HOMOFOBIA E INTOLERÂNCIA A PREÇO DE QUE ?



 
cartunista Carlos Latuff
 
 
Homofobia
 
 “não tenho nada contra mas acho que essas paradas gays me incomodam e só estigmatizam o movimento”, “minha religião diz que é pecado”, “se duas pessoas gays se beijarem em público, como vou explicar isso pra minha filha?”
Mas sua religião, sua opinião, seu incômodo, sua filha, isso tudo é irrelevante, entende? Outras pessoas-cidadãs tem outras religiões, outras opiniões, outras filhas – e têm os mesmos direitos que você. Se as manifestações gays te incomodam, resolva o problema na terapia ou no templo. Você não saber como explicar à sua filha um fenômeno humano ancestral como a homossexualidade não é justificativa para proibir alguém de viver seu amor.
O assunto não é você.
 
Por carlos latuff
 
 
 
INTOLERÂNCIA A PREÇO DE QUE ?
Domingo aconteceu mais uma edição da Parada Gay em São Paulo. A Avenida Paulista fica tomada por manifestantes defendendo uma bandeira, simpatizantes apoiando a causa e pessoas em busca de diversão.
Não é preciso necessariamente admirar a causa. A principal luta é pelo simples respeito, que deveria ser de berço. Assim como carecemos de esclarecimentos sobre tabus, como deficiência física e diversidade racial e sexual. Talvez isso seja um problema cultural, e mesmo aqueles que conservam ideias primitivas devem no mínimo cobrar de si mesmos o respeito pelo próximo.
O mundo precisa continuar caminhando, e reivindicações como essas não são mais um “problema” para sociedade. Pelo contrário, já temos problemas demais para resolver, e ver pessoas inteligentes lutando por uma causa, lutando contra atitudes completamente banais, lutando contra a violência física e moral gratuita, e, principalmente lutando contra a ignorância alheia, é no mínimo deprimente.
Repressões como essas ainda são exaltadas quando anjinhos de rabinho pontudo resolvem abrir a boca e incentivar o preconceito e alimentar o desrespeito. Consequentemente estimulam a violência.
Eu não consigo entender, e até o Ventania, o cantor doidão que parece lúcido diante de tal situação, deve estar maluco para encontrar de onde veio o cogumelo que o cara tomou para entrar em uma viagem tão grande a ponto de falar que John Lennon foi assassinado por ninguém menos que Deus.
Essa cena é inimaginável, exceto em um episódio de “Comichão e Coçadinha”. Piadas a parte, assim como no desenho exibido na tv da família Simpsons, é uma cena surreal. O surpreendente são as pessoas que acreditam nisso, e acreditam também que um casal que se ama não pode viver junto porque são do mesmo sexo, que a cor negra é amaldiçoada e outras diversas maluquices difíceis de acreditar que saiu da boca de uma pessoa que ordenha algumas “ovelhas”.
O que torna essas atitudes mais banais e repudiantes é: A troco de quê?
A troco de quê vai recriminar um casal de homossexuais e dizer que devido a citações em um livro, uma família é composta por um pai e uma mãe, não por dois pais ou duas mães, e em uma conclusão tendenciosa, ter país do mesmo sexo seria um crime a família. Com esse discurso, parece até que se importam com a família alheia, mas são poucos que saem de sua zona de conforto para ajudar uma família necessitada.
Isso é só um pequeno retrocesso inútil para o que está destinado. Já é possível em diversos lugares do mundo duas pessoas do mesmo sexo se casarem, inclusive em nosso país. Gostem ou não, o Brasil é presidido por uma mulher, Dilma Roussef, e os EUA, que dispensa citar sua importância, reelegeu um presidente Negro.
E você ainda acha que o papel da mulher é ser dona de casa, que homossexuais não poderão se casar e adotar filhos e que os negros ocuparão sempre os menores cargos?
Está na hora de ler outros livros, assistir outros canais, interagir com outras pessoas e entender que o preconceito, mesmo que demore, uma hora será quebrado e a intolerância será repudiada.
Nosso país já sofreu muito retrocesso. Acredito em manifestações como a Parada Gay, mesmo que nos últimos anos tenha sido vista como uma festa, ainda reivindica uma boa causa. Principalmente porque quem está a frente dessa bandeira são as pessoas, cidadãos. Há pouco envolvimento político, e esse pouco envolvimento vem para somar. Se dependêssemos de uma comissão de Direitos Humanos que é uma piada e não pode ser levada a sério em nosso país, não haveria Marcha das Vadias, Parada Gay ou qualquer outra manifestação contra a intolerância e a favor do respeito.
Ter respeito é ter caráter. Ninguém está obrigando uma pessoa a andar com outra do mesmo sexo abraçada ou de mãos dadas, mas, se quiser fazer, que faça sem correr o risco de ser agredido na rua e de sofrer violência verbal.

 

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