POR QUE OBAMA NÃO CONSEGUE MUDAR LEIS SOBRE CONTROLE DE ARMAS NOS EUA ?


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Image caption Obama voltou a defender controle de armas após novo massacre

Por que Obama não consegue mudar leis sobre controle de armas nos EUA?

  • 4 outubro 2015

Após mais um tiroteio em um universidade americana, o presidente Barack Obama criticou outra vez na Casa Branca aqueles se opõem a um maior controle de armas nos Estados Unidos.
"Neste momento, posso imaginar os releases para a imprensa sendo feitos", disse. "Precisamos de mais armas, eles irão argumentar. Menos leis de controle de armas. Alguém realmente acredita nisso?"
Obama citou uma pesquisa que constatou que "a maioria dos americanos entendem que nós deveríamos mudar essas leis".

A pesquisa é a do instituto Pew Research Center, que foi feita no meio de julho. Cerca de 80% dos entrevistados apoiava leis para impedir que pessoas com problemas psiquiátricos comprassem armas, e 70% eram favoráveis à implantação de uma base nacional de informações sobre venda de armas.

Se há apoio popular, por que isso não ocorre?

Mas esses números não significam muita coisa. O que importa é a opinião dos membros do Congresso americano - e eles são majoritariamente contrários a qualquer tipo de controle de armas mais intenso.

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Image caption Armas à mostra em loja perto de faculdade em que ataque ocorreu
A disposição do Congresso reflete o peso desproporcional de Estados menos populosos no Senado, a composição conservadora atual do Congresso e um processo de primárias republicanas que faz detentores de cargos mais sensíveis a eleitores pró-armas.
O Congresso não tem que representar a visão da maioria dos americanos, pelo menos aquela expressa em pesquisas. Ele representa a visão dos americanos que foram às urnas no dia das eleições e a maioria simples no distritos eleitorais em que votaram.

Os Estados não podem fazer suas próprias regras?

No Senado - que atualmente tem 54 republicanos e 46 democratas (ou políticos independentes que apoiam os democratas) - a população individual dos Estados é fator chave. Os votos dos senadores John Barrasso e Mike Enzi, do Estado pró-armas de Wyoming (com uma população de 584.153), têm o mesmo peso que o dos senadores Dianne Feinstein e Barbara Boxer, da Califórnia (população de 38,8 milhões), Estado favorável ao controle de armas.

E quando se trata das propostas que mais dividem opiniões na pesquisa do Pew - proibição de alguns tipos de armas, que é apoiado por 70% dos democratas mas só 48% dos republicanos - apenas sete Estados, incluindo a Califórnia, decretaram regras semelhantes para suas jurisdições.
A grande maioria que apoia o controle de armas em Illinois, por exemplo, é superada por Estados pró-armas como Alasca, Nebraska e Alabama, que têm população muito menor.

Onde, no Congresso, está o bloqueio?

Na Câmara dos Deputados americana - que tem uma maioria republicana por 58 votos - a divergência entre as pesquisas de opinião e a realidade política é ainda mais visível.
Devido a tendências demográficas atuais, os liberais, que defendem a regulação do comércio de armas, moram - e votam - em áreas urbanas densamente povoadas. Por causa do sistema eleitoral americano, isso se reflete no resultado da eleição do distrito. Por isso, muitas bancadas estaduais são mais conservadoras do que os eleitores americanos.
Em 2012, por exemplo, candidatos democratas receberam 1,4 milhão de votos a mais que os republicanos, mas o partido conservador ganhou 33 cadeiras a mais.

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Image caption Congresso bloqueou tentativas de mudanças na lei nos últimos anos
Em 2014, 44% dos moradores da Pensilvânia votaram em candidatos democratas, mas eles só ganharam 27% das cadeiras do Estado.

E os candidatos republicanos vitoriosos são escolhidos em primárias em que o apoio financeiro de grupos de lobby pró-armas, como a National Rifle Association, podem ser decisivos. Além disso, os eleitores que comparecem às urnas são conservadores que não são simpáticos a candidatos que defendem restrições à posse de armas.
É uma realidade política em que congressistas republicanos têm problemas em suas bases se não são considerados suficientemente conservadores.
O Congresso não é apenas contrário ao controle de armas como também proíbe esforços federais para realização de pesquisas sobre causas da violência proveniente de armas de fogo.

Então como avançar?

"Isso é uma escolha política que fazemos para permitir que isso ocorra de meses em meses nos EUA", disse Obama na quinta-feira. "Se você acha que isso é um problema, você deveria esperar que seus representantes eleitos refletissem sua visão."
Durante as eleições parlamentares de 2014, apenas 36% dos eleitores aptos a votar compareceram às urnas. E a maioria, segundo o sistema de distritos, votou em candidatos republicanos escolhidos em primárias por apenas 9,5% dos eleitores registrados.
Isso significa que nos EUA, atualmente, é a visão de 9,5% que faz a diferença.

