As plantas
As plantas têm consciência de sua existência?
Não. Elas não pensam, não têm mais do que a vida orgânica.
As plantas teem sensações, sofrem quando mutiladas?
As plantas recebem as impressões físicas da ação sobre a matéria, mas não teem percepções, por conseguinte, não têm a sensação de dor.
A força que atrai as plantas, umas para as outras, é independente da sua vontade?
Sim, pois elas não pensam. É uma força mecânica que age na matéria: elas não poderiam opor-se.
Não há nas plantas, como nos animais, um instinto de conservação que os leva a procurar aquilo que lhes pode ser útil e a fugir ao que lhes pode prejudicar?
Há uma espécie de instinto: isso depende da extensão que se tribua a essa palavra, mas é puramente mecânico.
Quando, nas reações químicas, vemos dois corpos se unirem, é que eles se afinam, quer dizer, que há afinidades entre eles, mas não se chama isso de instinto.
Os animais e o Homem
Podemos dizer que os animais só agem por instinto?
Embora o instinto domine na maioria dos animais, não vemos alguns que agem por uma vontade determinada? É que teem inteligência, mas ela é limitada.
Os animais teem linguagem?
Se pensarmos numa linguagem formada de palavras e sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que podemos supor, mas a sua linguagem é limitada, como as suas próprias idéias, às suas necessidades.
Os animais teem livre arbítrio?
Eles não são simples máquinas, como poderíamos supor, mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a este, não teem os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material.
Se os animais teem uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
Sim, e que sobrevive ao corpo.
Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
É também uma alma, mas isso depende do sentido em que se tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e a do homem, tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus.
A alma dos animais conserva após a morte sua individualidade e a consciência de si mesma?
Sua individualidade sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente.
A alma dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se?
Não, ela não tem o livre-arbítrio.
A alma do animal, sobrevivendo ao corpo fica num estado errante como a do homem após a morte?
Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. mas não é um espírito errrante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado imediatamente: não dispõe de tempo para se por em relação com outras criaturas.
Os animais seguem uma lei progressiva como os homens?
Sim, e é por isso que nos mundos superiores onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios de comunicação mais desenvolvidos. São, porém, sempre inferiores e submetidos aos homens, sendo, para estes, servidores inteligentes.
O Espírito que animou o corpo de um homem poderia encarnar-se num animal?
Isso seria retrogradar, e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à nascente.
Mediunidade nos animais
Podem os animais ser médiuns?
“Primeiramente, que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos espíritos, para que estes possam comunicar-se com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja. Dizem que: Os espíritos “mediunizam” a matéria inerte e fazem que se movam cadeiras mesas, pianos. Fazem que se movam sim, “mediunizam”, não!
É certo que os espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e, muitas vezes, o terror súbito que eles denotam, sem que lhe percebais a causa, é determinado pela visão de um ou de muitos Espíritos, mal-intencionados com relação aos indivíduos presentes, ou com relação aos donos dos animais. Ainda com mais freqüência vedes cavalos que se negam a avançar ou a recuar, ou que empinam diante de um obstáculo imaginário. O obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em impedi-los de mover-se. Mas, repito, os Espíritos não mediunizam diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. É-lhes sempre necessário o concurso consciente, ou inconsciente, de um médium humano,porque precisam da união de fluídos similares, o que não se acha nem nos animais, nem na matéria bruta.
O Sr. T...., diz-se, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o, porquanto o infeliz animal morreu, depois de haver caído numa espécie de atonia, de langor, conseqüentes à sua magnetização. Com efeito, saturando-o de um fluído haurido numa essência superior à essência especial de sua natureza de cão, ele o esmagou, agindo sobre o animal à semelhança de um raio, ainda que mais lentamente. Assim, pois, como não há assimilação possível entre o nosso períspirito e o envoltório fluídico dos animais, propriamente ditos, aniquila-los-íamos instantaneamente, se os mediunizássemos.
Reconhecemos que há nos animais aptidões diversas; que certos sentimentos, certas paixões , idênticas às paixões e aos sentimentos humanos, se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se procede bem ou mal com eles. É que Deus, que nada fez incompleto, deu aos animais, companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade, que faltam inteiramente aos animais selvagens, habitantes das solidões. Mas, daí a poderem servir de intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos, há um abismo: a diferença das naturezas.
Sabeis que tomamos ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao nosso pensamento uma forma que vos seja sensível e apreensível; é com o auxílio dos materiais que possui, que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Ora bem! Que elementos encontraríamos no cérebro de um animal? Tem ele ali palavras, números, letras, sinais quaisquer, semelhantes aos que existem no homem, mesmo no menos inteligente? Entretanto, direis, os animais compreendem o pensamento do homem, adivinham-no até. Sim, os animais educados compreendem certos pensamentos, mas já os vistes alguma vez reproduzi-los? Não. Deveis então concluir que os animais não podem servir de intérpretes.
Resumindo: os fatos mediúnicos não podem dar-se sem o concurso consciente, ou insconsciente, dos médiuns; e somente entre os encarnados, Espíritos como nós, podemos encontrar os que nos sirvam de médiuns. Quanto a educar cães, pássaros, ou outros animais, para fazerem tais ou tais exercícios, é trabalho vosso e não nosso.” Erasto
Fonte:
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec
O Livro dos Médiuns – Allan Kardec
Fonte do Texto:http://www.spiritismo.de/plantas.htm
O Livro dos Espíritos
por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires
ESPÍRITO E ALMA NA VISÃO ESPÍRITA
Que é Espírito?
Espírito é o princípio inteligente do Universo. É nele que fica armazenado todo conhecimento que adquirimos através das inúmeras encarnações. O Espírito se utiliza da matéria (corpo físico) para expor sua inteligência aos que não tem mediunidade para vê-los, ou seja, a matéria não tem inteligência.
Qual a diferença de Espírito e alma?
Ambos são a mesma coisa. Só utilizamos o termo ESPÍRITO quando este está desencarnado e ALMAquando o Espírito está encarnado.
Onde moram os Espíritos?
Estes seres inteligentes, quando estão desencarnados, povoam o mundo invisível. Muitos ficam em colônias, outros em regiões umbralinas, há quem continue convivendo com os encarnados para obsediar, por apego aos bens materiais, aos familiares e por outros tantos motivos, depende do grau de entendimento, desprendimento e evolução de cada um. Mas, quando estão encarnados, ou seja, quando revestem temporariamente um corpo carnal aproveitam para se purificar, esclarecer e evoluir.
Espírito tem sexo?
Espírito tem sexo?
Não, tanto podem encarnar em um corpo masculino como feminino. Quando estão encarnados, interpretam papéis, como artistas num filme ou novela. Um homem, por exemplo, não É homem, eleESTÁ interpretando o papel de homem, porque veste um corpo masculino. Assim ocorre em relação à mulher.
Há outra coisa no homem além do corpo carnal e do Espírito?
Sim. Há outro corpo que liga o Espírito ao corpo físico que chamamos de Perispírito. Como o Espírito não tem uma forma definida, é o perispírito que lhe dá esta forma. Ele é a roupagem do Espírito. O perispírito é semimaterial, ou seja, ele não tem tanta matéria como o corpo físico, mas não é desmaterializado como o Espírito. É ele que possibilita a comunicação entre o corpo físico e o Espírito e vice-versa.
Numa comunicação espiritual quem aparece ao médium é o Espírito ou o perispírito?
É o Espírito utilizando o perispírito. Como foi dito anteriormente, o Espírito não tem uma forma definida, ele é como uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea. Então, geralmente, ele aparece ao médium com a aparência que tinha na última encarnação, mas ele pode modificar a aparência e aparecer mais jovem, com aparência de outras encarnações, etc. E quem proporciona esta moldagem e modificação é o perispírito.
O Espírito pode ficar visível e palpável aos encarnados?
Na questão 95 do O Livro dos Espíritos os Espíritos disseram à Allan Kardec que o Espírito pode ficar visível e até palpável aos encarnados na forma, como já dissemos, que lhe convém usando o envoltório semimaterial chamado perispírito. Exemplo: Emmanuel não se apresentava com a aparência de sua última encarnação (Manoel da Nóbrega), mas sim com a da encarnação que lhe marcou mais que foi como o senador Públio Lentulus, que viveu na época de Jesus, confirmada no livro "HÁ 2000 MIL ANOS".
O Espírito pode ficar visível e palpável aos encarnados?
Na questão 95 do O Livro dos Espíritos os Espíritos disseram à Allan Kardec que o Espírito pode ficar visível e até palpável aos encarnados na forma, como já dissemos, que lhe convém usando o envoltório semimaterial chamado perispírito. Exemplo: Emmanuel não se apresentava com a aparência de sua última encarnação (Manoel da Nóbrega), mas sim com a da encarnação que lhe marcou mais que foi como o senador Públio Lentulus, que viveu na época de Jesus, confirmada no livro "HÁ 2000 MIL ANOS".
O que seria o corpo físico sem alma?
Seria um corpo de carne sem inteligência. Exemplo: O corpo físico é como uma roupa. Quando vestimo-la tem movimento. Quando a tiramos ela fica inerte, não se mexe, não tem movimento. Com o corpo físico é a mesma coisa. O que dá movimento ao corpo físico é o Espírito ou alma juntamente com o fluido vital.
Então, o corpo físico não existe sem alma?
Existe. Por exemplo: durante o sono ou o coma, a alma sai, mas o corpo físico, apesar de inerte, continua vivo. O corpo físico e a alma estão separados, mas há um cordão fluídico que os mantém ligados. Mas, quando este cordão se rompe, ou seja, quando a vida orgânica se esgota, a alma não poderá habitar mais este corpo. E um corpo sem alma é uma massa de carne sem inteligência.
E o que é fluido vital?
Quando o Espírito encarna, recebe uma carga de fluido vital (fluido da vida), que chamamos de princípio vital, porque é ele que dá princípio á vida. Este fluido é a energia que o Espírito necessitará para sua experiência reencarnatória. Por exemplo: o Espírito que reencarna para viver em torno de 20 anos não receberá a mesma quantidade de fluido de quem reencarna para viver em torno de 60 anos. A quantidade de fluido recebido não é a mesma em todos os seres orgânicos.
O Espírito pode viver no corpo físico além do tempo marcado?
Sim. A vida bem vivida pela causa do Bem pode dar “moratória”,ou seja, uma sobrevida, uma dilatação do tempo de permanência do Espírito no corpo de carne.
Qual a função do fluido vital no organismo físico?
O Espírito pode viver no corpo físico além do tempo marcado?
Sim. A vida bem vivida pela causa do Bem pode dar “moratória”,ou seja, uma sobrevida, uma dilatação do tempo de permanência do Espírito no corpo de carne.
Qual a função do fluido vital no organismo físico?
Os órgãos se impregnam do fluido vital e este tem a função de dar a todas as partes dos organismos uma atividade. Mas, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital se torna impotente para lhes transmitir o movimento da vida, e o ser morre. O fluido vital é para o Espírito encarnado o que a pilha é para um aparelho elétrico que, com o tempo vai descarregando. E assim como há pilha que pode ser recarregada, há corpos que também podem. Então, o Espírito encarnado poderá adquir este fluido vital, no decorrer da vida, para sua manutenção quando absorve automaticamente e inconscientemente por várias portas de entrada, destacando-se a respiração, a alimentação e os centros de força vital, os chamados chacras, através, por exemplo, do passe e da prece. Há pessoas que possuem o fluido em quantidade apenas suficiente e outras em abundância. Quem tem mais pode transmitir a quem tem menos.
Os animais e plantas tem alma?
Os animais, o homem e as plantas são seres orgânicos, ou seja, eles nascem, crescem, se reproduzem por si mesmos e morrem. São providos de órgãos especiais para a realização dos diferentes atos da vida, apropriados às suas necessidades de conservação. Mas, apesar de serem seres orgânicos, as plantas não têm alma, já o homem e animais têm. As plantas não pensam, não sentem dor, só tem vida orgânica. Já os animais têm alma, mas esta é inferior à do homem.
E os seres inorgânicos?
Os seres inorgânicos são todos os que não tem nem vitalidade, nem movimentos próprios e são formados apenas pela agregação da matéria; são os minerais, a água, etc. Estes também não tem alma.
Compilação, observações e exemplos de Rudymara
Fonte:http://grupoallankardec.blogspot.com.br/2012/06/o-espirito-na-visao-espirita.html
A ALMA DORME NO MINERAL?
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Paulo da Silva Neto Sobrinho
set/2006.
(revisado fev/2011)
(revisado dez/2012)
Sumário: 1. Introdução; 2.
O codificador; 3. Estudiosos dos primórdios da codificação: 3.1 - León Denis,
3.2 - Gabriel Delanne; 3.3 - Camille Flammarion, 3.4 - Oliver Joseph Lodge; 4.
Estudiosos ulteriores da codificação: 4.1 - Cairbar Schutel, 4.2 - Durval Ciamponi,
4.3 - Dr. Ary Alex, 4.4 - J. Herculano Pires; 5. De onde teria vindo essa
ideia?: 5.1 - De culturas que aceitam a transmigração da alma?, 5.2 - Da teoria
do pampsiquismo proposta por Geley?, 5.3 – Da escola sufista?, 5.4- Do espírito
Adelino da Fontoura?, 5.5 - Da "Revelação da Revelação" de
Jean-Baptiste Roustaing?, 5.6 - Da coleção André Luiz (Espírito), psicografia
de Francisco Cândido Xavier?, 5.7 - De Joanna de Ângelis (Espírito), pela
psicografia de Divaldo P. Franco?; 6. Conclusão.
1. Introdução
É comum ouvirmos, no meio espírita, citarem a
frase: "A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no
animal e acorda no homem", como sendo de autoria de Léon Denis. Só que
ninguém indicava onde, exatamente, ele teria dito isso. Na busca em que nos
empenhamos para encontrá-la, acabamos por nos deparar com ela em J. Herculano
Pires (1914-1979):
A Ontogênese Espírita, ou seja, a teoria
doutrinária da criação dos Seres (Do grego: onto é Ser; logia é estudo,
ciência) revela o processo evolutivo a partir do reino mineral até o reino
hominal. Essa teoria da evolução é mais audaciosa que a de Darwin. Léon Denis a
definiu numa sequência poética e naturalista: A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no
homem. Entre cada uma dessas fases existe uma zona intermediária,
como se pode verificar nos estudos científicos. Assim, a teoria espírita da
evolução considera o homem como um todo formado de espírito e matéria. A
própria evolução é apresentada como um processo dialético de interação entre
esses dois elementos primordiais, o espírito e a matéria. Tanto na Ciência como
na Filosofia essa teoria da evolução segue o mesmo esquema. Na Religião a
encontramos no Oriente. O próprio Gênese, livro da Bíblia, como já
vimos, admite essa teoria apresentando-a em termos simbólicos: Deus fez
o homem do barro da Terra. Atualmente, com os trabalhos famosos do Padre
Teilhard de Chardin, até mesmo no Catolicismo a evolução se impôs em termos
aproximados da teoria espírita. (PIRES, 1987, p. 93-94) (grifo nosso).
Não podemos assegurar que tenha sido Herculano
Pires o primeiro a mencionar essa frase atribuída a Léon Denis com esse teor;
porém, a água na fonte tem bem outro sabor, senão vejamos:
Na planta, a
inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a
partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da
Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis
Eternas. (DENIS, 1989, p. 123) (grifo nosso).
Obviamente, caro leitor, que "dormir na planta" não é a mesma coisa
que "dormir na pedra",
que é, justamente, o ponto que causa polêmica em nosso meio, pois dela se tira
que o princípio inteligente, em sua evolução progressiva, tenha passado também
pelo reino mineral.
Em que pese toda a sabedoria de Herculano Pires,
espírita de primeira linha, pelo qual nutrimos o maior respeito, considerado
como quem mais entendia Kardec, não encontramos no Codificador algo que venha a
apoiar a hipótese de que o princípio inteligente tenha, sem exceção alguma,
evoluído por todos os reinos, especialmente, no reino mineral, que é a nossa
proposta nesse estudo.
Bom, a questão, que se nos apresenta, é saber o que
Kardec disse sobre o assunto e se o seu sucessor, Léon Denis, teria dito algo
em contrário. Sobre ele é oportuno informar:
Léon Denis (Foug, 1 de janeiro de 1846 - Tours, 12 de
Março de 1927) foi um filósofo espírita e um dos principais continuadores do
espiritismo após a morte de Allan Kardec, ao lado de Gabriel Delanne e Camille
Flammarion. Fez conferências por toda a Europa em congressos internacionais
espíritas e espiritualistas, defendendo ativamente a ideia da sobrevivência da
alma e suas consequências no campo da ética nas relações humanas. (WIKIPÉDIA)
Não podemos deixar de lembrar a você, caro leitor,
que por ter estado muito mais perto de Kardec do que Herculano Pires, a opinião
dele não deve ser relegada a segundo plano. Uma vez que são citados Delanne e
Flammarion, também não deixaremos de levar em consideração a opinião deles, por
terem sido com Denis, os principais continuadores do Espiritismo, o que será
feito oportunamente.
2. O Codificador
Vejamos, então, o que Allan Kardec (1804-1869)
pensava sobre a evolução anímica. Inicialmente recorreremos ao que ele disse na
Introdução da primeira edição de O Livro dos Espíritos, de abril de 1857:
Qualquer que seja, é um fato que não
se pode contestar, pois é um resultado de observação, é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima
que produz o fenômeno da vida, enquanto que essa força existe; que a
vida material é comum a todos os seres orgânicos e que ela é independente da
inteligência e do pensamento: que
a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de certas espécies
orgânicas; enfim, que entre
as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma dotada de
um senso moral especial que lhe dá incontestável superioridade
sobre as outras, é a espécie
humana.
Nós chamamos enfim
inteligência animal o princípio intelectual comum aos diversos graus nos homens
e nos animais, independente do
princípio vital, e cuja fonte nos é desconhecida. (KARDEC, 2004, p. 3) (grifo
nosso).
Essa fala ele a mantém na segunda edição de O Livro dos Espíritos, publicada
em março de 1860; porém, o que achamos importante e queremos realçar é que, já
desde a primeira edição, Kardec afirma, sem meias palavras, que "a
inteligência e o pensamento são faculdades próprias de certas espécies orgânicas",
parece-nos que, com isso, além de deixar de fora os seres inorgânicos, que é
exatamente o caso dos minerais, ele ainda não estende a todos os seres
orgânicos a inteligência e o pensamento; porém, somente a "certas
espécies", o que será confirmado mais à frente, quando citarmos a pergunta
71 constante da segunda edição dessa obra, que será também a fonte que usaremos
daqui para frente.
Kardec classifica os minerais como inorgânicos, sem
vitalidade e sem movimentos próprios, formam-se apenas pela agregação da
matéria (KARDEC, 2007a, p. 91). Baseando-nos nessa sua explicação e somando-se
ao fato de que ele exclui os seres inorgânicos de possuírem a inteligência e o
pensamento, avaliamos que, s.m.j., não há sustentação doutrinária para se
concluir que o princípio inteligente possa animar os minerais.
É importante trazermos a definição que Kardec deu
para os seres orgânicos:
Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de atividade
íntima que lhes dá a vida. Nascem,
crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. São providos de
órgãos especiais para a execução dos diferentes atos da vida, órgãos esses
apropriados às necessidades que a conservação própria lhes impõe. Nessa classe
estão compreendidos os homens, os
animais e as plantas. (KARDEC, 2007a, p. 91) (grifo nosso).
E, para que se possa diferenciá-los dos
inorgânicos, trazemos também a definição desses: "Seres inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de movimentos
próprios e que se formam apenas pela agregação da matéria. Tais são os minerais, a água, o ar, etc".
(KARDEC, 2007a, p. 91) (grifo nosso).
Então, segundo Kardec, podemos classificar os seres
orgânicos em homens, animais e plantas, cujas características principais de
cada um deles é: nascer, crescer, reproduzir-se e morrer, o que, segundo
acreditamos, não acontece com os seres inorgânicos, pois, como dito,
"carecem de vitalidade". É importante observar que Kardec classifica
os minerais como seres inorgânicos, o que nos leva a concluir que,
consequentemente, eles são desprovidos de inteligência e pensamento, que
"são faculdades próprias de certas espécies orgânicas" (KARDEC,
2007a, p. 18).
Essa "fonte de atividade íntima que lhes dá a
vida", certamente, é o princípio vital, sobre o qual Kardec, em A Gênese, cap. X – Gênese Orgânica, esclarece argumentando:
16. - Dizendo que as plantas e os
animais são formados dos mesmos princípios constituintes dos minerais, falamos
em sentido exclusivamente material, pois que aqui apenas do corpo se trata.
Sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte, há, na
matéria orgânica, um princípio especial, inapreensível e que ainda não pode ser
definido: o princípio vital. Ativo no ser vivente,
esse princípio se acha extinto no ser morto; mas, nem por isso
deixa de dar à substância propriedades que a distinguem das substâncias
inorgânicas. A Química, que decompõe e recompõe a maior parte dos corpos
inorgânicos, também conseguiu decompor os corpos orgânicos, porém jamais chegou
a reconstituir, sequer, uma folha morta, prova evidente de que há nestes
últimos o que quer que seja, inexistente nos outros.
[...]
18. - Combinando-se sem o princípio vital, o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono
unicamente teriam formado um mineral ou corpo inorgânico; o princípio
vital, modificando a constituição molecular desse corpo, dá-lhe propriedades
especiais. Em lugar de uma molécula mineral, tem-se uma molécula de matéria
orgânica. (KARDEC, 2007b, p. 227-228) (grifo nosso).
Os seres orgânicos, como dito, têm o princípio
vital, necessário para lhes manter a vida, o que não acontece com os
inorgânicos, por não terem vida. Essa diferença é fundamental para entendermos
o porquê de Kardec admitir que somente certas espécies os seres orgânicos
possuem o princípio inteligente.
Um pouco mais à frente em A Gênese, mas ainda no cap. X – Gênese Orgânica, Kardec, explicando a
Escala dos Seres Orgânicos, diz:
24. Entre o reino vegetal e o reino animal, nenhuma delimitação há
nitidamente marcada. Nos confins dos dois reinos estão os zoófitos ou
animais-plantas, cujo nome indica que eles participam de um e outro:
serve-lhes de traço de união.
Como os animais, as plantas nascem, vivem, crescem, nutrem-se, respiram,
reproduzem-se e morrem. Como aqueles,
precisam elas de luz, de calor e de água; estiolam-se e morrem, desde que lhes
faltem esses elementos. A absorção de um ar viciado e de substâncias deletérias
as envenena. Oferecem como caráter distintivo mais acentuado conservarem-se
presas ao solo e tirarem, dele a nutrição, sem se deslocarem.
O zoófito tem a aparência exterior da planta. Como planta, mantém-se
preso ao solo; como animal, a vida nele se acha mais acentuada: tira do meio
ambiente a sua alimentação.
Um degrau acima, o
animal é livre e procura o alimento:
em primeiro lugar, vêm as inúmeras variedades de pólipos, de corpos
gelatinosos, sem órgãos bem definidos, só diferindo das plantas pela faculdade
da locomoção; seguem-se, na ordem do desenvolvimento dos órgãos, da atividade vital
e do instinto, os helmintos ou vermes intestinais; os moluscos, animais
carnudos sem ossos, alguns deles nus, como as lesmas, os polvos, outros
providos de conchas, como o caracol, a ostra; os crustáceos, cuja pele é
revestida de uma crosta dura, como o caranguejo, a lagosta; os insetos, aos
quais a vida assume prodigiosa atividade e se manifesta o instinto engenhoso,
como a formiga, a abelha, a aranha. Alguns se metamorfoseiam, como a lagarta,
que se transforma em elegante borboleta. Vem depois a ordem dos vertebrados,
animais de esqueleto ósseo, ordem que abrange os peixes, os répteis, os
pássaros; seguem-se, por fim, os
mamíferos, cuja organização é a mais completa. (KARDEC, 2007b, p.
230-231) (grifo nosso).
É interessante o fato de que Kardec não apresenta
nenhum ponto pelo qual se possa estabelecer alguma ligação entre o reino
mineral e o vegetal, como aqui, especificamente, ele o faz entre o vegetal para
o animal. Ressalta que "como os
animais, as plantas nascem, vivem, crescem, nutrem-se, respiram, reproduzem-se
e morrem", para com isso enquadrá-los – animais e plantas -, entre
os seres orgânicos, aqueles nos quais se encontra alguns dotados de pensamento
e inteligência, com isso Kardec mantém-se coerente com o que disse na
Introdução da primeira de O
Livro dos Espíritos, que citamos no início desse tópico.
No cap. XI de A Gênese é tratado o assunto Encarnação dos Espíritos, do
qual transcrevemos:
23. Tomando-se a Humanidade no grau
mais ínfimo da escala espiritual, como se encontra entre os mais atrasados
selvagens, perguntar-se-á se é aí o ponto inicial da alma humana.
Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente,
distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos
diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e
desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por
assim dizer, o período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que
esse estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma
humana. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há
filiação corporal.
Este sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação,
corresponde, forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída,
uma finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma
categoria de seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado,
uma compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua origem: são os
atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na humanidade,
atributos que o transformam, tornando-o um ser distinto, como o fruto saboroso
é distinto da raiz amarga que lhe deu origem. Por haver passado pela fieira da animalidade, o homem não deixaria de ser
homem; já não seria animal, como o fruto não é a raiz, como o sábio não
é o feto informe que o pôs no mundo.
