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SURREALISMO NO CINEMA : A JANELA ENCANTADA

Surrealismo no Cinema


"Fellini- Satyricon", Federico Fellini, 1969Penso que os primeiros filmes com forte conteúdo surrealista que vi, então na TV, foram “Sanatorium pod Klepsydra (1973, Wojciech J. Has) e “Fellini – Satyricon” (1969, Federico Fellini), era eu adolescente. Não posso dizer que os tenha compreendido minimamente, ou mesmo gostado deles. Mas a verdade é que nunca mais os esqueci. Marcaram-me pela forma como me provocaram, com narrativas desconcertantes e soluções visuais por vezes chocantes.
Como gosto do fascínio trazido pelo acesso a áreas mais irracionais da nossa mente, sobretudo aquelas que se dizem subconscientes, de instintos e desejos primários, e da forma como nos são transmitidas de modo quase poético, como seja por sonhos ou pela arte, decidi embrenhar-me neste ciclo dedicado ao surrealismo no cinema. Com ele tentarei explorar filmes e formas de fazer cinema menos comerciais.
Nota: Não se pretende neste ciclo escrever uma lista completa de cinema surrealista nem tão pouco definir o que isso seja. O objectivo é simplesmente olhar para alguns filmes que usam elementos surreais na base da sua concepção. A lista é portanto reduzida e perfeitamente subjectiva.

O movimento surrealista

Os Surrealistas em Paris, 1933O surrealismo, como movimento artístico, surgiu em França no século XX, no período entre as duas guerras mundiais. Começou como um movimento literário, que se baseava na associação livre de ideias, como forma a libertar o subconsciente do realismo, num tipo de automatismos que touxessem à tona um tipo de imaginação que não seja limitada pelo racional e convencional, dando a conhecer os processos primários pelos quais o pensamento humano acontece. Em certa medida, o movimento insere-se num conjunto de novas linguagens trazidas para a arte (apressadamente chamadas de avant-garde), que incluíam o impressionismo, o expressionismo, o dadaísmo, o cubismo e outras artes abstractas, transversais a literatura, música e artes visuais.
Sigmund FreudO conceito iniciou-se na poesia, nas obras de Louis Aragon (1897–1982), Paul Éluard (1895–1952) e Philippe Soupault (1897–1990), e ganhou uma forma estruturada nos ensaios do psicólogo e escritor André Breton (1896–1966). Com o seu Manifesto do Surrealismo (1924), Breton traçava as bases teóricas do movimento, e definia o caminho a seguir. Sendo a França a capital cultural europeia da Europa do momento, local onde rumavam todos vultos intelectuais, o surrealismo logo extravasou fronteiras e tornou-se um fenómeno internacional.
"A canção de amor", Giorgio de Chirico, 1914Os surrealistas procuravam inspiração na obra do psicólogo austríaco Sigmund Freud (1856–1939) que, através da associação livre, pretendia aceder a zonas da mente humana habitualmente bloqueadas pela educação, e inibições sociais. O que Freud procurava através da hipnose e estudo dos sonhos, os surrealistas tentavam ao criar imagens surpreendentes, bizarras e chocantes, desprovidas de racionalidade. Em ambos os casos a resposta estava no acesso ao subsconsciente.
"Hera", Francis Picabia, 1929O movimento iniciou-se como literário, e é essencialmente sobre literatura que incidem os textos de Breton. No entanto, desde logo os artistas visuais aderiram ao imaginário surrealista. Pintores como Giorgio de Chirico (1888–1978), Pablo Picasso (1881–1973), Francis Picabia (1879–1953), e Marcel Duchamp (1887–1968), estiveram entre os primeiros a deixar o surrealismo marcar as suas obras, ganhando a admiração de Breton e seus seguidores. Àqueles seguiram-se artistas visuais como Max Ernst (1891–1976), André Masson (1896–1987), Joan Miró (1893–1983), Man Ray (1890–1976) e René Magritte (1898–1967). As suas obras privilegiavam o erotismo, os desejos reprimidos, a violência, as"O anjo da lareira", Max Ernst, 1937paisagens inspiradas em sonhos, e recorrendo a automatismos visuais. O método da collage foi também usado como uma justa expressão do subconsciente. Um passo em frente deu-se com o adoptar de distorções e ilusionismos visuais, patentes na obra de Salvador Dalí (1904–1989), Paul Delvaux (1897–1994) e Yves Tanguy (1900–1955).
Em 1929 Dalí mudou-se para Paris, e tornou-se um dos mais célebres representantes do Surrealismo, na pintura. Claramente usando a sua influência freudiana, Dalí canalizou o subconsciente na sua obra, sendo motivo de elogio no Segundo Manifesto do Surrealismo de Breton.
"Os amantes", René Magritte, 1928O Surrealismo, como movimento organizado, terminou no início da Segunda Guerra Mundial, com a invasão de França pelas tropas Nazis, e a fuga dos intelectuais para outras cidades do mundo. Um certo renascimento deu-se em Nova Iorque, onde alguns destes artistas se reuniram, e viram a sua obra encontrar refúgio nas galerias de arte. Uma Exibição Internacional de Surrealismo seria mesmo organizada por André Breton "O enigma do desejo", Salvador Dalí, 1929em 1940 na Cidade do México, e esta englobava já artistas sul-americanos como Frida Kahlo (1907–1954) e Diego Rivera (1886–1957), os quais não se consideravam surrealistas, mas tinham a sua obra impregnada de simbolismo e folclore local. Essa síntese entre surrealismo e outros conceitos abstractos continuou a marcar a obra de muitos outros artistas posteriores, até aos dias de hoje.

