EMERGENTES TÊM VITÓRIA PARCIAL EM REUNIÃO DA ONU SOBRE CLIMA

Chaminé fumegante

Os países reunidos em Lima concordaram em aceitar o princípio da responsabilidade diferenciada, um ponto defendido por países como o Brasil

Emergentes têm vitória parcial em reunião da ONU sobre clima

Com dois dias de atraso, líderes de 195 países presentes à Conferência Climática das Nações Unidas, em Lima, no Peru, chegaram a um acordo sobre um programa de metas de mitigação do aquecimento global.
Prevista para terminar na sexta-feira, o evento avançou pelo fim de semana adentro e foi apenas na manhã deste domingo que houve o anúncio sobre um compromisso com vistas à reunião de novembro do ano que vem em Paris.
As duas semanas de discussões foram marcadas por divergências entre países desenvolvidos e emergentes no que diz respeito ao controle de emissões dos gases-estufa.

Responsabilidade diferenciada

Os países emergentes, como o Brasil, defendem o argumento de que as nações mais desenvolvidas e com um histórico mais longo de industrialização deveriam atender a metas mais rigorosas do que o resto do mundo, conseguiram manter na pauta o princípio de "responsabilidade diferenciada".
Tal argumento encontra a resistência de países como os EUA, que apontam para o fato de que, atualmente, nações desenvolvimento contribuem com mais da metade das emissões mundiais de gás carbônico, o principal gás relacionado ao aquecimento global.

Ministro peruano
Manuel Pulgar, o ministro peruano do Meio Ambiente, presidiu a reunião da ONU em Lima

Na sexta-feira, por exemplo, o secretário de estado americano, John Kerry, fez um forte discurso em Lima, conclamando os países emergentes a aceitar um pacote global de redução de emissões e afirmando que o mundo "caminha para um tragédia climática".
"Conseguimos o que queríamos", disse à BBC o ministro do Meio Ambiente da Índia, Prakash Javedekar.
Os países em desenvolvimento também obtiveram garantias de que as nações mais pobres e vulneráveis às mudanças climáticas receberão auxílio financeiro dos mais ricos.
Por outro lado, tiveram de aceitar o exame das propostas nacionais de redução por um painel da ONU, tema que anteriormente tinha encontrado resistência da mesma Índia, que a considerava o escrutínio desrespeitoso à soberania nacional.

Mapa do gás

Também houve um comprometimento para que mais países adotem metas de redução e que os que já têm cronogramas de redução sejam mais "generosos".
O antagonismo "norte-sul" foi apontado como a principal razão para o fracasso nas negociações duarante a conferência realizada em Copenhague há cinco anos.
"Não estamos aqui para reescrever o acordo", afirmou à BBC na sexta-feira o negociador-chefe do Brasil na COP 20, Antonio Marcondes de Carvalho.
Para diversas organizações ambientalistas, o resultado das negociações foi decepcionante e não trouxe medias por elas defendidas.
"O texto do acordo foi de fraco para fraquíssimo", criticou Sam Smith, responsável pelas políticas ambientais do WWF.

Delegados dormem
Os debates em Lima avançaram madrugada adentro e muitos delegados simplesmente dormiram na áreas comuns

Em Lima, o Brasil apresentou uma proposta de "diferenciação concêntrica" como forma de apaziguar o debate. Ela previa uma divisão de países em três "níveis de responsabilidade", em que as nações desenvolvidas precisariam fazer cortes de emissões em todos os setores da economia, enquanto países emergentes como o Brasil, a China e a Índia ficariam num nível intermediário, com mais opções de cortes.
Nações mais vulneráveis economicamente e os passíveis de serem mais imediatamente afetados por mudanças climáticas, como os Estados-ilha, ficariam num nível que não exigiria grandes ações.
A proposta, porém, sofreu alterações durante os debates no Peru.
Uma das grandes esperanças para a Lima era que o recente acordo bilateral de redução de emissões entre EUA e China - ambos anunciaram medidas de redução significativas de emissões até 2030 - pudesse influenciar positivamente as discussões.
Chineses e americanos são os maiores "poluidores" em termos de volume de gases-estufa, de acordo com as medições independentes do grupo de cientistas do Global Carbon Project. Em 2013, emitiram 9,97 bilhões e 5,23 bilhões de toneladas de C02, respectivamente. Ou seja: mais de um terço do total mundial de 36,1 bilhões.
A Índia e a Rússia ficaram em terceiro e quarto lugares, à frente do Japão. O Brasil, que emitiu 482 bilhões de toneladas em 2013, ficou em 12º lugar.

