OS ENSINAMENTOS ORIENTAIS E A GEOLOGIA (OS TRES CONTINENTES HIPERBÓREO, LEMURIANO E ATLANTE) DE MARIO ROSO DE LUNA


 
 
Os Ensinamentos Orientais e a Geobiologia
 Os três continentes HIPERBÓREO, LEMURIANO E ATLANTE de Mario Roso de Luna

Assim como a cultura greco-latina foi uma verdadeira revelação na Renascença, após a noite medieval, do mesmo modo a cultura do povo ário, trazida à luz pelos sancritistas, é uma revelação ainda maior para a nossa cultura contemporânea.
 As traduções dos Vedas, Puranas e Brâmanes; as expedições ao Tibete; as religiões e línguas comparadas; a filologia, etc., nos vão pondo em contato com as idades mais remotas do planeta, idades que, se aqui na Europa se caracterizaram pela barbaria troglodita como nos ensina a Paleontologia; em troca na Ásia deram civilizações colossais, verdadeiramente pré-históricas e ao lado das quais a nossa está longe de se comparar, pese a nossa vaidade de povo adolescente.
 Dia chegará em que consagraremos a esta empresa um trabalho mais avançado. Tamanhas revelações, com efeito, nos foram antecipadas por intermédio de uma mulher sábia e generosa, Helena Petrovna Blavatsky, a quem a Humanidade contemporânea não começou ainda a fazer justiça.
 
 Esta heroína, que realizou viagens perigosíssimas que eclipsam as de Marco Polo, Humboldt, Stanley e Livingston, nos deu nos volumes da sua Doutrina Secreta uma série de orientações, onde vão sempre entrelaçadas a religião primitiva da Humanidade e a ciência mais excelsa. Seu estilo, em aparência, confuso e desordenado; seus métodos de exposição, verdadeiramente orientais ou intuitivos; a magnitude do edifício erguido; os prejuízos de todo o gênero que nos avassalam; tudo, enfim, se conjura para nos impedir hoje de extrair de tal obra os devidos frutos.
 Vamos fazer um paralelo entre os ensinamentos que nos transmite a dita escritora sobre os continentes e as conclusões da Geologia.
 
 De cinco grandes formações continentais, consideradas como sendo troncos de povos ou Raças-Raízes da atual evolução terrestre, ela nos diz ao começar o segundo volume da Doutrina Secreta:
 1. De uma Ilha Sagrada ou imperecível, do Polo Norte, verdadeira Terra dos deuses e laboratório de raças futuras, devendo perdurar durante toda a evolução terrestre, que se denomina de Quarto Ciclo ou Ronda.
 2. Um continente boreal, do qual são restos todo o Norte de Europa, Ásia e América.
 3. Um continente austral ou lemuriano, que deixou como restos principais a Austrália e Madagascar.
 4. O continente da Atlântida, ocupando toda a zona do Oceano deste nome e mais ainda a Europa ocidental, parte da América e talvez, não pouca do Pacífico.
 5. O continente atual ou Ário, que abarca em realidade, dois: o de Ásia, Europa e África reunidas e as terras americanas.”
 Nossa ciência positiva atual tem que prescindir da Ilha ou primeiro continente, porque não o puderam alcançar nossas expedições polares mais atrevidas (2) e temos que nos contentar com o muito que dele têm falado, mais ou menos veladamente, os mitos e simbolismos religiosos de todos os tempos, com seus Monte Meru, Montserrat, Santo Graal, Terra Divina, Ilha dos Devas, etc. G. W. Surya publica sobre o “Polo Ártico e os ocultistas” um precioso artigo no Zentralblatt für Okkultismus, de Leipzig, onde comentando os últimos fracassos de Andrée e de Wellmann, pergunta: “Não é certo, pois, que o Polo Ártico parece guardar um segredo ante a Humanidade inteira? De onde procederá esta singular e insaciável ânsia por alcançar o Polo Norte e qual será o motivo da curiosidade científica, assinalado na glória de por o pé por vez primeira em um pedaço de terra coberta de neves eternas? Será o móvel de tão temerários esforços um algo desconhecido, que talvez atraia com força mágica a alguns investigadores? Quem é o senhor dessa ‘fortaleza polar’, que ordena aos ventos deter à distância os exploradores importunos, ou que os obriga a arribar, sem poder dar-nos sinal algum de suas vidas, de seus êxitos ou de seus fracassos?… Uns quantos viajantes entreviram, após as mais altas latitudes, algo assim como um mar livre de gelo e até troncos flutuantes de árvores. Além daquele mar livre, espécime de longínqua miragem está o país eterno e inacessível, a mansão dos deuses de que nos fala o Vishnu Purana e o próprio Pitágoras.”