Os surrealistas e o cinema

"La coquille et le clergyman", Germaine Dulac, 1928Embora os dadaístas e outras correntes avant-garde rejeitassem o cinema como um meio preso ao impressionismo e ao realismo, alguns autores começaram a experimentar com as novas linguagens logo nos anos 20. Entre os primeiros realizadores influenciados por estes movimentos a usar a abstracção no cinema contam-se Hans Richter (1888–1976) e Viking Eggeling (1880–1925), Marcel Duchamp, e Dudley Murphy (1897–1968), que influenciados pela nova pintura filmaram usando inovadoras técnicas de fotografia.
Cedo os surrealistas sentiram que o cinema, dada a sua natureza de veículo de sonhos, podia ser um meio de expressão do movimento. Por exemplo Breton adorava o cinema de Chaplin e Buster Keaton, pela sua capacidade de quebrar convenções e nos surpreender com instintos prímários. O teórico Antonin Artaud (1896–1948) foi o primeiro surrealista a escrever um argumento completo para cinema, que seria realizado por Germaine Dulac como “La Coquille et le Clergyman” (The Seashell and the Clergyman, 1928), autora da teoria do “Cinema Puro”, que se baseava em ideias do Surrealismo e defendia o cinema como um meio liberto da literatura, teatro ou outras artes visuais. Artaud rejeitaria o filme como uma negação do surrealismo, o que iniciava uma polémica que nunca mais terminaria: o que é verdadeiramente um filme surrealista?
"Un chien andalou", Luis Buñuel e Salvador Dalí, 1929Umas mais outras menos aceites pelo movimento surrealista oficial, começaram a surgir obras cinematográficas claramente influenciadas pelos seus conceitos. Estão entre elas “Entr’acte” (1924) de René Clair e Francis Picabia; “Estrela do Mar” (L’Étoile de Mer, 1928) de Man Ray; “Um Cão Andaluz” (Un Chien Andalou, 1929) e “L’Age d’or” (The Golden Age, 1930) ambos de Luis Buñuel e Salvador Dalí; “O Sangue de Um Poeta” (Le Sang d’un Poète, 1930) de Jean Cocteau.
"Spellbound", Alfred Hitchcock, 1945“Um Cão Andaluz” foi largamente elogiado por André Breton, tornando-se um pouco a bíblia do cinema surrealista. Mas o filme foi um sucesso comercial, e isso foi mal visto pelo movimento, que não aceitava que as suas ideias pudessem ser facilmente acedidas pelas massas. O filme seguinte de Buñuel e Dalí faria com que ambos discordassem e terminassem a sua colaboração, com Dalí a retirar-se para a pintura (participaria ainda numa colaboração com Walt Disney, e noutra com Alfred Hitchcock). Buñuel rejeitaria o movimento em 1932, mas muitos dos seus filmes futuros continuariam cheios de referências surrealistas.
O último filme a ser considerado como pertencendo ao movimento surrealista oficial é “Dreams That Money Can Buy” (1947) de Hans Richter, contando com colaborações de Hans Richter, Man Ray, Duchamp, Léger, Max Ernst e Alexander Calder.

