KARMA E REENCARNAÇÃO : A NECESSIDADE DE UM CORPO


KARMA E REENCARNAÇÃO : A NECESSIDADE DE UM CORPO


O processo de construção da mente é muito interessante.
A Consciência, ou o Fundamento Original do Ser, como gosto de dizer, parece estar sempre emanando SENTIMENTO.
Isso é inerente a esse Fundamento.
O Sentimento emanado é sempre o mesmo, mas nós damos alguns nomes em separado para algumas percepções: amor, felicidade, contentamento.
Mas há uma palavra em sânscrito que é a soma desses sentimentos, a experiência de todos ao mesmo tempo e de forma indiferenciada: Ananda.
Há ainda uma definição mais completa para esse Fundamento Original do ser, ou Atman: SAT - CHIT - ANANDA.
SAT é o sentido de existência, de Realidade Suprema, inquebrantável, sem segundo, não dual e sempre a mesma.
CHIT é o sentido de Consciência, de lucidez plena, onisciência e sabedoria.
ANANDA é o princípio que é ao mesmo tempo o Amor, a felicidade e o contentamento. Todos vivenciados ao mesmo tempo.
Sendo essas três coisas o que constitui o Fundamento do Ser, nada lhe falta, nada lhe é desejado.
No entanto, sabe-se lá quando, um desses três parece sofrer uma mudança, alterando o equilíbrio.
Quando isso ocorre, surge o processo que chamo de "desnsificação da Consciência".
Esse processo é uma busca incessante para que as três "partes" voltem a se perceber como uma só.
De forma bem simplista, o processo começa a ficar em desequilíbrio quando o sentido de onisciência é perturbado.
Nesse momento começa a germinar a dualidade.
Não que ela já exista, mas o processo de "distanciamento" da unidade começa a se efetivar. É como se a Consciência observasse, hora ou outra, um "vulto" de um objeto, para logo em seguida, ter o foco da unidade novamente.
Com o passar do tempo, há um aumento no tempo de retorno ao foco da unidade, mas ele ainda ocorre.
Nesse ponto, o sentido de Ananda está quase perdido. Como analogia podemos usar a imagem de uma pessoa que está sem fôlego, desesperada, mas que no último instante consegue respirar. É assim que o Fundamento Original se comporta nessa fase.
Num determinado momento, esse "tempo de distanciamento" parece ser mais real e as diferenciações começam a se tornar mais reais também, visto que a Consciência vai se distanciando, também, do princípio de Existência, de indivisibilidade.
Assim, SAT - CHIT - ANANDA aparecem apenas como uma caricatura do que realmente são.
É aqui que o "reino de Maya" começa.