 
 Deixando à Mitologia comparada a árdua tarefa de esclarecer quanto tem acreditado a Humanidade a respeito desse mistério terrestre, entendo que há muita cousa na face do globo, segundo conhecemos, que concorda com os ensinamentos da citada obra de Blavatsky, como vamos ver, a respeito dos outros quatro continentes, apoiandonos na Geologia. Para aproveitar melhor a leitura, convém que o leitor tenha um bom mapa diante dos olhos.
 Desde logo ressalta um fato singular a respeito do segundo continente de que fala a dita obra.
 A orientação das grandes linhas de cordilheiras na parte setentrional dos nossos atuais continentes, é sensivelmente de Sul a Norte, como se elas houvessem constituído em remotíssimos tempos uma irradiação a partir de um cume ou uma verdadeira linha de irradiação situada nas vizinhanças do Polo Ártico, e que até onde pode apreciar a exploração geográfica, sepultou-se abaixo do nível das águas posteriormente, formando o Oceano glacial do Norte.
 
 Orientados desse modo, vemos com efeito, os Montes Urais, entre as Rússias européia e asiática, continuando debaixo das águas, para entrelaçar-se com os arquipélagos de Nova Zembla e Francisco José, até os 84 graus de latitude; os Dofrines escandinavos, prolongados de igual modo pelo arquipélago de Spitzberg até os 80 graus; os montes do País de Gales e os Grampians escoceses, mais ou menos relacionados orograficamente com a Islândia aos 69 graus. Vemos, do mesmo modo, esta ilha e a Groenlândia com montanhas de vários milhares de metros de altura, que se perdem entre os 75 e os 83 graus de latitude; as complicadas terras do mar de Baffin e do Arquipélago de Parry, desde a margem direita do rio Mackenzie às terras de Alaska, e a cordilheira que na Ásia bordeja a margem direita do rio Lena e península de Zeimour, até latitudes semelhantes. Em resumo, seis ou oito linhas montanhosas, formando, por assim dizer, as espinhas de outras tantas massas continentais, despedaçadas e deslocadas de Sul a Norte pelo aparecimento posterior do Atlântico e o Pacífico, e de Este a Oeste, talvez, ou seja em sentido circular, pelo oceano Ártico.
 Tamanho continente, hoje coberto pelas neves perpétuas próprias de sua geológica velhice – velhice admiravelmente concordante com a atual posição do eixo da terra em relação à eclíptica – afeta a uma zona que, com o leito dos mares que em parte a ocultam hoje, talvez fosse mais extensa do que chamamos agora antigo continente, aparecido muitos milhares de séculos depois. Na atualidade, abarca a metade superior da América do Norte e mais da quarta parte da Europa e Ásia. Seus limites meridionais, que talvez tivessem cortado o atual Equador em mais de um ponto, se acham já apagados ou sepultados debaixo da formação diluviana russo-siberiana e dos infinitos acidentes orográficos que preparam em baixo o surto ulterior dos nossos continentes, como hoje os conhecemos.
 Semelhante formação antiquíssima, por mui pouco esboçada que nos pareça agora, não deixa de ter no planeta outra formação similar ulterior a que se devem, de igual modo, os atuais continentes, ou seja, o continente Ário, típico da Quinta Raça-Raiz, depois das catástrofes lemuriana e atlante.
 Nada mais fácil do que nos convencermos de tal cousa. Com efeito, suponhamos situados na Meseta de Pamir, esse ponto estratégico da velha Ásia, que parece ter servido de centro de dispersão mundial, tanto das montanhas como dos povos históricos. Semelhante meseta é o centro de uma imensa cruz de alinhamentos montanhosos, tal como talvez o fosse muito antes o legendário Monte Merú, centro polar para todo continente hiperbóreo.
 O braço do Nordeste é constituído pelas cordilheiras de Thianchan, de Altay, de Jablokoy e de Stanovol, que separam geograficamente o povo tártaro do povo chinês. Chegado ao vértice constituído pelo estreito de Bhering, continua entretanto em linha reta, ou melhor dito, em círculo máximo, pois que se trata de uma esfera e não de um plano, em toda a largura da América, até o cabo de Hornes.
 O braço Sudeste da cruz ou aresta da pirâmide orográfica de Pamir, é constituído pelos Himalaias e todos os alinhamentos paralelos da Indochina, enlaçados com o oriente da Austrália e Nova Zelândia, onde podemos considerar localizado o segundo vértice.
 O braço Noroeste, apenas com solução de continuidade além das alturas bactrianas, clarissimamente constituído pelo Norte do Irã, Armênia, Cáucaso, Carpatos e Balcãs, Alpes e Pireneus até o cabo de Finisterra na Espanha, onde podemos considerar o terceiro vértice ou extremo da grande cruz orográfica de Pamir.
