O HOMEM PROFANO E O HOMEM MISERICORDIOSO - SWAMI PRABHAVANANDA/FILME FRANCÊS "O MONGE" - UMA REFLEXÃO SOBRE RAZÃO E EMOÇÃO NO SAGRADO

O HOMEM PROFANO E O HOMEM MISERICORDIOSO


"As pessoas profanas não compreendem o valor da vida espiritual. Frequentemente, caçoam do aspirante à espiritualidade e, às vezes, o ultrajam, tentando fazer-lhe injúrias. Mas, o religioso não reage a isso. Sua mente está fixada em Deus; portanto, sente a unidade, enxerga a ignorância e é misericordioso. Não importa que seja criticado ou injuriado; não lhe interessa agradar às pessoas profanas.

Conta-se a história de um monge em viagem que, cansado, repousou sob uma árvore. Não tendo travesseiro, arrumou alguns tijolos e neles descansou a cabeça. Algumas mulheres transitavam pelo caminho, indo apanhar água no rio. Vendo o monge em repouso, disseram entre si: 'Esse jovem tornou-se monge e ainda não consegue passar sem um travesseiro; usa tijolos em seu lugar!' Prosseguiram em seu caminho e o monge pensou: 'Têm razão de criticar-me' pondo de lado os tijolos, descansou a cabeça na terra. Logo depois, as mulheres voltaram e viram que os tijolos haviam sido postos de lado. Então exclamaram com desdém: Que belo tipo de monge! Ofendeu-se quando dissemos que usava travesseiro. Veja, agora - pôs fora o travesseiro!

O monge refletiu: 'Se uso travesseiro, criticam-me. Se deixo de usá-lo, também não lhes agrado. Impossível satisfazê-las. Deixe-me, pois, agradar apenas a Deus.'

Nenhum homem verdadeiramente espiritual age tendo em vista causar boa impressão aos outros ou buscando prestígio para si. Às vezes sente exatamente o oposto, ou seja, se por amor de Deus for preciso ficar contra o mundo inteiro, ele ficará - e ficará sozinho. Ele não se preocupa com o que os outros pensem dele.

Em geral, quando alguém fala mal de nós ou tenta ofender-nos, somos instintivamente levados a aplacar nosso ego, e não a agradar a Deus; e sentimos vontade de revidar. Mas, se nos entregarmos a esse desejo de revide - a ninguém mais causaremos danos a não ser a nós próprios; porque, quando irritados ou ressentidos, interrompemos nosso pensamento em Deus. Por isso, todos os grandes mestres espirituais têm ensinado, como Cristo, a não revidar, a não resistir ao mal - mas sim, a rezar por aqueles que nos insultam e perseguem.(...)"

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento - p. 34/35 e 36)
www.pensamento-cultrix.com.br


O Monge (Le Moine) - 2011



"O Monge" é uma produção Francesa que encontra na religião seu roteiro nada convencional e cheio de metáforas. Quem acompanha o cinema europeu mais de perto já esta acostumado com o ritmo mais lento e com a peculiaridade de seus diretores, e aqui o diretor e roteirista Dominik Moll imprime um ritmo bem cadenciado, porém todo o tempo apresenta imagens e diálogos que despertam a curiosidade do espectador - lembrando que aqui nada é de fácil compreensão.

A historia é sobre Capucin Ambrosio (Vincent Cassel) um monge que ainda criança foi abandonado na porta do mosteiro no qual cresceu e estudou; a religião então se torna o refugio desse homem que se transforma em um grande discípulo da igreja e encanta o povo com suas pregações.

No inicio da projeção Ambrosio escuta a confissão de um fiel, que se diz atormentado pelo demônio; abaixo um pequeno trecho do diálogo:

"- Satanás não tem poder sobre você?
- Satanás tem o poder que eu admito"

Uma simples pergunta com uma grandiosa resposta que sera explorada o tempo todo pelo roteiro; seria frei Ambrosio capaz de resistir as tentações que o diabo guarda para ele?

 A trilha sonora fúnebre; o jogo de luzes e cores que o diretor aplica na obra torna o clima da película bem sombrio, Dominik Moll entrega um filme onde a imagem muitas vezes substitui o dialogo; o ocultismo ao lado da religião em um orgasmo visual.

Vincent Cassel como Ambrosio esta assustador, perfomace monstruosa desse ator que se encaixa em qualquer tipo de papel e aqui lidera um ótimo elenco com atuações inspiradas.

"O Monge" é um drama/suspense que adentra o psicológico de um homem religioso; construindo uma batalha da razão com a emoção, do sagrado com o profano, do amor com a tentação, resultando em uma obra reflexiva e assutadora!





  

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