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Fonte:http://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2015/10/151004_obama_armas_lab


Legislação sobre armas é 'grande frustração', diz Obama

  • 24 julho 2015

Barack Obama
Image caption O presidente dos Estados Unidos vem tentando sem sucesso restringir o uso de armas no país

Horas antes de um homem abrir fogo em um cinema no Estado americano da Louisiana, matando duas pessoas e ferindo várias outras, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, admitiu à BBC que o fracasso na aprovação de uma legislação de controle de armas é a maior frustração dos seus dois mandatos.
Ele deu a entender que sofre com a ausência de "leis de bom senso sobre armas mesmo diante de repetidos assassinatos em massa".
"Para nós, não termos resolvido essa questão é algo angustiante", disse Obama, que vem tentando restringir o uso de armas no país desde o início de seu mandato.
Em junho, depois do assassinato de nove fiéis negros de uma igreja na Carolina do Sul, ele admitiu que a "política nessa cidade (em referência às decisões tomadas no Congresso em Washington)" lhe deixava poucas opções para essa questão.

No episódio de quinta-feira, um homem branco de 58 anos abriu fogo dentro de um cinema de Lafayette cerca de 20 minutos após o início do filme às 19h30m locais (22h30m, de Brasília).
Ele se matou em seguida. O caso trouxe à tona recordações do assassinato de 27 pessoas em um cinema de Colorado, há três anos.
O autor do crime, James Holmes, aguarda a sentença e pode ser condenado à morte.

Armas X terrorismo

O presidente dos Estados Unidos, que iniciou o primeiro mandato em 2009, ainda tem 18 meses no poder, afirmou que vai continuar tentando mudar a legislação sobre armas, mas deixou clara a sua frustração.
"Se analisarmos o número de pessoas mortas desde o 11 de setembro, são menos de 100. Se olharmos o número de pessoas que morreram por violência de armas, são dezenas de milhares", disse Obama.
Revólver
Image caption Obama disse que o terrorismo matou cerca de 100 pessoas desde 2001, enquanto armas mataram dezenas de milhares
Na entrevista exclusiva à BBC, o presidente americano disse que as relações inter-raciais melhoraram durante a sua presidência.
Ele afirma que as crianças que crescerem durante os oito anos que terá passado no poder "terão uma visão diferente sobre as relações raciais e sobre o que é possível".
"Algumas tensões vão surgir. Mas se olharmos para a geração das minhas filhas, existe uma atitude totalmente diferente do que a que a minha geração tinha no que toca à raça."
Ele também disse estar confiante de que o acordo nuclear com o Irã – considerado uma vitória da administração Obama – será aprovado.

Ainda sobre política internacional, Obama disse que para derrotar o grupo extremista autodenominado 'Estado Islâmico', é preciso encontrar uma solução política para a Síria.
Ele também destacou a importância de a Grã-Bretanha permanecer na União Europeia, caso queira manter a sua influência internacional.
O governo conservador britânico prometeu realizar nos próximos anos um referendo sobre a saída do bloco europeu.
Obama ainda fez uma autocrítica, dizendo que "todo presidente, todo líder, tem pontos fortes e fracos".
"Um dos meus pontos positivos é um temperamento bastante equilibrado. Não fico exaltado quando as coisas dão certo, nem deprimido quando dão errado."

Direito histórico e lobby poderoso são adversários de Obama contra armas

  • 19 junho 2015
Image caption Líderes religiosos se reúnem pra rezar em homenagem às vítimas diante da igreja atacada em Charleston
O ataque de um atirador de 21 anos que deixou nove mortos na noite de quarta-feira, em uma igreja histórica da comunidade negra em Charleston, na Carolina do Sul, reacendeu o debate sobre o controle de armas nos Estados Unidos.
Ao comentar as mortes o presidente Barack Obama lamentou ter que fazer pronunciamentos de pesar sobre crimes com armas frequentemente. Desde que assumiu o poder, foi a 14ª vez que o presidente falou após um tiroteio com vítimas.
"Mais uma vez pessoas inocentes foram mortas por alguém que não teve nenhuma dificuldade em colocar suas mãos em uma arma. Em algum momento nós, como país, teremos de encarar o fato de que esse tipo de violência em massa não acontece em outros países avançados. Não acontece em outros lugares com esse tipo de frequência", afirmou Obama.

Direito constitucional

Nos Estados Unidos o direito de portar armas é garantido pela Segunda Emenda da Constituição. Parte de um trio de emendas classificadas como "guardiãs da liberdade", ela foi aprovada em 1791, 25 anos depois da promulgação do documento principal.
Sua inclusão foi justificada fortemente pelo contexto da época: os americanos ainda estavam traumatizados pela Guerra de Independência contra a Grã-Bretanha (1775-83), durante a qual as tropas britânicas promoveram um grande confisco de armas para minar os esforços rebeldes.