 O braço Sudoeste, formado pelas alturas meridionais do Afeganistão e da Arábia, pelos montes da Abissínia e do oriente da África, até o cabo da Boa Esperança, que consideraremos como o quarto extremo da referida cruz.
 A considerações muito interessantes se presta esta nova maneira de ver nossa terra atual. Talvez os quatro fusos esféricos em que fica assim dividido o planeta – fusos que se cortam em Pamir e em seu antípoda das alturas peruanas – encerrem o segredo das quatro últimas Raças-Raízes daquela obra: o 2o ou do continente hiperbóreo no fuso do Norte, com o centro da superfície para o Polo Ártico; o 8o ou lemuriano em todo fuso do Sul, hoje quase todo sepultado e cujo centro se acha no maciço antártico; o 4o ou atlante em dois fusos: o de Este e do Oeste, com os centros respectivamente para a Espanha e para a Polinésia; o 5o ou ário, novamente, no fuso do Norte, sendo nossa História Universal, até os dias da descoberta da América ou da época contemporânea (época tão fecunda em revelações de todo gênero), um mero preparo ário-atlante dessa raça admirável, que hoje ostenta as suas civilizações principalmente na Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos.
 
 Seja como for, imaginai que uma mudança de posição da Terra no espaço, faça coincidir com linha Pamir-Perú seu eixo de rotação e que um cataclismo sepulte a toda Ásia Central, deixando no centro e acima do mar o Tibete. Tereis assim a explicação, com bastante fidelidade, de todas as aparências atuais do continente hiperbóreo, que passaria deste modo, como passou este último, de um clima cálido e paradisíaco, como o da Índia, ao clima ártico com as suas neves perpétuas.
 Comprovada pela descrição geográfica anterior, a existência do segundo continente de que nos fala A Doutrina Secreta, falta provar que, efetivamente, é o mais antigo que se conhece em toda a Terra. Com a Geologia na mão, é fácil fazê-lo.
 É clássico, com efeito, dentro da ciência de Lyell, o dito de que as formações graníticas da Europa, país cujos caracteres petrográficos e paleontológicos nos são mais conhecidos, são tanto mais antigas quanto mais se aproximam do polo. Assim se compreende que o granito dos Dofrines escandinavos se encontre mesmo na fronteira do terreno primitivo ou azoico – terreno primordial, sem vida ou sem fósseis – não obstante o qual se tem achado nos granitos de Grangesberg (Suécia) e em geral em todos, vestígios de uma matéria orgânica amorfa e de nenhum modo identificável com a dos seres vivos que conhecemos.
 Nenhum geólogo duvida de que entre tais granitos e os dos Pirineus, Alpes e outros que estão relacionados com a linha de cordilheiras, desde Pamir até Finisterra, mediam idades sem conta, dado que estes últimos reapareceram desde as camadas mais fundas do planeta, períodos depois dos que se têm como primários.
 Quem tenha contemplado de perto os fiordes noruegueses, escoceses e irlandeses, jamais esquecerá essa profunda impressão de velhice que os caracteriza, sobre tudo quanto exista de mais arcaico neste velho planeta. A eterna ação dos elementos vai desagregando, grão a grão, aquelas alturas, em outros tempos orgulhosas e cobertas pela luxuriante vegetação do trópico, alturas que, tal como tudo que se acerca do túmulo, se curvam, se deprimem buscando submergir-se em um mar acima do qual se ergueram orgulhosas outrora, vários milhares de metros.
 Tal é a fisionomia geral de todas as costas relacionadas com os mares árticos, sepulcro do mais velho de nossos continentes, selado para a Humanidade pelo augusto mistério da neve.
 Sempre que observamos a imersão lenta de uma faixa de terreno em lagos ou rios, a vemos apresentar esse aspecto de encharcamento que multiplica até o infinito os golfos, os canais e as baías, tal como se vê em todo Norte-América, desde o território dos Lagos de São Lourenço até os mais remotos limites das Ilhas de Parry, Alaska e Baffin. Com fartura o revela a inspeção dos mapas da dita zona.
 Por isso, sem dúvida, para o limite meridional de tão vasta comarca de granito primitivo, este se vê como que ornado por outra zona muito extensa de terreno primário, assim chamado por ser o primeiro dos terrenos de sedimentação ou netúnicos formados no fundo dos mares primordiais pelo depósito ou sedimentação das matérias arrastadas pelos rios e mares daquela idade, sendo extraordinariamente curioso o fenômeno de que tais formações antiquíssimas, que chegam a onze quilômetros de espessura, ocupem mais da terceira parte da Europa, principalmente, de São Petersburgo à Finlândia, a maior parte da Escócia e Gales, Finisterra e a Vendéa franceses, uma extensa zona no Oeste de Espanha, desde a Serra Morena até a Galiza e toda a Boêmia.