O surrealismo no cinema

Embora oficialmente o movimento surrealista tenha terminado há muito, e embora desde sempre se tenha discutido se um filme é ou não puramente surrealista, a verdade é que o surrealismo como conceito não parou de influenciar a obra de muitos autores da segunda metade do século XX até aos dias de hoje.
"O sétimo selo", Ingmar Bergman, 1956Sem se pretender dar uma lista completa (tal é impossível de definir) de filmes de influência surrealista, pode-se apontar desde já um conjunto de realizadores que recorrem frequentemente ao surrealismo como meio de elaborar a sua construção narrativa e visual. É o caso de reputados autores europeus como Ingmar Bergman, Federico Fellini, Wim Wenders e Jacques Prévert; realizadores da Europa de Leste como Jan Svankmajer, Walerian Borowczyk e Wojciech Has; sul-americanos como Alejandro Jodorowsky, Fernando Arrabal e Raúl Ruiz; realizadores anglo-saxónicos contemporânos como os americanos David Lynch e Terry Gilliam, o canadiano David Cronenberg e o britânico Peter Greenaway. Todos eles de uma forma ou de outra recorrem a artífícios narrativos desconcertantes, simbologia freudiana, exploração de desejos reprimidos e uso constante de uma ironia subversiva, para confundir e provocar os espectadores.

Bibliografia consultada

Surrealismo no cinema – apêndices

1. O Surrealismo na Arte: algumas galerias online

2. Bibliografia aconselhada sobre o surrealismo no cinema

O Surrealismo:
  • ADES, Dawn – Dada and Surrealism Reviewed. London: Arts Council of Great Britain, 1978.
  • ALEXANDRIAN, Sarane – Surrealist Art. New York, NY: Thames & Hudson, 1985.
  • BRADLEY, Fiona – Surrealismo. Lisboa: Editorial Presença, 2000.
  • BRETON, André – Manifestoes of Surrealism. Ann Arbor, MI: University of Michigan Press, 1969.
  • CHAVOT, Pierre – Abcedário do surrealismo. Lisboa: Público DL, 2003.
  • DUPLESSIS, Yvonne – O Surrealismo. Mem-Martins: Inquérito, 2009.
  • DUROZOI, Gérard – O Surrealismo. Coimbra: Edições Almedina, 1976.
  • FORTINI, Franco – O Movimento Surrealista (2ª edição). Lisboa : Editorial Presença, 1980.
  • KLINGSÖHR-LEROY, Cathrin – Surrealismo. Köln: Taschen, 2010.
  • BRANDON, Ruth – Surreal Lives: The Surrealists, 1917–1945. London: Macmillan, 1999.
  • MUNDY, Jennifer (ed.) – Surrealism: Desire Unbound. Exhibition catalogue. London: Tate Publishing, 2001.
  • RUBIN, William S. – Dada and Surrealist Art. New York, NY: Abrams, 1968.
O Surrealismo e o Cinema:
  • KOVACS, Steven – From Enchantment to Rage: The Story of Surrealist Cinema. London: Farleigh Dickenson UP, 1980.
  • KUENZLI, Rudolf E. (ed.) – Dada and Surrealist Film. New York, NY: Willis, Locker and Owens, 1987.
  • MATTHEWS, J. H. – Surrealism in Film. Ann Arbor, MI: University of Michigan Press, 1971.
  • SHORT, Robert – The Age of Gold: Surrealist Cinema. London: Creation Books, 2003.
  • WILLIAMS, Linda – Figures of Desire: A Theory and Analysis of Surrealist Film. Urbana, IL: University of Illinois Press, 1981.