Mas, este sistema levanta múltiplas questões, cujos
prós e contras não é oportuno discutir aqui, como não o é o exame das
diferentes hipóteses que se têm formulado sobre este assunto. Sem, pois,
pesquisarmos a origem do Espírito, sem procurarmos conhecer as fieiras pelas
quais haja ele, porventura, passado, tomamo-lo ao entrar na humanidade, no
ponto em que, dotado de senso moral e de livre-arbítrio, começa a pesar-lhe a
responsabilidade dos seus atos. (KARDEC, 2007b, p. 247-248) (grifo nosso).
Kardec reconhece a coerência da hipótese do
princípio inteligente passar pelos diversos graus da animalidade, argumentando
que isso representa a manifestação da justiça e bondade de Deus para com os
animais; entretanto, não quer se aprofundar no assunto, para se manter no foco
do tema a que se propôs, que é sobre a Encarnação dos Espíritos e não sobre a
evolução do princípio inteligente.
No livro A Gênese, cap. III, Kardec estuda o Instinto e a Inteligência
fazendo diversas considerações, nas quais vamos encontrar alguma coisa para
dirimir possíveis dúvidas. Diz lá:
O instinto é a
força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles. Nos atos instintivos não há reflexão, nem
combinação, nem premeditação. É assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas
raízes para a água e para a terra nutriente; que a flor se abre e fecha
alternativamente, conforme se lhe faz necessário; que as plantas trepadeiras se
enroscam em torno daquilo que lhes serve de apoio, ou se lhe agarram com as
gavinhas. É pelo instinto que os
animais são avisados do que lhes convém ou prejudica; que buscam,
conforme a estação, os climas propícios; que constroem, sem ensino prévio, com
mais ou menos arte, segundo as espécies, leitos macios e abrigos para as suas
progênies, armadilhas para apanhar a presa de que se nutrem; que manejam
destramente as armas ofensivas e defensivas de que são providos; que os sexos
se aproximam; que a mãe choca os filhos e que estes procuram o seio materno. No homem, só em começo da vida o
instinto domina com exclusividade; é por instinto que a criança faz os
primeiros movimentos, que toma o alimento, que grita para exprimir as suas
necessidades, que imita o som da voz, que tenta falar e andar. No próprio
adulto, certos atos são instintivos, tais como os movimentos espontâneos para
evitar um risco, para fugir a um perigo, para manter o equilíbrio do corpo;
tais ainda o piscar das pálpebras para moderar o brilho da luz, o abrir
maquinal da boca para respirar, etc. (KARDEC, 2007b, p. 89) (grifo nosso).
Nessa fala de Kardec, fica claro, pelo menos para
nós, que ele admite o instinto nas plantas, nos animais e nos homens,
exatamente os seres que foram classificados, por ele, como orgânicos. Mas, "o
que tem a ver instinto com inteligência?", poderia alguém nos
perguntar. Pois bem, essa dúvida foi respondida pelos Espíritos ao afirmarem
ser o instinto uma espécie de inteligência, uma inteligência sem raciocínio
(KARDEC, 2007a, p. 96). Um pouco mais à frente, ao comentar a resposta à
pergunta 75, o codificador explica:
O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que suas
manifestações são quase sempre espontâneas, ao passo que as da inteligência
resultam de uma combinação e de um ato deliberado.
O instinto varia em
suas manifestações, conforme às espécies e às suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das
coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade.
(KARDEC, 2007a, p. 97) (grifo nosso).
Portanto, pela ordem, as plantas, os animais e os
homens, quer dizer, os seres orgânicos, voltamos a ressaltar, possuem o
instinto, que é uma inteligência rudimentar, variando apenas quanto ao grau de
sua manifestação, porém, quanto à inteligência e o pensamento, não são algo
genérico, pois que "são faculdades próprias de certas espécies
orgânicas" (KARDEC, 2007a, p. 18). É oportuno lembrar que aqui
Kardec faz uma distinção entre "inteligência rudimentar" e
"inteligência propriamente dita", embora não tenha entrado em
detalhes para que possamos compreender melhor essa distinção a que se refere;
porém, o que é mais importante, é que aqui, neste ponto, trata-se de sua
opinião constante de sua última obra e, diante disso, não podemos deixar de ressaltar
que Kardec está mesmo admitindo uma inteligência, ainda que rudimentar, nas
plantas. Ora, sendo as plantas classificadas como pertencentes ao reino
vegetal, é forçoso, conclui-se que é nele que Kardec localiza o início do
processo evolutivo do princípio inteligente.
Levando-se em conta essa posição de Kardec, ela vem
corroborar a fala de Léon Denis, dita logo no início, de que "Na
planta, a inteligência dormita;... " (DENIS, 1989, p. 123).
Entretanto, até agora, não vimos Kardec atribuindo
também aos minerais um instinto e muito menos um princípio inteligente, ou que
este tenha, por alguma vez, estagiado nos seres inorgânicos, os quais não vemos
como explicar a possibilidade de terem uma inteligência rudimentar, levando-se
em conta que não possuem vitalidade; portanto, não estão sujeitos ao
"nascer, crescer, reproduzir-se e morrer", ciclo indispensável,
segundo acreditamos, daquilo que Kardec disse dos seres orgânicos, para que o
progresso intelectual desse princípio inteligente se realize.
Vejamos algo interessante que nos parece confirmar
esse nosso modo de pensar, o qual baseamo-nos em Kardec, quando define os seres
orgânicos (KARDEC, 2007a, p. 91), trata-se de uma fala do estudioso Manuel de
O. Portasio Filho (?- ), na obra Deus, Espírito e Matéria:
"Naître, mourir, renaître
encore et progresser sans cesse telle est la loi" ("Nascer,
viver, morrer, renascer ainda, progredindo sempre; tal é a lei"). A frase
encontra-se esculpida no dólmen de Kardec, no Cemitério Père-Lachaise, em
Paris, traduzindo assim o
princípio basilar da Doutrina Espírita.
Ela expõe a própria
essência do processo evolutivo, que se desdobra
em nuanças no mais das vezes ininteligíveis à mente humana. […] (PORTASIO
FILHO, 2000, p. 116) (grifo nosso).
Se essa frase, constante do túmulo de Kardec,
traduz "o princípio basilar da Doutrina Espírita", e, em razão disso,
"ela expõe a própria essência do processo evolutivo", então, s.m.j.,
aquilo que não se enquadrar nesse princípio, ou seja, no ciclo "nascer,
morrer, renascer ainda...", não teria como trilhar pelo caminho da
evolução, que é, segundo o que conseguimos depreender de Kardec, o caso dos
seres inorgânicos, nos quais se encontram os minerais.
O esclarecimento a respeito do instinto de
conservação, pode ajudar a clarear mais ainda essa questão, leiamos em O Livro dos Espíritos:
702. É lei da Natureza o
instinto de conservação?
"Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que
seja o grau de sua inteligência. Nuns, é puramente maquinal, raciocinado
em outros."
703. Com que fim outorgou
Deus a todos os seres vivos o instinto de conservação?
"Porque todos têm que concorrer
para cumprimento dos desígnios da Providência. Por isso foi que Deus lhes deu a
necessidade de viver. Acresce que
a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem
instintivamente, sem disso se aperceberem."
728. É lei da Natureza a
destruição?
"Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar.
Porque, o que chamais destruição
não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria
dos seres vivos."
(KARDEC, 2007a, p. 378 e 389) (grifo nosso).
Do que concluímos que todos os seres vivos que
tenham qualquer grau de inteligência, portanto, até mesmo os de
"inteligência rudimentar", possuem o instinto de conservação, que é
imprescindível para a conservação da vida, uma vez que esta, a vida, é
necessária a seu progresso e que a destruição é algo primordial para que isso
aconteça; então, no que concerne aos minerais, que, como definido por Kardec,
são seres inorgânicos, acreditamos que, s.m.j., nada disso se aplicaria, uma
vez que ele não têm vitalidade, conforme o próprio Codificador o define.
Continuando, vejamos, agora, uma questão que
complementa essas três anteriores:
728. a) - O instinto de
destruição teria sido dado aos seres vivos por desígnios providenciais?
"As criaturas são instrumentos de que Deus se
serve para chegar aos fins que objetiva. Para se alimentarem, os seres vivos reciprocamente se
destroem, destruição esta que obedece a um duplo fim: manutenção do equilíbrio
na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e utilização dos despojos do
invólucro exterior que sofre a destruição. Esse invólucro é simples acessório e
não a parte essencial do ser pensante. A parte essencial é o princípio inteligente, que não se pode
destruir e se elabora nas metamorfoses diversas por que passa." (KARDEC,
2007a, p. 389-390) (grifo nosso).
Da afirmativa de que "a parte essencial é o
princípio inteligente" ao se referir aos seres vivos, os Espíritos
Superiores, ao que nos parece, estão restringindo o princípio inteligente
somente aos seres vivos; então, a questão é saber se os minerais podem ser
considerados seres vivos. Baseando-nos em Kardec, podemos dizer que não são,
porquanto enquadram-se como seres inorgânicos "[...] que carecem de vitalidade, de
movimentos próprios e que se
formam apenas pela agregação da matéria". (KARDEC, 2007a, p.
91) (grifo nosso).
Vejamos, por oportuno, também a questão que se
segue a essa, que acabamos de comentar:
729. Se a regeneração dos
seres faz necessária a destruição, por que os cerca a Natureza de meios de
preservação e conservação?
"A fim de que a destruição não se dê antes do
tempo. Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio
inteligente. Por isso foi que Deus
fez que cada ser experimentasse a necessidade de viver e de se reproduzir."
(KARDEC, 2007a, p. 390) (grifo nosso).
Entendemos que "a necessidade de viver e de
reproduzir" é algo indispensável para o desenvolvimento do princípio
inteligente, que tem na destruição da matéria que temporariamente se reveste,
no caso, o fato de morrer, um elemento imprescindível e complementar aos dois
anteriores – viver e reproduzir, para cumprir-se o processo de evolução. Em
resumo, isso nada mais é do que o já falado: "nascer, crescer,
reproduzir-se e morrer", característica somente dos seres vivos, aqueles
classificados como orgânicos.
E em O Livro dos Espíritos, ao trabalhar o conceito de alma, Kardec
fala várias coisas, entre elas, destacamos:
Evitar-se-ia igualmente a confusão, embora
usando-se do termo alma nos três casos, desde que se lhe
acrescentasse um qualificativo especificando o ponto de vista em que se está
colocado, ou a aplicação que se faz da palavra. Esta teria, então, um caráter
genérico, designando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, o da
inteligência e o do senso moral, que se distinguiriam mediante um atributo,
como os gases, por exemplo, que se distinguem aditando-se ao termo
genérico as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto.
Poder-se-ia, assim dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital -
indicando o princípio da vida material; aalma intelectual - o
princípio da inteligência, e a alma espírita - o da nossa
individualidade após a morte. Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de
palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos
entendidos. De conformidade com essa maneira de falar, a alma vital seria
comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual pertenceria
aos animais e aos homens; e a alma espírita somente ao
homem. (KARDEC, 2007a, p. 19) (grifo nosso).
Nessa época Kardec considerava que a alma
intelectual como pertencendo somente aos animais e aos homens, porém, como já
vimos, em A Gênese,
ele afirma a existência do instinto nas plantas, definindo-o como inteligência
rudimentar.
Voltando à obra A Gênese, iremos encontrar uma fala de Kardec, que, a nosso
ver, põe em evidência como ele próprio via o assunto. Vejamos, quando ele
discorre sobre a "União do princípio espiritual e da matéria", no
cap. XI, item 10:
Tendo a matéria que ser o objeto de trabalho do Espírito para o
desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que ele pudesse atuar sobre
ela, pelo que veio habitá-la, como o lenhador
habita a floresta. Tendo a matéria que ser, ao mesmo tempo, objetivo e
instrumento do trabalho, Deus, em
vez de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados,
flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e de se
prestarem a todos os seus movimentos.
O corpo é, pois, simultaneamente, o envoltório e o
instrumento do Espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste
outro envoltório apropriado ao novo gênero de trabalho que deve executar, tal
qual se faz com o operário, a quem é dado instrumento menos grosseiro, à
proporção que ele se vai mostrando apto a executar obra mais bem cuidada.
(KARDEC, 2007b, p. 241-242) (grifo nosso).
Pelo que podemos deduzir dessa fala, se não
estivermos tomado gato por lebre, não há como admitir que o princípio
inteligente tenha se estagiado nos minerais, que por terem os seus corpos
rígidos, "carecem de vitalidade, e de movimentos próprios e que se formam
apenas pela agregação da matéria" (KARDEC, 2007a, p. 91).
Concordamos plenamente com Kardec de que para que o
princípio inteligente possa desenvolver-se é necessário que o seu corpo seja
flexível, para receber os impulsos de sua vontade e prestar-se a todos os seus
movimentos, ou seja, que, realmente, o corpo lhe sirva de instrumento de
manifestação.
Deixando de fora os fascículos da Revista Espírita, que seguem até
março de 1869, época de sua morte, o livro A Gênese, publicado
em janeiro de 1868, se reveste do detalhe de que é a última obra da
codificação, onde trata do assunto sobre a União do princípio espiritual e da
matéria, transcrito acima. Inclusive, segundo o jornalista e filósofo J.
Herculano Pires, é nessa obra, ou seja, A Gênese, que Kardec "tornou clara e precisa a
sua posição evolucionista quanto ao problema da evolução das espécies"(PIRES,
2005, p. 10). Por isso, acreditamos que, a essa altura do campeonato, Kardec já
tinha informações suficientes para deixar bem claro, caso fosse verdade, que o
princípio inteligente passaria pelo reino mineral; porém, não foi o que
aconteceu, conforme se vê dessa sua fala acima, pela qual chegamos a conclusão
de que, na sua forma de pensar, o ponto inicial do processo de evolução do
princípio inteligente se localizaria naqueles seres de "corpos
organizados, flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e
de se prestarem a todos os seus movimentos", o que significa dizer que
somente nos seres orgânicos isso pode ocorrer.
Conforme prometido, vejamos agora a questão 71:
71. A inteligência é atributo
do princípio vital?
"Não, pois que as plantas vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A
inteligência e a matéria são independentes, porquanto um corpo pode viver sem
inteligência. Mas, a inteligência só por meio de órgãos materiais pode
manifestar-se. Necessário é que o espírito se una à matéria animalizada para
intelectualizá-la. (KARDEC, 2007a, p. 95) (grifo nosso).
Sendo o ato de pensar algo característico de quem
possui a inteligência e vontade de atuar, então, as plantas não os têm; porém,
conforme já dito, elas possuem o instinto, e esse foi definido por Kardec como
uma "inteligência rudimentar".
Nas considerações a essa resposta, o codificador,
desenvolvendo mais o seu raciocínio, diz:
A inteligência é uma faculdade especial, peculiar a algumas classes de
seres orgânicos e que lhes
dá, com o pensamento, a vontade de atuar, a consciência de que existem e de que constituem uma individualidade cada um,
assim como os meios de estabelecerem relações com o mundo exterior e de
proverem às suas necessidades.
Podem distinguir-se assim: 1º. - os seres inanimados, constituídos de matéria,
sem vitalidade nem inteligência, que são os corpos brutos; 2º. - os
seres animados que não pensam, formados de matéria e dotados de vitalidade,
porém, destituídos de inteligência; 3º. - os seres animados pensantes, formados
de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que
lhes dá a faculdade de pensar. (KARDEC, 2007a, p. 96) (grifo nosso).
Ao afirmar que a inteligência é uma faculdade
especial, peculiar a algumas classes de seres orgânicos, fica claro que Kardec
não a generalizou para todos os seres orgânicos, mas apenas a alguns deles.
Assim, segundo a nossa forma de entender, pelo que
Kardec coloca, que o reino mineral, por compor-se de seres inorgânicos, que não
têm vitalidade, nem inteligência e nem movimentos próprios (KARDEC, 2007a, p.
91), nele não há, consequentemente, o princípio inteligente, o que ainda se
confirma com: "A matéria inerte,
que constitui o reino mineral, só tem em si uma força mecânica."
(KARDEC, 2007a, p. 327) (grifo nosso).
Embora tenha considerado, como já vimos, que o
instinto é uma inteligência rudimentar, comum a todos os seres orgânicos –
plantas, animais e homens – percebe-se que aqui Kardec não atribui a todos eles
a inteligência, considerada por ele como sendo "uma faculdade especial,
peculiar a algumas espécies orgânicas".
Dessa distinção, que Kardec faz dos seres,
entendemos que ao dizer:
"1º os seres
inanimados, constituídos de
matéria, sem vitalidade nem inteligência, que são os corpos brutos",
estava se referindo aos minerais;
"2º os seres
animados que não pensam, formados de
matéria e dotados de vitalidade, porém, destituídos de inteligência," para
enquadrar os vegetais;
"3º os seres
animados pensantes, formados de
matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que lhes
dá a faculdade de pensar", classifica osanimais.
Se a nossa conclusão, para cada item, estiver
correta, podemos tomar a iniciativa de incluir o homem como um ser animado e
pertencendo ao terceiro grupo.
Ainda sobre as características dos seres, temos
algo a acrescentar, que consta em O Livro dos Espíritos, que vem, de outra forma, explicar e
corroborar o que ele disse nas suas considerações à resposta da questão 71:
585. Que pensais da divisão
da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas classes: a dos seres orgânicos e
a dos inorgânicos? Segundo alguns, a espécie humana forma uma quarta classe.
Qual destas divisões é preferível?
"Todas são boas, conforme o
ponto de vista. Do ponto de vista material, apenas há seres orgânicos e
inorgânicos. Do ponto de vista moral, há evidentemente quatro graus."
Esses quatro graus apresentam, com
efeito, caracteres determinados, muito embora pareçam confundir-se nos seus
limites extremos. A matéria inerte,
que constitui o reino mineral, só tem em si uma força mecânica. As plantas, ainda que compostas de
matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Os animais, também compostos de matéria inerte e igualmente
dotados de vitalidade, possuem,
além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a
consciência de sua existência e de suas individualidades. O homem, tendo tudo o que há nas
plantas e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência
especial, indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das
coisas extramateriais e o conhecimento de Deus.
(KARDEC, 2007a, p. 327-328) (grifo nosso).
Levando-se em conta essa explicação de Kardec,
pode-se deduzir que encontramos as seguintes características dos seres em cada
um dos reinos:
a) no
reino mineral: matéria inerte que só tem em si a força mecânica;
b) no
reino vegetal: matéria inerte e dotados de vitalidade;
c) no
reino animal: matéria inerte, dotados de vitalidade e inteligência
instintiva, ou seja, inteligência rudimentar;
d) "no
reino hominal": matéria inerte, dotados de vitalidade, instinto e
inteligência especial.
A matéria inerte é comum a todos os reinos,
possivelmente, ela seja o elo que promove a ligação entre eles, e que faz com
que "tudo na natureza se encadeia" (KARDEC, 2007a, p. 336), conforme
dito, repetidas vezes, por Kardec.
Dentro dessas explicações, que parecem ser a as
mesmas anteriores, talvez mais explícitas, deduzimos que, para Kardec, somente
a partir do reino animal é que existe inteligência, portanto, nessa fase de
seus conhecimentos, o princípio inteligente iniciar-se-ia nesse ponto a sua
escalada evolutiva; porém, não podemos deixar de ressaltar que, mais ao final
de sua vida, Kardec afirmou que as plantas possuem instinto, ou seja, elas
também têm uma inteligência rudimentar, o que aqui ele só atribuiu aos animais.
Kardec continua insistindo no assunto:
586. Têm as plantas
consciência de que existem?
"Não, pois que não pensam; só têm vida orgânica".
589. Algumas plantas, como a
sensitiva e a dioneia, por exemplo, executam movimentos que denotam grande
sensibilidade e, em certos casos, uma espécie de vontade, conforme se observa
na segunda, cujos lóbulos apanham a mosca que sobre ela pousa para sugá-la, parecendo
que urde uma armadilha com o fim de capturar e matar aquele inseto. São dotadas
essas plantas da faculdade de pensar? Têm vontade e formam uma classe
intermediária entre a Natureza vegetal e Natureza animal? Constituem a
transição de uma para outra?
"Tudo em a Natureza é transição,
por isso mesmo que uma coisa não se assemelha a outra e, no entanto, todas se
prendem umas às outras. As plantas
não pensam; por conseguinte carecem de vontade. Nem a ostra que se abre,
nem os zoófitos pensam: têm apenas um instinto cego e natural."
[...]
(KARDEC, 2007a, p. 328-329) (grifo nosso).
As plantas, seres inanimados, que pertencem ao
reino vegetal não pensam, têm apenas vida orgânica, o que, em outras palavras,
significa dizer que lhes falta a manifestação plena da inteligência, pois está
só se produz quando se une o pensamento com a vontade de atuar. Acreditamos que
de uma certa forma Kardec ao estabelecer uma comparação entre as plantas e os
animais intermediários entre o reino vegetal e animal - ostras e zoófitos – os
quais ele diz possuírem uma inteligência rudimentar, indiretamente, está
atribuindo a elas – as plantas – um instinto, o que confirmaria a sua
afirmativa em A Gênese,
de que elas possuem um instinto rudimentar.
Em A
Gênese, cap. III - O bem e o mal, ao falar da destruição dos seres
vivos, uns pelos outros, Kardec dá a seguinte explicação:
21. A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no
invólucro corporal, do mesmo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e
sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo, para se
desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a matéria bruta. O
corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta; ao contrário, sai
dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. […].
[...]
22. Uma primeira utilidade, que se
apresenta de tal destruição, utilidade, sem dúvida, puramente física, é esta: os corpos orgânicos só se
conservam com o auxilio das matérias orgânicas, matérias que só elas contêm os
elementos nutritivos necessários à transformação deles. Como instrumentos de ação para o princípio
inteligente, precisando os corpos ser constantemente renovados, a
Providência faz que sirvam ao seu mútuo entretenimento. Eis por que os seres se
nutrem uns dos outros. Mas, então, é o corpo que se nutre do corpo, sem que o
Espírito se aniquile ou altere. Fica apenas despojado do seu envoltório.
(KARDEC, 2007b, p. 96-97) (grifo nosso).
24. Nos
seres inferiores da criação, naqueles a quem ainda falta o senso moral, em os
quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a luta não pode
ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais
imperiosas dessas necessidades é a da alimentação. Eles, pois, lutam unicamente
para viver, isto é, para fazer ou defender uma presa, visto que nenhum móvel
mais elevado os poderia estimular. É
nesse primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida.
(KARDEC, 2007b, p. 98) (grifo nosso).
Ao Kardec citar somente os animais, considerados
irracionais, e os homens como os detentores do princípio inteligente,
acreditamos que isso reflete a crença anterior de que nos reinos em que eles se
enquadram – animal e hominal –, é que os seres possuem o princípio inteligente.
E, querendo tornar as coisas ainda mais claras,
Kardec volta à carga:
607. Dissestes (190) que o
estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na
vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do
seu desenvolvimento?
"Numa série de existências que
precedem o período a que chamais Humanidade."
a) - Parece que, assim, se
pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres
inferiores da criação, não?
"Já não dissemos que todo em a Natureza se encadeia e
tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é
que o princípio inteligente se
elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida,
conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o
princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito.
Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu
futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos.
Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da
juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o
homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes
nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a
sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza
dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do
Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a
qual tudo é solidário na Natureza. Acreditar
que Deus haja feito, seja o que
for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar
da Sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas."
(KARDEC, 2007a, p. 336-337) (grifo nosso).
Se não estivermos de todo enganados, acreditamos
que ao dizer "os seres inferiores da criação" Kardec estaria
referindo-se especialmente aos animais, assim como a sua menção aos "seres
inteligentes sem futuro", conforme acabamos de explicar, logo acima,
quando comentamos o trecho de A
Gênese, cap. III - O bem e o mal; porém, conforme estamos
insistindo, nessa mesma obra Kardec atribui às plantas uma inteligência
rudimentar.
Buscando-se também a questão 136a, vemos que a hipótese
do princípio inteligente no mineral seria, s.m.j., de todo improvável,
porquanto: "A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de
vida orgânica" (KARDEC, 2007a, p. 125) (grifo nosso). Ora,
o que falta no mineral é, justamente, a vida orgânica, por isso não tem alma,
quer dizer, um princípio inteligente que o anima.
Na Revista
Espírita 1868, no mês de setembro, Kardec tece alguns
comentários sobre a crença de alguns de que a Terra teria uma alma, que são de
interesse ao nosso estudo. Vejamos:
[…] A Terra é um ser vivo? Sabemos que certos filósofos, mais
sistemáticos do que práticos, consideram a Terra e todos os planetas como seres
animados, fundando-se sobre o princípio
de que tudo vive na Natureza, desde o mineral até o homem. De início,
cremos que há uma diferença
capital entre o movimento molecular de atração e de repulsão, de agregação e de
desagregação do mineral e o princípio vital da planta;
há efeitos diferentes que acusam causas diferentes, ou pelo menos uma
modificação profunda na causa primeira, se ela for única. (Gênese, cap.