Emissão de gás carbônico no mundo tem maior salto desde 1984


9 setembro 2014



Emissões de CO2
Emissões de CO2 deram um novo salto entre 2012 e 2013

A concentração de gases do efeito estufa na atmosfera atingiu níveis recordes em 2013, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Entre 2012 e o ano passado, a taxa de acúmulo de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera teve o crescimento mais rápido em um ano desde 1984.
A OMM afirmou que o relatório ressalta a importância de um acordo mundial para limitar a emissões de gases do efeito estufa.
Em 2009, líderes de todo o mundo concordaram em fechar um tratado para manter um aumento na temperatura global de no máximo 2ºC até 2020.
O Boletim anual de Gases do Efeito Estufa não mede a produção de emissões, mas registra a quantidade de gases que permanecem na atmosfera depois das interações com terra, ar e oceanos.
Cerca de metade das emissões acaba absorvida por mares, florestas e seres vivos.
Mesmo assim, a concentração de CO2 na atmosfera bateu 396 partes por milhão (ppm) em 2013, um aumento de quase 3ppm em comparação com o ano anterior.

Crescimento recorde

"O boletim mostra que, bem longe de estar caindo, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera de fato subiu no último ano na taxa mais rápida em quase 30 anos", disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.
A concentração de CO2 atual é de 142% dos níveis de 1750, ou seja, antes do início da Revolução Industrial.
O acúmulo de outro potente gás de efeito estufa, o metano, foi de 253%.
O estudo também indica que o crescimento recorde do CO2 em 2013 não se deve apenas a mais emissões, mas a uma redução na capacidade de absorção de carbono pela biosfera.
A descoberta intrigou cientistas da OMM. A última vez que se constatou uma redução no nível de absorção da biosfera foi em 1998, quando houve um pico de queima de biomassa, aliado a um intenso El Niño.
"Já em 2013 não houve impactos óbvios na biosfera, portanto, é ainda mais preocupante", disse o chefe da divisão de Pesquisa Atmosféria da OMM, Oksana Tarasova.
"Não entendemos se isso é uma coisa temporária ou permanente, e isso é preocupante."
Tarasova afirma que a descoberta pode indicar que a biosfera atingiu o seu limite, mas destaca que é impossível confirmá-lo no momento.
Os dados compilados pela OMM cobrem os anos de 1990 a 2013 e mostram que gases como CO2, metano e óxido nitroso (N20), que sobrevivem na atmosfera por muitos anos, contribuíram para um aumento de 34% no aquecimento global.
No entanto, a temperatura global média não subiu paralelamente à elevação da concentração de CO2, o que levou muitos a afirmarem que o aquecimento global havia parado.
"O sistema climático não é linear, não é simples. Não há necessariamente um reflexo da temperatura na atmosfera, mas se analisarmos o perfil de temperatura dos oceanos, vê-se que o calor está indo para os mares", disse Oksana Tarasova.
O relatório também inclui pela primeira vez dados sobre a acidificação do mar provocada pelo dióxido de carbono.
A OMM diz que diariamente os oceanos absorvem cerca de 4kg de CO2 por pessoa. Os pesquisadores acreditam que a atual taxa de acidificação seja a maior dos últimos 300 milhões de anos.
Diante das evidências, a OMM urge líderes mundiais a tomarem decisões contundentes sobre a política climática.
Em 23 de setembro será realizado em Nova York um encontro extraordinário sobre o clima, convocado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
No fim do ano, a ONU promove a sua reunião anual sobre mudanças climáticas, desta vez em Lima, no Peru.
A expectativa é que os dois encontros cheguem ao consenso necessário para um novo acordo climático mundial na reunião anual da ONU de 2015, em Paris.
No entanto, até o momento não se tem qualquer previsão de como transformar o acordo em algo legalmente vinculante, para que seja, de fato, efetivo.