3. Personalidades do Surrealismo

Sigmund Freud (1856–1939)
Psicólogo
Sigmund Freud (1856–1939)Neurologista austríaco de origem judia, que pelos seus estudos sobre sobre o subconsciente e mecanismos de repressão, e pelas terapêuticas sugeridas como forma de aceder áreas menos conhecidas da mente humana, é considerado o pai da psicanálise, e um dos maiores vultos da psicologia.
Sem estar ligado ao movimento surrealista proprimanete dito, Sigmund Freud é uma força inspiradora do movimento. Para Freud a mente humana é formada por áreas que estão ligadas a desejos primários (nomeadamente desejos de ordem sexual), os quais são reprimidos, e por isso de difícil acesso de forma consciente.
Para Freud os mecanismos de repressão podiam ser torneados em determinadas circunstâncias, as quais permitiam aceder a essas áreas do subconsciente, de modo a resolver conflitos que possam pôr em causa o bem estar da pessoa. Para tal Freud postulou sobre a interpretação de sonhos, a hipnose, a livre associação, etc., comentando a importância da educação, sexualidade, arte e religião.
É esse novo mundo do pensamento aberto pelo trabalho de Freud que inspirará os surrealistas.

André Breton (1896–1966)
Escritor, Poeta, Ensaísta
André Breton (1896–1966)Nascido na Normandia, e estudante de medicina e psiquiatria, o autor francês Andre Breton é considerado o fundador do movimento surrealista, que definiu no seu primeiro Manifesto Surrealista, de 1924.
Breton iniciou-se nas letras, escrevendo na revista Littérature em 1919, com Louis Aragon e Philippe Soupault, seus futuros colegas do movimento. Com a sua obra Les Champs Magnétiques, escrita com Soupault, Breton inaugurou aquilo a que chamou a a escrita automática, que consistia em associações livres. Em 1924 fundou a revista La Révolution Surréaliste, na qual reuniu vários autores sensíveis ao novo movimento.
Com a II Guerra Mundial, e a ocupação de França Breton, um comunista, viajou e trabalhou no continente americano. Após a guerra voltou a França, batendo-se sempre pelas suas posições políticas.
André Breton funcionou sempre como um regulador do surrealismo, ajudando a criar congressos e exposições internacionais, deixando uma vasta obra literária, onde se incluem diversos ensaios sobre esta corrente artística.

Paul Éluard (1895–1952)
Poeta
Paul Éluard (1895–1952)Paul Éluard foi um famoso poeta francês e um dos fundadores do movimento surrealista.
De saúde frágil, Éluard conheceu a esposa Gala (futura Gala Dalí) num sanatório suíço, numa fase em que começava a escrever poesia. Foi em 1918 apresentado a André Breton, e passou a viver em menage a trois com Gala e o pintor dadaísta e surrealista alemão, Max Ernst, frequentando os círculos surrealistas.
Durante a II Guerra Mundial Éluard lutou na resistência e dedicou vários poemas a esse período. Éluard tornou-se um fervoroso comunista, e adepto do stalinismo, o que o levou a separar-se dos surrealistas, tradicionalmente trotskistas. Éluard deixou uma vasta obra poética e política.