X, nº 16 a 19.)
Mas admitamos por um instante que o princípio da vida tenha sua fonte no
movimento molecular, não se
poderia contestar que seja mais rudimentar ainda no mineral do que na planta; ora, daí a uma alma cujo atributo
essencial é a inteligência, a distância é grande; ninguém, cremos, pensou em
dotar um calhau ou um pedaço de ferro da faculdade de pensar, de querer e de
compreender. Mesmo fazendo todas as concessões possíveis a esse
sistema, quer dizer, em nos colocando no ponto de vista daqueles que confundem
o princípio vital com a alma propriamente dita. A alma do mineral não estaria senão no estado de germe latente, uma vez
que nele não se revela por nenhuma manifestação.
Um fato não menos patente do que aquele que
acabamos de falar é que o
desenvolvimento orgânico está sempre em relação com o desenvolvimento do
princípio inteligente; o organismo se completa à medida que as
faculdades da alma se multiplicam. A
escala orgânica segue constantemente, em todos os seres, a progressão da
inteligência, desde o pólipo até o homem; e isso não poderia ser de outra
maneira, uma vez que falta à alma um instrumento apropriado à importância das
funções que ela deve preencher. De que serviria à ostra ter a
inteligência do macaco sem os órgãos necessários à sua manifestação? Se, pois,
a Terra fosse um ser animado servindo de corpo a uma alma especial, esta alma
deveria ser ainda mais rudimentar do que a do pólipo, uma vez
que a Terra não tem mesmo a vitalidade da planta, ao passo que, pelo papel que
se atribui a essa alma, sobretudo na teoria da incrustação, dela se faz um ser
dotado de razão e do livre arbítrio mais completo, um Espírito superior, em uma
palavra, o que não é nem racional, nem conforme à lei geral, porque jamais o
Espírito foi mais aprisionado e mais dividido. A ideia da alma da Terra,
entendida nesse sentido, tão bem quanto aquela que faz da Terra um animal,
deve, pois, ser alinhada entre as concepções sistemáticas e quiméricas.
(KARDEC, 1993j, p. 261-262) (grifo nosso).
Desses argumentos de Kardec, ressaltam-nos, por
evidentes, quatro pontos importantes, quais sejam:
1º) estabelece uma diferença entre o
movimento molecular de atração e de repulsão, de agregação e de desagregação do
mineral e o princípio vital da planta, o que de certa forma é diferenciá-los no
aspecto de terem vida;
2º) que o princípio da vida não tem a
mesma fonte que o movimento molecular e nem do princípio inteligente;
3º) que um calhau ou um pedaço de
ferro tenham a faculdade de pensar, de querer e de compreender;
4º) que o progresso da inteligência é atributo dos
seres da escala orgânica, desde o pólipo até o homem, ficando, portanto, de
fora dessa lei os seres inorgânicos, entre os quais se encontram os minerais.
Para nós, todos esses pontos estão corroborando a
hipótese de que o princípio inteligente não estagiaria no mineral, porquanto,
conforme várias vezes dito, ele faz parte dos seres inorgânicos. Dessa fala
acima ainda destacamos o que consta neste trecho:
Mas admitamos por
um instante que o princípio da vida tenha sua fonte no movimento molecular, não
se poderia contestar que seja mais rudimentar ainda no mineral do que na planta;
ora, daí a uma alma cujo atributo essencial é a inteligência, a distância é
grande; ninguém, cremos, pensou em dotar um calhau ou um pedaço de
ferro da faculdade de pensar, de querer e de compreender. Mesmo fazendo
todas as concessões possíveis a esse sistema, quer dizer, em nos colocando no
ponto de vista daqueles que confundem o princípio vital com a alma propriamente
dita. A alma do mineral não
estaria senão no estado de germe latente, uma vez que nele não se revela por
nenhuma manifestação. (KARDEC, 1993j, p. 261-262) (grifo nosso).
Pelo que se vê, Kardec não aceitava que o mineral
tivesse alma, porquanto não diria "mesmo fazendo todas as concessões
possíveis" para arrematar "a alma do mineral não estaria
senão no estado de germe latente", o "não estaria" é uma
condicional, não uma afirmação de que pensava assim. Observarmos que, já no
início desse parágrafo, ele se coloca como alguém que não comungava com essa
ideia ao dizer "mas admitamos por um instante", para logo a seguir
concluir taxativamente: "ora, daí a uma alma cujo atributo essencial é a
inteligência, a distância é grande".
Há, é certo, uma coisa comum aos três reinos –
mineral, vegetal e animal – é que, em todos eles, os elementos químicos, que
formam as suas matérias, são os mesmos, variando, obviamente, nas suas
combinações, não temos dúvida de que é aqui que se aplica o "tudo se
encadeira na natureza".
Kardec, discorrendo sobre os fluidos espirituais,
assim pondera:
Tudo se liga na obra da criação. Outrora consideravam-se os três reinos como inteiramente independentes
um do outro, e ter-se-ia rido daquele que tivesse pretendido encontrar uma correlação entre o mineral e o vegetal, entre
o vegetal e o animal. Uma observação atenta faz desaparecer a solução de
continuidade, e prova que todos os
corpos formam uma cadeia ininterrupta; de tal sorte que os três reinos
não subsistem, na realidade, senão pelos caracteres gerais mais marcantes; mas
sobre seus limites respectivos eles se confundem, ao ponto que se hesita em
saber onde um acaba e o outro começa, e no qual certos seres devem ser
classificados; tais são, por exemplo, os zoófitos ou animais plantas, assim
chamados porque, ao mesmo tempo, têm do animal e da planta.
A mesma coisa tem lugar para o que concerne à composição dos corpos. Por muito tempo, os quatro elementos serviram
de base às ciências naturais; caíram diante das descobertas da química moderna,
que reconheceu um número indeterminado de corpos simples. A química nos mostra todos os corpos da
Natureza formados desses elementos combinados em diversas proporções; é
da variedade infinita dessas combinações que nascem as inumeráveis propriedades
dos diferentes corpos. [...]
[...]
Todos os corpos da
Natureza, minerais, vegetais, animais, animados ou inanimados, sólidos,
líquidos ou gasosos, são, pois, formados dos mesmos elementos, combinados de
maneira a produzirem a infinita variedade dos diferentes corpos, a ciência vai
mais longe hoje; suas investigações
a conduzem pouco a pouco à grande lei da unidade. Agora é quase geralmente
admitido que os corpos reputados simples não são senão modificações,
transformações de um elemento único, princípio universal designado sob o nome
de éter, fluido cósmico ou universal; de tal
sorte que, segundo o modo de agregação das moléculas desse fluido, e sob a
influência de circunstâncias particulares, adquire propriedades especiais que
constituem os corpos simples; esses corpos simples, combinados entre si em
diversas proporções, formam, como dissemos, a inumerável variedade dos corpos
compostos. Segundo esta opinião, o calor, a luz, a eletricidade e o magnetismo
não seriam igualmente senão modificações do fluido primitivo universal. Assim
esse fluido que, segundo toda a probabilidade, é imponderável, seria ao mesmo
tempo o princípio dos fluidos imponderáveis e dos corpos ponderáveis. (KARDEC,
1993i, p. 66-69) (grifo nosso).
Então, aqui, temos, segundo a nossa maneira de ver,
aquilo que liga os três reinos da natureza: os elementos químicos que existem
nas matérias das quais são formados os seus corpos, que "formam uma
cadeira ininterrupta". Essa ligação é o que Kardec demonstra, e como está
estabelecida somente no que se refere ao elemento material, por consequência, s.m.j.,
não poderíamos incluir nela o elemento espiritual, para daí inferir que o
princípio inteligente tenha, na sua origem, estagiado no mineral. É o que
também tiramos dos textos seguintes nos quais as expressões "tudo se
liga" e "tudo se encadeia" são utilizadas:
[…] Se se observa a série dos seres, descobre-se que eles formam uma cadeia
sem solução de continuidade, desde a matéria bruta até o homem mais inteligente.
Porém, entre o homem e Deus, alfa e ômega de todas as coisas, que imensa
lacuna! Será racional pensar-se que no homem terminam os anéis dessa cadeia e
que ele transponha sem transição a distância que o separa do infinito? A razão
nos diz que entre o homem e Deus outros elos necessariamente haverá, como disse
aos astrônomos que, entre os mundos conhecidos, outros haveria, desconhecidos.
Que filosofia já preencheu esta lacuna? O Espiritismo no-la mostra preenchida
pelos seres de todas as ordens do mundo invisível e estes seres não são mais do
que os Espíritos dos homens, nos diferentes graus que levam à perfeição. Tudo então se liga, tudo se encadeia,
desde o alfa até o ômega. Vós, que negais a existência dos Espíritos, preenchei
o vácuo que eles ocupam. E vós, que rides deles, (KARDEC, 2007a, p. 59) (grifo
nosso).
A ação dos seres corpóreos é necessária
à marcha do Universo. Deus, porém, na Sua sabedoria, quis que nessa mesma ação
eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar Dele. Deste modo, por
uma admirável lei da Providência, tudo
se encadeia, tudo é solidário na Natureza. (KARDEC, 2007a, p. 123)
(grifo nosso).
540. Os Espíritos que exercem
ação nos fenômenos da Natureza operam com conhecimento de causa, usando do
livre-arbítrio, ou por efeito de instintivo ou irrefletido impulso?
"Uns sim, outros não.
Estabeleçamos uma comparação. Considera essas miríades de animais que, pouco a
pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim
providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja
necessária à harmonia geral? Entretanto, são animais de ínfima ordem que
executam essas obras, provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que
são instrumentos de Deus. Pois bem, do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados
oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ensaiam para a vida, antes
que tenham plena consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do
livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos, de que inconscientemente se
constituem os agentes. Primeiramente, executam. Mais tarde, quando suas
inteligências já houverem alcançado um certo desenvolvimento, ordenarão e
dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão dirigir as do mundo
moral. É assim que tudo serve, que tudo
se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que
também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado
espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!"
(KARDEC, 2007a, p. 309) (grifo nosso).
E quanto à ligação entre o princípio material e o
espiritual ela é, certamente, realizada pelo perispírito:
O Espírito mais não é do que a alma sobrevivente ao corpo; é o
ser principal, pois que não morre, ao passo que o corpo é simples acessório
sujeito à destruição. Sua existência, portanto, é tão natural depois, como
durante a encarnação; está
submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo o está às que
regem o princípio material; mas, como estes dois princípios têm
necessária afinidade, como reagem incessantemente um sobre o outro, como da
ação simultânea deles resultam o movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a
materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a
outra, não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem das
coisas.
Durante a sua encarnação, o Espírito atua sobre a matéria por intermédio
do seu corpo fluídico ou perispírito, dando-se o mesmo quando ele não
está encarnado. [...] (KARDEC, 2007b, 299-300) (grifo nosso).
Nesse ponto, Kardec explica que as manifestações
dos espíritos nada têm de "milagroso"; porém, trata-se da ação dos
espíritos sobre o mundo material, que acontece dentro do âmbito das coisas
naturais. Essa ação é proveniente do perispírito, que tem, ao mesmo tempo, algo
de material e espiritual; concluindo, um pouco mais à frente, quanto trata
especificamente do perispírito, que:
Assim, tudo no Universo se liga, tudo se encadeia; tudo se acha submetido à grande e harmoniosa
lei de unidade, desde a mais compacta materialidade, até a mais pura
espiritualidade. A Terra é qual vaso donde se escapa uma fumaça densa
que vai clareando à medida que se eleva e cujas parcelas rarefeitas se perdem
no espaço infinito. (KARDEC, 2007b, p. 321) (grifo nosso).
Vejamos, agora, três transcrições das obras de
Kardec, nas quais é mencionada a questão do princípio inteligente ter passado
pelo reino mineral.
A primeira delas, vamos encontrá-la na Revista Espírita 1859, mês
novembro, na qual Kardec tece algumas considerações a respeito da existência de
pessoas que são médiuns sem o saber aproveitando fragmentos de um poema do sr.
Porry, de Marseille, intitulado Uranie, sobre o qual disse:
"[...] esse poema é rico em
ideias Espíritas que parecem tomadas à própria fonte de O Livro dos
Espíritos, e todavia, foi averiguado que, na época que o autor o
escreveu, ele não tinha nenhum conhecimento da Doutrina Espírita. […] (KARDEC,
1993e, p. 284) (grifo nosso).
Eis a transcrição do poema:
Urânia
Fragmentos de um
poema do senhor de Porry, de Marseille.
Abri-vos aos meus
gritos, véus do santuário!
Que o mau trema e o
bom se esclareça?
Uma luz divina me
inunda, e meu seio agitado
Em abundância
dardeja a verdade!
E vós, sérios pensadores, cujos trabalhos
célebres
Prometem a luz e
dão as trevas,
Que de sonhos
mentirosos e de prestígios vãos
Embalais
incessantemente as infelicidades humanas,
Concilio de sábios,
que tanto de orgulho inflama.
Sereis confundidos
pela voz de uma mulher?
Este Deus, que
quereis do Universo banir,
Ou que pretendeis
loucamente definir.
Do qual vossos
sistemas querem sondar a essência,
Malgrado vós, se
revela à vossa consciência;
E tal que,
entregando-se a sutis debates;
Ousa o negar tão
alto, o proclama tão baixo!
Tudo por sua
vontade nasce e se renova:
É a base suprema; a
vida eterna;
Tudo repousa nele:
a matéria e o Espírito;
Que vos retire seu
sopro... e o Universo perece;
O ateu disse um dia "Deus não é senão uma quimera;
E, filha do acaso,
a vida é efêmera,
O mundo, onde o
homem fraco, em nascendo, foi jogado,
Está regido pelas
leis da necessidade.
Quando o trespasse
apaga os nossos sentidos e nossa alma,
O abismo do nada de
novo nos reclama;
A Natureza,
imutável em seu curso eterno,
Recolhe nossos
restos no seio. maternal.
Usamos curtos
instantes que seus favores nos dão;
Que nossas frontes
radiosas de rosas se coroem;
Só o prazer é Deus;
em nossos barulhentos festins,
Desafiamos a cólera
dos móveis destinos!"
Mas quando tua
consciência, íntima vingadora,
Insensato! te
censura uma culpável embriaguez,
O indigente
repelido por um gesto desumano,
Ou o crime impune
do qual sujas tua mão,
É do seio escuro da
cega matéria
Que jorra em teu
coração a importuna luz
Que repõe sempre
seus grandes crimes sob teus olhos,
Te apavora e te
torna, a ti mesmo, odioso?
Então, do soberano
que tua audácia nega
Sentes passar sobre
ti a força infinita;
E ele te acossa, te
sitia, e, malgrado teus esforços,
Se revela ao teu
coração pelo grito do remorso!...
Evitando os
humanos, cansado de inquietação,
Procuras das
florestas a negra solidão;
E crês, percorrendo
seus selvagens desvios,
Escapar a esse Deus
que te persegue sempre!
Sobre sua presa em
farrapos o tigre feliz dormita
O homem, coberto de
sangue, nas trevas vela;
Seu olhar está
ofuscado por um horrível clarão;
Seu corpo treme
inundado de um frio suor;
Um ruído surdo e
sinistro em seu ouvido troveja;
Espectros
ameaçadores o escoltam o rodeiam;
E sua voz que
formula uma terrível confissão,
Se exclama com
terror Graça, graça, ó meu Deus!
Sim, o remorso,
carrasco de todo ser que pensa,
Nos revela com Deus
nossa imortal essência;
E frequentemente a
virtude, de um nobre arrependimento
transforma um vil
culpado em glorioso mártir;
Os brutos separam a
humana criatura,
O remorso é a chama
onde nossa alma se depura;
E pelo seu aguilhão
o ser regenera,
Na escala do bem
avança um degrau.
…, e do soberbo
ateu
… vingadores, a
audácia é refutada.
O panteísmo vem expor por sua vez
De seu louco
argumento o capcioso desvio:
"Ó mortais
fascinados por seu sonho risível,
Onde o
encontrareis, esse Grande Ser invisível?
Ele está diante de
vossos olhos, esse eterno Grande Todo;
Tudo forma sua
essência, nele tudo se resolve;
Deus brilha no sol,
enverdece na folhagem,
Ruge no vulcão e
troveja na tormenta,
Floresce em nossos
jardins, murmura nas águas.
Suspira
flacidamente pela voz dos pássaros,
E colore os ares os
tecidos diáfanos;
É ele quem nos
anima e quem move nossos órgãos;
É ele quem pensa em
nós; todos os seres diversos
São ele mesmo; em
uma palavra, esse Deus, é o Universo."
O quê! Deus se manifesta a si mesmo
contrário!
Ele é a ovelha e lobo, rola e víbora!
Ele se torna alternativamente pedra,
planta, animal;
Sua natureza combina o bem e o mal,
Percorre todos os graus do bruto ao
arcanjo!
Eterna antítese,
ele é luz e lama!
Ele é valente e
frouxo, ele é pequeno e grande,
Verídico e
mentiroso, imortal e agonizante!...
Ele é ao mesmo
tempo opressor e vítima,
Cultiva a virtude e
se enrola no crime;
Ele é, ao mesmo
tempo, Lametrie e Platão.
Sócrates e Melitus,
Marco Aurélio e Nero;
Servidor da glória
e da ignomínia!
Ele mesmo,
alternativamente, se afirma e se nega!
Contra a sua
própria essência ele afia o ferro,
Evoca o nada; e por
cúmulo do ultraje,
Sua voz escarnece e
amaldiçoa sua magnífica obra!...
Oh não, mil vezes
não, esse dogma monstruoso
Jamais pôde
germinar num coração virtuoso.
Mergulhado em seus
remorsos onde o crime se expia,
O temerário autor
da doutrina ímpia,
No seio dos
prazeres, se sente apavorado
Pela imagem de um
Deus que não podia negar;
E para disso se
isentar, blasfêmia da blasfêmia!...
Ele o uniu a este
mundo, ele o uniu a si mesmo.
O ateu pelo menos,
comprimido com semelhante embaraço,
Ousando negar seu
Deus, não o degrada.
.........................
Deus, que a raça
humana procurou sem cessar,
Deus, que quer ser
adorado e não ser conhecido,
É dos seres
diversos o princípio e o fim:
Mas, para subir até
ele, qual é, "pois, o caminho
Não é a Ciência,
efêmera miragem
Que fascina nossos
olhos com sua brilhante imagem,
E que, enganando
sempre um poderoso desejo,
Desaparece sob a mão
que pensa agarrá-lo.
Sábios, amontoais
escombros sobre escombros
E vossos sistemas
vãos passam como as sombras!
Este Deus; que sem
perecer nenhum ser pode ver,
Cuja essência
encerra um terrível poder,
Mas que para seus
filhos nutre um amor temo,
A menos de
igualá-lo, tu não podes compreendê-lo!
Ah! Para se unir a
ele, para reencontrá-lo um dia,
A alma deve tomar
emprestadas as asas do Amor.
Lancemos ao vento o
orgulho e as cinzas da dúvida;
O próprio Deus aos
crentes aplainará o caminho:
Seu amor infinito
jamais se afastou,
A alma que o
procura com sinceridade,
E que esmigalhando
nos pés riqueza e gozo,
Aspira confundir-se
com a sua pura essência,
Mas este Deus, que
quer bem ao coração humilde e piedoso,
Que bane de seu
seio o déspota orgulhoso,
Que se revela ao
sábio, que se abandona ao prudente,
Como um amante
ciumento não sofre nenhuma partilha.
E, para
contentá-lo, é preciso aos prestígios mundanos
Opor constantemente
inflexíveis desdéns,
Felizes, pois, seus
filhos que, na solitude,
Do bom, do verdadeiro,
do belo, fazem seu único estudo!
Feliz, portanto, o
homem absorvido inteiramente
No triplo clarão
desse divino foco!
No meio das
tristezas, cujo cortejo sobeja
No círculo limitado
de nosso pobre mundo,
Semelhante ao oásis
que floresce no deserto,
O tesouro da Fé
para a sua alma está aberto;
E Deus, sem
mostrar-se, no seu coração se insinua,
E lhe verte uma
alegria ao vulgo desconhecida.
Então, com seu
destino o sábio está satisfeito;
Com uma calma
inalterável guarda o benefício;
De um véu
constelado quando a noite o cerca,
Na sua cama
pacífica ele adormece, e saboreia,
Nos sonhos
brilhantes com os quais se embriaga seu coração,
Um celeste antegozo
da suprema felicidade.
Tua alma que na
verdade a ardente sede altera,
Da Criação quer
sondar o mistério?...
Como um pintor
primeiro concebeu no seu cérebro
A obra-prima
encantadora que produz seu pincel,
O Eterno tira tudo
de sua própria natureza,
Mas não se confunde
com a sua criatura
Que, da
inteligência tendo recebido o fogo,
Está livre de falir
ou de subir até Deus.
Obra de seu
Pensamento, obra de sua palavra,
Cada criação de seu
seio parte... e voa,
Num círculo traçado
por inflexíveis leis,
Cumprir o destino
do qual fez a escolha
Como o artista,
Deus pensa antes de produzir.
Como ele, o que
criou, poderia destruí-lo;
Ora, fonte
inesgotável de seres indiferentes
E de globos
semeados no imenso Universo,
Deus, a Força sem
freio, de sua Vida eterna:
Às suas criações
transmite uma centelha.
O livro ou o quadro
pelo artista inventado,
Produto inerte, jaz
na imobilidade,
Mas o Verbo jorra de sua Onipotência,
Dele se destaca e se move em sua
própria existência,
Sem cessar ele se transforma e jamais
perece;
Do inerte metal se elevando ao
Espírito,
O Verbo criador na planta dormita,
Sonha no animal, e no homem desperta;
De grau em grau, descendo e subindo,
Da Criação o conjunto radioso,
Sobre as ondas do éter forma uma
cadeia imensa
Que o arcanjo termina, que a pedra
começa.
Obedecendo às leis
que regem seu meio,
Cada elemento se
aproxima ou se afasta de Deus;
Seja que ao bem se
devote ou que ao mal ele sucumba.
Cada ser
inteligente, por sua vontade, sobe ou cai.
Ora, se o homem,
habitando a atmosfera do mal,
Se rebaixa pelo
crime ao nível do animal,
Em anjo de homem
puro se transforma, - e esse anjo
De grau em grau
pode tornar-se arcanjo,
No seu trono
brilhante esse arcanjo elevado,
Está livre para
guardar sua personalidade.
Ou de se fundir no
seio da Onipotência
Que se pode
assimilar uma perfeita essência.
Assim, mais de um
arcanjo, na celeste morada,
Com Deus está
reunido por um excesso de amor;
Mas outros,
invejando sua glória soberana,
Fascinados pelo
orgulho, esse pai do ódio,
Quiseram do Mais
Alto discutir os decretos;
E mergulharem na
noite que esconde seus segredos:
Esse Deus, cujo
olhar os teria colocado em pó,
Ensombra-lhes as
lajes de seu ardente raio.
Depois,
desfigurados, no Universo errante,
Seguidos pelos
assaltos de remorsos devorantes,
Esses anjos que
perdem sua audácia funesta,
Não ousam mais se
mostrar no adro celeste;
Na vergonha,
afiando seu aguilhão amado,
Entregam seu
coração rebelde às tormentas do inferno,
Ao passo que o
homem puro, cuja prova termina,
De triunfo em
triunfo ao paraíso se eleva.
Todos esses mundos
diferentes no Universo semeados,
Que ferem teus
olhares com suas flechas inflamadas,
Que rola do éter o
vago universal,
Assim como os
Espíritos, estão agrupados em escalas.
Globos variados
esses luminosos feixes
São vastas moradas,
celestes naves
Onde vagam no
espaço, a enormes distâncias,
Espíritos graduados
em imensas coortes.
Há mundos puros e
mundos horríveis:
Sem entraves reinam
nos globos felizes,
Três princípios
divinos, honra, amor, justiça.
Da ordem social
cimentam o edifício;
E, sem cessar,
queridos de todos seus habitantes,
De sua felicidade
são as provas constantes.
De outros globos,
entregues a insolentes vertigens,
Anjos condenados
seguiram os vestígios:
Esses mundos,
artesãos de sua própria infelicidade,
À lei de Deus
substituíram pela sua;
E, no seu solo,
onde ribomba uma horrível tormenta,
De seus hóspedes
impuros a multidão se lamenta.
Nosso globo noviço,
em seus passos incertos,
Flutua até nossos
dias entre esses dois destinos.
Ultrajando a moral,
ultrajando a natureza,
Quando um globo do
crime preencheu a medida;
Que seus hóspedes,
mergulhados em seus prazeres barulhentos,
Fecharam seus
ouvidos aos discursos dos videntes;
Que do verbo divino
o mais ligeiro traço,
Nesse mundo
enceguecido se dissipa e se apaga
Então do Onipotente
a cólera desencadeia
Desce sobre o rebelde
a perecer condenado:
Os arcanjos
vingadores com suas asas poderosas
Batem a terra
ímpia... e seus mares saltitantes,
Com imensa altura
ultrapassam os seus níveis,
No seu solo limpo
precipitam suas águas;
Vulcões
subterrâneos a chama brilhante, ribombante,
Dispersa no éter os
restos deste mundo;
E o Ser Soberano,
cuja vingança luziu,
Rompe esse globo
impuro que nele não mais crê!