Quatro números-chave do acordo EUA-China para reduzir emissões


12 novembro 2014



Barack Obama e Xi Jinping (Foto: Getty)
Acordo entre americanos e chineses para redução de emissão de carbono tem metas ambiciosas

Os Estados Unidos e a China anunciaram metas ambiciosas para limitar as emissões de gases causadores do efeito estufa no planeta. Os objetivos foram oficializados durante um encontro entre o líder chinês, Xi Jinping, e o presidente americano, Barack Obama, em Pequim.
A BBC Brasil destacou alguns números cruciais para entender o acordo entre os dois países - que, juntos, são responsáveis por cerca de 45% da produção de gases estufa.
Entre os pontos do acordo estão a promessa chinesa de aumentar a participação da energia limpa em sua matriz energética e o compromisso americano de dobrar o ritmo de redução de emissões a partir de 2020.


O acordo deve exercer um papel fundamental na conferência global sobre o clima marcada para dezembro de 2015 em Paris. O encontro discutirá as políticas climáticas a serem adotadas a partir de 2020.

Vencendo obstáculos

Segundo analistas, a negociação entre China e EUA teve de vencer obstáculos políticos: os dois países temiam efeitos econômicos negativos se apenas um deles adotasse iniciativas.
Nos EUA, grupos que se opunham às reduções de emissões de carbono apontavam a relutância do governo chinês em adotar medidas de contrapartida.
Já na China, a oposição vinha de segmentos que argumentavam que as emissões de carbono devem ser medidas com base no critério per capita, ou por habitante.
Recentemente, o país foi criticado por ter utrapassado a União Europeia nesse critério: a China produziu 7,2 toneladas per capita em 2013, enquanto a taxa europeia foi de 6,6 toneladas.
Já os Estados Unidos registraram emissão per capita muito superior, de 16,5 toneladas por pessoa.
Por outro lado, em termos absolutos, a China respondeu por 29% dos 36 bilhões de toneladas de carbono emitidas por todas as fontes humanas em 2013, segundo o Projeto Global de Carbono. Os EUA responderam por 15% e a União Europeia, por 10%.
Veja abaixo quais são os principais pontos dos compromissos assumidos pelas duas potências.
  • 2030 - Teto para a poluição chinesa

A China é um dos países onde as emissões de carbono aumentam mais rapidamente. Hoje, em média o país conclui uma nova usina de carvão a cada dez dias.
Pela primeira vez, o país estabeleceu como meta que essas emissões cheguem ao patamar máximo em 2030 – ou antes disso, se possível – , primeiro passo para a redução dos níveis de poluição do ar.
  • 20% - Fatia renovável na matriz chinesa

Pequim também estabeleceu uma meta ambiciosa de elevar dos atuais 12% para 20% a participação de combustíveis não fósseis em sua matriz energética.
Mas para cumprir a promessa, o país terá que construir usinas nucleares, eólicas e solares em uma escala massiva, até para padrões chineses.
Em um comunicado emitido após o encontro, a Casa Branca disse que a China precisará gerar entre 800 e 1000 gigawatts de energia: essa quantidade equivale à força gerada por todas as usinas de carvão chinesas e a toda a capacidade americana de geração de energia.
  • 26-28% - Redução de emissões pelos EUA

Já os Estados Unidos se comprometeram a reduzir os níveis de emissão de carbono registrados em 2005 para um patamar entre 26% ou 28% menor até o ano de 2025.
A meta seguida anteriormente por Washington era uma redução de 17% até 2020.
A meta americana é vista, porém, como "irrealista" por opositores republicanos. Eles prometem resistir às medidas, argumentando que as ações vão causar demissões nas indústrias e estados afetados e aumentar as tarifas de energia.

  • 2x - Ritmo de redução do EUA

Para alcançar sua meta, os Estados Unidos terão que praticamente dobrar o ritmo de redução das suas emissões de carbono.
A percenagem de redução anual programada para acontecer entre 2005 e 2020 era de 1,2%. Ela terá agora que subir para um patamar entre 2,3% e 2,8% entre 2020 e 2025.
Fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141214_clima_final_fd

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