composição dá créditos a "My girls", do Animal Collective, e "Walk on by", de Isaac Hayes.
6 - “Daddy Lessons”
A texana Beyoncé se aventura pelo country com segurança, em música sobre seu pai. A faixa faz uma homenagem meio dúbia, ao retratar um homem bruto com arma na mão, que ensinou a cantora a ser durona. O texto que introduz a faixa no vídeo deixa mais claro o teor negativo, ao comparar o pai adúltero no passado ao marido atual.
Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade' (Foto: Divulgação)Beyoncé em vídeo do 'álbum visual' 'Lemonade'
(Foto: Divulgação)
7 - “Love Drought”
A segunda metade de "Lemonade" começa com possibilidade de redenção para o amor. "Dez vezes de cada nove (sic) eu sei que você está mentindo / Mas nove vezes de cada dez eu sei que você está tentando / Então tento ser justa", canta. O arranjo hipnótico faz a ponte entre r&b e Animal Collective, dessa vez sem créditos.
8 - “Sandcastles”
Primeira e única baladona romântica tradicional, ao piano. A cena descrita é arrasadora: louça quebrada após uma grande treta de casal. Mas ainda há desejo de tentar de novo. A voz procura o máximo de notas possível sem escorregar. Como não é um recurso do qual ela abusa no disco, está liberado ao ouvinte se arrepiar.
9 - "Foward"
Faixa mais curta do disco, emendada na anterior. O vocal principal é de James Blake, com um apoio discreto de Beyoncé. Atenção: o cara colocou Beyoncé como vocalista de apoio de um disco dela mesma. Se você ainda não o conhecia, corra atrás da versão dele para "Limit to your love" (2011), de Feist. Voltando a esta faixa: fala vagamente de futuro e superação.
'Sandcastles' é a única baladona tradicional. 'Freedom' traz Kendrick Lamar em soul funk de vocal forte sobre igualdade racial
10 - “Freedom”
Superada a braba crise conjugal, vem à tona o tema racial. O parceiro não podia ser melhor: Kendrick Lamar, da obra-prima engajada "To Pimp a Butterfly" (2015). "Freedom" poderia estar no disco dele: arranjo soul e funk e vocal forte em apoio a igualdade racial. No fim, citação que confirma o conceito do disco: ela fez de limões (traição e racismo) uma limonada.
11 - “All Night”
Segunda ressalva que consigo pensar sobre o disco: essa faixa parece estar no lugar errado. Ela é o final feliz do casal após tanta treta: uma noite inteira de amor. Faria mais sentido vir depois de "Foward". O clima mais leve a credencia como single. É o doce de "Lemonade". Mas talvez Beyoncé tenha deslocado a faixa de propósito, para misturar os ingredientes.
12 - “Formation”
A música com clipe já conhecido encerra o disco e aparece após os créditos do vídeo. É a contribuição de Beyoncé à luta do movimento Black Lives Matter. O estereótipo da "angry black woman" (mulher negra nervosa), de conotação negativa para americanos racistas, é incorporado e celebrado. E isso a resume em "Lemonade": brava, talentosa e destruidora.

Fonte:http://g1.globo.com/musica/noticia/2016/04/bela-revoltada-e-do-mal-beyonce-transforma-raiva-no-otimo-lemonade.html
Carta aberta de Beyoncé contra o assassinato e violência policial contra negros nos EUA foi publicada no site oficial da cantora (Foto: Reprodução/Site oficial)


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