Nossa Terra
medíocre é uma estação de prova,
Onde o justo
sofredor, de suas lágrimas se sacia,
Lágrimas que, por
degraus purificam seu coração,
Preparam seu
caminho para um mundo melhor.
E não é em vão
quando o sono nos mergulha
Nos risonhos
transportes da embriaguez de um sonho,
Que por um rápido
impulso somos transportados
Num astro novo
radiante de claridades;
Que nos cremos
errar por vastos bosques
Sem cessar
percorridos por um povo de sábios;
Que vemos esse
globo iluminado por sóis
Irradiando
alternadamente brancos, azuis e vermelhos,
Que, cruzando nos
ares suas tintas combinadas,
Colorem esses belos
campos com luzes variadas!...
Se teu coração
neste mundo se mantém virtuoso,
Tu os atravessarás,
esses globos luxuosos
Que a paz alegra,
que habita a sabedoria,
Onde reina da
felicidade a eterna liberalidade.
Sim, tua alma as
vê, essas radiosas moradas
Que os favores do
céu embelezam sempre,
Onde o Espírito, se
depurando, sobe de grau em grau,
Quando o perverso
segue um caminho retrógrado,
E do reino do mal
percorrendo os elos,
Desce de círculo em
círculo aos abismos infernais.
Espelho onde o
Universo reflete a sua imagem,
Esses destinos
diferentes nossa alma os pressagia.
A alma, essa viva
força que domina os sentidos,
Aos seus menores
desejos súbito obediente, -
Que, como um fogo
cativo num vaso de argila,
Consome em seus
transportes sua veste frágil; -
A alma, que do
passado guarda a lembrança
E sabe ler por
vezes no obscuro futuro,
Não tem do fogo
vital a efêmera centelha
Tu mesmo tu o
sentes, tua alma é imortal.
Nos campos do
espaço e da eternidade,
Conservando sua
permanência e sua identidade,
Não, a alma não
morre, mas muda o seu domínio,
E de asilo em asilo
sempre passeia Nossa alma,
se isolando do
mundo exterior,
Por vezes pode
conquistar um sentido superior;
E, no arrebatamento
do sono magnético,
Se armar de um novo
olho ou do dom profético:
Libertada um
instante dos terrestres laços,
Sem obstáculo
percorre os campos aéreos;
E, com um ágil
pulo, no infinito lançada,
Vê através dos
corpos e lê no pensamento.
(KARDEC, 1993e, p.
286-293) (grifo nosso)
É certo que no poema há mesmo muitas ideias
espíritas, conforme o disse Kardec, entretanto, quanto ao início do processo
evolutivo do princípio inteligente, até a época de publicação desse poema só
havia a hipótese dele ter se iniciado no reino animal, só mais tarde, como vimos,
é que Kardec coloca-o no reino vegetal.
A segunda, encontramo-la na Revista Espírita 1865, numa
mensagem recebida em Paris, na qual não consta o seu autor espiritual:
Vou tocar uma grave questão esta
noite, falando-vos das relações que podem existir entre a animalidade e a
humanidade. [...]
Mas tudo não se detém em crer somente no progresso incessante do
Espírito, embrião na matéria e se desenvolvendo ao passar pelo exame severo do
mineral, do vegetal, do animal, para chegar à humanidade, onde somente começa a
se ensaiar a alma que se encarnará, orgulhosa de sua tarefa, na humanidade. Existem entre essas diferentes fases laços
importantes que é necessário conhecer e que eu chamarei períodos intermediários
ou latentes; porque é aí que se operam as transformações sucessivas. Falar-vos-ei mais tarde dos laços que ligam o
mineral ao vegetal, o vegetal ao animal; uma vez que um fenômeno que vos
espanta nos leva aos laços que ligam o animal ao homem, vou vos entreter com
estes últimos.
Entre os animais domésticos e o homem as afinidades
são produzidas pelas cargas fluídicas que vos cercam e recaem sobre eles; é um
pouco a humanidade que se detém sobre a animalidade, sem alterar as cores de
uma ou de outra; daí essa superioridade inteligente do cão sobre o instinto
brutal da besta selvagem, e é a esta causa somente que poderão ser devidas
estas manifestações que vêm de vos ler. Não se está, pois, enganado ouvindo um
grito alegre do animal e conhecendo os cuidados de seu senhor, e vindo, antes
de passar ao estado intermediário de um desenvolvimento a outro, trazer-lhe uma
lembrança. A manifestação pode, pois, ocorrer, mas ela é passageira, porque o
animal, para subir de um degrau, é preciso um trabalho latente que aniquile,
para todos, todo sinal exterior de vida. Esse estado é a crisálida espiritual onde se elabora a alma,
perispírito informe, não tendo nenhuma figura reprodutiva de traços,
quebrando-se num estado de maturidade, para deixar escapar, nas correntes que
os carregam, os germes de almas
que ali eclodem. Ser-nos-ia, pois, difícil vos falar dos Espíritos de
animais do espaço, ele não existe, ou antes sua passagem é tão rápida que é
como nula, e que no estado de crisálida, não poderiam ser descritos. (KARDEC,
2000, p. 132-133) (grifo nosso).
No início tem-se como verdade o progresso da alma
nos três reinos; porém, pareceu-nos contraditório, quando o autor disse que
"este estado é a crisálida espiritual onde se elabora a alma",
porquanto estava, nesse momento, referindo-se somente ao reino animal, assunto
que se propôs a tratar. Promete, para mais tarde, falar da relação entre o
mineral e o vegetal e deste para a do animal, o que, infelizmente, não fez ou
nós não a encontramos.
Kardec, ao comentar essa mensagem, muito
cautelosamente, diz:
Quando tivermos reunido todos os documentos
suficientes, nós os resumiremos em um corpo de doutrina metódico, que será
submetido ao controle universal; até
lá não são senão balizas colocadas sobre o caminho para clareá-lo.
(KARDEC, 2000, p. 133-134) (grifo nosso).
A terceira, consta da Revista Espírita 1867 numa
carta escrita pelo Dr. Charles Grégory (?-?), fervoroso adepto do Espiritismo,
a Kardec, que, a certa altura de sua defesa da Homeopatia, dá esta opinião:
E depois, como
creio que o Espírito do homem, antes de se encarnar na humanidade, sobe todos
os graus da escala e passa pelo mineral, a planta e o animal e na maioria dos
tipos de cada espécie onde preludia seu completo desenvolvimento como ser
humano, quem me diz que, dando-lhe
medicamento o que não é mais nem o mineral, nem a planta, nem o animal, mas o
que se poderia chamar a sua essência, de alguma sorte seu espírito, não se atua
sobre a alma humana composta dos mesmos elementos? Porque, é preciso dizê-lo, o
espírito é bem alguma coisa, e uma vez que se desenvolveu e se desenvolve sem
cessar, precisou tomar esses elementos de alguma parte. (KARDEC, 1999, p. 169)
(grifo nosso).
Como quase sempre fazia, Kardec não deixou também
de tecer seus comentários a essa carta, nos quais se pode ver que as
observações do Dr. Charles, quanto a Homeopatia, foram consideradas
pertinentes; entretanto, ao final de seus comentários, Kardec coloca o
seguinte:
Em resumo, não contestamos que
certos medicamentos, e a homeopatia mais do que qualquer outra, não produzem
alguns dos efeitos indicados, mas não lhes contestamos mais senão os resultados
permanentes, e sobretudo tão universais que alguns o pretendem. Um caso em que
a homeopatia, sobretudo, pareceria particularmente aplicável com sucesso, é o
da loucura patológica, porque aqui a desordem moral é a consequência da
desordem física, e que está constatado agora, pela observação dos fenômenos
espíritas, que o Espírito não é louco; não se tem o que modificá-lo, mas
dar-lhe os meios de se manifestar livremente. A ação
da homeopatia pode ser aqui tanto mais eficaz quanto ela atue principalmente,
pela natureza espiritualizada de seus medicamentos, sobre o perispírito, que
desempenha um papel preponderante nesta afecção.
Teríamos mais de
uma objeção a fazer sobre algumas das proposições contidas nesta carta; mas isto nos levaria muito
longe; contentamo-nos, pois, em colocar as duas opiniões em frente. Como em
tudo, os fatos são mais concludentes do que as teorias, e são eles, em
definitivo, que confirmam ou derrubam estas últimas, desejamos ardentemente que
o Sr. o doutor Grégory publique um tratado especial prático da homeopatia
aplicada ao tratamento das moléstias morais, a fim
de que a experiência possa se generalizar e decidir a questão. Mais do que qualquer outro, ele nos parece capaz
para fazer esse trabalho ex-professo. (KARDEC, 1999, p. 171-172) (grifo nosso).
Sinceramente, acreditamos que o "teríamos mais
de uma objeção a fazer" de Kardec tinha por objetivo a crença de que a
alma humana, em sua ascensão rumo à meta final, passa por todos os três reinos,
levando-se em conta tudo quanto, em suas obras, vimos de sua maneira de pensar.
Obviamente, que não descartamos a possibilidade de estarmos equivocados nessa
conclusão.
A quarta, na Revista Espírita 1868, quando lemos algumas considerações
de Emile Barbault ao livro A
religião e a política na Sociedade moderna de autoria de
Frédéric Herrenschneider, que Kardec resolveu divulgar na revista, sem ter
feito qualquer tipo de observação. Essa só encontramos mesmo na fala de Emile
Barbault, em cujo início consta:
O Sr. Herrenschneider é um antigo
saint-simoniano e foi lá que hauriu o seu ardente amor ao progresso. Depois,
tornou-se Espírita, e, no entanto, estamos
longe de partilhar a sua maneira de ver sobre todos os pontos, e de aceitar
todas as soluções que dá. A sua é uma obra de alta filosofia, onde o
elemento espírita tem um lugar importante; nós não a examinaremos senão do ponto de vista da concordância e da
divergência de suas ideias, no que toca ao Espiritismo. Antes de entrar
no exame de sua teoria, algumas considerações preliminares nos parecem
essenciais. (KKARDEC, 1993j, p. 183) (grifo nosso)
Dito isto, podemos examinar a obra notável do Sr.
Herrenschneider; é a obra de um profundo pensador e de um Espírita convicto,
senão completo, mas não aprovamos
todas as conclusões às quais chega. (KARDEC, 1993j, p. 187) (grifo
nosso).
Vejamos agora o seguinte trecho de suas
considerações:
Durante toda essa fase de existência dos seres, que começa na molécula
do mineral, prossegue no vegetal, se desenvolve no animal, e se determina no
homem, o Espírito recolhe e conserva os conhecimentos pelo seu perispírito; ele
adquire, assim, uma certa experiência. Os progressos que se realizam são de uma grande lentidão, e quanto
mais eles são lentos, mais as encarnações são multiplicadas.
Como se vê, o autor
adota os princípios científicos do progresso dos seres, emitidos por Lamarck, Geoffroy
Saint-Hilaire, e Darwin, com esta diferença de que a ação moderadora das
formas e dos órgãos animais não é mais somente o resultado da seleção e da
concorrência vital, mas é também, e sobretudo, o efeito da ação inteligente do
espírito animal, modificando incessantemente as formas e a matéria, que ele
reveste para realizar uma apropriação mais conforme com a experiência que
adquiriu. (KARDEC, 1993j, p. 187) (grifo nosso).
Como ao final Kardec não faz nenhum comentário, não
temos como saber o que ele, de fato, pensava sobre essas considerações de Emile
Barbault, porém, não poderíamos deixar de colocá-las.
Em A
Gênese, cap. VI – Uranografia Geral, podemos ainda encontrar algo,
tratando o reino mineral como "criatura":
Esse fluido penetra os corpos,
como um oceano imenso. É nele que reside o
princípio vital que dá origem à vida dos seres e a perpetua em cada globo, conforme a condição
deste, princípio que, em estado latente, se conserva adormecido onde a voz de
um ser não o chama. Toda criatura, mineral, vegetal, animal ou qualquer outra - porquanto há
muitos outros reinos naturais, de cuja
existência nem sequer suspeitais - sabe, em virtude desse princípio vital e
universal, apropriar as condições de sua existência e de sua duração.
As
moléculas do mineral têm uma certa soma dessa vida, do mesmo modo que a semente do
embrião, e se grupam, como no organismo, em figuras simétricas que constituem
os indivíduos.
Muito importa nos compenetremos
da noção de que a matéria cósmica primitiva se achava revestida, não só das
leis que asseguram a estabilidade dos mundos, como também do universal
princípio vital que forma gerações espontâneas em cada mundo, à medida que se
apresentam as condições da existência sucessiva dos seres e quando soa a hora
do aparecimento dos filhos da vida, durante o período criador.
Efetua-se assim a criação universal. É, pois, exato
dizer-se que, sendo as operações da Natureza a expressão da vontade divina,
Deus há criado sempre, cria incessantemente e nunca deixará de criar. (KARDEC,
2007b, p. 135-136) (grifo nosso).
O problema, que reside aqui, é que Kardec fez
questão de fazer a seguinte observação: "Este capítulo é
textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita
de Paris, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos uranográficos e assinadas
GALILEU. Médium: C. F." (KARDEC, 2007b, p. 121). O que nos leva a
crer que, dessa forma, ele deixa claro que o assunto não havia passado pelo
Controle Universal do Ensino dos Espíritos - CUEE; por isso, deveria ser
tratado como hipótese, não como verdade doutrinária.
Aliado a isso, temos ainda a opinião do próprio
Camille Flammarion (1842-1925), o médium citado, que não demonstra nenhuma
confiança nas comunicações recebidas por ele:
Naquelas reuniões na Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, escrevi, por meu lado, páginas sobre astronomia, assinadas
"Galileu". Essas comunicações ficavam no escritório da sociedade, e
Allan Kardec publicou-as em 1867, sob o título Uranographie génerale (Uranografia
Geral), em seu livro intitulado La Genèse (Gênese) (do
qual conservei um dos primeiros exemplares, com a dedicatória do autor). Essas páginas sobre astronomia nada me
ensinaram. Não tardei em concluir que elas eram apenas o eco daquilo que eu sabia
e que Galileu nada tinha a ver com aquilo. Era como uma espécie de sonho
acordado. Além disso, minha mão parava quando eu pensava em outros assuntos.
(FLAMMARION, 2011, p. 44) (grifo nosso, exceto os títulos das obras).
Um pouco mais à frente, ainda em A Gênese, Cap. VI - Item 19 - A
criação universal, encontramos esta outra afirmação do Espírito Galileu:
Aos que desejem religiosamente conhecer e se
mostrem humildes perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema
prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá,
simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos
destinos, sem haver passado pela
série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora
lentamente a obra da sua individualização. Unicamente a datar do dia em
que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no
seio das humanidades. (KARDEC, 2007b, p. 136-137) (grifo nosso).
Acreditamos que para o próprio Flammarion a
designação seres inferiores se refere aos seres vivos. Para corroborar isso,
trazemos da sua obra filosófica Deus na Natureza, os seguintes
trechos:
[…] Pela troca perpétua, operante em
todos os seres da Natureza e que a todos os encadeia sob o império de uma
comunhão substancial, pela comunicação permanente das coisas entre si, da
atmosfera com as plantas e todos os
seres que respiram, das plantas com os animais, da água com todas as
substâncias organizadas, pela nutrição e assimilação que perpetuam a cadeia das
existências, as moléculas entram nos corpos e deles saem, mudam de proprietário
a cada instante, mas conservam essencialmente a natureza intrínseca. […]
(FLAMMARION, 1990, p. 67) (grifo nosso).
As leis da Natureza regem o movimento
dos átomos nos seres vivos,
como nos inorgânicos: a mesma molécula passa sucessivamente do mineral ao
vegetal e ao animal, neles incorporando-se segundo as leis que organizam todas
as coisas. (FLAMMARION, 1990, p. 68) (grifo nosso).
E contudo, a verdadeira realidade é que a vida de todos os seres terrícolas – homens,
animais e plantas – é uma e única, sujeita a um mesmo sistema,
tendo por ambiente o ar e por base o solo. […] (FLAMMARION, 1990, p. 88) (grifo
nosso).
Vamos transcrever de O Livro dos Espíritos várias
perguntas e respectivas respostas, pelas quais a evolução do princípio
inteligente é tratada somente em relação aos animais, portanto, foram excluídos
do processo os minerais e os vegetais:
23. Que é o Espírito?
"O princípio inteligente do
Universo".
79. Pois que há dois elementos gerais
no Universo: o elemento inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que
os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são
do elemento material?
"Evidentemente. Os Espíritos são
a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a
individualização do princípio material. A época e o modo por que essa formação
se operou é que são desconhecidos".
593. Poder-se-á dizer que os animais
só obram por instinto?
"Ainda aí há um sistema. É
verdade que na maioria dos animais domina o instinto. Mas, não vês que muitos
obram denotando acentuada vontade? É que têm inteligência, porém
limitada".
Não se poderia negar que, além de
possuírem o instinto, alguns animais praticam atos combinados, que denunciam
vontade de operar em determinado sentido e de acordo com as circunstâncias. Há,
pois, neles, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício quase que se
circunscreve à utilização dos meios de satisfazerem às suas necessidades
físicas e de proverem à conservação própria. [...]
597. Pois que os animais possuem uma
inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum
princípio independente da matéria?
"Há e que sobrevive ao
corpo".
597. a) - Será esse princípio uma
alma semelhante à do homem?
"É também uma alma, se
quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém,
inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância
equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus".
598. Após a morte, conserva a alma
dos animais a sua individualidade e a consciência de si mesma?
"Conserva sua individualidade;
quanto à consciência do seu eu, não. A vida inteligente lhe permanece em estado
latente".
599. À alma dos animais é dado
escolher a espécie de animal em que encarne?
"Não, pois que lhe falta
livre-arbítrio".
601. Os animais estão sujeitos, como
o homem, a uma lei progressiva?
"Sim; e daí vem que nos mundos
superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são,
dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao
homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores inteligentes".
Nada há nisso de extraordinário,
tomemos os nossos mais inteligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e
imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que
não fariam sob a direção do homem?
604. a) -A inteligência é então uma
propriedade comum, um ponto de contacto entre a alma dos animais e a do homem?
"É, porém os animais só possuem
a inteligência da vida material. No homem, a inteligência proporciona a vida
moral".
606. a) -Então, emanam de um único
princípio a inteligência do homem e a dos animais?
"Sem dúvida alguma, porém, no
homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no
animal".
610. Ter-se-ão enganado os Espíritos
que disseram constituir o homem um ser à parte na ordem da criação?
"Não, mas a questão não fora
desenvolvida. Demais, há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas. O
homem é, com efeito, um ser à parte,visto possuir faculdades que o distinguem
de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu
para a encarnação dos seres que podem conhecê-Lo".
612. Poderia encarnar num animal o
Espírito que animou o corpo de um homem?
"Isso seria retrogradar e o Espírito não
retrograda. O rio não remonta à sua nascente".
Não reproduzimos as questões 607, 607a e 607b, por
já terem sido mencionadas. Além dessas questões, outras mais nós tratamos em
nosso livro Alma dos Animais:
estágio anterior da alma humana?, o qual sugerimos ao leitor, caso
tenha interesse, a sua leitura.
Voltar a lembrar o fato de que Kardec, em A Gênese, atribuiu às plantas o
instinto, ou seja, uma inteligência rudimentar, ponto que não podemos jamais
esquecer pois é nela que o codificador expressa a sua última posição sobre o
tema.
Bom, até aqui nós não conseguimos ver nada dito por
Kardec de forma clara, objetiva e conclusiva para apoiarmos a hipótese de que o
princípio inteligente tenha, em seu desenvolvimento intelectual e moral,
passado pelo reino mineral, muito pelo contrário; entretanto, queremos deixar
bem claro que vários companheiros espíritas advogam cada uma dessas duas
hipóteses, coisa que além de natural é algo totalmente possível dentro do meio
espírita, principalmente se levarmos em consideração essas duas afirmações de
Kardec:
[…] Ele [o Espiritismo] deixa, pois, a cada um uma inteira liberdade de exame, em virtude
deste princípio, de que a verdade sendo una, deve, cedo ou tarde, se impor
sobre o que é falso, e que um princípio fundado sobre o erro cai pela força das
coisas. […] (KARDEC, 2000c, p. 306) (grifo nosso).
Cada um é livre
para encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos essa liberdade para nós, não podemos recusá-la
aos outros. (KARDEC, 1993i, p. 5) (grifo nosso)
Por outro lado, é bom também não deixar de ter em mente
que, para Kardec "O Livro
dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz
senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver
sucessivamente pelo estudo e pela observação". (KARDEC, 1993i, p.
223), ou seja, não fecha questão colocando tudo como pronto e acabado; porém,
abre uma porta para futuras considerações provenientes de novos estudos e
experiências.
Para que você leitor possa melhor se situar nas
transcrições das obras de Kardec, aqui utilizadas, informamos que a ordem
cronológica delas é a seguinte:
1857 - KARDEC, A. O Livro dos Espíritos – primeira
edição de 1867. São Paulo: IPECE, 2004.
1860 - KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. (segunda
edição) Rio de Janeiro: FEB, 2007a.
1861 - KARDEC, A. Revista Espírita 1861.
Araras, SP: IDE, 1993f.
1864 - KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Rio de Janeiro: FEB, 2007c.
1865 - KARDEC, A. Revista Espírita 1865.
Araras, SP: IDE, 2000c.
1866 - KARDEC, A. Revista Espírita 1866.
Araras, SP: IDE, 1993i.
1867 - KARDEC, A. Revista Espírita 1867.
Araras, SP: IDE, 1999.
1868 - KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB,
2007b.
1868 - KARDEC, A. Revista Espírita 1868. Araras, SP: IDE, 1993j.
Isso pode ser importante, porquanto, temos que
levar em consideração que a opinião final de Kardec, será a que ele expressa na
ultima delas, pois, s.m.j., as nossas ideias, sobre determinado assunto, vão
evoluindo de acordo com os novos conhecimentos que vamos adquirindo ao longo do
tempo, por essa razão, a última fala deve ser aquela na qual se resume todos
esses conhecimentos.
3. Estudiosos dos
primórdios da codificação
Traremos vários autores, contemporâneos ou próximos
da época de Kardec, que, de uma forma ou de outra, tocaram nesse assunto.
3.1 - León Denis (1846-1927) é o primeiro da lista, cujas
obras voltaremos, agora, a nossa atenção, cumprindo o que havíamos prometido no
início, pois em duas delas –Depois
da Morte e O Problema
do ser, do destino e da dor - encontramos algo relacionado ao
tema:
a) Depois
da Morte (1890):
Tempo chegará em que todos esses vocábulos:
materialista, positivista, espiritualista, perderão sua razão de ser, porque o
pensamento estará livre das peias e barreiras que lhe impõem escolas e
sistemas. Quando perscrutamos o fundo das coisas, reconhecemos que matéria e
espírito não passam de meios variáveis e relativos para expressão do que existe
unicamente de positivo no Universo, isto é - a força e a vida, que, achando-se em estado latente no mineral, se vão
desenvolvendo progressivamente do vegetal ao ente humano, e, mesmo acima
deste, nos degraus inumeráveis da escala superior. (DENIS, 1987, p. 97) (grifo
nosso).
Denis, pelo que percebemos, advoga, nesse ponto, a
evolução do princípio inteligente (caso ele seja compreendido como integrante
de "a força e a vida"), a partir do reino mineral; porém, em outras
oportunidades pareceu-nos não admitir isso.
Sabemos que, em nosso globo, a vida
aparece primeiramente sob os mais simples, os mais elementares aspectos, para
elevar-se, por uma progressão constante, de formas em formas, de espécies em
espécies, até ao tipo humano, coroamento da criação terrestre. Pouco a pouco,
desenvolvem-se e depuram-se os organismos, aumenta a sensibilidade. Lentamente,
a vida liberta-se dos liames da matéria; o instinto cego dá lugar a
inteligência e a razão. Teria cada alma percorrido esse caminho medonho, essa
escala de evolução progressiva, cujos primeiros degraus afundam-se num abismo
tenebroso? Antes de adquirir a
consciência e a liberdade, antes de se possuir na plenitude de sua vontade,
teria ela animado os organismos rudimentares, revestido as formas inferiores da
vida? Em uma palavra: teria passado pela animalidade? O estudo do
caráter humano, ainda com o cunho da bestialidade, leva-nos a supor isso.
O sentimento da justiça absoluta
diz-nos também que o animal, tanto quanto o homem, não deve viver e sofrer para
o nada. Uma cadeia ascendente e
continua liga todas as criações, o mineral ao vegetal, o vegetal ao animal, e
este ao ente humano. Liga-os duplamente, ao material como ao espiritual.
Não sendo a vida mais que uma manifestação do espírito, traduzida pelo
movimento, essas duas formas de evolução são paralelas e solidárias.
A alma elabora-se no seio dos organismos rudimentares. No animal está
apenas em estado embrionário; no homem, adquire
o conhecimento, e não mais pode retrogradar. Porém, em todos os graus ela
prepara e conforma o seu invólucro. As formas sucessivas que reveste são a
expressão do seu valor próprio. A situação que ocupa na escala dos seres está
em relação direta com o seu estado de adiantamento. Não se deve acusar Deus por
ter criado formas horrendas e desproporcionadas. Os seres não podem ter outras
aparências que não sejam as resultantes das suas tendências e dos hábitos
contraídos. Acontece que almas,
atingindo o estado humano, escolhem corpos débeis e sofredores para
adquirirem as qualidades que devem favorecer a sua elevação; porém, na Natureza inferior nenhuma escolha poderiam
praticar e o ser recai forçosamente sob o império das atrações que em si
desenvolveu.