 No resto do continente europeu vêem-se por toda parte afloramentos cambrianos e silurianos, trazidos desde os estratos mais baixos de sedimentação pelas elevações ulteriores, pelo peso da grande zona montanhosa do Meio-dia da Europa. Enquanto na América do Norte, toda a região vizinha de São Lourenço, deu nome às formações principais que nos ocupam, tais como “terreno huttoniano”, “terreno laurentino”, etc., pelo qual os limites do grande continente ártico estabelecem a continuidade histórico-geológica com os nossos atuais continentes, através das longas épocas em que estiveram submersos.
 Neste fato adivinha-se logo um fenômeno muito importante.
 A Geologia fazendo considerações a respeito das costas escandinavas e escocesas, que nos são melhor conhecidas, teve que admitir que tais comarcas sofreram através das idades, um movimento primitivo de descida, outro de subida e um terceiro de descida, no fim do qual talvez hoje se encontrem.
 Há, certamente, costas como as de Valdewalla, Istadt e Karlsberg na Suécia e a de Cedarslund na Christiania, que mostram grandes depósitos de fósseis marinhos de mais de 200 metros de altura. Não podemos deixar de relacionar a primeira elevação que construiu as ditas formações montanhosas, com o segundo continente da Doutrina Secreta; e a imersão subsequente que colocou as supraditas formações debaixo d’água, pondo-as em condições de serem o leito marítimo daqueles seres pelágicos hoje fossilizados, com a elevação contrária que, além em latitudes meridionais, devia ocasionar, como veremos adiante, o terceiro continente ou da Lemúria. Quanto ao fato que concorreu para a elevação ao nível do mar ártico das ditas montanhas escandinavas, já sobrecarregadas com os citados fósseis, pode relacionar-se com a formação do quarto continente ou atlântico, que segundo é ensinado naquela obra, tinha seu limite Nordeste para aquela parte, sendo a lenta descida atual um movimento relacionado já com os futuros destinos geológicos do continente que habitamos.
 Platão, como Iniciado que era, soube cantar, ainda que veladamente, as excelências perdidas daquele paraíso hiperbóreo, como uma terra feliz, vizinha à dos Deuses, em que o Sol não se ocultava durante a metade do ano. Suas descrições, lidas com as chaves esotéricas, estão mui acima de quanto souberam os gregos a respeito do passado de um clima, já tão inóspito em seus dias como nos presentes.
 O extremo limite meridional do dito continente não constitui, em verdade, o terreno siluriano, mas sim o último, ou menos antigo, dos terrenos primários; o terreno permiano que, por singular coincidência, falta em todo o Oeste da Europa, como região cujos afloramentos atuais se devem, mais à imersão hiperbórea, à ulterior da Atlântida.
 
 Mesclados de estratos maiores ou menores de terreno silurico, vemos espalhados por toda Europa, os vestígios dos terrenos devonico e carbonífero, entre o silurico e o permico. O devonico do Sul dos Grampians e Galles; o do Oeste da França (Morbillan); o espanhol de León, Asturias e Serra Morena; o da direita do Rheno e aquele que na Bélgica e Norte da França enquadra as grandes bacias carboníferas conhecidas, e por isso mesmo, desnecessárias de enumerar.
 É verdadeiramente singular o terreno permiano. Batizado assim, mercê à cidade russa de Perm que nele se assenta, próximo da bifurcação mais típica dos Montes Urais, parece separar, por uma imensa faixa que chega até o Cáspio, o terreno granítico e silúrico russo escandinavo da grande depressão geográfica que se constata desde o Mar Cáspio até a desembocadura do Obi, depressão formada por todos os afluentes deste imenso rio, que serve de fronteira entre os restos do grande continente hiperbóreo e a ulterior emersão ária ou da Ásia Central.
 Ao abandonar definitivamente os terrenos primários, devemos consagrar uma lembrança aos vestígios que deixaram os mesmos, por Nubia e Abissínia, na África e – em uma terra geologicamente tão jovem como é a zona andina da América do Sul – no típico terreno de Minas Gerais (Brasil), com orientação parecida com a dos Alleghanys nos Estados Unidos, ou seja, a de Sudoeste a Nordeste, tal como se essas montanhas concorressem de mui longe para o continente ártico, a guisa de alinhamentos, ligadas com as de Groenlândia e Islândia, a menos que a interposição da vastíssima bacia do Atlântico, em consequência da emersão e imersão ulteriores de seu respectivo continente, não permitem, à primeira vista, ao menos, identificá-las como partes extremas do velho continente hiperbóreo.