Antonin Artaud (1896–1948)
Dramaturgo, Poeta, Actor, Director de Teatro, Ensaísta
Antonin Artaud (1896–1948)Nascido em Marselha, mas de ascendência grega, Artaud cresceu por entre uma série de problemas de saúde incluindo diversos episódios de depressão. Após uma estadia no exército, em 1920 Artaud rumou a Paris e destacou-se sobretudo pela sua carreira ligada ao teatro.
Artaud aderiu ao surrealismo, e interessado no cinema, escreveu o argumento de “La Coquille et le Clergyman”, como exemplo do que deveria ser um filme surrealista. Este argumento viria a ser filmado por Germaine Dulac em 1928.
Artaud esteve ainda ligado a companhias de dança, e as suas companhias actuaram em diversos países.

Francis Picabia (1879–1953)
Pintor, Poeta
Francis Picabia (1879–1953)Francis Picabia foi um artista francês de pai cubano, ligado a diversas correntes avant-garde, como o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.
Começando a sua carreira em 1903, Picabia foi influenciado primeiro pelo Impressionismo, depois pelo Cubismo, tornando-se figura de proa do Dadaísmo. Aproximou-se depois ao grupo de André Breton, e nesse período colaborou com René Clair na produção do filme “Entr’acte” (1924), hoje considerado um dos primeiros filmes surrealistas.

Man Ray (1890–1976)
Fotógrafo, Pintor, Realizador
Man Ray (1890–1976)Nascido Emmanuel Radnitzky, Man Ray foi um artista modernista americano de origem judia, radicado em França. Man Ray esteve envolvido em diversas artes visuais, integrando movimentos como o Dadaísmo e o Surrealismo, dos quais foi um dos principais impulsionador.
Ray iniciou a carreira como ilustrador e artista comercial nos Estados Unidos, tendo começado a exibir a sua arte em Nova Iorque, onde conheceu e colaborou com o surrealista Marcel Duchamp. Em 1921 Ray mudou-se para França tornando-se amigo e colaborador de outros vultos do avant-garde francês.
O seu interesse pelas novas técnicas levaram-no a realizar vários filmes avant-garde.

Salvador Dalí (1904–1989)
Pintor
Salvador Dalí (1904–1989)Nascido na Catalunha, Dalí é um dos vultos mais facilmente identificáveis da pintura surrealista. Depois de ter experimentado com o Cubismo e o Dadaísmo, Dalí rumou a Paris, como antes de si tinham feito Pablo Picasso e Juan Miró, para contactar de perto com os mais recentes movimentos artísticos.
Dalí juntou-se ao movimento surrealista, fazendo amizade com Breton e outros surrealistas, tendo mesmo casado com Gala, ex-mulher do também surrealista Paul Éluard, sua musa para o resto da vida. Ainda em Paris, com o também espanhol Luis Buñuel, Dalí experimentou com o cinema, escrevendo e realizando os filmes “Um Cão Andaluz” (Un Chien Andalou, 1929) e “L’Age d’Or” (1930).
A sua ligação à direita política, e apoio ao regime de Franco em Espanha levou à sua expulsão do movimento surrealista em 1934. Mas nem por isso Dalí deixou pintar peças surrealistas ou de participar em exposições internacionais votadas ao movimento.
A sua vasta obra e universo visual são hoje bastante icónicas, e o seu simbolismo facilmente reconhecível.