Essa explicação pode ser verificada
por qualquer observador atento. Nos
animais domésticos as diferenças de caráter são apreciáveis, e até os de
certas espécies parecem mais adiantados que outros. Alguns possuem qualidades
que se aproximam sensivelmente das da Humanidade, sendo suscetíveis de afeição
e devotamento. Como a matéria e
incapaz de amar e sentir, forçoso é que se admita neles a existência de uma
alma em estado embrionário. Nada há aliás maior, mais justo, mais
conforme a lei do progresso, do que essa ascensão das almas operando-se por
escalas inumeráveis, em cujo percurso elas próprias se formam: pouco a pouco se
libertam dos instintos grosseiros e despedaçam a sua couraça de egoísmo para
penetrarem nos domínios da razão, do amor, da liberdade. É soberanamente justo
que a mesma aprendizagem chegue a todos, e que nenhum ser alcance o estado
superior sem ter adquirido aptidões novas.
No dia em que a
alma, libertando-se das formas animais e chegando ao estado humano, conquistar
a sua autonomia, a sua responsabilidade moral, e compreender o dever, nem por
isso atinge o seu fim ou termina a sua evolução. Longe de acabar, agora é que começa a sua obra real; novas tarefas
chamam-na. As lutas do passado nada são ao lado das que o futuro lhe reserva.
Os seus renascimentos em corpos carnais suceder-se-ão. De cada vez, ela continuará,
com órgãos rejuvenescidos, a obra do aperfeiçoamento interrompida pela morte, a
fim de prosseguir e mais avançar. Eterna viajora, a alma deve subir, assim, de
esfera em esfera, para o Bem, para a Razão infinita, alcançar novos níveis,
aprimorar-se sem cessar em ciência, em critério, em virtude. (DENIS, 1987, p.
132-134) (grifo nosso).
Apesar de afirmar que há uma cadeia ascendente
tanto no aspecto material quanto no espiritual, ligando todos os seres da
criação, ao dizer sobre a elaboração da alma, Denis, nessa sua fala, a coloca
no reino animal.
Ao falar da evolução perispiritual, Denis faz as
seguintes considerações:
As relações seculares entre os
Espíritos e os homens, confirmadas, explicadas pelas recentes experiências do
Espiritismo, demonstram a sobrevivência do ser sob uma forma fluídica mais
perfeita.
Essa forma indestrutível, companheira e serva da
alma, testemunho de suas lutas e de seus sofrimentos, participa de suas
peregrinações, eleva-se e purifica-se com ela. Gerado nos últimos degraus da animalidade, o ser perispiritual sobe
lentamente a escala das espécies, impregnando-se dos instintos das feras, das
astúcias dos felinos, e também das qualidades, das tendências generosas dos
animais superiores. Até então mais não é que um ser rudimentar, um
esboço incompleto. Chegando à Humanidade, começa a ter sentimentos mais
elevados; o espírito irradia com maior vigor e o perispírito ilumina-se com
claridades novas. De vidas em vidas, à proporção que as faculdades se dilatam,
que as aspirações se depuram, que o campo dos conhecimentos se alarga, ele se
enriquece com sentidos novos. Como a borboleta que sai da crisálida, assim
também o corpo espiritual desprende-se de seus andrajos de carne, sempre que
uma encarnação termina. A alma, inteira e livre, retoma posse de si mesma e,
considerando, em seu aspecto esplendido ou miserável, o manto fluídico que a
cobre, verifica seu próprio estado de adiantamento. (DENIS, 1987, p. 183)
(grifo nosso).
Da colocação de que o perispírito foi gerado nos
últimos degraus da animalidade, acabamos por concluir, que, s.m.j., Denis tem
no reino animal como sendo o princípio da evolução da alma humana.
b) O
Problema do Ser, do Destino e da Dor (1905):
O homem é, pois, ao mesmo tempo, espírito e
matéria, alma e corpo; mas talvez espírito
e matéria não sejam mais do que simples palavras, exprimindo de
maneira imperfeita as duas formas
da vida eterna, a qual dormita na matéria bruta, acorda na matéria orgânica,
adquire atividade, se expande e se eleva no espírito. (DENIS, 1989, p.
63) (grifo nosso).
Aqui a frase é bem semelhante àquela que lhe
atribuem, colocada no início do texto, entretanto, ele fala da "vida
eterna", que é algo abrangente e, necessariamente, pode não significar
especificamente o princípio inteligente.
A lei do progresso não se aplica somente ao homem; é universal. Há, em todos os reinos da Natureza, uma evolução
que foi reconhecida pelos pensadores de todos os tempos. Desde a célula verde, desde o embrião
errante, boiando à flor das águas, a cadeia das espécies tem-se desenrolado
através de séries variadas, até nós.(108)
Cada elo dessa cadeia representa uma
forma da existência que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico, mais bem
adaptado às necessidades, às manifestações crescentes da vida; mas, na escala
da evolução, o pensamento, a consciência e a liberdade só aparecem passados
muitos graus. Na planta a
inteligência dormita; no animal ela sonha; só no homem acorda,
conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a partir daí o progresso, de
alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo
acordo da vontade humana com as leis Eternas.
_______
(108) Os seres monocelulares
encontram-se ainda hoje aos bilhões, em cada organismo humano.
Não foi de uma única célula que saiu
a série das espécies; foi antes a multidão das células que se agrupou para
formar seres mais perfeitos e, de degrau em degrau, convergir para a unidade.
(DENIS, 1989, p. 122-123) (grifo nosso)
Agora, dá uma reviravolta dizendo que é na planta
que a inteligência dormita, com isso dá uma pista para definir qual é realmente
a sua posição, que, parece-nos ser mais para deixar de fora o reino mineral,
caso não estejamos forçando a barra, em virtude do que concluímos baseando-nos
em Kardec.
3.2 - Gabriel
Delanne (1857-1926),
contemporâneo de Léon Denis, filho de Alexandre Delanne, amigo íntimo de Allan
Kardec, dedicou-se ao aspecto científico do Espiritismo, cujas conclusões
trazemos para análise. Especificamente, desenvolveu um estudo sobre o assunto
na obra A Evolução Anímica,
e também falou alguma coisa nestas duas outras: O Espiritismo perante a ciência e A
Reencarnação. Vejamo-las, pela ordem de publicação:
a) O
Espiritismo perante a ciência (1885):
O que nos falta dizer é como o
perispírito pode ter adquirido todas as qualidades necessárias ao funcionamento
de uma maravilha como é o corpo humano. É preciso que estabeleçamos por que
processo esta organização fluídica pode dirigir as diferentes categorias de
ações orgânicas que compõem a vida.
Segundo acreditamos, quanto mais o espírito se
eleva mais se lhe depura o invólucro. Podemos, pois, dizer, olhando para o
passado, que, quanto mais grosseiro é o invólucro, menos adiantado é o
espírito; donde a conclusão de que
a alma humana, antes de animar um organismo tão perfeito como o corpo humano,
teve que passar pela fieira animal: Não pretendemos que o princípio inteligente tenha sido obrigado a
atravessar a fase vegetal, porque nas plantas não encontramos sinal algum de
sensibilidade bem nitidamente acusada. Os movimentos de certas dioneias,
como a mimosa pudica, vulgarmente chamada sensitiva, não bastam para
estabelecer esta propriedade nas raças vegetais. Tomaremos, pois, como ponto de partida das evoluções do princípio
inteligente os mais rudimentares animais. (DELANNE, 1993, p. 310) (grifo
nosso).
Vê-se, então, que, para Delanne, o ponto de partida
da evolução do princípio inteligente é o reino animal.
Logo no início dessa obra, encontramos algo que
pode nos indicar aquilo que faz a ligação entre os três reinos:
O corpo do homem rejeita o que nutre a planta; a
planta transforma o ar, que nutre o animal; o animal nutre o homem, e os seus
resíduos, levados pelo ar à superfície da terra vegetal, renovam e entretêm a
vida das plantas. Todos os mundos:
vegetais, minerais, animais, se unem, se penetram, se confundem e transmitem a
vida por um movimento que é dado ao homem verificar e compreender.
Eis por que - diz ele - "circulação da matéria é a alma do Mundo".
(DELANNE, 1993, p. 18) (grifo nosso).
Não seria o "tudo na natureza se
encadeia", dito por Kardec?
b) A
Evolução anímica (1895)
[…] O Espírito, transitando pela matéria vivente, desde as primitivas eras do
mundo, conseguiu paulatinamente, a transformação progressiva e aperfeiçoada.
Cremos seja ele o agente de
evolução das formas orgânicas e, daí, a razão do perispírito,
conservando-lhe as leis. Nem foi senão lentíssima e progressivamente que essas
leis se lhe incrustaram na contextura. (DELANNE, 1989, p. 53) (grifo nosso).
Preciso, é, portanto, demonstrarmos a unidade do princípio pensante no
homem e no animal, e estabelecermos que não há transições bruscas entre um e
outro; que a lei de continuidade não se
interrompe, que o homem não constitui um reino à parte no seio da natureza, e
que só mediante uma evolução contínua, por esforços consecutivos, chega a
atingir o ponto culminante na criação. (DELANNE, 1989, p. 56) (grifo nosso).
Do homem ao macaco, deste ao cão; da
ave ao réptil e deste ao peixe; do peixe ao molusco, ao verme, ao mais ínfimo
dos colocados nas fronteiras
extremas do mundo orgânico com o mundo inanimado, nenhuma passagem é brusca.
O que se dá é sempre uma degradação insensível. Todos os seres se tocam, formam uma cadeia de vida, que só nos parece
interrompida pelo desconhecimento das formas extintas ou desaparecidas.
Nessa hierarquia dos seres, o
homem reivindica o primeiro lugar a que tem, certo, incontestável
direito; mas, isso não o coloca fora da série, e quer simplesmente dizer que
eleé o mais aperfeiçoado dos animais.
(DELANNE, 1989, p. 62) (grifo nosso).
A descendência animal do homem impõe-se com evidência luminosa a todo
pensador imparcial. Somos,
evidentemente, o último ramo aflorado da grande árvore da vida, e resumimos,
acumulando-os, todos os caracteres físicos, intelectuais e morais, assinalados
isoladamente em cada um dos indivíduos que perfazem a séries dos seres.
(DELANNE, 1989, p. 83) (grifo nosso).
A Natureza opera sempre em
continuidade nas manifestações sucessivas que perfazem o conjunto dos fenômenos
terrestres.
Já no reino mineral se torna possível encontrar o traço de uma futura
vida orgânica. O cristal é quase um ser vivente, visto
que difere completamente da matéria amorfa, tendo as moléculas orientadas por
uma ordem geométrica, fixa e, por tanto, uma tal ou qual individualidade. Nele
existe os primeiros lineamentos da reprodução, visto como a mínima de suas
parcelas, mergulhada num soluto idêntico, permitirá o desenvolvimento regular e
indefinido dessa partícula, constituindo um cristal semelhante ao primeiro. Não
há, finalmente, uma só parte do seu bloco, cuja avaria não se possa reparar.
(DELANNE, 1989, p. 184-185) (grifo nosso).
[…] No mundo inorgânico tudo é cego, passivo, fatal; jamais se verifica
progresso, não há mais que mudanças de estados, as quais em nada
modificam a natureza íntima da substância. No ser inteligente há aumento de
poder, desenvolvimento de faculdade latente, eclosão do ser, a traduzir-se por
exaltação íntima do indivíduo. (DELANNE, 1989, p. 234) (grifo nosso).
É no seio tépido dos mares
primitivos, sob a ação da luz, do calor e de uma pressão hoje difícil, senão
impossível de reproduzir-se, que se formou essa massa viscosa chamada protoplasma, primeira manifestação da vida
inteligente, que deve desenvolver-se progressiva e paralelamente, e produzir a
inumerável multidão de formas vegetais e animais, para chegar, após uma série
de séculos ou milênios, à obra tão pacientemente perseguida: - a aparição do
ser consciente – o homem. (DELANNE, 1989, p. 238) (grifo nosso).
A evolução terrestre
Não encerrando os terrenos primitivos
qualquer traço de matéria
organizada, temos por certo que a vida surgiu na Terra em um dado momento. Vimos que ela, a vida,
não é mais que uma modificação da energia, a preludiar-se naturalmente na
construção geométrica dos cristais que se organizam, reparam as fraturas e
reproduzem-se acidentalmente, quando, cindidos por uma força exterior, se
mergulha em água-mãe a parte lascada.
Essa matéria, porém, é inerte, desprovida de espontaneidade;
torna-se-lhe necessária a adjunção do princípio intelectual para poder
animar-se. É um problema que
fica resolvido com o protoplasma. Não há individualidade nessas massas
gelatinosas, moles, viscosas, que tomam indiferentemente todas as formas; mas,
logo que se opera uma condensação na massa, como sucedeu com as nebulosas, essa
condensação chama-se núcleo. Depois, o protoplasma reveste-se de uma camada mais densa e é o começo
do invólucro membranoso. A partir
desse momento, está o ser vivo constituído; é a célula que há de ser
molécula vital, de que se formam todos os seres organizados. Animais ou vegetais, do mais simples ao mais
complexo, não passam de associação de células mais ou menos diferenciadas.
Todo o trabalho futuro consistirá nesse agrupamento, e os meios utilizados pela
Natureza, para variar a sua obra primitiva, são bem simples, resumem-se em duas
proposições: seleção natural ou, melhor dito – luta, pela vida, e influência do
meio, cuja ação é enérgica para variar as formas, a alimentação e os instintos.
(DELANNE, 1989, p. 238-239) (grifo nosso).
O princípio pensante percorreu, lentamente, todas as escalas da vida
orgânica, e foi por meio de uma ascensão ininterrupta, em transcurso de séculos inumeráveis, que ele
pôde pouco a pouco, demoradamente, fixar no invólucro fluídico todas as leis da
vida vegetativa, orgânica e psíquica.
Foi-lhe preciso rematerializar-se um sem-número de
vezes para que todos esses movimentos, sentidos, conscientes, desejados,
chegassem à inconsciência e ao automatismo perfeito, que caracterizam as
reações vitais e as ações reflexas. Não é de improviso que o ser, seja qual
for, chega a esse resultado, pois a Natureza não faz milagres, e opera sempre
do simples para o complexo. Para
que um ser tão complexo quanto o homem, que reúne os caracteres mais elevados
de todas as criaturas vivas, possa existir, importa, absoluta e
necessariamente, tenha percorrido toda a série, cujos diferentes estados ele em
si resume. (DELANNE, 1989, p. 244-245) (grifo nosso).
Por estas várias passagens podemos ver que Delanne
continua firme em manter-se na ideia de que o princípio inteligente iniciou seu
processo evolutivo no reino animal, que, como reiteradas vezes já vimos, faz
parte dos seres orgânicos.
Achamos oportuno colocar a definição de
protoplasma:
Protoplasma é a parte viva da célula. É um sistema
físico-químico de natureza coloidal e pode passar facilmente do estado sólido
ao líquido. Os principais constituintes químicos do protoplasma são as
proteínas (ácidos aminados, polipeptídeos etc.), os carboidratos, os lipídios,
as substâncias minerais e a água. O protoplasma é uma substância viva que tem a
propriedade da assimilação e sofre suas consequências (crescimento, divisão
etc.). O protoplasma reage aos excitantes mecânicos, físicos e químicos; pode
emitir pseudópodes e sofre atrações e repulsões.Existem três propriedades
importantes dos protoplasmas no sistema nervoso: irritabilidade,
condutibilidade e contratilidade. O
protoplasma, segundo estudos, foi a primeira matéria viva a habitar o orbe
terrestre após as agitações das energias físico-químicas, e das colisões
telúricas incandescentes na formação terrestre. E após cessar as
agitações do princípio da formação do globo, e ambientar a pressão atmosférica,
de forma que oferecesse o ambiente mínimo para a existência de vida na terra,
pôde-se assim dar início a primeira forma de vida terrestre, que foi o
protoplasma. (Wikipédia) (grifo nosso).
Nessa obra de Delanne, também, vemos um trecho que
corrobora o "tudo na natureza se encadeia", mencionado um pouco
atrás:
[…] Quanta grandeza nessa marcha
lenta, porém firme, para chegar ao homem, florescência da força criadora, joia
que resume e sintetiza todo o progresso, receptáculo de todas as formas,
colônia viva, hierarquizada de todas as formas de vida, pois que nele concorrem, e se prestam mútuo auxílio,
todos os reinos. A
estrutura óssea é o mundo mineral, mas quão melhorado, vitalizado! Os
sais, inertes in natura, aí estão vivos, mutáveis e permutáveis,
mas conservando, em seu trânsito, o caráter essencial – a solidez!
Depois, é o mundo vegetal nas células que apresentam variedade e opulência incapazes
de serem ultrapassadas por qualquer planta. Em seguida, é o reino animal que fornece sucessivamente os
melhores órgãos, nos quais encontramos o esboço de aperfeiçoamento,
de espécie em espécie, até atingir
o tipo definitivo da humanidade. […] (DELANNE, 1989, p. 76-77) (grifo
nosso).
Também para Delanne, ao que nos parece, é a matéria
que faz estreita ligação entre os três reinos.
c) A
reencarnação (1927):
Em nossos dias existem, ainda,
representantes de todas as mentalidades possíveis. Desde as plantas até o homem, passando por todo o reino animal, há uma
série gradual e contínua, que parte da inconsciência quase total até à
plena luz da razão que ilumina os homens superiores. (DELANNE, 1987, p. 71)
(grifo nosso).
Formação e desenvolvimento gradual do
espírito
Se bem que a natureza íntima do
princípio pensante nos seja ainda desconhecida, somos obrigados a procurar-lhe as origens em todos os seres vivos,
por ínfimos que nos possam parecer. Sem dúvida, a individualidade desse
princípio não é aparente nas formas inferiores, mas há uma necessidade lógica de ver em todas as
manifestações vitais uma ação desse princípio espiritual, mesmo quando ele
está, ainda, indistinto nos seres que estão na base da escala orgânica,
como eu o dizia na memória apresentada ao Congresso Espírita, em 1898.
Somos, pois,
obrigados, pela força da lógica, a buscar no reino vegetal o exórdio da
evolução anímica, porque a forma que as plantas tomam e conservam durante a
vida implica a presença de um duplo perispiritual, que preside às trocas e
mantém a fixidez do tipo. (DELANNE, 1987,
p. 72) (grifo nosso).
Delanne, ao que tudo indica, muda de ideia, embora
não tenha deixado isso expresso, para, agora, situar o início da evolução do
princípio inteligente não mais no reino animal; mas, sim, no vegetal, onde lhe
fixa o início do processo evolutivo rumo ao reino hominal, estágio anterior a
angelitude.
3.3 - Camille
Flammarion, manifestou uma
opinião a respeito do assunto, vamos encontrá-la na obra Estamos
prontos, ditada pelo Espírito Hammed, pela psicografia de Francisco do
Espírito Santo Neto, no seguinte trecho:
Diz Camille Flammarion (5): "A existência do Espírito na
Natureza, nas leis do cosmo, no
homem, nos animais e nas plantas é manifesta. Ela deve bastar para
estabelecer a religião natural. E tal religião será incomparavelmente mais
sólida que todas as formas dogmáticas".
______
5 Camille
Flammarion, Mémoires Biographiques et Philosophiques d'un Astronome,
Ernest Flammarion Editeu, 1911.
(ESPIRITO SANTO NETO, 2012, p. 73) (grifo nosso)
Pelo visto, Flammarion não aceitava a existência do
Espírito nos minerais.
Aproveitamos o momento para também colocarmos as
considerações de Hammed, autor espiritual, que acabamos de citar:
Todavia, não carregamos somente
as características denominadas rudes ou embrutecidas, mas também propriedades e
atributos em germe, como solidariedade, organização, altruísmo, prudência,
cooperação, empatia e outros tantos, provenientes dessa mesma herança – isto é,
as fases evolutivas (ato de nascer – aprendizado, ato de morrer – aprendizado,
ato de renascer – aprendizado) – em que o princípio inteligente serve-se dessa
linhagem, seguindo por intermédio das experiências imensamente recapituladas,
rumo à plataforma da humanidade.
Hoje atribuímos essas qualidades apenas aos homens,
ignorando que elas também são um legado de nossos
ancestrais do reino animal, ou seja, os embriões de consciência
ou espíritos em evolução, constituindo,
assim, as bases evolutivas da conduta atual da coletividade humana. (ESPÍRITO
SANTO NETO, 2012, p. 25) (grifo nosso)
Entendemos que, para esse orientador, o início do
processo evolutivo do princípio inteligente tem seu início no reino animal.
3.4 - Oliver Joseph
Lodge (1851-1940), físico e escritor
inglês, autor da obra Raymund, da qual transcrevemos:
Seja lá o que for
a vida, é para nós uma
abstração porque essa palavra constitui um termo geral indicativo de uma coisa comum a todos os animais e plantas, mas não existente de modo
direto no mundo inorgânico. Para
compreendermos a vida temos de estudar as coisas vivas e ver o que há nelas de
comum. Um
organismo é vivo quando afeiçoa a matéria de uma forma especial e utiliza-se da
energia para os fins próprios – sobretudo o crescimento e a reprodução. Um organismo vivo, enquanto permanece vivo defende
a sua complicada estrutura contra a deterioração e a desagregação. (LODGE,
2012, p. 193) (grifo nosso).
É interessante que aqui encontramos o que vimos
várias vezes em Kardec, sobre a questão dos seres inorgânicos não terem vida.
Da afirmativa de Lodge de que "um organismo é vivo quando afeiçoa a
matéria", deduzimos que isso não ocorre no reino mineral.
4. Estudiosos
ulteriores da codificação
Vejamos alguns destacados estudiosos brasileiros
que surgiram após a consolidação da Doutrina Espírita:
4.1 - Cairbar
Schutel (1868-1938)
A alma não podia deixar de ter o seu começo, o seu nascimento, no reino
animal, nos seres da criação, onde passou por
todas as transformações indispensáveis ao seu progresso; onde evoluiu, chorando
ali, trabalhando acolá, brincando além, para após essas alternativas de
tristezas, de gemidos, de lutas e de alegrias, despontar na Humanidade, onde
mediante o seu progresso, mais esclarecida e dotada de outros atributos prepara
o glorioso surto de gênio para a posse da Vida na Imortalidade! (SHUTEL, 1982,
p. 31) (grifo nosso).
Não é nos templos, nem nas academias, que encontraremos o registro da
nossa individualidade, mas, sim, na escala inferior dos seres, no reino
animal, de que o nosso corpo
carnal é o mais característico exemplar.
Poderá alguém negar esta verdade, que
se evidencia aos olhos de todos os que querem ver?
Examine o leitor, com espírito
perscrutador, o reino animal e o reino hominal, e verá que não encontra entre
estes reinos limites distintamente traçados.
No extremo do reino animal com o reino vegetal,
estão os zoófitos ou animais plantas, nome que indica pertencerem eles a ambos
os reinos, servindo-lhes de tração de união. E no extremo do reino animal com o
reino hominal encontramos o orangotango, o chimpanzé, o gorila, que a tal ponto
apresentam as maneiras do homem que, por muito tempo, foram designados sob o
nome de homens dos bosques. (SHUTEL, 1982, p. 43) (grifo
nosso).
Caibar Schutel coloca, de forma bem categórica, que
o início da evolução da alma só poderia ser no reino animal.
4.2 - Durval
Ciamponi (1930- )
Nós,
particularmente, baseados nos autores citados e na Codificação Espírita,
admitimos que o início da evolução da alma, na Terra, se deu no protoplasma
primitivo (matéria orgânica que continha fluido vital). Mas com isso não queremos
dizer que o princípio inteligente tenha sido criado naquele instante, somente
porque havia condições propícias para início da sua evolução neste mundo.
Emmanuel (2), diz: "com
essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à
superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens". Ainda afirma
que o "protoplasma foi embrião de todas as organizações do globo
terrestre" e que "os primeiros habitantes da Terra, no plano
material, são as células albuminoides, as amebas e todas as organizações
unicelulares".
Dizemos, em sentido figurado,
que o protoplasma foi a chocadeira apropriada para
receber a mônada do plano espiritual em sua primeira "encarnação" no
orbe terrestre, ou na linguagem de
André Luiz - "as mônadas celestes exprimem-se no mundo através da rede
filamentosa do protoplasma".
_______
(2) EMMANUEL (Espírito). A Caminho
da Luz, cap. I e II, Psicografia de
Francisco Cândido Xavier. Edição FEB, Rio de Janeiro – RJ, 1975.
(CIAMPONI, 2001, p. 34) (grifo
nosso).
[...] preferimos ficar com a
ideia mais simples, com os Espíritos, quando afirmam que espírito e matéria são
distintos (LE, 25). Embora a união entre ambos seja necessária para a
manifestação da alma, isto não quer dizer que em todo "átomo primitivo",
princípio material, exista um princípio espiritual.