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 Antes de falar do terceiro continente ou lemuriano, convém consignar de passagem, algumas idéias que em nossos dias começam a ser aceitas entre os geólogos. Por importante que seja a água nos proteismos evolutivos do planeta; por mais extensa que seja a zona terrestre coberta de mares e a grande profundidade de alguns destes, é um fato que a partir de um nível geral, pouco ou nada superior a oito ou dez quilômetros sob a superfície marítima, a terra é um esferóide completamente coberto por uma capa solidificada, análoga à película de toda massa esferoidal fundida, quando chegou a certo grau de esfriamento, enquanto que o mar é um mero acidente da dita crosta.
 Isso quer dizer que, o mar mais extenso e profundo, por exemplo, o Pacífico, não passa de ser, geologicamente, uma espécie de lago, enquadrado pelos Andes, o maciço antártico e as cordilheiras fronteiras de nosso velho continente e, isso é tão certo, que desde os mais elevados lagos de montanha, como o Titicaca e os dos Alpes, se passa até ao tipo do lago pelágico, valha a frase, ou seja, o Oceano, por uma gradação insensível, de que servem de exemplo, o Aral, o Cáspio e ainda o próprio Mediterrâneo, lago também em alguma época, de acordo com a lenda de Hércules.
 A aplicação das hipóteses astronômicas às geológicas a respeito da formação da Terra, supõe para esta uma origem ígnea seguida de um progressivo e secular esfriamento produtor da película sólida de nosso esferóide, tanto nas partes que afloram ao nível do mar, quanto naquelas outras, quatro vezes mais extensas, que constituem os leitos marítimos.
 Por conseguinte, devemos admitir, de acordo com as mais antigas e também com as mais recentes teorias geogênicas, que possua a Terra um núcleo metálico ou careça dele, existe debaixo de nossos pés, como debaixo das bacias marítimas, um verdadeiro oceano de fogo, sujeito a leis que são pouco conhecidas, porque a colossais temperaturas se juntarão pressões enormes, realizando o ideal químico de uma matéria sujeita, ao mesmo tempo, às leis dos gases e as dos sólidos. Deixando de parte as confirmações dessa teoria, deduzidas dos últimos fenômenos sísmicos, por não ser essa a nossa incumbência de hoje, encontramos, pois, que a crosta terrestre está apoiada, não em um oceano de água, mas de fogo e sobre este fato fundamental se há de apoiar todo o mecanismo das formações continentais.
 Supondo-se sobre o dito mar ígneo uma primeira capa sólida, tal como parece ser o granito, todos os aparatosos fenômenos de elevações e desaparecimentos de continentes podem reduzir-se a leis mui simples, a meras oscilações ou balanços análogos aos de um navio no mar, salvo as naturais diferenças de espaço e tempo. De acordo com as leis volumétricas bem conhecidas, é natural que uma vez formada a primeira capa sólida do esferóide terrestre, as contrações de volume, devidas a esfriamentos sucessivos, propendessem a imprimir-lhe uma forma tetraedica, porque entre os sólidos de igual superfície, a esfera é a forma de maior, e o tetraedro a de menor volume. Hoje mesmo, em um globo de relevo, podemos apreciar esta última forma com os quatro vértices correspondentes, um no maciço asiático, outro no europeu, um terceiro na América do Norte, e o quarto no continente antártico. Nossos mares representam as faces correspondentes do tetraedro.
 Prescindindo das erosões produzidas na superfície terráquea pelos agentes exteriores, as ações desconhecidas devido à diferente condutibilidade dos sólidos e líquidos para o calor, devem imprimir na superfície interior da crosta sólida que toca com a massa ígnea imediata, fenômenos seculares de variação de volume que transformando as leis de equilíbrio, façam oscilar as massas continentais, como os braços de uma balança quando se mudam os pesos de suas conchas. Que algo semelhante deve ocorrer nos continentes, parece indicar a própria orografia, pois em lugar de estarem colocadas suas cordilheiras principais para a metade da superfície continental, acontece que se apresentam muito mais perto de uma costa que de outra, tal como o barco que rara vez se afunda guardando a posição horizontal e inclinando-se sempre sobre uma ou outra borda. Assim o barco asiático aparece afundado do lado Sudeste, o europeu do lado Sul e o americano do lado do Oeste.
 Supondo-se a continuidade da crosta sólida terrestre sobre e sob o mar, e a tendência deste a cobrir as partes mais baixas, um mero balanço, insensível para o centro e apenas de uns milhares de metros para os extremos, foi suficiente para estabelecer a solução de continuidade ou o enlace do continente hiperbóreo com o seu sucessor, o lemuriano ou antártico. O mesmo movimento que sepultou a parte central do primeiro, ora de Groenlândia, ora de Spitzberg, ergueu o segundo com o centro para Austrália e Nova Zelândia ou Madagascar. Grande parte das comarcas intermediárias, tais como as vizinhas ao Mediterrâneo e aos Estados Unidos, puderam ficar incólumes ou pouco sofrer com um e outro fenômeno. A grande abundância de terrenos secundários (triássico, jurássico e cretáceo), na Espanha, França e algum outra região, talvez esteja mais relacionada do que se crê, com a sua própria posição geográfica para a metade do caminho entre ambos os centros continentais.
