O SEGREDO DA ATRAÇÃO - DEEPAK CHOPRA

 
 
 "O SEGREDO DA ATRAÇÃO"
Deepak Chopra
 
 
"O romance se separa de todas as outras formas de amor devido à intensidade da felicidade."


Qualquer criatura capaz de reproduzir-se com outra de sua espécie deve sentir atração, mas os humanos são únicos, pois podemos ver significado em nossa atração. Portanto existe uma grande diferença entre apaixonar-se inconscientemente, como se atingido por um raio, e conscientemente abraçar o dom do amor com o conhecimento pleno de que é isso que nossa alma anseia, aquilo pelo que você vive, o que será mais importante em sua vida.
Na Índia antiga, o êxtase do amor era chamado de Ananda, felicidade ou consciência beatífica. Os antigos videntes diziam que os humanos tinham sido feitos para participar desse ananda todo o tempo. Como citei anteriormente, um verso famoso dos Vedas declara sobre a humanidade: "No deleite foram concebidos, no deleite eles vivem, para o deleite retornarão." Ananda é muito mais do que prazer, até mesmo o mais intenso prazer erótico. É um terço da fórmula para a verdadeira natureza do espírito humano, descrita pelos Vedas como Sat Chit Ananda, ou eterna consciência beatífica.
Como veremos, o caminho para o amor termina com a realização plena dessa simples frase. Sat é a verdade eterna sustentando toda a existência; quando sat está totalmente estabelecida, não há mal ou sofrimento, porque não há nada separado da unidade.
Chit é a consciência dessa unidade; é a plenitude da paz que não pode de modo algum ser perturbada pelo medo. Ananda é a felicidade suprema de estar nesta consciência; é a beatitude imutável que todos os vislumbrantes do êxtase pretendem ser. O caminho do amor nos leva ao conhecimento pleno de todos os três aspectos sem dúvidas. Mas o que nós provamos com mais freqüência aqui na terra é o último - ananda - na alegria da paixão.
O romance se separa de todas as outras formas de amor devido à intensidade da felicidade.
Duas pessoas que se encantam uma pela outra experimentam uma revolução no mais profundo de seus seres a partir da súbita descoberta de que a beatitude surgiu. Os mestres espirituais nos dizem que nascemos na beatitude, mas essa condição é obscurecida pela atividade caótica da vida cotidiana. Abaixo do caos, contudo, estamos tentando encontrar ananda novamente; todas as alegrias menores são pequenas gotas, enquanto ananda é o oceano.
As compreensões que se aplicam a essa fase crescem a partir do nosso desejo de encontrar a beatitude:
A beatitude é natural na vida, mas uma vez que nós a tenhamos encoberto, precisamos procurá-la nos outros.
A dor do anseio é uma máscara para o êxtase da beatitude.
A beatitude não é um sentimento, mas um estado do ser.
No estado de beatitude, tudo é amado.
Nossa ânsia de voltar à beatitude é um dos motivos por que apaixonar-se nunca é acidental. Todos nós temos o conhecimento subconsciente do que o amor pode fazer à psique. Uma pessoa isolada, cheia de frustração e solidão, é subitamente transformada, tornada completa além do poder de explicação da razão. No lugar da ansiedade e da dúvida, surge o êxtase. De acordo com o Novo Testamento,
"Não há medo no amor; mas o amor perfeito afasta todo o medo."
Este senso beatífico de estar num lugar de paz e segurança enquanto duram os estágios iniciais do romance, apesar dos altos e baixos emocionais que se seguem inevitavelmente.
No entanto, ananda é muitas vezes a última coisa que pensamos que vamos encontrar, porque antes de nos apaixonarmos, existe um período de intenso anseio. Esse estado é o negativo do romance, mas também é seu verdadeiro início, pois sem a separação e o anseio, não pode haver atração. Para encontrarmos a felicidade, temos que começar onde a felicidade não está presente. Em nossa sociedade, não é difícil achar esse lugar.

