CRIATIVIDADE : EXPANDINDO NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA

Criatividade:Expandindo Níveis de Consciência

Um olhar crítico sobre o livro "Criatividade e processos de criação", de Fayga Strower (capítulos I e II)

2801093599_a021f2028b_z.jpg
Todos nós somos seres criativos e enriquecemos material e subjetivamente por causa disto. Essa é a mensagem central do livro "Criatividade e processos de criação", de Fayg a Strower, que aponta a sensibilidade e a consciência como as forças propulsoras do potencial criativo. Estas duas características fazem parte da natureza humana, independente do período temporal vivido. Porém, a criação sempre será regida por motivações e aspirações congruentes ao contexto cultural que estamos inseridos e esta, por sua vez, modificará a cultura, gerando uma renovação do próprio Ser. A partir do momento que nascemos, começamos a ter experiências sensoriais e outras mais subjetivas, no âmbito da intuição, que se organizam mentalmente e geram nossas percepções. Também passamos a contextualizar nossa própria existência dentro de um sistema social pré-determinado, ou seja, passamos a ter consciência de nós mesmos orientados pela cultura ao nosso redor. Na definição da autora, cultura "são as formas materiais e espirituais com que os indivíduos de um grupo convivem, nas quais atuam e se comunicam e cuja experiência coletiva pode ser transmitida através de vias simbólicas para a geração seguinte" (p.13). Sendo assim, é impossível o ser sensível-consciente-cultural ignorar seu potencial criador, já que esta combinação representa a forma como apreendemos o mundo dentro de nós e o que, inevitavelmente, servirá de “combustível” para nossas futuras produções.

Dentro do processo do ser consciente, destaca-se o papel da memória, que traz familiaridade e sequência a fatos vividos que, em maior ou menor escala, estão arquivados em nossas mentes. Esses 'arquivos' nem sempre estão a nível consciente e podem até corresponder a expectativas e anseios totalmente subjetivos, como acontece no processo de associação, que explora o "mundo da fantasia", do imaginativo.
Os anseios e as aspirações gerados pela complexa combinação entre memória e associação necessitam de vias organizadas para transbordarem para o meio social objetivo. Existem inúmeras formas simbólicas que ordenam o pensar e o transformam em comunicação. Por exemplo, o papel fundamental da palavra (da língua) no processo de expressão humana. As palavras são pontes que ligam nosso consciente ao mundo, já que elas estão carregadas de sentidos variados e têm o poder de converter a objetividade material em pensamentos e abstrações que ajudam a orientar a percepção de outras pessoas com as quais desejamos nos comunicar. Como o ofício do jornalista, por exemplo, que faz escolhas de palavras e ritmo narrativo específicos que possam orientar o leitor/espectador até a imaginação mais aproximada do fato objetivo. Ou de um artista plástico que escolhe o material que ficará mais em harmonia com aquilo que ele deseja expressar em determinada exposição.
cria.jpg 
Aqui entramos no aspecto importantíssimo das tomadas de decisões no processo criativo. Como exemplifiquei anteriormente, seja num trabalho aparentemente mais objetivo como o do jornalista ou seja num mais subjetivo como o do artista, as decisões serão sempre tomadas a partir de motivações internas do indivíduo, ou seja, a partir de tensões psíquicas das quais Fayga nos fala. A tensão é um conflito que serve de ponto de partida fundamental para a escolha. Ao escolher, novos caminhos se abrem e outros se eliminam. Mas como há uma fonte inesgotável de criatividade dentro do ser sensível-consciente-cultural, o potencial sempre se reaquece e amplia as possibilidades de criação.
Nesse sentido, o potencial criador é visto como uma necessidade que pode levar à realização pessoal do ser humano, já que está intimamente ligado ao entusiasmo e desenvolvimento de suas próprias imposições sociais, que acabam sofrendo transformações diretas. Para estas transformações de fato acontecerem ou pelo menos para o pensamento se tornar imaginativo, é necessário que se relacione criatividade ao trabalho produtivo, afetivo e concreto, segundo a autora. Quando a materialização de fato acontece, novos níveis de energia e conhecimento são atingidos e o sentimento de realização pessoal se expande e se mescla ao coletivo.
Hoje absorvidos pela realidade da Internet, mesmo que a ideia criativa não passe de um post no seu blog, já é uma forma de materializar e compartilhar uma informação original que pode servir de inspiração para outras pessoas que também estão conectadas de forma afetiva com o tema apresentado e que poderão contribuir com outros níveis de criatividade no mesmo propósito, formando-se assim um ciclo colaborativo e criativo. Até porque, a materialidade não está limitada ao fato físico, ela simboliza uma cultura inteira que norteia não só as ações criativas, como já foi dito, como também a maneira como estas serão executadas.
No livro, o exemplo de Leonardo da Vinci é bastante ilustrativo uma vez que este era considerado uma pessoa multifacetada, na figura de cientista, artista, filósofo, escritor, inventor. Leonardo se configurou o próprio personagem do Renascimento, seguindo condutas culturais específicas da época, utilizou materiais da região onde vivia, escolheu trabalhos e se rendeu a caprichos de reis menos espertos à medida que estava inserido em tal realidade. Imaginar um homem com tal sensibilidade e consciência vivenciando o contexto cultural pós-moderno no qual vivemos hoje é no mínimo instigante. Porém, Da Vinci, assim como nossos outros ancestrais de todas as gerações deram a sua contribuição material-criativa para a sociedade pós-moderna como a conhecemos hoje, e certamente assim o Ser se reinventou.
Caminhamos para níveis de tolerância antes jamais aceitáveis, munidos de tecnologias que se atualizam a cada dia e meios de propagação de informação sem barreiras temporais e físicas. Sendo assim, fica visível perceber o caráter cultural-renovador e a carga positiva que o Criar desencadeia no ser humano. O próprio homem se identifica, se configura e se recria, atingindo outros níveis de consciência à medida que compartilha e materializa experiências criativas.



Fonte:
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/a_arte_do_encontro/2012/05/criatividade-expandindo-niveis-de-consciencia.html#ixzz3TkZhmz71

Comentários