 Chegados aqui, sai-nos a caminho, uma grande dificuldade geológica e paleontológica, porque excluídos os seres primordiais, cuja vida se desenvolveu, indubitavelmente, debaixo das águas do mar, os fósseis dos terrenos ulteriores, ora vertebrados, ora moluscos, correspondem a seres cuja vida foi marítima para uns e terrestre para outros; porém, admitidas as teorias continentais que antecedem, os fósseis marinhos que apresente um terreno, tais como os moluscos, devem logicamente datar de uma época anterior à dos fósseis terrestres que pode apresentar o mesmo terreno, embora estejam mais ou menos confundidos com eles. Por exemplo, não devemos atribuir os moluscos marinhos encontrados na Austrália como se faz, ao terreno secundário, em cuja época já havia saído do fundo do mar o continente lemuriano de que a Austrália fez parte, mas à época primária ou de maior esplendor do continente hiperbóreo, na qual a futura Lemúria antártica jazia debaixo das águas, em condições adequadas para semelhante fauna pelágica. Do mesmo modo, o peixe siluriano não pertencerá, talvez, ao período siluriano, em que o continente hiperbóreo já havia aflorado à superfície das águas, mas sim, a uma época anterior; a da Ilha Sagrada, por exemplo, ou época primordial, como diríamos nós. Os peixes atuais aparecerão algum dia como fósseis nas sedimentações de um continente – futuro leito de mares, juntos ou mais ou menos confundidos com os da fauna terrestre correspondente a esse continente, dos quais estarão separados, entretanto, por um imenso período.
 Não há que dizer se este critério tão elementar introduz ou não uma profunda modificação nas nossas idéias sobre paleontologia. Um laberintodonte ou um microlestes do período triássico, um como anfíbio, outro como mamífero, estão provavelmente separados das trigonias e posidonias, que se incluem no mesmo terreno porque nele se vêm juntos por um abismo de milhões de anos; as segundas viveram sobre tal terreno enquanto ele esteve sob as águas, enquanto que os primeiros se desenvolveram sobre o mesmo quando já havia surgido à superfície. Daí, o dever de nos impormos uma grande cautela para julgar a respeito da simultaneidade da vida por encontrarmos fósseis de habitat diferente na mesma jazida, prescindindo da diferença de meio, e portanto, de tempo, que tal coincidência de estarem juntos na mesma camada, obscurece.
 De acordo com estas idéias, há que distinguir em cada formação dois períodos sucessivos: um, o de sua sedimentação marítima, caracterizada por fósseis pelágicos, tais como peixes e moluscos, e outra, o de sua elevação, indicado por fósseis terrestres tais como os mamíferos, resultando assim dos tempos do primeiro continente desconhecido, todos os fósseis marinhos do período primário até o terreno de Perm; dos tempos do segundo continente ou hiperbóreo, todos os fósseis marinhos classificados hoje como secundários; dos tempos do terceiro continente lemuriano, todos os fósseis de igual classe atribuídos hoje à época terciárias, etc.; ou, em resumo, todo terreno mostra em seus fósseis aqueles dois períodos e é preciso distinguir, como nos seres vivos, o tempo que pudéssemos chamar da gestação de cada terreno nos profundos seios dos mares e, o tempo ulterior de seu nascimento sobre as águas, ou seja, já com fósseis terrestres.
 Não vamos repetir aqui quantas demonstrações se tem feito, desde Lamark e Darwin, a respeito da existência do grande continente lemuriano. A fauna e a flora da Austrália, com o que conhecemos do maciço antártico, revelam uns tipos completamente distintos da fauna e flora boreal. Muitos escalões perdidos destas se acham entre os tipos fósseis atuais daquela, como se entre ambas mediasse um abismo em espaço e tempo, sendo a Índia a única região da Ásia que se relaciona mais de perto com o dito continente australiano-mascarenho. O cume mais típico, talvez, dos poucos que perduraram fora das águas desde aqueles dias, é o da Ilha de Páscoa, tão rica, além disso, em monumentos arqueológicos.