Kardec, em toda a Codificação,
deixa entrever que o princípio inteligente é distinto do princípio material. No
item 83, LE, ao questionar a ideia panteísta ou não do Espiritismo, deixa claro
seu pensamento a respeito da existência de "massa" material distinta
da inteligente de onde provieram os espíritos. Igualmente, nos itens 60 a 70
fica clara a distinção entre o que é princípio espiritual e os reinos formados
pelo princípio material: reino orgânico e reino inorgânico. Esta diferença
aparece bem definida no LE, 585, onde os Espíritos afirmam: "encarados sob
o aspecto material, não há senão seres
orgânicos e seres inorgânicos", Kardec conclui, depois, que "a matéria inerte, que
constitui o reino mineral, não possui mais do que uma força mecânica".
Ao se tomar ao pé da letra a ideia do item 540 de que a todo átomo primitivo está
associado um princípio espiritual, somente porque o arcanjo
dele começou, tem-se, por dedução lógica, que não há reino inorgânico e que os
dois princípios, material e espiritual, são apenas as duas faces de um mesmo
ser.
Preferimos, pois, entender que
os Espíritos estejam falando no LE, 540, de "átomo", no sentido de
"indivisível", isto é, do corpo material mais simples para início da
peregrinação evolutiva da alma. É a ideia da "mônada", como criação
divina na sua forma mais simples e ignorante possível
(LE, 115), seja em relação ao corpo (res extensa), seja em relação ao
espírito (res cogitans). Se assim é, a resposta do LE, 540, se completaria:
É assim que tudo serve, tudo se encadeia na natureza desde a mônada primitiva
até o arcanjo, pois ele mesmo começou pela mônada.
Em todo O Livro
dos Espíritos e em toda a
Codificação se fala que o princípio inteligente está associado ao princípio
material, qualquer que seja o grau de evolução em que se encontra, e também que
o princípio vital é o elemento intermediário entre o espírito e a matéria (LE,
65, 135, 135a, 257), mas não diz que o princípio material está sempre associado
ao espiritual.
Reino Inorgânico e
Reino Orgânico
O principal problema do homem é
saber onde termina o reino inorgânico, urdido pelo pensamento Divino e
sustentado pelas forças de atração, e começa o reino orgânico, onde há vida ou
matéria animalizada capaz de permitir sua "manipulação" por um
princípio espiritual, inicialmente por instinto e depois por sua inteligência.
A ciência diz que no reino
inorgânico não há vida. Uma pedra é um objeto inanimado e sem vida, não se
reproduz, não responde a estímulos, não se movimenta e não se alimenta em
nenhuma situação. Em O Livro dos Espíritos, questões ligadas ao princípio vital, item
"Seres Orgânicos e Inorgânicos", se diz que "inorgânicos são os
seres que não possuem vitalidade nem movimentos próprios, sendo formados apenas
pela agregação da matéria: os minerais, a água, o ar etc.", de acordo com
o que diz a ciência. Na questão 585 repetem a mesma informação.
Não
há, pois, como aceitar a ideia de que a vida começa no reino mineral, sentido
defendido por muitos espíritas, quando se referem à expressão de Léon Denis, de
que a "alma dorme na pedra".
O máximo que se pode admitir,
semelhante com a expressão de Denis, é a citação de Delanne, Evolução
Anímica, Cap. I, quando diz
"alma e perispírito formam um todo indivisível, constituindo, no conjunto,
as partes ativa e passiva, as duas faces do princípio pensante". Na
introdução do livro, diz a mesma coisa. "Todos os Espíritos, qualquer que
seja o grau de seu progresso, são, portanto, revestidos de um invólucro invisível
e imponderável".
É bom lembrar que esta
permanente ligação do espírito à matéria é racionalmente lógica. Mas não se
fala aqui da matéria bruta, inerte, amorfa, onde existe apenas a força de
atração entre seus elementos constitutivos, e sim da matéria primitiva,
fluídica, certamente associada ao princípio espiritual no momento da criação,
formando para ele seu corpo primitivo de ação, isto é, seu primeiro perispírito
ou corpo mental.
Repetimos: o princípio inteligente criado está sempre associado à matéria, mas nem
sempre o princípio material está associado ao espiritual. Consequentemente
poderemos ter corpo material sem um princípio inteligente.
Igualmente não se pode dizer que
a vida começa no reino mineral com base no item 18 do cap. VI, de A Gênese,
somente porque ali está escrito que o fluido universal penetra todos os corpos,
dando nascimento à vida dos seres. Há diferentes interpretações no que está
escrito no item 18 e no item 19.
Galileu
diz, no item 18, que as moléculas do mineral têm certa soma do princípio vital, admitindo, como consequência,
as "gerações espontâneas sobre cada mundo, à medida que se manifestam as
condições de existência sucessiva dos seres, quando soa a hora da aparição, dos
filhos da vida, durante o período criador". No item
19, Galileu fala da criação do espírito que não chega à iluminação senão depois
de haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os
quais elabora lentamente a obra de sua individualidade.
Galileu, no item 18, fala do surgimento da vida na
matéria, isto é, da matéria animada, orgânica, do protoplasma primitivo, ao
passo que no item 19 refere-se à criação do princípio inteligente, no mundo
espiritual.Não há, pois, como concluir,
desta lição de Galileu, que a primeira vivência da criatura espiritual se deu
no reino inorgânico ou mineral. (CIAMPONI, 2001, p. 67-70) (grifo do
original, a não ser o do sétimo parágrafo que é nosso).
Em resumo o pensamento de Ciamponi é: "Não há,
pois, como aceitar a ideia de que a vida começa no reino mineral, sentido
defendido por muitos espíritas, quando se referem à expressão de Léon Denis, de
que a 'alma dorme na pedra'". Aliás, um pouco mais à frente ele completa: "Não
conseguimos localizar onde Léon Denis escreveu essa frase, para uma análise
mais profunda" (CIAMPONI, 2001, p. 74), exatamente o que
aconteceu conosco, cuja busca foi totalmente infrutífera.
4.3 - Dr. Ary Alex (1916-2001)
Atuação do Princípio Inteligente não
Começa nos Minerais
Perguntaram-me se a atuação do princípio inteligente começava a partir
dos minerais. Respondi: não. Aos amigos
leitores do JE, ante o debate que se abriu em sua edição de agosto/99, com a
mesma pergunta, digo, antes de respondê-la que é mister lembrar as
características dos seres vivos.
Já há séculos, distribuíram tudo
quanto existe na Terra em três reinos: mineral, vegetal e animal. Tentou a
vaidade humana criar para o homem um quarto reino - seria o reino hominal, o
que não se justifica, pois o homem está enquadrado no reino animal.
SERES BRUTOS E SERES VIVOS - Os
vegetais e os animais, dadas as qualidades que os aproximam, podem ser
agrupados com o rótulo de seres organizados. Para os cientistas, existe uma
barreira intransponível entre os seres brutos (inorgânicos) e os seres vivos,
pois as propriedades peculiares à vida só se encontram nos animais e vegetais.
Este é um ponto em que o Espiritismo
está inteiramente de acordo com as ciências biológicas. O Espiritismo ensina
que a matéria precisa ser impregnada pelo fluido vital para que possa ser
utilizada pelo espírito (nos seres inferiores) costuma-se chamar de
"princípio espiritual".
Gabriel Delanne, em seu livro A
Evolução Anímica, explica a diferenciação entre seres brutos e vivos com
uma clareza meridiana. Mas em que qualidade reside a diferença entre eles?
Podemos responder que não há uma qualidade que, sozinha, permita distinguir os minerais dos seres
vivos, mas um conjunto de caracteres o permite: forma, propriedades
físico-químicas, metabolismo, irritabilidade e evolução.
a) FORMA: Geralmente os seres brutos
não têm forma própria, ao passo que os vivos possuem forma específica. Por
exemplo: quando falamos "areia", não estamos determinando forma
alguma, nem quantidade; quando dizemos "mosca", estamos nos referindo
a um ser que tem forma e tamanho certos. Se a areia tivesse um principio inteligente
ou espiritual, ele corresponderia a um grão de areia ou a toda a areia do
litoral?
b) PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS: Os minerais apresentam composição química simples, sendo as moléculas
formadas de poucos átomos, ao passo que a substância viva é complexa. Suas
moléculas possuem milhares de átomos, como o caso da hemoglobina e das
proteínas em geral. A composição dos seres brutos, além de simples, é estável,
enquanto que a instabilidade caracteriza os vivos, pois a matéria organizada
está em constante renovação.
Mas não é só. Para haver vida, é
preciso haver protoplasma, componente das células, formado principalmente por
proteínas. Na Terra, só pôde surgir a vida no momento em que, na atmosfera, por
meio das descargas elétricas, uniram-se metano, amônia, água e hidrogênio,
formando-se os primeiros aminoácidos (Experiências de Urey e Miller). Estes se
combinaram, formando proteínas, as quais se aglomeraram nos coacervados e estes
originaram células (Oparim, cientista russo). Todas as células têm cromossomos
e ADN, que não existem nos minerais.
c) IRRITABILIDADE: Frente aos
estímulos do meio exterior, os seres vivos reagem, por meio de movimentos,
produção de secreções, reações agressivas ou tantas outras. Os minerais não têm
irritabilidade: podemos bater numa pedra, aquecê-la, dar choques elétricos, que
não teremos resposta alguma.
d) METABOLISMO: O ser vivo retira
do meio ambiente os alimentos de que necessita, incorporando-os ao seu
organismo (anabolismo). No desgaste vital, decompõem-se substâncias do seu
corpo, produzindo-se resíduos, que são eliminados (catabolismo). A glicose é
queimada, produzindo energia, gás carbônico e água. Os minerais não têm
metabolismo. Uma pedra do pico do Jaraguá, lá está, do mesmo jeito, há muitos
milhões de anos.
e) EVOLUÇÃO: Todo ser vivo nasce, cresce, vive, reproduz-se e morre. Os
minerais não apresentam esse ciclo vital: eles não nascem e nem morrem - sua
duração é ilimitada. Imaginemos, por
um desvario da imaginação, que um bloco de granito tivesse um princípio
espiritual. Coitado dele - ficaria preso, imutável, sem evoluir, durante muitos
milhões de anos.
Imagine mais, se cada átomo ou
partícula atômica componente do bloco tivessem também um agente estruturador,
como se diz atualmente, a comandar-lhe o equilíbrio íntimo - coitado deles.
Uma das leis que o Espiritismo prega
é a sublime lei da Evolução: todos os seres evoluem permanentemente, desde a
ameba até o homem; todos eles, através de múltiplas vivências no mundo físico,
estão se aperfeiçoando, estão aprendendo, estão plasmando corpos cada vez mais
perfeitos, enquanto o espírito vai progredindo sempre. A evolução da forma é
concomitante com a evolução do espírito.
Delanne, em seu livro A
Evolução Anímica, cap. 1, A Vida, diz: "Organização e evolução não
podem ser compreendidas só pelo jogo das leis físico-químicas. Os
materialistas, com o negarem a existência da alma, privam-se voluntariamente de
noções indispensáveis à compreensão dos fenômenos vitais do ser animado; e os
filósofos espiritualistas por sua vez, empregando o senso íntimo como
instrumento único de investigação, não conheceram a verdadeira natureza da
alma; de sorte que, até agora não lhes foi possível conciliar numa explicação
comum, os fenômenos físicos e os mentais".
Continua Delanne: "No mundo
inorgânico, tudo é cego, passivo, fatal; jamais se verifica progresso; não há
mais que mudanças de estados, que em nada modificam a natureza íntima da
substância".
AS FRONTEIRAS DA VIDA - Embora sejam
tão evidentes essas diferenças entre os seres brutos e os seres vivos, podem
surgir certas dúvidas. Quantas vezes já foram a nós trazidas estas objeções: e
os cristais, que têm formas próprias, serão vivos? E os vírus?
Realmente, os cristais têm formas
características: as suas moléculas se agregam formando cubos, pirâmides de
bases hexagonais ou octogonais, e assim por diante. Porém aqui a única
semelhança é a forma, mas esta é consequência apenas de leis físicas de
atração, que levam as moléculas do cristal a se agruparem formando figuras
geométricas. Os cristais não têm nenhuma das outras qualidades dos seres vivos:
são formados geralmente de moléculas pequenas; não nascem, nem crescem, nem
morrem, permanecendo indefinidamente, até que um agente externo dissolva as
moléculas no líquido que os abriga. Não reagem aos estímulos externos, não têm
metabolismo e não evoluem.
Os fogos de artifício traçam no céu
desenhos interessantes, de variadas cores e tamanhos. Vamos dizer que têm vida
porque plasmaram figuras?
Quanto aos vírus, o problema já é
mais difícil. Vejamos um resumo do que nos ensina Luc Montagner, um dos maiores
virologistas do mundo, que conseguiu identificar o vírus da AIDS (Vírus e
Homens, Luc Montagner. Tradução de Maria Luiza Borges - Jorge Zahar Editor
-1995). Diz ele: "No fim do século XIX, quando a origem bacteriana das
doenças infecciosas foi reconhecida, o termo vírus ou vírus filtrantes passou a
ser aplicado a agentes transmissíveis, que são invisíveis ao microscópio e
passam através dos filtros de porcelana, que retêm as bactérias. Foi assim que
se demonstrou a origem viral de doenças que afetam plantas, como o mosaico do tabaco,
e outras responsáveis por doenças animais e humanas, como a gripe, a
poliomielite, a varíola etc.. A invenção do microscópio eletrônico permitiu
observá-los diretamente".
Continua Montagner: "Os vírus
são seres vivos? Não exatamente, porque só existem no interior das células de
que são parasitas. O programa genético está inscrito na banda magnética formada
pelo ARN ou pelo ADN. Ele é centenas de milhares de vezes mais curto que aquele
que contém o programa genético da célula. Para poder sobreviver no exterior da
célula, o vírus está encerrado numa casca de proteínas, a qual por vezes está
cercada por um invólucro de lipídios".
Penetrando célula, o vírus começa a
se reproduzir, usando o material da própria célula. Enzimas específicas
produzem milhares de cópias do ADN, cujo mecanismo não citaremos, por
desnecessário. Todas elas são mensagens que dirigem a síntese das proteínas
virais. Formam-se nossos vírus, que saem das células, indo infectar outras.
Estudando esses fatos, os biologistas
e infectologistas ficaram na dúvida se poderiam ou não considerar os vírus como
seres vivos. Primeiro, porque só conseguem viver dentro de células,
reproduzindo-se às custas do material destas. Segundo porque não têm as demais
características dos seres vivos.
A CODIFICAÇÃO E OS NEGOCODIFICADORES
- Kardec, em O Livro dos
Espíritos, livro I, cap. IV, Principio Vital, comentando a questão
71, explica: "Podemos fazer a seguinte distinção: 1º) os seres inanimados,
formados somente de matéria, sem vitalidade, nem inteligência: são os corpos
brutos; 2º) os seres animados não pensantes, formados de matéria e dotados de
vitalidade, mas desprovidos de inteligência; 3º) os seres animados pensantes,
formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo ainda um principio inteligente
que lhes dá a faculdade de pensar".
Na resposta à questão 136-a, os
Espíritos disseram que "a vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas
a alma não pode habitar um corpo sem vida orgânica". Portanto, o principio
espiritual não pode habitar um mineral.
Como introdução ao estudo do
Princípio Vital, a partir da questão 60, Kardec escreve que "os seres
orgânicos são os que trazem em si mesmos uma fonte de atividade íntima, que
lhes da a vida: nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. Compreendem os animais
e as plantas. Os seres inorgânicos são os que não possuem vitalidade nem
movimentos próprios, sendo formados apenas pela agregação da matéria: os
minerais, a água, o ar etc..."
Apesar de Kardec e Delanne ensinarem, de maneira tão peremptória, que o
princípio espiritual não habita o mineral, por este não lhe oferecer as
condições de utilização ou de agitabilidade... ideias orientais, infiltradas no
movimento espírita, vêm lançando a confusão neste terreno.
Dizem, por exemplo, que tudo no Universo
tem vida, desde o átomo até as estrelas; que em tudo há a manifestação divina,
através de um princípio espiritual, que impregna toda a matéria. Não, não e
não. O átomo, a molécula, os minerais, a água, o ar, estão simplesmente
sujeitos às leis físicas, não às leis do Espírito. Não queiramos ver nas leis
de tração, que regem o Universo do átomo às estrelas, qualquer coisa de
espiritual.
Também nas afinidades químicas, como
a que faz os átomos de cloro buscarem uma combinação com os de sódio, formando o
cloreto de sódio, ou sal de cozinha. Nessa combinação não há amor ou afinidade
psíquica, como dizem os sonhadores, mas simplesmente afinidade química.
Mas não são só os orientais, nas suas
meditações nos píncaros do Himalaia, que dizem isto. Infelizmente, pensadores
do mais alto gabarito estão querendo fazer uma simbiose entre ideias desses
religiosos místicos em êxtase com a física quântica. Tais pensadores lembra a
atuação de um "agente estruturador externo ao Universo material, para que
se forme a mais elementar das subpartículas atômicas", dando origem ao
átomo. Por exemplo, diz Carlos de Brito Imbassahy, em A Bioenergia no
Campo do Espírito, item 2.1, que experiências no acelerador do LEP
mostravam "que algo comandava as ações dessas partículas, como se tivessem
uma alma ou espírito próprio, evidentemente distinto do que se considera alma
animal".
Haverá, então, dois dirigentes da
estruturação material, um que agiria nos átomos e outro nos seres vivos? Não, o
assunto já é complexo demais; não vamos complicar mais ainda. Essas são
elucubrações teóricas de mentes cultas e avançadas, mas inteiramente destoantes
dos ensinos da Codificação. Mineral não tem vida, não abriga nenhum princípio
espiritual.
A matéria, como ensina Kardec, é apenas substância usada pelos Espíritos
para sua trajetória no mundo terreno. Não evolui, não tem individualidade ou
personalidade. Não queiramos inovar, em terreno tão escorregadio."
"7o. JORNAL ESPÍRITA, SETEMBRO
DE 1999 - EM DEBATE"
(Site O Portal do Espírito) (grifo nosso).
A posição do Dr. Ary Alex é clara: não, o princípio
inteligente não passa pelo reino mineral, isso trata-se tão somente de "ideias orientais, infiltradas no
movimento espírita".
4.4 - J. Herculano
Pires
Alguns etnólogos e mitólogos, como
André Lang e Max Freedom Long, citados por Ernesto Bozzano, chegaram a aceitar
a possibilidade de traços e características animais em raças humanas. Essas
suposições, de origem evidentemente totêmicas, não passam do plano
especulativo. O homem não se define pela sua aparência corporal, onde as marcas
da animalidade ancestral podem aparecer de maneira generalizada e não
específica. O espírito humano, que é a essência do homem e a única ficha de sua
identidade evolutiva, revela em toda parte e em todos os tempos a sua unidade
espiritual. Essa unidade não provém da forma corporal, mas da consciência. A
diferenciação das espécies, particularmente das superiores, torna-se pregnante
nas suas características psíquicas. A unidade do espírito humano é perfeita e
invariável em todas as raças do passado e do presente. Porque as espécies superiores, tanto nos
reinos mineral, vegetal, animal e humano, revelam sempre a supremacia
espiritual da espécie, que se despe das heranças da ganga das metamorfoses para
se fixar no plano superior da vida. A animalidade humana revela apenas a
deficiência do progresso espiritual e da vitória do espírito no ser em
desenvolvimento. As potencialidades do ser, suficientemente definido no
processo evolutivo como desta ou daquela espécie, sofrem naturalmente atrasos
acidentais, dando aos observadores desprovidos de dados de observações de
pesquisas mais completas a impressão de resíduos das espécies superadas. […]
(PIRES, 2005, p. 43-44) (grifo nosso).
[…] A alma é a subjetividade que se oculta no
corpo, como a orquídea nas ramagens de uma árvore, e ali se entrança com as
fibras vegetais para, servindo-se da seiva como de um combustível sutil, florir
em expressões de sonho e beleza na primavera. Se não conhecêssemos o processo
parasitário, certamente confundiríamos puras parasitas com as flores genésicas
da árvore que se definirão em frutos. Hegel distinguiu o reino vegetal como um
sistema de pura e permanente doação. Herdamos do mineral a estabilidade aparentemente fixa e resistente de
nossas estruturas ósseas, dos vegetais a sensibilidade perceptiva e dos animais
e motilidade vibrante que supera de muito a lenta movimentação dos tropismos.
Nosso corpo possui as características desses três reinos, mais a alma, que
acrescenta a essas heranças a produção epifenomênica da nossa estrutura ôntica,
que não deriva da matéria, mas do espírito. Vivemos como um ser espiritual e
não como pedra, planta ou animal. (PIRES, 2005, p. 56-57) (grifo nosso).
Segundo o que pudemos entender, Herculano Pires
aceita a possibilidade do princípio inteligente, na sua escalada evolutiva, ter
passado pelo reino mineral, embora em uma de suas falas, a da segunda
transcrição, isso parece-nos não ter ocorrido.
Vejamos em Mediunidade: vida e comunicação. Conceituação da mediunidade
e análise geral dos seus problemas atuais, uma outra de suas obras:
Essa colocação dos problemas
mediúnicos sugere um conceito da mediunidade que nos leva às próprias raízes do
Espiritismo. A Mediunidade nos aparece como o fundamento de toda a realidade. O
momento dofiat, da Criação do Cosmos, é um ato mediúnico. Quando o
espírito estrutura a matéria para se manifestar na Criação, constrói o elemento
intermediário entre ele e a realidade sensível ou material. A matéria se torna
o médium do espírito. Assim, a vida é uma permanente manifestação mediúnica do
espírito que, por ela, se projeta e se manifesta no plano sensível ou material.
O Inteligível, que é o espírito, o
princípio inteligente do Universo, dá a sua mensagem inteligente através das
infinitas formas da Natureza, desde os reinos mineral, vegetal e animal, até o
reino hominal, onde a mediunidade se define em sua plenitude. A
responsabilidade do Homem, da Criatura Humana, expressão mais elevada do
Médium, adquire dimensões cósmicas. Ele é o produto multimilenar da evolução
universal e carrega em sua mediunidade individual o pesado dever de contribuir
para que a Humanidade realize o seu destino cósmico. A compreensão deste
problema é indispensável para que os médiuns aprendam a zelar pelas suas
faculdades. (PIRES, 1987, p. 15-16) (grifo nosso).
Cada fase da
evolução, definida num dos reinos da Natureza, caracteriza-se por condições
próprias, como resultantes do desenvolvimento de potencialidades dos reinos
anteriores. Só nas zonas
intermediárias, que marcam a passagem de uma fase para a outra, existe misturas
das características anteriores com as posteriores. Por exemplo: entre o reino
vegetal e o reino animal, há a zona dos vegetais carnívoros; entre o reino
animal e o reino hominal, a zona dos antropóides. No reino mineral, dividido do
vegetal por espécies indefinidas em que se destacam os vegetais-minerais, as
investigações científicas descobriram a geração espontânea dos vírus nas
estruturas cristalinas. A teoria da evolução se confirma na pesquisa científica
por dados evidentes e significativos. Os vírus se situam na encruzilhada dos
reinos mineral, vegetal e animal, como uma espécie de ensaio para os
desenvolvimentos futuros.(PIRES, 1987, p. 94) (grifo nosso).
Mantém-se na sua opinião original de que o
princípio inteligente passa pelo reino mineral.
5. De onde teria
vindo essa ideia?
Não logramos êxito em nossa tentativa visando
precisar a origem dessa ideia; porém, algumas possibilidades temos para apresentar.
5.1 - De culturas
que aceitam a transmigração da alma?:
Vejamos a definição de transmigração dada pelos
enciclopedistas Russell Norman Champlim (1933- ) e João Marques Bentes (1932-
):
TRANSMIGRAÇÃO
Essa palavra vem do latim, trans, "cruzar",
e migrare, "migrar", um termo aplicado às
reencarnações da alma humana. Essa palavra com frequência é empregada como
sinônimo de reencarnação. Algumas vezes, todavia, refere-se a
uma espécie especial de renascimento, em que, supostamente, a alma humana pode
encarnar-se em um corpo animal, e não meramente humano. Outras vezes, esse
vocábulo alude à alegada fornada do homem através de todas as formas de
existência, a começar pelo reino
mineral, avançando para o reino vegetal, então tomando corpo de animais
irracionais, e, finalmente, assumindo forma humana, a partir do que a
alma humana experimentaria existências demoníacas e divinas. (CHAMPLIN e
BENTES, 1985f, p. 608-609) (grifo nosso).
Podemos também confirmar em Bruce Edward Goldberg
(1948- ), que informa que, no oriente, se acreditava como início da evolução
anímica o reino mineral:
A doutrina de transmigração se insere no pensamento cármico oriental. Transmigração
é a passagem da alma humana do reino mineral para os animais inferiores e,
finalmente, para o homem. Muitos filósofos orientais rejeitam esta
doutrina, assim como a maior parte dos seus seguidores ocidentais. Mesmo
aqueles que aceitam a transmigração acham que é impossível voltar à forma do
animal inferior uma vez chegada à forma humana. Pessoalmente não aceito a
transmigração, e em nenhuma das 25.000 regressões e progressões que dirigi
pessoalmente, jamais se revelou qualquer existência não humana. (GOLDBERG,
1993, p. 31) (grifo nosso).
