DAS IMPLICAÇÕES DE CRESCER

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Por Jeffrey W. Hamilton 1999. Disponível em: http://growingupgirls.info/Book/GrowingUp.htm 

Das implicações de crescer

Por Helena Silva

Talvez fosse mais fácil se significasse somente aumento de estatura...

Crescer. Talvez em algum momento da infância esse se torna o desejo de uma criança por enganosamente pensar se tratar de algo que traz unicamente benefícios, afinal é chato demais ter que obedecer a um adulto, não poder brincar até determinada hora, não poder fazer tudo o que quer, ter de lidar tanto com o sim como com o mais duro não, aturar os castigos e as palmadas, ser novo ou pequeno demais para coisas que parecem tão interessantes dentre outras coisas pequeninas que podem afetar uma criança de maneira a fazer com que pense que esses probleminhas estariam resolvidos a partir do momento que se tornasse adulto ou que não haveria nenhum outro problema, pois “adultos comandam” , “adultos tudo podem” e “adultos tem mais liberdade”.
Contraditoriamente após crescerem, muitas “ex-crianças” sentem saudade de diversos momentos da sua infância, inconformados, muitas vezes desejam ser novamente uma criança. Quem sabe esse não chega a ser um pedido de aniversário ao fechar os olhos e assoprar as velinhas?
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O fato é que, se por um lado ser criança traz impedimentos, ser adulto traz responsabilidades (também há impedimentos, é claro, de acordo com o ambiente em que um adulto se encontra, o papel que assume, as pessoas com quem tem que lidar, existem limites).
Conforme vamos crescendo porém, vamos percebendo que não se trata só de aumentar de tamanho e gradualmente ter liberdade para fazer certas coisas que antes não podíamos, vamos percebendo as exigências do crescer e as transformações provocadas pelo crescer. A puberdade, as cobranças, o que se pode fazer em certa idade, o que não se pode mais, o que se deve fazer em certa idade, o que não se deve.
Imagem 3.jpg "A lagarta e a Alice olharam-se uma para outra em silêncio. Por fim, a lagarta tirou o narguilé da boca e dirigiu-se a menina com uma voz lânguida, sonolenta. - Quem é você? - perguntou a lagarta. Não era uma maneira muito encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: - Eu, eu não sei muito bem senhora, no presente momento... Pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então. - O que você quer dizer com isso? - perguntou a lagarta severamente - Explique-se! -Eu não posso explicar, eu receio senhora - respondeu Alice - porque eu não sou eu mesma. Vê?"
Mas crescer não é só isso, são as posições que temos que assumir, as novas obrigações as quais estamos sujeitos, a nova forma como lidamos com as pessoas, as novas relações que contraímos... Por um lado como na infância há impedimentos e não tanta liberdade como se pensava. Por outro, não o mesmo encantamento e pureza existente durante a infância: os momentos de descontração nas suas formas mais simples, as brincadeiras bobas que facilmente agradavam, alguma atitude que sem querer provocou risada em outros adultos, as gracinhas, os elogios, a liberdade de pular e correr sem aparentemente nenhum motivo, o deslizar no chão de uma loja após uma corrida pelo local, um “passeio”pelo supermercado no carrinho de compras, cantar cantigas, brincar de ciranda, amarelinha, desenhar um sol com um pedaço de giz ou mesmo de tijolo de construção, como aquele trecho de Giz, da banda Legião Urbana:
“Desenho toda a calçada, acaba o giz, tem tijolo de construção. Eu rabisco o sol...que a chuva apagou...”
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Enfim, crescer também implica em adequar-se a uma nova realidade, a despedir-se de certas coisas sejam elas tristes ou alegres, é habituar-se a ouvir coisas que antes não se ouvia, dizer coisas que antes não dizia. Às vezes, quando nos acostumamos com uma realidade antiga é difícil acreditarmos na nova realidade, possivelmente por termos sido fortemente marcados por elementos da antiga realidade, esses que por sua vez eram tão frequentes. Pode ser que haja dificuldade em se olhar no espelho e ver o rosto de um novo ser, aquele que somos atualmente.
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Bem se vê que crescer significa muitas coisas que uma criança não pode imaginar, nem acho que deva, é bom que isso fique adormecido para que ela continue a ser criança (sabemos no entanto, que para muitas crianças infelizmente isso não fica adormecido por muito tempo). Acredito que crescer não deva representar a morte da criança que um dia se foi, precisamos de uma criança interior, precisamos dessa união entre o que fomos um dia e o que somos atualmente. A união faz com que haja momentos brandos, a união faz com que se enxergue a beleza mesmo em situações em que tudo parece ruim. Ela rompe os momentos ásperos da vida.
Lembro que muitos adultos ou ex crianças lidam com crianças, muitos as criam, as formam, tem um compromisso com elas e valores a ensinar. Penso se tudo o que aprendemos de fato aprendemos e ainda sabemos e se tudo que ensinamos de fato exercemos. É que às vezes nos desprendemos tanto do que é ser criança e acabamos nos esquecendo de todo o processo que nos levou a sermos adultos. Isso me lembra uma adaptação chamada “A flor mais grande do mundo” baseado em uma obra de José Saramago. Deixo uma parte específica abaixo, que questiona os ensinamentos que queremos passar adiante tendo as histórias (infantis) como base, que é uma das diversas maneiras que possuímos para ensinar e aprender a respeito de algo.
“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”
(A maior flor do mundo)
Essa foi uma homenagem a todas as crianças e ex-crianças. Como eu adoro animações e citei Saramago, eis o vídeo de “A flor mais grande do mundo” baseado na obra “A maior flor do mundo”. Recomendado para crianças e ex-crianças.


Fonte:© obvious: http://lounge.obviousmag.org/introverso/2014/10/d.html#ixzz3G6wIvpWS
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