Maya é o fator limitante, o que “dá medida”.
Ela é composta de 5 "capas" ou véus: o tempo, a necessidade, o apego, o conhecimento relativo e a "parte", ou forma (espaço).
É a partir daí que a Consciência se torna dependente. Obviamente, dependente de si mesma. Mas ela já não sabe disso.
Como disse no início, a Consciência emana, invariavelmente e por natureza, sentimento (SATCHITANANDA).
Quando esse sentimento passa pelo "prisma da densificação", o que é compreendido volta a se tornar sabedoria (o ajuste do foco).
Essa compreensão vai se tornando cada vez mais demorada, visto que o "prisma" vai fazendo com que mais e mais objetos apareçam.
Quando esses objetos atingem um "ponto de saturação" (quando a Consciência já não se reconhece como tal), ela passa a criar um mundo próprio (maya), com instrumentos próprios. É ai que surge o Espírito (Purusha) e a Matéria (Prakriti).
Aqui começa a individuação.
O espírito seria como a própria presença de SAT, uma lembrança recorrente e intuitiva de nosso Fundamento Original.
É nesse sentido que Ramakrishna dizia sempre aos seus discípulos: "Lembre-se Sempre!".
Muitas vezes ela falava isso "do nada", no meio de um assunto qualquer; ou depois de um silêncio interminável.
O espírito é o sujeito consciente que vivência a realidade objetiva.
Já a Matéria seria um conjunto de ferramentas ou mecanismos que tem como propósito servir de base para a experiência da Iluminação ou, como os antigos textos hindus dizem, o local onde se inicia a "volta para casa".
Prakriti é a realidade objetiva exclusiva de cada sujeito consciente.
Pra simplificar, não vou falar de todas as ferramentas que constituem Prakriti, mas apenas citá-las.
São elas: Buddhi, o intelecto; Ahamkara, o ego; Manas, o que processa (por hora chamaremos "de mente", para facilitar) e Chitta, a memória. Esses quatro compõem o que chamamos de "instrumento interior".
Junto com esses instrumentos interiores, os instrumentos exteriores (chakras e sentidos corporais) formam aquilo que chamamos de realidade relativa, ou ilusória.
Como já foi dito, o propósito de toda essa manifestação é servir de campo de experiência ao Purusha para que ele volte a se perceber como Unidade (SATCHITANANDA).
No entanto, como o nosso sentido de onisciência está "nublado", não conseguimos identificar com clareza a presença essencial do SER no mundo que vivenciamos.
Dentro desse processo de experimentação (chamado vida), a Consciência busca aqui e ali por sensações que, para ela, são lembranças remotas, porém reais, de sua natureza original.
Cada sentimento emanado pela Consciência vai se densificando até o ponto de ser identificado pelo Purusha como emoções e essas, criam os instrumentos internos para que o Purusha possa experimentar a realidade objetiva, individualizada.
Assim, são as emoções que geram aquilo que chamamos de mente, e não o contrário.
Esses impulsos emocionais são emanados pelo Espírito (purusha) e codificados pelos chakras para serem realizados como realidade aparente, ilusória.
Os chakras são, de fato, portais da Consciência.
Assim, cada chakra apresenta a propriedade de nos mostrar a Realidade Única, como realidade aparente e específica a um tipo de vertente emocional.
Como os chakras funcionam todos ao mesmo tempo, essa variações emocionais são processadas todas ao mesmo tempo. Quem processa essas informações é o que chamamos de Chakra Frontal, no ponto entre as sobrancelhas. Em verdade, ele é a causa principal de nossa ilusão. Mas ao mesmo tempo, pode nos ajudar a nos libertar dela.
Sendo o que processa as informações ele está ligado ao princípio MANAS do instrumento interior.
Mas o que ele processa? Pensamentos?
Não.
Ele processa apenas flutuações, percepções. No yoga chamamos isso de VRITTS.
O pensar (ato de criar, manifestar) está ligado ao chakra bindu, responsável pelo aspecto de BUDDHI do instrumento interior.
BUDDHI é a Luz da Consciência. O início de toda a manifestação relativa.
Mas o ponto principal está sediado no chakra sexual. É lá que as impressões emocionais advindas do Espírito são gravadas. Nesse local está o que os yogues chamam de Karmashaya - o repositório de carmas.
chakra sexual está relacionado ao aspecto de CHITTA do instrumento interior.
Quando as impressões emocionais são fortes, criam um desejo mais duradouro.
Essas emoções que se tornam desejos são chamadas no yoga de VASANAS, ou tendências.
Essas emoções armazenadas no chakra sexual emanam a todo instante tendências e essas são captadas e processadas pelo chakra frontal (os vritts).
Por falta de coordenação entre as 4 funções do instrumento interior, o que é processado pelo chakra frontal acaba não sendo discernido (e muitas vezes percebido conscientemente) pelo chakra bindu.
Ou seja, a Luz da Consciência não traz clareza ao objeto, pois o foco da visão interior (chakra frontal) está sujo pelos desejos e suas tendências (chakra sexual).
Assim, como a experiência não é compreendida, os impulsos contidos em CHITTA - as tendências -, vão buscar outras formas de serem vivenciadas e discernidas, levando ou não à compreensão. Se a compreensão e sabedoria forem o fruto da experiência, diminui-se a distância aparente que se criou entre SAT, CHIT e ANANDA.
Caso contrário, a experiência é repetida. Essa experiência pode ser repetida de várias formas, com roupagens diferentes, mas com a mesma essência emocional.
Ela pode ser vivenciada num corpo material ou fora dele. Desde que a Consciência esteja individuada, ou seja, imersa no jogo de Purusha e Prakriti ou espírito e matéria. Acima disso não há individuação e, portanto, karma.
A Consciência, até onde pude perceber não se lembra em si de pessoas ou fatos, mas sim de sentimentos emanados e não compreendidos, densificados sobre a forma de emoções. Mesmo porque a Consciência é Única, sem segundo. Como poderia lembrar de algo além de si mesma?
O que faz isso parecer ocorrer, parecer real é o princípio do ego, presente em todos os chakras, excetuando o coronário.
São carências emocionais que norteiam o processo reencarnatório.
Assim, se uma Consciência precisa passar por uma experiência específica, ELA cria as condições para isso. Isso é inerente a ela. É natural ao seu estado.
O que levamos de uma encarnação para outra são as nossas compreensões em forma de sabedoria e justamente o seu oposto: as carências emocionais.
O conhecimento ordinário morre com o cérebro. A sabedoria (e a falta dela) está gravada no espírito.
Fonte:http://www.yogashala.org.br/index.php/vedanta/31-karma-e-reencarnacao-a-necessidade-de-um-corpo.html?

Comentários