Em certas escolas hindus e budistas da filosofia oriental se menciona a
transmigração. De acordo com estas
crenças orientais, nossa alma primeiro se encarna em minerais, depois em
plantas, então, em animais inferiores e, finalmente, habita a forma humana.
Esta transmigração de minerais à forma humana não é aceita, atualmente, nem
pela maioria dos filósofos orientais. Eu, pessoalmente, não a aceito e nunca
tive provas para sustentar tal teoria. (GOLDBERT, 1993, p. 234) (grifo nosso).
Na tradição Tibetana, encontramos algo bem
parecido:
Um Deus-Átomo dorme em cada pedra. Logo, desperta
em cada planta. Move-se em cada animal; pensa em cada homem e ama em cada anjo.
Por conseguinte, devemos tratar cada pedra como se fora um vegetal. A cada
vegetal com o um animal querido. Cada animal como um ser humano e todo ser
humano como a um anjo. (RUSSO, s/d, p. 112).
E, por último, apresentamos a informação de Zalmino
Zimmermann (?- ) de que
Hermes Trismegisto já ensinava, no antigo Egito, que "a pedra se
converte em planta; a planta em animal; o animal em homem, em Espírito; o
Espírito, em Deus". E o
ensinamento hinduísta, que remonta a milhares de anos, tem sua versão
poética da evolução: "A alma dorme na pedra, sonha na planta, agita-se no
animal e desperta no homem". […] (ZIMMERNANN, 2000, p. 277) (grifo nosso).
5.2 - Da teoria do
pampsiquismo proposta por Geley:
Apresentamos essa teoria do Dr. Gustave Geley (1868-1924),
conforme o prof. Herculano Pires relata:
Gustave Geley, em seu livro Do Inconsciente
ao Consciente, lançou a teoria
do pampsiquismo, segundo a qual todas as coisas e seres encerram em si mesmos
um dínamo-psiquismo inconsciente que se desenvolve na temporalidade. A
psique, ou alma, constituiria assim a essência dinâmica de todas as coisas. Do minério à humanidade se processaria
incessantemente o desenvolvimento psíquico universal. Mas Kardec, muito
antes de Geley, explicara, em O
Livro dos Espíritos, obra básica do Espiritismo, que o espírito se
apresenta no Cosmos como um elemento fundamental de toda a realidade conhecida.
O Universo inteiro se constitui de dois elementos fundamentais, o espírito e a
matéria, de cuja interação resultam, num processo dialético hegeliano, todas as
coisas e todos os seres, conhecidos e desconhecidos. […] (PIRES, 2005, p. 41)
(grifo nosso).
Tentamos encontrar essa obra de Geley, que é citada
no texto; mas, infelizmente, ainda não foi traduzida para o português. Pelo que
aqui consta, Herculano Pires, ao que nos parece, comungava dessa ideia.
Particularmente acreditamos que o pampsiquismo não se coaduna com o pensamento
de Kardec, que foi categórico em afirmar que os corpos inorgânicos não têm
vida.
A definição de pampsiquismo, conforme a Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia,
é:
Essa palavra vem do grego pan, "tudo", e
psuché, "alma". O vocábulo indica que todas as coisas são possuidoras de alma, de algum elemento imaterial,
usualmente incluindo a ideia de algum nível de inteligência. […] De
acordo com esse ponto de vista, não há tal coisa como matéria inanimada, embora
possa haver formas de vidas ativas e altamente inteligentes; mas estaria vivo o
próprio humilde átomo, ainda que dormente. E de átomos é que todas as coisas se
compõem. Alguns estudiosos têm exposto essa ideia como necessária a qualquer
teoria da evolução. Se a matéria é viva, então não é preciso qualquer grande
salto de fé para crer-se que a matéria viva poderia ter progredido até formas
mais elevadas de vida, com altas expressões de inteligência. (CHAMPLIN e
BENTES, 1995, p. 37) (grifo nosso).
Entre vários filósofos, que acreditavam no
pampsiquismo, os autores Russell N. Champlin (1933- ) e J. M. Bentes (1932- )
citam: Giordano Bruno (1548-1600), Tomasso Campenella (1568-1639), Gottfried
Wilhelm Leibniz (1646-1716). Segundo o Dicionário Houaiss, foi Leibniz quem
notabilizou essa doutrina.
Embora, como dito, não tenhamos encontrado a obra
de Gustave Geley, referenciada por Herculano Pires, localizamos uma outra de
sua autoria, que julgamos oportuno citá-la aqui. Trata-se da obra Resumo da Doutrina Espírita, da
qual transcrevemos:
Ciência perfeitamente maleável e
susceptível de aperfeiçoamento, só deve avançar passo a passo, repelindo as
deduções distantes e as observações apressadas e duvidosas, limitando-se a
expor os factos e os pontos bem estabelecidos:
Esses pontos são os seguintes:
1º – No estado atual dos nossos
conhecimentos, não podemos admitir o puro materialismo, nem o puro
espiritualismo, pois tudo nos leva
a crer que não há matéria sem inteligência, nem inteligência sem
matéria. Na molécula mineral, vegetal ou animal; na planta, no animal, no
homem; no espírito desencarnado, mesmo de grande elevação;
no universo, considerado no seu conjunto; numa palavra, em tudo quanto existe,
a matéria e a inteligência estão unidas em proporções diversas.
2º – O Universo, no sentido de
totalidade, uma vez considerado em partes isoladas, está submetido à evolução
progressiva e contínua, tendo em conta que há evolução para o princípio
material e evolução para o princípio psíquico.
Esta dupla evolução é homogênea. Uma
não pode verificar-se sem a outra. Na base da evolução, a Alma é simples
elemento de vida, inteligência que, mercê de tempo, será poderosa. É a chamada força
difusa, que associa e mantém as moléculas minerais em forma definida.
No período maduro da evolução, a alma
é um princípio vivente, consciente e livre, que só conserva da sua
associação com a matéria o mínimo de aspecto orgânico estritamente necessário à
manutenção da sua individualidade.
(GELEY, 2009, p. 32) (grifo nosso).
Vê-se que, para Geley, toda matéria tem
inteligência, confirma-se, portanto, sua crença no pampsiquismo. Não
conseguimos entendê-lo quando diz que "na molécula mineral, vegetal ou
animal" e ao reafirmar já não mais parte do mineral mas do vegetal:
"na planta, no animal, no homem;", assim, nessa segunda afirmativa
deixa de fora o mineral.
5.3 - Da escola
sufista?
Quem nos fornece essa informação é o escritor
Francisco Aranda Gabilan (?- ) na sua obra Entre o Pecado e a Evolução, da qual transcrevemos o seguinte
trecho em que fala de Maulâna Djalal ad-Din Rûmi, nascido no século XIII
(1207):
Quanto ao estilo e escola, era sufista, ou seja,
representa a parte interior e mística do Islã, que acredita que o espírito
humano é uma emanação do divino e que toda a aventura do homem é um só esforço
desse espírito para se reintegrar a Deus. Esse movimento – sufismo – data do
século VIII e se desenvolveu sobretudo na Pérsia; […] (GABILAN, 2002, p. 20).
Gabilan apresenta esse poema de Rûmi, no qual cita
o mineral como ponto de partida da evolução do ser:
Desde que chegaste
ao mundo só ser;
uma escada foi
posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro foste
mineral;
Depois, te tornaste
planta,
E mais tarde,
animal.
Como pode ser isto
segredo para ti?
Finalmente, fostes
feito homem,
Com conhecimento,
razão e fé.
Contempla teu corpo
– um punhado de pó –
Vê quão perfeito se
tornou!
Quando tiveres
cumprido tua jornada,
Decerto hás de
regressar como anjo;
Depois disso, terás
terminado de vez com a terra,
E tua estação há de
ser o céu
(GABILAN, 2002, p.
21)
O problema reside tem tomar uma forma poética de
dizer uma coisa como se fosse uma realidade.
5.4 - Do espírito
Adelino da Fontoura?:
Recorremos mais uma vez a Gabilan, que nos informa
sobre um poema de Adelino na obra Antologia dos Imortais, pela psicografia de Chico Xavier,
intitulado 'Jornada":
Fui átomo, vibrando
entre as forças do Espaço,
Devorando
amplidões, em longa e ansiosa espera...
Partícula,
pousei... Encarcerado, eu era
Infusório do mar em
montões de sargaço.
Por séculos fui
planta em movimento escasso,
Sofri no inverno
rude e amei na primavera;
Depois fui animal,
e no instinto da fera
Achei a
inteligência e avancei passo a passo...
Guardei por muito
tempo a experssão dos gorilas,
Pondo mais fé nas
mãos e mais luz nas pupilas,
A lutar e chorar,
para, então, compreendê-las!...
Agora, homem que
sou, pelo Foro Divino,
Vivo de corpo em
corpo a forjar destino
Que me leve a
transportar o clarão das estrelas!...
(GABILAN, 2002, p.
22)
Vale a mesma consideração do item anterior, pois,
aqui também trata-se de um poema.
5.5 - Da "Revelação
da Revelação" de Jean-Baptiste Roustaing (1805-1879):
A vida universal está assim, por toda
a natureza, em germens eternos, graças a essa quinta-essência dos universal
fluidos, que somente a vontade de Deus anima, conformemente as necessidades da
harmonia universal, as necessidades de todos os mundos, de todos os remos, de
todas as criaturas no estado material ou no estado fluídico.
Ao serem formados os mundos
primitivos, na sua composição entram todos os princípios, de ordem espiritual,
material e fluídica, constitutivos dos diversos reinos que os séculos terão de
elaborar.
O princípio inteligente se desenvolve ao mesmo tempo que a matéria e com
ela progride, passando da inércia a vida. Deus preside ao começo de todas as coisas, acompanha paternalmente as
fases de cada progresso e atrai a si tudo o que haja atingido a perfeição.
Essa multidão de princípios latentes
aguarda, no estado cataléptico, em o meio e sob a influência dos ambientes
destinados a fazê-los desabrochar, que o Soberano Mestre lhes dê destino e os
aproprie ao fim a que devam servir, segundo as leis naturais, imutáveis e
eternas por ele mesmo estabelecidas.
Tais princípios sofrem passivamente,
através das eternidades e sob a vigilância dos Espíritos prepostos, as
transformações que os hão de desenvolver, passando sucessivamente pelos reinos mineral, vegetal e animal e pelas
formas e espécies intermediárias que se sucedem entre cada dois desses reinos.
Chegam dessa maneira, numa progressão
contínua, ao período preparatório do estado de Espírito formado, isto é, ao
estado intermédio da encarnação animal e do estado espiritual consciente.
Depois, vencido esse período preparatório, chegam ao estado de criaturas
possuidoras do livre arbítrio, com inteligência capaz de raciocínio,
independentes e responsáveis pelos seus atos. Galgam assim o fastígio da
inteligência, da ciência e da grandeza.
Em sua origem, a essência espiritual, princípio de inteligência,
Espírito em formação, passa primeiro pelo reino mineral. Anima o mineral, se deste modo
nos podemos exprimir, servindo-nos dos únicos recursos que oferece a linguagem
humana apropriada às vossas inteligências limitadas. Tudo, com efeito, na Natureza, tem
existência, porquanto tudo morre. Ora, aquilo que morre traz em si o
princípio de vida, sendo consequentemente animado por uma inteligência relativa.
Esta palavra - inteligência - pode causar surpresa, tratando-se da vida
de uma coisa inerte. Certamente, em
tal caso, não há nem pensamento, nem ação. A essência espiritual, nesse estado,
se mantém inconsciente de seu ser. Ela é, eis tudo.
No estado então de simples essência
de vida, absolutamente inconsciente de seu ser, ela constrói o mineral, a
pedra, o minério, atraindo e reunindo os elementos dos fluidos apropriados, por
meio de uma ação magnética atraente, dirigida e fiscalizada pelos Espíritos
prepostos.
Quanto mais inconsciente é o Espírito
no estado de formação, tanto mais direta e incessante é a ação desses
Espíritos.
Guardai bem na memória, pois que o
dizemos aqui para não mais o repetirmos: em qualquer dos reinos, mineral,
vegetal, animal e humano, nada é sem o concurso dos Espíritos do Senhor, que
todos têm uma função a desempenhar, uma vigilância a exercer. Não há Espíritos
prepostos à formação de um determinado mineral, de um determinado vegetal,
de um determinado ser do reino animal, ou do reino humano. Os
Espíritos têm uma ação geral e conforme às leis naturais e imutáveis, que ainda
não vos é permitido nem possível compreender. A vigilância eles a exercem sobre
as massas.
O mineral morre quando é arrancado do meio em que o colocara o autor da
natureza. A pedra tirada da pedreira, o minério extraído da mina, deixando de
existir, do mesmo modo que a planta separada do solo, perdem a vida natural.
A essência espiritual, que residia nas paredes do mineral, retira-se daí
por uma ação magnética, dirigida e fiscalizada pelos Espíritos prepostos, e é
transportada para outro ponto.
O corpo do mineral, seus despojos,
são utilizados pela humanidade, de acordo com o que suas necessidades lhe
impõem.
Não vos admireis de que a coesão
subsista no mineral, por séculos muitas vezes, depois que dele se retirou a
essência espiritual que foi necessária à sua formação.
Cada espécie de matéria tem suas
propriedades relativas, segundo leis naturais e imutáveis que
ainda não podeis compreender.
O corpo humano, em certas condições,
não conserva coesas todas as suas partes materiais, embora o Espírito já se
tenha retirado dele?
Não se observam, entre os vegetais,
casos de longa duração material? Certas plantas não conservam as aparências da
vida, a frescura dos tons e a rijeza da haste, muito tempo depois de separadas
do solo que as alimentava e, por conseguinte, do princípio latente da
inteligência que nelas residia?
Tudo na Natureza se mantém e se encadeia e tudo se faz em proveito e utilidade do Espírito
que se tornou consciente de seu ser.
Os corpos mortos, sejam pedra,
planta, ser do reino animal ou do reino humano, têm que concorrer para a
harmonia universal, desempenhando as funções que lhes são assinadas.
A essência espiritual, que no mineral reside, não é uma
individualidade, não se assemelha ao pólipo que, por cissiparidade, se
multiplica ao infinito. Ela forma
um conjunto que se personifica, que se divide, quando há divisão na massa em
consequência da extração, e atinge desse modo a individualidade, como
sucede com o princípio que anima o pólipo, com o princípio que anima certas
plantas. A essência espiritual sofre, no reino mineral, sucessivas
materializações, necessárias a prepará-la para passar pelas
formas intermédias, que participam do mineral e do vegetal. Dizemos - materializações, por
não podermos dizer - encarnações para estrear-se como ser.
Depois de haver passado por essas
formas e espécies intermediárias, que se ligam entre si numa progressão
contínua, e de se haver, sob a influência da dupla ação magnética que operou a
vida e a morte nas fases de existências já percorridas, preparado para sofrer
no vegetal a prova, que a espera, da sensação, a
essência espiritual, Espírito em estado de formação, passa ao reino vegetal.
É um desenvolvimento, mas ainda sem
que o ser tenha consciência de si. A existência material é então mais
curta, porém mais progressiva. Não há nem consciência, nem sofrimento. Há
sensação.
Assim, a árvore da qual se retira um
galho experimenta uma espécie do eco da seção feita, mas não sofrimento. E como
que uma repercussão que vai de um ponto a outro, sucedendo o mesmo quando a
planta é violentamente arrancada do solo, antes de completado o tempo da
maturidade.
Repetimos: há sensação, não
há consciência nem sofrimento. E um abalo magnético o
que a árvore experimenta, abalo que prepara o
Espírito em estado de formação para o desenvolvimento do seu ser.
Morto o vegetal, a essência
espiritual é transportada para outro ponto e, depois de haver passado, sempre
em marcha progressiva, pelas necessárias e sucessivas materializações, percorre
as formas e espécies intermediárias, que participam do vegetal e
do animal. Só então, nestas últimas fases de existência, que
são as em que aquela essência começa a ter a impressão de um ato
exterior, ainda que sem consciência de sua causa e de seus
efeitos, há sensação de sofrimento.
Sob a direção e a vigilância dos
Espíritos prepostos, o Espírito em formação efetua assim, sempre numa
progressão contínua, o seu desenvolvimento com relação à matéria que o envolve
e chega a adquirir a consciência de ser.
Preparado para a vida ativa,
exterior, para a vida de relação, passa ele ao reino animal.
Torna-se então princípio inteligente
de uma inteligência relativa, a que chamais – instinto; de
uma inteligência relativa às necessidades físicas, à
conservação, a tudo o que a vida material exige, dispondo de vontade e de
faculdades, mas limitadas àquelas necessidades, àquela
conservação, à vida material, à função que lhe é atribuída, à utilidade que
deve ter, ao fim a que é destinado em a natureza, sob os pontos de vista da
conservação, da reprodução e da destruição, na medida em que haja de concorrer
para a vida e para a harmonia universais.
Sempre em estado de formação, pois
que não possui ainda livre arbítrio, inteligência independente capaz de
raciocínio, consciência de suas faculdades e de seus atos, o Espírito, sem sair
do reino animal, seguindo sempre uma marcha progressiva contínua e de acordo
com os progressos realizados e com a necessidade dos progressos a realizar,
passa por todas as fases de existência; sucessivas e necessárias ao seu
desenvolvimento e por meio das quais chega às formas e espécies intermediárias,
que participam do animal e do homem. Passa depois por essas espécies
intermediárias, que, pouco a pouco, insensivelmente, o aproximam cada vez mais
do reino humano, porquanto, se é certo que o Espírito sustenta a matéria, não
menos certo é que a matéria lhe auxilia o desenvolvimento.
Depois de haver passado por todas as
transfigurações da matéria, por todas as fases de desenvolvimento para atingir
um certo grau de inteligência, o Espírito chega ao ponto de preparação para o
estado espiritual consciente, chega a esse momento que os vossos sábios, tão
pouco sabedores dos mistérios da natureza, não logram definir, momento em que cessa
o instinto e começa o pensamento.
Quando se vos falou do Espírito no
estado de infância, no estado, por conseguinte, de ignorância e de inocência;
quando se vos disse que o Espírito era criado simples e ignorante, tratava-se,
está bem visto, da fase de preparação do Espírito para entrar na humanidade.
Fora inconsequente, então, dar esclarecimentos sobre a origem
do Espírito. Notai que ela foi deixada na obscuridade. Ainda hoje seria cedo
para desenvolver esse ponto. Utilizai-vos, porém, do que vos dizemos,
porquanto, ao tempo em que este vosso trabalho aparecer aos olhos de
todos, os Espíritos encarnados já se acharão mais dispostos a receber o
que então, e mesmo hoje(13), tomariam por uma monstruosidade, ou por
uma tolice ridícula.
Atingindo o ponto de preparação para
entrarem no reino humano, os Espíritos se preparam, de fato, em mundos ad-hoc, para
a vida espiritual consciente, independente e livre. É nesse momento que entram
naquele estado de inocência e de ignorância. A vontade do soberano Senhor lhes
dá a consciência de suas inocência e faculdades e, por conseguinte, de seus
atos, consciência que produz o livre arbítrio, a vida moral, a inteligência
independente e capaz de raciocínio, a responsabilidade.
Chegado deste modo à condição de
Espírito formado, de Espírito pronto para ser humanizado se
vier a falir, o Espírito se encontra num estado de inocência
completa, tendo abandonado, com os seus últimos invólucros animais, os
instintos oriundos das exigências da animalidade.
A estátua acabou de receber as
formas. Sob a direção e a vigilância dos Espíritos prepostos, o Espírito
formado se cobre dos fluidos que lhe comporão o invólucro a que chamais - perispírito, corpo
fluídico que se torna, para ele, o instrumento e o meio ou de realizar um
progresso constante e firme, desde o ponto de partida daquele estado até que
haja atingido a perfeição moral, que o põe ao abrigo de todas as quedas; ou de
cair, caso em que o perispírito lhe será também instrumento de progresso, de reerguimento,
mediante encarnações e reencarnações sucessivas, expiatórias a princípio e por
fim gloriosas, até que atinja aquela perfeição moral.
____
13. Mês de abril de 1863.
(ROUSTAING, 1984, p. 292-305) (grifo
nosso).
Observai como tudo se encadeia na imensa Natureza que
o Senhor vos faz descortinar. Observai
como em todos os reinos há espécies intermediárias, que ligam entre si todas as
espécies, umas participando do mineral e do vegetal, da pedra e da planta;
outras do vegetal e do animal, da planta e do animal; outras, enfim, do animal
e do homem. São elos preciosos que tudo ligam, que tudo mantêm e pelos
quais atravessa o Espírito no estado de formação. Passando sucessivamente por
todos os reinos e por aquelas espécies intermediárias, o Espírito, mediante um
desenvolvimento gradual e contínuo, ascende da condição de essência espiritual
originária à de Espírito formado, à vida consciente, livre e responsável, à
condição de homem. São elos preciosos que tudo ligam, que prendem as coisas
umas às outras, a fim de que o homem possa mais facilmente compreender a
unidade dessa criação tão grande, tão grande, que a inteligência
humana é incapaz de apreendê-la e cujos mistérios se recusa a admitir, por não
conseguir desvendá-los com seus olhos de toupeira. (ROUSTAING, 1984, p.
319-320) (grifo nosso).
Um único é, originariamente, o ponto
de partida para todos os Espíritos: - formação primitiva e rudimentar pela
quinta-essência dos fluidos, substância tão sutil que dela, por nenhuma
expressão, podem as vossas inteligências limitadas fazer ideia, quinta-essência
que a vontade de Deus anima para lhe dar o ser e que constitui
a essência espiritual (principio de inteligência) destinada a tornar-se, por
uma progressão continua, Espírito, Espírito formado, isto é, inteligência
independente, dotada de livre arbítrio, consciente de sua vontade, de suas
faculdades e de seus atos.
Segue-se a encarnação, ou melhor, a co-materialização dessa essência
espiritual mediante a sua união íntima com a matéria inerte, primeiramente no
reino mineral e nas espécies intermediárias que participam do mineral e do
vegetal, depois no reino vegetal e nas espécies intermediárias
que participam do vegetal e do animal. Desse modo, numa contínua marcha progressiva, se
opera o seu desenvolvimento, que a prepara e conduz às raias da consciência da
vida.
Em seguida vem a encarnação no reino animal, depois nas
espécies intermediárias que, do ponto de vista do invólucro material, participam
do animal e do homem, adquirindo assim aquela essência (Espírito em estado de
formação), sempre em progressão contínua, a consciência da vida ativa exterior,
da vida de relação. O desenvolvimento intelectual que a levará aos limites do
período preparatório que precede o recebimento do livre arbítrio, da vida
moral, independente e responsável, característica do livre pensador.
(ROUSTAING, 1984, p. 355-356) (grifo nosso).
Colocamos essas transcrições da obra de Roustanig,
porque as encontramos em nossa pesquisa; porém, pedimos ao leitor que, para
aceitá-las ou não, leve em conta as considerações que Kardec fez na Revista Espírita 1866 (p.
190-192), das quais transcrevemos o seguinte trecho:
O autor dessa nova obra acreditou dever seguir um
outro caminho; em lugar de proceder por graduação, quis alcançar o objetivo de
um golpe. Tratou, por certas questões que não julgamos oportuno abordar ainda,
e das quais, consequentemente lhe deixamos a responsabilidade, assim como aos
Espíritos que os comentaram. Consequente com o nosso princípio, que consiste em
regular a nossa caminhada sobre o desenvolvimento da opinião, não daremos, até nova ordem, às suas
teorias, nem aprovação, nem desaprovação, deixando ao tempo o cuidado de
sancioná-las ou de contradizê-las. Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais aos
Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e
que, em todos os casos, têm
necessidade da sanção do controle universal, e até mais ampla
confirmação não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina
Espírita. (KARDEC, 1993i, p. 190-191) (grifo nosso).
De nossa parte ainda questionamos o subtítulo "Revelação
das Revelações", que segundo Roustaing, é "os quatro evangelhos,
explicados em espírito e verdade pelos Evangelistas com a assistência dos
Apóstolos e de Moisés", como sendo uma dele dizer que sua obra está acima
da revelação Espírita, o que nos afigura pouco provável, porquanto, não há
lógica alguma os Espíritos passarem duas revelações simultâneas, com uma
sobrepujando a outra. Por que motivo então, não passaram já a segunda? Será que
o "João Evangelista" que aparece entre as assinaturas em O Livro dos Espíritos (KARDEC,
2007a, p. 63) e em duas mensagens, uma em O Evangelho Segundo o Espiritismo (KARDEC, 2007c, p. 167)
e a outra em A Gênese (KARDEC,2007b,
p. 392) é o mesmo que assistiu a Roustaing? Além dessas manifestações
encontramos naRevista Espírita 1861,
o registro da ata da sessão geral de 14 de dezembro de 1860, da Sociedade
Espírita de Paris, na qual se tem notícia de que "A Senhorita J... teve
várias comunicações de João Evangelista" (KARDEC, 1993f, p. 5). Será que o
espírito João Evangelista estava sofrendo de transtorno psicótico, se for o
mesmo que se manifestou nas duas revelações?
