Yamlikha, A Rainha das Serpentes
Conta-se, ó afortunado rei, que vivia
certa vez, na antiguidade dos tempos e antes do desenrolar de muitos séculos,
um sábio grego chamado Daniel. Tinha muitos discípulos que lhe escutavam
respeitosamente o ensino, mas não tinha um filho. Para herdar-lhe os livros e
manuscritos. Após esgotar os outros recursos, Daniel apelou para o Senhor dos
Mundos e, no mesmo instante, sua mulher concebeu. Durante os meses de gravidez
da mulher, o sábio, dando-se conta de que era muito velho, pensou: ‘ A morte
está próxima. Meu filho talvez não encontre meus livros e manuscritos intactos
quando estiver na idade de lê-los." Assim presumindo, pôs-se a condensar
seus 5 mil manuscritos em cinco folhas. Depois, reduziu estas a uma única
folha. Quando sentiu o fim chegar, jogou os livros e manuscritos no mar para
que ninguém os possuísse e entregou a folha de papel à mulher, dizendo-lhe:
"Não verei nosso filho. Deixo-lhe contigo esta essência de todos os
conhecimentos. Entrega-a quando ele reclamar a sua herança. Se souber ler este
manuscrito e compreender o que ler, será o homem mais sábio de seu tempo.
Desejo que lhe dês o nome de Hassib." Depois, o sábio entregou a alma a
Deus. No devido tempo, a mulher deu à luz um menino que foi chamado Hassib. A
mãe pediu aos astrólogos que lhe estabelecessem um horóscopo. Disseram-lhe:
" mulher, teu filho viverá muitos anos e amontoará saber e riqueza, desde
que escape a um perigo que lhe ameaça a mocidade. Quando o menino atingiu a
idade de cinco anos, a mãe mandou-o à escola. Mas ele nada aprendeu. Retirou-o
da escola e tentou interessá-lo em alguma profissão. Mas ele insistia em passar
os dias em permanente ociosidade. Quando atingiu os quinze anos, os sábios
aconselharam a mãe a casá-lo para despertar nele o senso da responsabilidade. A
mãe escolheu uma noiva adequada e casou-o com ela. Mas o casamento de nada
adiantou. Hassib recusava-se a empreender qualquer actividade. Alguns vizinhos,
que eram lenhadores, sugeriram então à mulher comprar para seu filho um asno e
um machado e deixá-lo ir com eles às florestas e ser um lenhador. A mulher
aceitou a sugestão, e um milagre se produziu. Hassib amou sua nova profissão e
tornou-se um excelente lenhador, ajudando assim a sustentar a mãe e a esposa.
Certo dia, enquanto cavava a terra em volta de um velho tronco, desenterrou uma
placa de mármore solidamente fixada no solo. Chamou os companheiros e, juntos,
levantaram a placa e descobriram um buraco por baixo dela. Olhando de mais
perto, viram que no fundo do buraco havia uma sala cheia de jarras alinhadas.
Supondo que as jarras continham um tesouro antigo, ajudaram Hassib a descer até
a sala. Lá ele abriu uma jarra e achou-a cheia de mel. Embora decepcionados, os
lenhadores calcularam que o mel lhes daria um bom lucro e alçaram as jarras uma
a uma. Quando a última jarra tinha sido levantada, recusaram-se a ajudar Hassib
a subir e deixaram-no no buraco, raciocinando: "Se o ajudarmos a
salvar-se, vai querer sua cota do lucro. E ele nada vale. Melhor que pereça
lá." De volta, contaram à mãe e à esposa de Hassib que, no decorrer de um
temporal, surgira um lobo que devorou Hassib e seu asno. As mulheres choraram.
Mas nada podiam fazer. Os lenhadores apuraram tamanho lucro com a venda do mel
que desistiram de seu ofício árduo, e cada um deles abriu uma loja. Vendo-se
traído e abandonado, Hassib não se deixou abalar. Percorrendo a gruta, reparou
em uma fenda numa das paredes, a qual deixava passar uma luz ténue. Introduziu
o machado na fenda e conseguiu alargá-la. E descobriu que se tratava, na
realidade, de uma porta. Abriu a porta e achou-se numa galeria que terminava
num lindo lago ao pé de uma colina de esmeralda. A beira do lago, viu um trono
de ouro incrustado com pedras preciosas e cercado por 12 mil cadeiras de ouro,
prata, esmeralda, cristal, aço, ébano. Sentou-se no trono e logo ouviu cantos
melodiosos e viu uma longa fila de pessoas descendo da montanha para o lago.
Quando se aproximaram, reparou que eram todas mulheres de excessiva beleza, mas
cuja metade inferior terminava num órgão alongado e rastejante como o das
serpentes. Quatro delas carregavam sobre os braços erguidos uma grande bandeja
sobre a qual a rainha estava de pé, graciosa e sorridente. Hassib desceu
imediatamente do trono, e as quatro mulheres depositaram nele a rainha. As
outras mulheres ocuparam as 12 mil cadeiras. Todas cantavam em grego e tocavam
címbalos. Depois, a rainha, que tinha reparado na presença de Hassib,
acenou-lhe, convidando-o para aproximar-se, e disse-lhe: "Sê bem-vindo a
meu reino subterrâneo, ó jovem que um destino benéfico conduziu até aqui.
Conta-nos tua história e dize-nos o que desejas." Hassib contou sua
história do início ao fim. Encantada, a rainha disse-lhe: "Permanece
connosco alguns dias. E eu te ajudarei a passar o tempo, contando-te uma história
que te será útil quando voltares à terra dos homens." Foi assim que a
rainha Yamlikha, soberana subterrânea, contou em grego ao jovem Hassib, filho
do sábio Daniel, e às 12 mil mulheres-serpentes sentadas em volta dela em
cadeiras de pedras preciosas, a seguinte deslumbrante história.
Fonte:http://contosencantar.blogspot.com.br/2008/09/yamlikha-rainha-das-serpentes.html
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