 O continente lemuriano, entretanto, não apresentou fósseis humanos para a ciência, pelo que, ainda que esta o admita pelas ditas razões, não o aceita como berço de seres humanos, apesar das tradições orientais e os anais religiosos, conservados no Adyta de certos templos tibetanos, nos falarem dele como sendo o primeiro continente habitado pelos homens mais parecidos aos da época atual e separados já em sexos, depois de um longo período em que foram andróginos, como tantos outros organismos em seus primeiros períodos e como o próprio feto humano, antes do quinto mês de gestação. Essas pobres raças de papuas e tasmanios, próximas da extinção, são os restos degenerados dos que formaram outrora opulentos impérios, dos quais nada sabe a nossa ciência contemporânea, como não sabe, tampouco, dos ulteriores que floresceram na Atlântida, o primeiro, todavia, dos continentes históricos cujos ecos chegaram até Platão.
 Copiemos a conhecida passagem do Timeu, onde se fala da grande catástrofe do afundamento da Atlântida, de que conservam lembrança todas as grandes religiões, embora que o tenham desfigurado sob o véu do mito, tal como sucede com a própria Bíblia na passagem saída do Egito e da catástrofe de Faraó.
 Um dia em que Solon conversava com os sacerdotes de Sais a respeito da história dos Tempos Remotos, um deles lhe disse: “Oh! Solon, Solon, vós os gregos, sereis sempre crianças. Nenhum de vós deixa de ser frívolo e inexperiente em tudo quanto concerne às tradições antigas. Ignorais o que foram aqueles heróis de que sois a progênie degenerada.”
 “O que te vou relatar remonta a nove mil anos. Nossos livros contam de que maneira resistiu Atenas aos ataques de uma potência formidável que, vindo do mar Adriático, invadiu uma grande parte da Europa e da Ásia, porque o Oceano de então, se podia atravessar com grande facilidade. Em frente as embocaduras que chamais Colunas de Hércules, existia uma Ilha maior do que a Líbia e a Ásia reunidas e os navegantes de uma e outra passavam até o continente fronteiro que bordeia aquele mar.
 Nesta ilha, Atlântida, viviam reis célebres por seu poderio e tinham fundado um império que abarcava toda a ilha e suas vizinhanças. Os ditos senhores dominavam da Líbia até o Egito e Europa até o mar Tirrênio. Um dia pretenderam subjugar aos povos aquém das Colunas de Hércules, e então foi quando a vossa cidade mostrou todo seu valor, arrostando os maiores perigos e restituindo a liberdade a todos os povos de aquém.
 Os tempos que se seguiram, foram caracterizados por grandes terremotos e inundações. No espaço de um dia e uma noite terríveis, todos os guerreiros que haviam chegado até a porta de vossos lares, foram tragados pelo abismo. A ilha Atlântida desapareceu sob as ondas do mar e daí vem que hoje não se pode explorar senão o mar que a cobre”.
 Existem livros meramente intuitivos, ou seja, desprovidos do que chama a nossa jovem ciência “fatos positivos ou experimentais”, que descrevem com preciosa amplitude o nascimento, prosperidade e ruína daquele povo gigantesco (3). Suas páginas estão implorando um canto épico superior ao de Verdaguer e ante elas empalidecem as formosas páginas do Pentateuco, relatando a passagem do Mar Vermelho pelo povo de Israel, conto simbólico que encerra o mesmo significado esotérico de um povo como o atlante, que atingiu as raias do saber e os abismos da magia negra mais horrenda e que foi sepultado no mar pelo que se pode chamar “a cólera do céu”. Os trenos comovedores do Dies irae, em que a Igreja junta o testemunho de David ao das Sibilas pagãs e o elegíaco canto do Sábado Santo e sua “Noite Terrível”, são outros tantos ecos longínquos, divinos, porém mui adulterados, daquele momento típico da história do Planeta, em que o mundo atlante da força deu lugar ao mundo ário do Amor, carregado das ubérrimas promessas do Destino, que se chamaram logo hindus, caldeus, egípcios, gregos, romanos e os que formam os povos modernos.
 Ante a ligeireza com que Humboldt trata este problema, eleva-se o testemunho unânime da tradição e ainda o da ciência.
 Tertuliano, Marcelo, Possidônio, Philon, Ammiano Marcelino, Dicearco, Manethon e outros tantos, são contestes com as revelações dos sacerdotes de Sais. Zaborovoski, em seu livro L’Homme prehistorique, demonstra que a geologia do Mediterrâneo está ligada com a da Europa, do Norte da África e leste dos Estados Unidos, nas três formações terciárias: eocena, miocena e pliocena.