5.6 - Da coleção
André Luiz (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier (1910-2002):
Vários autores citam do livro No Mundo Maior e do Evolução em Dois Mundos, da
série André Luiz, respectivamente, os seguintes trechos: "A
crisálida de consciência, que reside no cristal a rolar na corrente do rio, aí
se acha em processo, libertatório;..." (XAVIER, 1984, p. 45) e "Das
cristalizações atômicas e dos minerais, dos vírus e do protoplasma, das
bactérias e das amebas, das algas e dos vegetais [...], o princípio espiritual
atingiu espongiários e celenterados da era paleozoica, esboçando a estrutura
esquelética". (XAVIER, 1987, p. 33).
Vale a pena ver, nessas duas obras, os textos
mencionados:
1) No
mundo maior
Interrompi o estudo comparativo,
depois de acurada perquirição, e fixei Calderaro em silenciosa interrogativa.
O prestimoso mentor argumentou,
sorridente:
– Depois da morte física, o que há de
mais surpreendente para nós é o reencontro da vida. Aqui aprendemos que o
organismo perispirítico que nos condiciona em matéria mais leve e mais
plástica, após o sepulcro, é fruto igualmente do processo evolutivo. Não somos
criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos
filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em
experiência, de milênio a milênio. Não há favoritismo no Templo Universal do
Eterno, e todas as forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito. A crisálida de consciência, que reside no
cristal a rolar na corrente do rio, aí se acha em processo liberatório;
as árvores que por vezes se aprumam centenas de anos, a suportar os golpes do
Inverno e acalentadas pelas carícias da Primavera, estão conquistando a
memória; a fêmea do tigre, lambendo os filhinhos recém-natos, aprende
rudimentos do amor; o símio, guinchando, organiza a faculdade da palavra. Em
verdade, Deus criou o mundo, mas nós nos conservamos ainda longe da obra
completa. Os seres que habitam o Universo ressumbrarão suor por muito tempo, a
aprimorá-lo. Assim também a individualidade. Somos criação do Autor Divino, e
devemos aperfeiçoar-nos integralmente. O Eterno Pai estabeleceu como lei
universal que seja a perfeição obra de cooperativismo entre Ele e nós, os seus
filhos.
O mentor silenciou por instantes, sem
que me acudisse ânimo suficiente para trazer qualquer comentário aos seus
elevados conceitos.
Logo após, indicou-me a medula
espinhal e continuou:
– Creio ociosa qualquer alusão aos trabalhos
primordiais do nosso longo drama de vida evolutiva. Desde a ameba, na tépida água do mar, até o
homem, vimos lutando, aprendendo e selecionando invariavelmente. Para adquirir
movimento e músculos, faculdades e raciocínios, experimentamos a vida e por ela
fomos experimentados, milhares de anos. As páginas da sabedoria
hinduísta são escritos de ontem, e a Boa-Nova de Jesus-Cristo é matéria de
hoje, comparadas aos milênios vividos por nós, na jornada progressiva. (XAVIER,
1984, p. 45-46) (grifo nosso).
Como é que um cristal, que rola no leito de um rio,
"morre" para que a crisálida, que possivelmente esteja nele, passe
para o estágio evolutivo seguinte? Quando nós usamos esses cristais,
incrustando-os nas paredes de nossas casas, a crisálida ficaria ali presa
indefinidamente? Devemos proteger os cristais como estamos procurando fazer em
relação aos seres vivos dos outros reinos da natureza? Esses são alguns
quesitos que poderíamos fazer ao nobre assistente de André Luiz.
Interrompeu-se o Assistente por
alguns segundos, como a dar-me tempo para refletir.
Em seguida, continuou,
atencioso:
– Na verdade, não há nisso
mistério algum. Voltemos aos ascendentes
em evolução, O princípio espiritual acolheu-se no seio tépido das águas,
através dos organismos celulares, que se mantinham e se multiplicavam por
cissiparidade. Em milhares de anos, fez
longa viagem na esponja, passando a dominar células autônomas, impondo-lhes o
espírito de obediência e de coletividade, na organização primordial dos
músculos. Experimentou longo tempo, antes de ensaiar os alicerces do aparelho
nervoso, na medusa, no verme, no batráquio, arrastando-se para emergir do fundo
escuro e lodoso das águas, de modo a encetar as experiências primeiras, ao sol
meridiano. Quantos séculos consumiu, revestindo formas monstruosas,
aprimorando-se, aqui e ali, ajudado pela interferência indireta das
Inteligências superiores? Impossível responder, por enquanto. Sugou o seio
farto da Terra, evolucionando sem parar, através de milênios, até conquistar a
região mais alta, onde conseguiu elaborar o próprio alimento.
Calderaro fixou em mim
significativo olhar e perguntou:
– Compreendeste suficientemente?
Ante o assombro das ideias novas
que me fustigavam a imaginação, impedindo-me o minucioso exame do assunto, o
esclarecido companheiro sorriu e continuou:
– Por mais esforços que envidemos por simplificar a
exposição deste delicado tema, o retrospecto que a respeito fazemos sempre
causa perplexidade. Quero dizer, André, que o
princípio espiritual, desde o obscuro momento da criação, caminha sem detença
para frente. Afastou-se do leito oceânico,
atingiu a superfície das águas protetoras, moveu-se em direção à lama das
margens, debateu-se no charco, chegou à terra firme, experimentou na floresta
copioso material de formas representativas, ergueu-se do solo, contemplou os
céus e, depois de longos milênios, durante os quais aprendeu a procriar,
alimentar-se, escolher, lembrar e sentir, conquistou a inteligência. Viajou do simples impulso
para a irritabilidade, da
irritabilidade para a sensação, da sensação para o instinto, do instinto para a
razão. Nessa penosa romagem, inúmeros milênios decorreram sobre nós. Estamos,
em todas as épocas, abandonando esferas inferiores, a fim de escalar as
superiores. O cérebro é o órgão sagrado de manifestação da mente, em trânsito
da animalidade primitiva para a espiritualidade humana. (XAVIER, 1984, p. 57-59)
(grifo nosso).
Nesse trecho da obra, ficamos com a impressão de
que o assistente de André Luiz já não mais fala nada do reino mineral; porém,
que progredia através de organismos celulares, que, como se sabe, fazem parte
dos seres vivos.
2) Evolução
em dois mundos
A imensa fornalha atômica estava
habilitada a receber as sementes da vida e, sob o impulso dos Gênios
Construtores, que operavam no orbe nascituro, vemos o seio da Terra recoberto
de mares mornos, invadido por gigantesca massa viscosa a espraiar-se no colo da
paisagem primitiva.
Dessa geleia cósmica, verte o princípio inteligente, em suas primeiras manifestações...
Trabalhadas, no transcurso de
milênios, pelos operários espirituais que lhes magnetizam os valores,
permutando-os entre si, sob a ação do calor interno e do frio exterior, as mônadas celestes exprimem-se no mundo
através da rede filamentosa do protoplasma de que se lhes derivaria a
existência organizada no Globo constituído.
Séculos de atividade silenciosa
perpassam, sucessivos...
NASCIMENTO DO REINO VEGETAL —
Aparecem os vírus e, com eles, surge o campo primacial da existência, formado
por nucleoproteínas e globulinas, oferecendo
clima adequado aos princípios inteligentes ou mônadas fundamentais, que
se destacam da substância viva, por centros microscópicos de força positiva,
estimulando a divisão cariocinética.
Evidenciam-se, desde então, as
bactérias rudimentares, cujas espécies se perderam nos alicerces profundos da
evolução, lavrando os minerais na construção do solo, dividindo-se por raças e
grupos numerosos, plasmando, pela reprodução assexuada, as células primevas,
que se responsabilizariam pelas eclosões do reino vegetal em seu início.
Milênios e milênios chegam e
passam...
FORMAÇÃO DAS ALGAS — Sustentado pelos
recursos da vida que na bactéria e na célula se constituem do líquido
protoplásmico, o princípio inteligente nutre-se agora na clorofila, que revela
um átomo de magnésio em cada molécula, precedendo a constituição do sangue de
que se alimentará no reino animal.
O tempo age sem pressa, em vagarosa movimentação no berço da Humanidade,
e aparecem as algas nadadoras, quase invisíveis, com as suas caudas flexuosas,
circulando no corpo das águas, vestidas em membranas celulósicas, e mantendo-se
à custa de resíduos minerais, dotadas de extrema motilidade e sensibilidade,
como formas monocelulares em que a mônada já evoluída se ergue a estágio
superior.
Todavia, são plantas ainda e que até hoje persistem na Terra, como filtros de
evolução primária dos princípios inteligentes em constante expansão, mas
plantas superevolvidas nos domínios da sensação e do instinto embrionário,
guardando o magnésio da clorofila como atestado da espécie.
Sucedendo-as, por ordem, emergem as
algas verdes de feição pluricelular, com novo núcleo a salientar-se,
inaugurando a reprodução sexuada e estabelecendo vigorosos embates nos quais a
morte comparece, na esfera de luta, provocando metamorfoses contínuas, que
perdurarão, no decurso das eras, em dinamismo profundo, mantendo a edificação
das formas do porvir.
DOS ARTRÓPODOS AOS DROMATÉRIOS E
ANFÍTRIOS — Mais tarde, assinalamos
o ingresso da mônada, a que nos referimos, nos domínios dos artrópodos, de
exosqueleto quitinoso, cujo sangue diferenciado acusa um átomo de cobre
em sua estrutura molecular, para, em seguida, surpreendê-la, guindada à condição de crisálida da consciência,
no reino dos animais superiores, em cujo sangue — condensação das forças
que alimentam o veículo da inteligência no império da alma — detém a
hemoglobina por pigmento básico, demonstrando o parentesco inalienável das
individuações do espírito, nas mutações da forma que atende ao progresso
incessante da Criação Divina.
Das cristalizações atômicas e dos minerais, dos vírus e do protoplasma, das bactérias e das
amebas, das algas e dos vegetais do período pré-câmbrico aos fetos e às
licopodiáceas, aos trilobites e cistídeos aos cefalópodes, foraminíferos e
radiolários dos terrenos silurianos, o princípio espiritual atingiu espongiários e celenterados da era
paleozoica, esboçando a estrutura esquelética.
Avançando pelos equinodermos e
crustáceos, entre os quais ensaiou, durante milênios, o sistema vascular e o
sistema nervoso, caminhou na direção dos ganóides e teleósteos, arquegossauros
e labirintodontes para culminar nos grandes lacertinos e nas aves estranhas,
descendentes dos pterossáurios, no jurássico superior, chegando à época
supracretácea para entrar na classe dos primeiros mamíferos, procedentes dos
répteis teromorfos.
Viajando sempre, adquire entre os
dromatérios e anfitérios os rudimentos das reações psicológicas superiores,
incorporando as conquistas do instinto e da inteligência. (XAVIER, 1987, p.
31-34) (grifo nosso).
AUTOMATISMO E HERANÇA — Assim como na
coletividade humana o indivíduo trabalha para a comunidade a que pertence,
entregando-lhe o produto das próprias aquisições, e a sociedade opera em favor
do indivíduo que a compõe, protegendo-lhe a existência, no impositivo do
aperfeiçoamento constante, nos reinos menores o ser inferior serve à espécie a
que se ajusta, confiando-lhe, maquinalmente, o fruto das próprias conquistas, e
a espécie labora em benefício dele, amparando-o com todos os valores por ela
assimilados, a fim de que a ascensão da vida não sofra qualquer solução de
continuidade.
Se, no círculo humano, a inteligência
é seguida pela razão e a razão pela responsabilidade, nas linhas da
Civilização, sob os signos da cultura, observamos que, na retaguarda do
transformismo, o reflexo precede o instinto, tanto quanto o instinto precede a
atividade refletida, que é base da inteligência nos depósitos do conhecimento
adquirido por recapitulação e transmissão incessantes, nos milhares de milênios em que o princípio
espiritual atravessa lentamente os círculos elementares da Natureza, qual vaso
vivo, de forma em forma, até configurar-se no indivíduo humano, em trânsito
para a maturação sublimada no campo angélico.
Desse modo, em qualquer estudo acerca
do corpo espiritual, não podemos esquecer a função preponderante do automatismo
e da herança na formação da individualidade responsável, para compreendermos a
inexequibilidade de qualquer separação entre a Fisiologia e a Psicologia, porquanto ao longo da atração no mineral, da
sensação no vegetal e do instinto no animal, vemos a crisálida de consciência
construindo as suas faculdades de organização, sensibilidade e inteligência,
transformando, gradativamente, toda a atividade nervosa em vida psíquica.
(XAVIER, 1987, p. 38-39) (grifo nosso).
GENEALOGIA DO ESPÍRITO – [...]
Em verdade, porém, para não cairmos
nas recapitulações incessantes, em torno de apreciações e conclusões que a
ciência do mundo tem repetido à saciedade, acrescentaremos simplesmente que as
leis da reprodução animal, orientadas pelos Instrutores Divinos, desde o casulo
ferruginoso do leptótrix, através da retração e expansão da energia nas
ocorrências do nascimento e morte da forma, recapitulam ainda hoje, na
organização de qualquer veículo humano, na fase embriogênica, a evolução
tilogenética de todo o reino animal, demonstrando que além da ciência que
estuda a gênese das formas, há também uma genealogia do espírito.
Com a Supervisão Celeste, o princípio inteligente gastou, desde os
vírus e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou menos
quinze milhões de séculos, a fim de que pudesse, como ser pensante,
embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de
pensamento contínuo para os Espaços Cósmicos. (XAVIER, 1987, p. 52-53) (grifo
nosso).
Muito técnicas essas considerações de André Luiz,
que não nos permite, por falta de conhecimento, delinear o seu pensamento com
segurança, pois, em princípio, pareceu-nos que aponta o reino mineral como
sendo o início da evolução da mônada; entretanto, pelo último parágrafo, tem-se
a impressão de que, para ele, o ponto inicial já não é mais o reino mineral. E
para complicar mais ainda, vemos duas outras falas nas quais essa visão
parece-nos existir:
É assim que o tato nasceu no princípio inteligente, na
sua passagem pelas células nucleares em seus impulsos amebóides; que a
visão principiou pela sensibilidade do plasma nos flagelados monocelulares
expostos ao clarão solar; que o olfato começou nos animais aquáticos de
expressão mais simples, por excitações do ambiente em que evolviam; que o gosto
surgiu nas plantas, muitas delas armadas de pelos viscosos destilando sucos
digestivos, e que as primeiras sensações do sexo apareceram com algas marinhas
providas não só de células masculinas e femininas que nadam, atraídas uma para
as outras, mas também de um esboço de epiderme sensível, que podemos definir
como região secundária de simpatias genésicas. (XAVIER, 1987, p. 40-41) (grifo
nosso).
[…] Com a Supervisão Celeste, o princípio
inteligente gastou, desde os vírus
e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou
menos quinze milhões de séculos, a fim de que pudesse, como ser pensante,
embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de
pensamento contínuo para os Espaços Cósmicos. (XAVIER, 1987, p. 53) (grifo
nosso).
A referência às células nucleares, vírus e
bactérias, nos remete à ideia de que se fala de seres vivos, se for esse o
caso, então os seres inorgânicos estariam de fora, via de consequências os
minerais, que são classificados como tais.
Com relação ao tato vejamos o que consta em A caminho da Luz, ditado pelo
Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, que discorrendo sobre os
primeiros habitantes da Terra, afirma:
Dizíamos que uma camada de matéria
gelatinosa envolvera o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa
matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de todas as
organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida,
cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava
origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos
seres vivos.
Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células
albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e
livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos.
Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem
ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao entretenimento da
vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em proporções de manter a
existência animal, antes das grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu
origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos
superiores. (A caminho da luz, p. 26-27) (grifo nosso).
A impressão que nos fica é que para Emmanuel a
origem do processo se incia em seres primordiais, que, certamente, estão entre
os orgânicos.
3) Missionários
da Luz
– Não se esqueça, André, de que a reencarnação
significa recomeço nos processos de evolução ou de retificação. Lembre-se de
que os organismos mais perfeitos
da nossa Casa Planetária procedem inicialmente da ameba. Ora, recomeço
significa "recapitulação" ou "volta ao princípio". Por isso mesmo, em seu
desenvolvimento embrionário, o
futuro corpo de um homem não pode ser distinto da formação do réptil ou do
pássaro. O que opera a diferenciação da forma é o valor evolutivo,
contido no molde perispirítico do ser que toma os fluidos da carne. Assim,
pois, ao regressar à esfera mais densa, como acontece a Segismundo, é
indispensável recapitular todas as experiências vividas no longo drama de nosso
aperfeiçoamento, ainda que seja por dias e horas breves, repetindo em curso
rápido as etapas vencidas ou lições adquiridas, estacionando na posição em que
devemos prosseguir no aprendizado. Logo
depois da forma microscópica da ameba, surgirão no processo fetal de Segismundo
os sinais da era aquática de nossa evolução e, assim por diante, todos os
períodos de transição ou estações de progresso que a criatura já
transpôs na jornada incessante do aperfeiçoamento, dentro da qual nos
encontramos, agora, na condição de humanidade. (XAVIER, 1986, p. 234) (grifo
nosso).
Dessa fala do instrutor Alexandre a André Luiz de
que os organismos mais perfeitos procedem inicialmente da ameba, não vimos
outra coisa senão que o processo evolutivo do corpo tenha se iniciado na ameba,
um ser unicelular, que não se trata de um mineral.
5.7 - De Joanna de
Ângelis (espírito):
O que se segue transcrevemos do livro Conflitos Existenciais, capítulo
10 – Violência, ditado por Joana de Ângelis, pela psicografia de Divaldo P.
Franco:
No processo antropossociopisicológico
da evolução, o princípio espiritual adquire experiências, emoções e
conhecimento através do trânsito pelos diferentes reinos da Natureza, nos quais
desabrocham os recursos divinos que se lhe encontram em germe.
Dormindo no mineral, lentamente exteriorizam-se-lhe as energias de
aglutinação molecular, ampliando as possibilidades no despertar do vegetal, quando cresce em recursos de
sensibilidade, a fim de liberar os instintos no trânsito animal, desabrochando as faculdades da
inteligência, da razão, da consciência na fase humana, e avançando para a conquista da intuição que se dá no
período angélico. (FRANCO, 2005, p. 115) (grifo nosso).
Mais à frente encontramos, nessa mesma obra:
É necessário que haja a morte orgânica, a fim de
que ocorram alterações, aperfeiçoamentos. Tem sido por meio do processo nascer, viver, morrer, que as formas
aprimoram-se através dos milhões de anos, em sucessivas
experiências, agasalhando o princípio espiritual que as vem modelando, na busca
de melhor estrutura e mais perfeita harmonia. (FRANCO, 2005, p. 229) (grifo
nosso).
Exatamente, o argumento que utilizamos para
"resistir" que o princípio inteligente tenha passado pelo reino
mineral. Diante disso, s.m.j., achamos que ao falar que o "processo
nascer, viver, morrer, que as formas aprimoram-se" Joanna entra em
conflito com o que ela mesmo disse sobre o princípio inteligente dormir no
mineral.
6. Conclusão
Pelo que se pode ver, não há ainda, no meio
Espírita, uma posição nítida em relação ao assunto. Entretanto, levando-se em
conta as opiniões do Codificador, que mais ressalta o ponto inicial como sendo
o reino vegetal, estaríamos, pelo menos por enquanto, mais para defender essa
posição.
Quanto à questão de ter passado pelo reino animal,
para nós é pacífica. Fora tudo que já apresentamos, podemos ainda trazer a
opinião pessoal do próprio Codificador, mencionada pelo seu amigo, o Capitão
Bourgués, autor do livro "Psychologie
Transformiste-Evolution de l’Intelligence", conforme citação de
Charles Trufy, Causeries Spirities constante da obra Da
Bíblia aos nossos dias, de Mário Cavalcanti de Melo (?-?):
Quando Kardec fez
sua viagem espírita em 1862, nos veio visitar em Provins, onde nos
encontrávamos acampados; tivemos a alegria de ter o mestre alguns dias conosco.
Em sua palestra ele não nos
escondeu nossa origem animal, e nos falou do progresso que devia fazer o espírito
para chegar à perfeição. Ele nos recomendou, sobretudo, de aprofundar
todos os ramos da Ciência, assegurando-nos que nos elevaríamos por ela, e que
encontraríamos no Livro dos Espíritos os elementos para tudo conhecer e tudo
abraçar. (MELO, 1954, p. 95) (grifo nosso).
Certamente, que se Kardec fosse da opinião que o
princípio inteligente tivesse passado pelo reino mineral teria dito isso;
porém, ele só afirma a nossa origem animal, a não ser que tomemos a declaração
acima como inverídica. Quanto à questão do reino vegetal, o pensamento de
Kardec passa a aceitar mais para o final de sua vida, conforme vimos e, por
várias vezes, insistimos em lembrar esse fato.
Temos uma opinião bem interessante que é a do
companheiro Luiz Gonzaga Pinheiro (?- ), autor do livro Perispírito e suas modelações, do
qual transcrevemos:
O princípio inteligente não pode agir
diretamente sobre a matéria, a não ser revestindo-se de outro tipo de matéria
semicondensada que possibilite o intercâmbio de informações e sensações de um
para o outro.
O início de nosso estudo sobre o
perispírito começa neste ponto, onde o princípio inteligente aliando-se aos cristais demora-se por séculos,
forçando a matéria a obedecer a uma geometria definida, tornando seu esboço
perispiritual maleável, gravando no mesmo, formas e linhas precisas.
Quanto aos corpos brutais, tais como
os minerais (rochas, Ferro, Zinco, Ouro, dentre outros) abstenho-me de
comentários, mesmo porque não encontro pouca lógica na união do princípio
inteligente na matéria bruta, onde ele ficaria apático sem nenhuma
aprendizagem. Na condição de prisioneiro em matéria bruta ele permaneceria
adormecido, estático, sem registros, a não ser que esteja desenvolvendo uma
afinidade de ordem química.
A dificuldade em se admitir o princípio inteligente adormecido na
matéria bruta deve-se as transformações que ela sofre, às vezes, irreversíveis. Alguém poderá sustentar que o princípio inteligente
encontra-se inerte na matéria. Mas em que tipos de materiais? O Ferro é
trabalhado pelo fogo e serve às necessidades humanas. De outra feita sofre
oxidação e é consumido pela ferrugem. A rocha é desgastada pelas intempéries e
virá pó. Outro tanto vai para as construções de estradas e residências. O Ouro
é transformado em joias para adornar a vaidade e fomentar a cobiça, ou fica
preso em cofres fortes. O Zinco atende as necessidades da construção civil.
Poder-se-ia dizer que nesses materiais o princípio inteligente estaria
adormecido: E o que ocorreria com ele, caso habitasse esses materiais, quando
os mesmos sofrem transformações irreversíveis tais como a queima da madeira?
Uma lei não pode ser estabelecida em cima de incertezas. Ou o princípio inteligente
encontra-se adormecido nos minerais ou não. Apelando para o senso prático,
perguntamos: por que estaria, para nada aprender ou em nada contribuir?
Onde a matéria bruta inicia um princípio de
organização formal (não falo de átomos e moléculas) obedecendo a formas
geométricas em sua divisão, é que iniciaremos o nosso estudo, colocando aí a
união dos dois princípios, material e inteligente, gênese da mais admirável de
todas as sagas do universo, a busca da autonomia espiritual. (PINHEIRO, p.
36-37) (grifo nosso).
Deixamos propositalmente para o final, para
demonstrar que, embora aceitando que o princípio inteligente tenha estagiado no
reino mineral, Pinheiro, diferentemente de muitos autores espíritas, delimita-o
apenas nos cristais. Não descartamos haver uma grande possibilidade de que
outros estudiosos espíritas também possam ter essa mesma opinião.
Uma coisa tem que ficar clara, para todos nós, é
sobre isto que Kardec disse, que, aqui, fazemos questão de repetir: "O Livro dos Espíritos não é um tratado
completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos
fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela
observação". (KARDEC, 1993i, p. 223), portanto, o assunto poderá estar
ainda em aberto para uma posterior decisão. Quem sabe se já não estamos a
caminho dela?...
Físicos quânticos afirmam que o
elétron que viaja, sem um caminho visível, entre as órbitas do átomo, em seus
saltos quânticos, apresenta um "comportamento". A uma partícula
elementar que apresenta comportamento entende-se que essa partícula, mesmo de
forma simples e rudimentar, se apresenta "inteligente".
Essa forma de inteligência é ainda desconhecida,
tanto que explicá-la pela ciência acadêmica é tarefa ainda impossível. Porém, é possível inferir pelos postulados da
Doutrina Espírita, que há inteligência na matéria, possibilitando a sua relação
com o "princípio inteligente". (AUNI, 2011, p. 182-184) (grifo
nosso).
Certamente que a aceitação dessa hipótese levantada
por Adams Auni (?- ) vai demorar, entretanto, mais dia, menos dia a verdade
virá à tona, vencendo todos os obstáculos que lhe surgem pela frente. Aí vale o
adágio popular: "quem sobreviver verá".
Paulo da Silva Neto
Sobrinho
set/2006.
(revisado dez/2012)
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(A versão original,
bem reduzida, com apenas sete páginas, foi publicada na Revista Espiritismo e Ciência, Ano
4, nº 46, p. 29-32).
Fonte:http://www.aeradoespirito.net/ArtigosPN/A_ALMA_DORME_NO_MINERAL_PN.html
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