COMO FICA O BRASIL SE A GRÉCIA DER UM CALOTE ?

Como fica o Brasil se a Grécia der um calote?

Para analistas, calote poderia gerar clima de 'aversão a riscos' no mercado.
Efeito sobre países emergentes como o Brasil seria mais de curto prazo.



O risco de um calote da Grécia e e saída do país do bloco e da União Europeia aumentou consideravelmente nos últimos dias após impasses nas negociações e da decisão do governo grego de fechar os bancos e limitar os saques nos caixas automáticos.

O país tem até terça-feira (30) para pagar € 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e depende de um empréstimo dos outros países europeus para fazer esse pagamento. Mas, no fim de semana, o primeiro-ministro grego decidiu que vai fazer um referendo no próximo dia 5 para saber se aceita as condições desse empréstimo, que incluem alta de impostos e cortes nas aposentadorias. Com isso, o país fica mais próximo de um calote e de uma saída da zona do euro e da União Europeia.
Mas como um cenário como esse poderia repercutir nas economias do resto do mundo ─ e do Brasil em particular?
Risco de contágio
Há certo consenso entre especialistas de que, no caso de um calote grego, o risco de contágio para outros países da região seria menor do que há alguns anos.

"Primeiro porque os bancos europeus já reduziram bastante sua exposição à Grécia. Depois, porque outras economias consideradas vulneráveis do bloco, como Espanha, Portugal e Irlanda, estão caminhando na direção de colocar suas contas em dia e retomar o crescimento",disse à BBC Brasil o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
Para ele, "um calote grego poderia até ter algum um impacto no ritmo de recuperação da Europa, mas não iria reverter esse processo."
O diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, compara as reverberações de um possível calote grego com o da moratória argentina de 2001.
Em um primeiro momento houve grande turbulência nos mercados da região. Com o tempo, porém, esse efeito se dissipou. "No fim, foi um desastre principalmente para a Argentina, que nunca mais voltou aos mercados financeiros internacionais", disse ele.
Uma moratória de Atenas, no entanto, certamente impactará em alguma medida nos mercados emergentes como o Brasil ao aumentar a aversão ao risco entre investidores.
Pressão sobre o câmbio
"No imediato, poderíamos ter uma pressão maior sobre o câmbio, com uma desvalorização do real, por exemplo", afirmou Campos Neto, da Tendências. "Mas esse efeito sobre os emergentes seria de curto prazo", completou Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, em Londres.
Para o professor Antonio Carlos Alves do Santos, do Departamento de Economia, uma sequência de dificuldades impostas à União Europeia poderia prejudicar países que são parceiros comerciais do Brasil, em um momento em que o país passa por uma necessidade de aumentar suas exportações. “Se a Grécia sai, você teria problemas na economia europeia, e a economia europeia é um parceiro comercial importante para a economia do Brasil. E o Brasil precisa fundamentalmente ampliar suas exportações”, resume.
Segundo Colmerauer, o Brasil, "por estar em uma situação econômica complicada está na linha de frente dos países que podem sofrer com qualquer marola na economia internacional".
Para Ricupero, o problema para o Brasil é que hoje o país está em uma situação tão crítica "que qualquer coisa que piore o desempenho da economia mundial certamente é ruim para o país".
"Poderíamos ter de pagar juros mais altos no mercado com um aumento da aversão dos investidores a risco", destacou.
Grécia ganharia pouco com ruptura
A percepção de economistas e especialistas, porém, é de de que uma eventual saída da Grécia da zona do Euronão interessa nem aos gregos nem a seus colegas europeus.
"Todo mundo perde com um default na Europa", disse à BBC Brasil Ernesto Lozardo, especialista em economia internacional da FGV.
"A probabilidade de termos um cenário como esse, com contágio para outras economias, é pequena. Mas ainda assim esse é um risco que precisa ser monitorado", concorda Neves, do Eurasia Group.
Ao comentar as declarações da autoridade monetária grega, Ricupero diz que "existe um jogo de ameaças que sempre faz parte de uma negociação como essa".
"Além disso, o que o BC grego colocou em um mesmo pacote seria resultado de um longo processo com diversos cenários possíveis. A Grécia poderia sair do euro mas não da UE, por exemplo ", afirma ele.
O ex-ministro admite, porém, que uma moratória seguida de abandono da moeda europeia pelos gregos poderia ter consequências imprevisíveis para a economia europeia e mundial.
"E o que se teme não é só o efeito econômico direto, mas também os efeitos psicológicos e políticos. Deixar uma união monetária e voltar a ter uma moeda própria seria uma decisão sem precedentes e é difícil saber o que poderia acontecer se ela fosse tomada", alertou Ricupero.
Fonte:http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/06/como-fica-o-brasil-se-grecia-der-um-calote.html


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