 As relações pliocenicas da Europa e a América Setentrional, estão fora de dúvida, com as suas espécies idênticas de plantas, insetos, pássaros não emigrantes e peixes de água doce. A Etnologia prova a identidade de raça dos guanches cromagnones canarios, de um lado, com os líbio-iberos, nossos antecessores, e do outro com os povos peruano, mexicano, vasco, fenício, etrusco e egípcio, sendo as invasões árias de época mui posterior. A civlização egípcia e a dos povos americanos, tais como os astecas e incas, guardam pasmosas analogias, como o provam as pirâmides ou Câmaras de Iniciação de uns e outros, cousa fora de dúvida, depois dos estudos de Nadaillac, Chatellier e Nevoberry, e sobre os índios americanos os de Bory de Saint-Vincent, Tournefort, Mentelle, Böer e Gafaert, segundo eruditamente se demonstra na obra Iberos e vascos, de J. M. Pereira de Lima, que temos à vista. O mapa batimétrico ou de profundidades marítimas que traz a dita obra, é um precioso documento que nos mostra a destruição e desaparecimento das terras atlânticas, desde Espanha até o Golfo do México. Entretanto, afloram seus cumes para os Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde, cujo estudo geológico, do mesmo modo, é de um interesse excepcional.
 Desde então, acreditou-se que o afundamento atlante afetou somente a extensa região do Oceano de seu nome. Nós, todavia, suspeitamos que tamanho fenômeno geológico afetou a toda zona equatorial da Terra.
 A batimetria do Norte do Pacífico nos mostra entre Japão e Califórnia a enorme depressão marítima da Tuscanora, guardando analogias de profundidade e situação com a oriental do Golfo das Antilhas; entre uma e outra depressão, se elevam normalmente os Andes americanos. Esta formação quaternária é uma verdadeira dobra terrestre, elevada de Norte a Sul, à custa das duas grandes depressões citadas, do Atlântico e do Pacífico. Para a primeira depressão contribuíram, do lado contrário, os Alpes e Pireneus e para a segunda depressão auxiliaram as elevações do Himalaia, China e Indochina. A zona vulcânica, desde as Molucas até Alasca, através das Filipinas e o Japão, está por isso, intimamente relacionada com os vulcões dos Andes, como estes estão para o outro limite continental, com o Ecla, o Teide e a zona vulcânica armênio-mediterrânea. O que importa dizer, que todos os vulcões de nosso planeta estão ligados geologicamente com tamanho afundamento continental, que foi, em ponto pequeno, para a Terra, algo semelhante ao vulcanismo lunar que, muito mais intenso, deu à Lua a desolada e morta fisionomia que hoje nos revela o telescópio.
 Morreu, pois, o continente atlante nas mãos do continente ário atual, como o continente hiperbóreo sucumbiu, mercê a elevação lemurica e os ensinamentos dos Templos orientais alcançaram muito mais longe que a nossa novíssima geologia, na sondagem do passado de nosso planeta… É um fenômeno natural… que se repete sempre. Quando remontamos do fundo e obscuro vale da nossa ignorância de bestas humanas em divina evolução, para as alturas de novos ideais científicos, nos vemos surpreendidos, não só pelas perspectivas do vale que deixamos às nossas costas, como também, pela de outras alturas separadas da nossa por outros vales que a Humanidade outrora abandonou. Por isso, se nas épocas de ignorância, a Humanidade pôde chorar, com o clássico, no vale da dor, as épocas das grandes culturas e das brilhantes conquistas são a realização bendita do mito de Prometeu que, escalando a altura do saber, roubou o fogo divino da inteligência a uns deuses invejosos e egoístas, para enriquecer com ele a uma Humanidade desvalida, redimindo-a, como fazem todos os redentores, à custa de seu sangue e de sua vida.
 Mario Roso de Luna
 

(1) O presente artigo, é a tradução do capítulo da obra Hacia la Gnosis, que tem por título Las ensenanzas orientales y la Geologia e por subtítulo Los três continentes: Hiperboreo, Lemuriano y Atlante. É uma das maravilhosas jóias literárias do insigne Teósofo e polígrafo Dr. Mario Roso de Luna, para a qual chamamos a atenção dos nossos ilustres leitores. – N. da Redação.
(2) Depois que foi escrito este artigo, outros exploradores tentaram a arriscada investida contra “o mistério polar”. Dentre eles, figura o célebre explorador norueguês Amundsen que afirmou ser o Polo situado num oceano livre – no que discordaram vários cientistas.
Digno de nota, porém, o seu gesto incomparável indo a procura do General Nobile e seus companheiros, perdidos entre as neves eternas das regiões polares, cujo gesto lhe causou a perda da vida. Quanto a este último – como é sabido – além das várias perdas de vida, sofre moralmente, neste momento, pelas várias acusações que pesam sobre a sua pessoa, segundo o inquérito instaurado para averiguar do fracasso de sua missão. De nada lhe valeu a “cruz” que lhe ofereceu o Papa para ser atirada quando passasse sobre o Polo. – N. da Redação.
 in Revista Dhâranâ nº 49 a 51 – Janeiro a Março de 1930 – Ano V
Fonte:http://a-origem-do-homem.blogspot.com.br/2014/11/

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