No século 19, houve uma mobilização militar ainda maior por conta da Guerra Civil Americana (1861-1965), cujas cicatrizes ainda são bem visíveis na sociedade do país. Charleston é um grande exemplo.
A Assembleia Legislativa da cidade, por exemplo, até hoje exibe a bandeira confederada, representando as tropas do sul derrotadas no conflito.

Lobby poderoso

Uma pesquisa do Instituto Gallup, no início de 2013, mostrou que o passado histórico, aliado a eventos mais recentes, como o 11 de Setembro, impulsionou uma demanda por armas: nela, 47% dos americanos disseram ter uma arma em casa, o maior número em duas décadas.

O lobby pró-armas se transformou num dos grupos mais poderosos da política americana. A mais popular organização do gênero, a National Rifle Association (NRA), conta com mais de 3 milhões de associados, incluindo celebridades como atletas e atores – durante anos, por exemplo, o ator Charlton Heston, conhecidos por filmes como Ben Hur e O Planeta dos Macacos, foi um de seus porta-vozes mais ativos.
Image caption Pesquisa mostrou que 52% dos americanos acham que proteger os direitos dos proprietários de armas é mais importante do que controlar a posse de armas
Em 2012, um artigo do jornal New York Times, disse que a NRA teria doado US$ 14 bilhões para o Partido Republicano por causa da postura menos amigável de Obama em relação às armas de fogo.
Estima-se que a indústria das armas nos EUA teve um impacto de US$ 32 milhões para a economia americana em 2013 e empregaria mais de 200 mil pessoas.
Segundo a ATF, agência governamental que controla álcool, tabaco, armas de fogo e explosivos, há mais de 130 mil lojas credenciadas para vender armamentos no país.
O homem apontado pela polícia como autor do crime em Charleston, Dylann Roof, 21 anos, recebeu de seu pai uma arma calibre 45 como presente de aniversário neste ano.

Direito de defesa

Muitos sugeriram que a solução para diminuição dos casos seria o oposto: relaxar as leis de controle de armas, aumentando as chances de que as vítimas estejam armadas para se defender.
Segundo o instituto de pesquisas Pew Research Center, 52% dos americanos consideram que proteger os direitos dos proprietários de armas é mais importante do que controlar a posse de armas. Outra pesquisa, do Gallup, revela que 63% dos americanos acreditam que ter uma arma deixa a casa mais segura.

O cientista político Robert Spitzer, autor do livro Armas na América, diz que os americanos estão de certa forma acostumados com a violência e acham que nada de concreto pode ser feito.
Ele cita ainda o sucesso do lobby pró-armas em "mudar a narrativa". "Eles dizem que as armas não são o problema, que são pessoas más que fazem coisas más", afirma.
Segundo Spitzer, esses fatores levaram a uma legitimidade "sem precedentes" dos argumentos dos defensores de armas. Um aumento das restrições no cenário atual, afirma, "não passa de sonho".

Impotência

Para o analista político Chris Cillizza, do jornal The Washington Post, o pronunciamento de Barack Obama revela certa impotência do próprio presidente dos Estados Unidos.
Image caption Segundo analista, Obama já viu seus esforços pela aprovação de leis mais rígidas de controle de armas fracassarem anteriormente, como a após o massacre da escola de Sandy Hook
"Este é o político mais poderoso do país reconhecendo que tem pouca ou nenhuma capacidade de conseguir uma mudança que ele claramente acredita ser necessária", diz Cillizza.
Obama já viu seus esforços pela aprovação de leis mais rígidas de controle de armas fracassarem anteriormente. Logo após o massacre da escola de Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, no qual 20 crianças e seis adultos foram mortos por um atirador em dezembro de 2012, o presidente se lançou em uma campanha para restringir o acesso a armas.

"Apesar de indicações iniciais de que ambos os partidos iriam considerar a questão, o esforço fracassou cinco meses após o ataque, enterrado por um puhado de senadores democratas que buscavam reeleição em Estados de inclinação republicana em 2014", lembra Cillizza.
O prefeito de Charleston, Joseph Riley Jr., antigo defensor de um maior controle de armas, disse acreditar que "há armas demais por aí e o acesso a armas é fácil demais" e disse que as mortes são outro exemplo da necessidade de adotar medidas que aumentem o controle.
Hillary Clinton, pré-candidata à presidência pelo Partido Democrata, disse que é hora de enfrentar "as difíceis verdades sobre raça, violência, armas e divisão" e perguntou "quantos inocentes" terão de morrer antes que haja mudança.
Mas apesar da comoção gerada pelo massacre, analistas não acreditam na possibilidade de adoção de leis mais rígidas sobre o porte de armas no país.

Fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150619_restricao_armas_ac.shtml

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