Luis Buñuel (1900-1983)
Realizador
Luis Buñuel (1900-1983)Luis Buñuel nasceu em Aragão, na Espanha, para se tornar um dos mais famosos realizadores de todos os tempos, com obra em França, Espanha e México e o reconhecimento da crítica e dos seus pares, que o consideram como uma influência incontornável.
Tal como tantos outros artistas do início do século XX, Buñuel rumou a Paris em 1925, e aí se tornou figura de proa do Surrealismo. O seu interesse pelo cinema levou-o a entrar ao serviço de Jean Epstein, para quem trabalhou em vários filmes. Juntamente com Salvador Dalí, Buñuel veio a explorar os seus imaginários pessoais nos filmes “Um Cão Andaluz” (Un Chien Andalou, 1929) e “L’Age d’Or” (1930), que lhe valeram o reconhecimento de André Beton, e o colocaram como o realizador surrealista por excelência.
A sua militância comunista levou-o a afastar-se de Dalí e, com a guerra cvil espanhola, a deixar a Europa. Durante 20 anos Buñuel trabalhou no México, tendo mais tarde voltado a França. Tenha sido em filmes experimentais, documentários, dramas, sátiras, musicais, comédias, fantasias, filmes eróticos, ou mesmo no western, Buñuel cunhou um estilo próprio, onde frequentemente usava elementos surrealistas.
Entre os seus filmes mais famosos encontram-se “Los Olvidados” (1950), “Viridiana” (1961), “O Anjo Exterminador” (1962, El Ángel Exterminador), “Simão do Deserto” (Simón del Desierto, 1965), “A Bela de Dia” (Belle de Jour, 1967), “Tristana, Amor Perverso” (Tristana, 1970), “O Charme Discreto da Burguesia” (Le Charme Discret de la Bourgeoisie, 1972), “O Fantasma da Liberdade” (Le Fantôme de la Liberté, 1974) e “Este Obscuro Objecto do Desejo” (Cet Obscur Objet du Désir, 1977).

