O AMOR E A MALDADE

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Deve-se vigiar continuamente para que a sombra da maldade não obscureça o amor e a vida (Arte: Bonnybbx/Pixabay)


O mundo seria infinitamente melhor se todas as pessoas tomassem como filosofia de vida simplesmente “seguir o caminho do bem”. Mas por que somos cercados por tanta maldade? O que leva alguém a tornar-se cruel? A falta de amor causa as mais horrendas perversidades. Assim, é difícil acreditar que no coração de quem ama haja espaço para a maldade.
O que é a maldade? Uma ação destrutiva, realizada apenas por pessoas naturalmente perversas? Não. A maldade pode tomar conta do coração de qualquer pessoa, num instante de raiva, por exemplo, quando a barbárie sobrepuja a razão. Desse modo, todos nós podemos ter um lado mau, uma escuridão que se apodera de nossas mentes.
Veja: você pode ser mau quando o amor está ausente. Em atos de maldade não se vê o amor. Mas o que é o amor? O amor é um sentimento de quem simplesmente gosta de algo ou de alguém. O amor se relaciona a um estado de paixão, também. Vai de zero a cem num piscar de olhos. E, às vezes, ultrapassa os limites de velocidade, desaparecendo sem dizer adeus.
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Nas atitudes da vida simples e nos gestos aparentemente sem importância encontra-se o amor (Foto: GLady/Pixabay)

Se você abraça uma pessoa, demonstra um sentimento de afeto, digamos mesmo de amor. Igualmente acontece se você beija na boca. É o amor num grau mais intenso. Que seja paixão até. Logo você está apaixonado. Incorpora, simultaneamente, uma sensação de poder e fragilidade. Você tem o amor dentro de si, mas pode perdê-lo no outro. Se o objeto do amor falta, vêm a saudade e as lágrimas. É claro que esse objeto pode ser qualquer coisa.
Amo uma pessoa, amo um filho, um amigo, amo o pai e a mãe. Mas também amo caminhar no bosque pela manhã e sentir a brisa leve tocar o meu rosto. Amo aquele clima que se faz antes do temporal, quando nuvens escuras se reúnem no firmamento e uma ventania balança os galhos das árvores, assoprando as folhas secas do chão. Se, naquele dia, não caminho no bosque, sinto falta, como sinto falta do clima antes da tempestade. Por que isso? Porque esse clima me traz um sentimento de nostalgia e solidão. Posso amar a nostalgia e a solidão.
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O objeto amado pode ser o outro, os entes queridos e familiares, bem como a natureza numa caminhada pela manhã (Foto: miss60_d/Pixabay)

Imagino que você possa amar seu animal de estimação, talvez um gato gorducho ou um vira-lata que adotou da rua. Se, naquele dia, o gato ainda não chegou do seu passeio noturno, você sente falta. Ou, se o vira-lata está triste, você também fica triste. Quem ama compartilha os sentimentos do ser amado, seja de tristeza ou de alegria. Você se alegra porque o cãozinho quer brincar. Você ama vê-lo feliz quando lhe atira um graveto e ele corre para buscar.
E é assim que funciona: o bem caminha ao lado do amor. Ambos trabalham a favor da vida. Porém, se, ao invés de adotar o vira-lata abandonado, a pessoa atira-lhe um tijolo, é porque está sem amor. Se, ao invés de deixar em paz o mendigo que dorme ao relento, a pessoa ateia-lhe fogo, está sem amor. Está desprovida de amor a pessoa que pisoteia, propositalmente, os canteiros de flor. Obviamente, queimar o mendigo está entre as piores monstruosidades. Mas pisar nas flores nunca deixa de ser maldade.
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A bondade age ao lado do amor, a favor da manutenção da vida, produzindo a paz até entre seres supostamente inimigos (Foto: 2allemankind/Pixabay)

A maldade pode ser classificada em níveis. Grandes atos de maldade produzem a morte, provocam a ruína. Tudo porque o amor não está no coração de quem é mau. Aliás, quem é mau por natureza não tem coração. Você bem sabe que gerar algo é coisa demorada. Construir, criar, nascer por espontaneidade, como as plantas... Tudo segue um longo e lento processo. A criança é fruto de duas pessoas que se amam, é gerada, demora para nascer, cresce, estuda, vira adulto. De repente, num disparo, a bala perfura-lhe o peito. Ceifa-lhe a vida no breve tempo de se estalar os dedos, de apontar o revólver e atirar.
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A maldade acaba rapidamente com aquilo que levou anos para ser gerado; a bala do revólver tira a vida num instante inesperado 
(Foto: VaniaRaposo/Pixabay)

No ato da maldade, o coração humano apodrece, seca, vira pedra. E a face escura do mal pode estar em mim, em você, na pessoa ao seu lado, não apenas em quem é originalmente perverso. Por isso, nunca deixe de amar. Cuide para que, nas coisas aparentemente insignificantes que você faça, exista o amor. Pense, humildemente, no prato de comida que você come, no alimento que o sustenta. É isso que lhe dá a vida. Ame-a. Ame a si mesmo, ao próximo, à natureza. Ame estar com seus familiares, cultive as amizades... Cuide, porque a sombra da maldade pode estar bem aí, sob seus pés, esperando somente uma ínfima distração para o atacar, destruindo tudo de bom que você levou anos para criar.
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É preciso cuidar para não deixar que a maldade se aproveite de um vacilo para exercer sua pavorosa dominação (Arte: ghwtog/Pixabay)

Por Márcio Chocorosqui


Fonte:
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/leve_no_temporal/2014/10/o-amor-e-a-maldade.html#ixzz3Fajy7vJX
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