A GRAVIDEZ DE KIM KARDASHIAN E A MULHER QUE OUSOU RECLAMAR

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A gravidez de Kim Kardashian e a mulher que ousou reclamar

Kim Kardashian diz que a gestação é a pior experiência da sua vida (Foto: Getty Images)


Outubro 6, 2015

Lúcia nunca soube direito o que era Kim Kardashian. Demorou uns meses para ela entender que não se tratava de uma marca importada de produto de limpeza ou de uma montadora japonesa concorrente da Honda.
Na verdade, foi só quando a gravidez de Kim Kardashian virou notícia de internet que Lúcia ligou os pontos e se interessou pela personagem.
Não sem motivo, claro. Lúcia também estava grávida – e pelas contas dela, DELA, as duas deveriam ter o bebê no mesmo mês ou, quem sabe, no mesmo dia.
A partir desta constatação, Lúcia desenvolveu uma espécie de obsessão pela gravidez de Kim. Como se as duas grávidas fossem retas paralelas espiritualmente conectadas por uma lógica geométrica imutável.
Lúcia começou a comparar barriga. Ampliava a foto de Kim no computador e postava-se ao lado da imagem. Até o formato era parecido. Ou seja, os bebês teriam o mesmo sexo.
O fato de esperar um menino não seria impeditivo para batizá-lo de Kim – já que o nome se mostrava bastante unissex e adaptável. Lamentou apenas que o Kim não tivesse tido a sorte de nascer no útero da celebridade. Ora, certamente que ele teria mais facilidades na vida, conforto e grana.
Chegou a desejar que aquele filho que ela já amava fosse teletransportado para a barriga de Kim Kardashian – em uma conexão Casa Verde-Nova York ou Casa Verde-Hollywood.
Até que ela leu a seguinte declaração de Kim Kardashian: “Eu vou falar a verdade: para mim, a gravidez é a pior experiência da minha vida”.  
Kim falava dos enjoos, dores nas costas, inchaços, alterações de humor e na dificuldade de encontrar uma roupa legal que combinasse com aquele estado. 
Tudo verdade.
Tanto que Lúcia começou a prestar atenção nesses sintomas também.
E eles estavam lá, implacáveis.
Besteira foi ela comentar com um grupo de amigos: “Eu vou falar a verdade: para mim, a gravidez é a pior experiência da minha vida”.
Pronto. Bastou essa declaração para Lúcia ganhar o título de pior mãe do mundo. Foi como se ela tivesse cuspido no vinho da santa ceia, colocado Cosme e Damião numa gaiolinha ou, sei lá, defendido a volta da CPMF em público.
Olha que Lúcia tentou explicar o que ela e Kim Kardashian estavam sentindo. Mas ninguém quis ouvir. A mãe, qualquer mãe, segundo os amigos da Lúcia, tinha que sentir apenas amor, vomitar arco-íris e encarar qualquer dor como se fossem beliscões de alegria.
Puta que pariu. Até os homens ficaram horrorizados: “Como assim, pior experiência”? Pois é, os mesmos sujeitos que abrem o berreiro por qualquer injeção e faltam ao trabalho por uma simples dor de barriga acharam de péssimo tom o comentário da Lúcia. Afinal, estar grávida é uma maravilha, uma dádiva e coisa e tal e tal e coisa.
A notícia se espalhou pela Casa Verde. Amigos se afastaram de Lúcia e até no trabalho ela sentiu certa rejeição. A mulher que odiava estar grávida não merecia, aos olhos do povo, ser respeitada ou ter o direito de ser mãe.
Como um telefone sem fio, a história foi ganhando contornos macabros. Diziam que Lúcia queria vender o bebê, que iria abandoná-lo tão logo ele nascesse, que deixaria em uma lixeira mesmo ou, pior, mataria o bebê afogado.
Ela, inclusive, começou a receber visitas de padres, pastores e espíritas. Todos, sem exceção, vieram pregar, atirar palavras alentadoras na cara da futura mamãe, dizer que ela estava errada, que aquilo, talvez, fosse uma provação, uma demanda espiritual, que ela estava esperando um anjinho.
Lúcia também recebeu a visita de uns três casais que se despuseram a adotar o garoto tão logo ele nascesse.
Sozinha em casa, de barrigão, deprimida pela falta de entendimento das pessoas, Lúcia abriu a internet na notícia de Kim Kardashian. Leu de novo a notícia em que ela dizia que a gravidez era a pior experiência da vida. 
Distraída, correu para os comentários dos leitores. A maioria, a enorme maioria, dizia as mesmas coisas que ela ouviu dos amigos e conhecidos – coisas até que não tinha ouvido, mas sabia que estavam sendo ditas. “Na hora de trepar virou os olhinhos, mas cuidar de uma criança que é bom ninguém quer”, “Se não queria ser mãe por que engravidou”, “Essa mulher é um lixo, uma parasita”, “Vai dar pra babá cuidar, né!”, “Tá preocupada com o corpo e foda-se a criança”, “Tem gente que não merece esse presente de Deus…”
Depois de ler todos os comentários na notícia de Kim Kardashian, Lúcia entendeu que o pior não era o seu bebê nascer pobre, nascer sem mordomias ou ter um futuro incerto. O pior para ele, o pior para qualquer criança, era nascer em um mundo dominado pelos idiotas.     
(Reprodução / Instagram)      

Cansada das críticas sobre seu peso, Kim parou de sorrir para fotos durante a gravidez (Foto: Reprodução Instagram)

Fonte:https://br.vida-estilo.yahoo.com/post/130617922570/a-gravidez-de-kim-kardashian-e-a-mulher-que-ousou



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