Lista de filmes de Surrealismo no Cinema

1924: Entr’acte – René Clair
1924: Ballet Mécanique – Man Ray
1928: La Coquille et le Clergyman – Germaine Dulac
1928: L’Étoile de Mer (Estrela do Mar) – Man Ray
1928: Vormittagsspuk (Ghosts Before Breakfast) – Hans Richter
1929: Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz) – Luis Buñuel, Salvador Dalí
1930: L’Âge d’Or – Luis Buñuel, Salvador Dalí
1932: Le Sang d’un Poète (O Sangue de Um Poeta) – Jean Cocteau
1947: Dreams That Money Can Buy – Hans Richter
1950: Orphée (Orfeu) – Jean Cocteau
1953: Ugetsu Monogatari (Contos da Lua Vaga) – Kenji Mizoguchi
1957: Smultronstället(Morangos Silvestres) – Ingmar Bergman
1957: Det Sjunde Inseglet (O Sétimo Selo) – Ingmar Bergman
1960: Le Testament d’Orphée, ou ne me Demandez pas Pourquoi! – Jean Cocteau
1961: L’année Dernière à Marienbad (O Último Ano em Marienbad) – Alain Resnais
1963: Otto e Mezzo (Oito e Meio) – Federico Fellini
1964: Scorpio Rising – Kenneth Anger
1965: Giulietta Degli Spiriti (Julieta dos Espíritos) – Federico Fellini
1965: Simon del Desierto (Simão do Deserto) – Luis Buñuel
1966: Persona (A Máscara) – Ingmar Bergman
1966: Sedmikrásky (Jovens e Atrevidas) – Véra Chytilová
1968: Fando y Lis – Alejandro Jodorowsky
1968: Vargtimmen (A Hora do Lobo) – Ingmar Bergman
1969: Ovoce Stromu Rajskych Jime (Fruit of the Paradise) – Véra Chytilová
1969: Fellini: Satyricon (Satyricon) – Federico Fellini
1969: Goto, L’île D’amour (A Ilha do Amor) – Walerian Borowczyk
1970: El Topo – Alejandro Jodorowsky
1970: Valerie a Týden Divu (Valeria e os Sonhos) – Jaromil Jires
1971: Viva la Muerte – Fernando Arrabal
1971: W.R. – Misterije organizma (W.R. – Os Mistérios do Organismo) – Dusan Makavejev
1972: Le Charme Discret de la Bourgeoisie (O Charme Discreto da Burguesia) – Luis Buñuel
1972: Ana y los Lobos – Carlos Saura
1973: J’irai comme un Cheval Fou (Irei Como um Cavalo Louco) – Fernando Arrabal
1973: The Holy Mountain (A Montanha Sagrada) – Alejandro Jodorowsky
1973: Sanatorium pod Klepsydra (The Hourglass Sanatorium) – Wojciech Has
1973: La Planète Sauvage (O Planeta Selvagem) – René Laloux
1974: Céline et Julie vont en Bateau (Phantom Ladies Over Paris) – Jacques Rivette
1974: Le Fantôme de la Liberté (O Fantasma da Liberdade) – Luis Buñuel
1976: The Tenant (O Inquilino) – Roman Polanski
1976: Calmos (Femmes fatales) – Bertrand Blier
1977: Cet Obscur Objet du Désir (Este Obscuro Objecto do Desejo) – Luis Buñuel
1977: Eraserhead (No Céu Tudo É Perfeito) – David Lynch
1979: L’Hypothèse Du Tableau Volé (The Hypothesis of the Stolen Painting) – Raúl Ruiz
1980: La Città delle Donne (A Cidade das Mulheres) – Federico Fellini
1980: Lucifer Rising – Kenneth Anger
1981: Possession (Possessão) – Andrzej Zulawski
1983: Videodrome (Experiência Alucinante) – David Cronenberg
1984: De Illusionist (The Illusionist) – Jos Stelling
1985: A Zed & Two Noughts (Um Z e Dois Zeros) – Peter Greenaway
1986: De Wisselwachter (The Pointsman) – Jos Stelling
1986: Blue Velvet (Veludo Azul) – David Lynch
1986: Mémoire des Apparences – Raúl Ruiz
1987: Der Himmel über Berlin (As Asas do Desejo) – Wim Wenders
1987: The Belly of an Architect (A Barriga de Um Arquitecto) – Peter Greenaway
1988: Drowning By Numbers (Maridos à Água) – Peter Greenaway
1988: Neco z Alenky (Alice) – Jan Svankmajer
1989: Tetsuo: The Iron Man (Tetsuo: O Homem de Aço) – Shin’ya Tsukamoto
1989: The Cook the Thief His Wife & Her Lover (O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela) – Peter Greenaway
1989: Santa Sangre – Alejandro Jodorowsky
1990: Begotten – E. Elias Merhige
1991: Prospero’s Books (Os Livros de Próspero) – Peter Greenaway
1991: Naked Lunch (O Festim Nu) – David Cronenberg
1991: Delicatessen – Marc Caro, Jean-Pierre Jeunet
1994: Faust – Jan Svankmajer
1995: La Cité des Enfants Perdus (A Cidade das Crianças Perdidas) – Marc Caro, Jean-Pierre Jeunet
1995: Underground (Era Uma Vez Um País) – Emir Kusturica
1995: Cremaster 1 – Matthew Barney
1996: Spiklenci Slasti (Conspirators of Pleasure) – Jan Svankmajer
1997: Lost Highway (Estrada Perdida) – David Lynch
1998: Fear and Loathing in Las Vegas (Delírio em Las Vegas) – Terry Gilliam
1999: Cremaster 2 – Matthew Barney
2000: Otesánek (Little Otik) – Jan Svankmajer
2001: Mulholland Drive – David Lynch
2003: Cowards Bend the Knee – Guy Maddin
2005: Sílení (Lunacy) – Jan Svankmajer
2006: Brand Upon the Brain! – Guy Maddin
2006: The Fall (Um Sonho Encantado) – Tarsem Singh
2009: The Imaginarium of Doctor Parnassus – Terry Gilliam
2012: Holy Motors – Leo Carax

Fonte:http://ajanelaencantada.wordpress.com/surrealismo/

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