A BUSCA ANSIOSA
A atração depende de encontrar alguém para amar, ou que alguém encontre você, e aqui começa as dificuldades. Se nada é mais excitante do que se apaixonar, do mesmo modo nada parece despertar um medo maior. Uma busca constante e ansiosa pelo relacionamento parece assombrar toda a nossa sociedade.
Somos inundados com imagens de atração romântica, no entanto, ironicamente, a coisa verdadeira parece muito fugidia, e quanto mais pesadamente nossa televisão e filmes exageram no charme sedutor, mais dificilmente as pessoas parecem entender o que o amor realmente é.
A sensação de apaixonar-se não é difícil de descrever. Ela foi comparada com mil deleites, da doçura do mel à fragrância da rosa. Suas imagens são infinitas, e estamos cercadas por elas, como se a imensidão total fosse de algum modo resolver nossa insegurança subjacente. Quando o romance finalmente aparece, contudo, ele é mais embevecedor do que qualquer imagem empacotada, porque o romance destila amor e desejo, anseio e terno sofrimento, a alegria do toque de um único momento e a agonia da separação de um único momento.
Tudo isso nós sabemos, mas o conhecimento fez pouco para dispersar o sentimento ansioso de que o amor nunca vai chegar, que não somos as pessoas certas de alguma forma, e que portanto não merecemos o impressionante dom chamado de paixão. A maioria de nós sai à procura do amor levado por duas forças psicológicas poderosas; a fantasia do romance ideal e um medo de que não o encontraremos e nunca sejamos amados.
Esses dois impulsos são auto-sabotadores, embora de maneiras diferentes. Se você levar consigo uma fantasia idealizada de como deveria ser o amor, vai perder a coisa real quando ela cruzar o seu caminho. O amor real começa com interações cotidianas que possuem a semente da promessa, não com o êxtase total. A semente é fácil de ser ignorada, e nada nos cega mais em relação a ela do que imagens mentais e fixas.
Do mesmo modo, se você for aí num estado de ansiedade, perguntando-se se alguém vai escolhe-lo ou escolhe-la para amar, nunca vai se tornar atraente para quem quer que seja, pois nada mata o romance mais rápido do que o medo.
Lutar para ser atraente é só outra forma de desespero, que os outros vêem, por mais que você lute para disfarçar. Porém, tão forte é nosso condicionamento social, que são gastos bilhões de dólares a mais em cosméticos, moda e cirurgia plástica do que na psicoterapia, por exemplo, apesar do fato de que trabalha suas neuroses tornaria as pessoas muito mais atraentes do que uma figura elegante ou roupas na moda.
Apesar da sua natureza auto-sabotadora, essas duas motivações - a fantasia e o medo - são a base para a maioria de nós quando buscamos o amor. Levados por elas, os homens e as mulheres abordam o romance com comportamentos que nunca poderão trazer o que esperam alcançar. Todas essas táticas se criam de tanto escutarmos uma voz interior que nos deixa obcecados com o amor e direciona nossa busca, muito embora seja uma voz desprovida de amor. A maioria desses comportamentos fúteis parecerá extremamente família:
· Comparamo-nos constantemente com um ideal que nunca poderemos realizar. A voz interior sem amor nos impulsiona dizendo "você não é bom o bastante - magro o bastante, bonito o bastante, suficientemente feliz ou seguro".
· Procuramos a aprovação nos outros. Esse comportamento basicamente projeta nossa insatisfação interior conosco, na esperança de que alguma autoridade externa a retirará de nossas almas. Aqui a voz interior sem amor está dizendo "não faça nenhum movimento até que a pessoa certa apareça". (A pessoa certa neste caso é algum personagem de contos de fadas que vai transformar o patinho feio num cisne.) Sendo uma ficção impossível, a pessoa certa nunca chega.
· Deduzimos que apaixonar-nos é algo totalmente mágico, algo que vem do nada aleatoriamente, geralmente quando menos esperamos. Muitas pessoas esperam passivamente que essa magia apareça. Embora disfarçada como esperança, essa passividade é na verdade uma forma de desesperança, pois a voz interior sem amor está dizendo "não há nada que você possa fazer, a não ser esperar para ver se alguém ama você ". A crença subjacente aqui é que não temos a menor possibilidade de merecer o amor - não o amor apaixonado e realizador dos nossos sonhos. A esperança de que alguém nos procure e nos dê amor é uma abdicação de nossa capacidade de criar nossas próprias vidas.
· Finalmente, contamos com o amor para remover os obstáculos que o mantém afastado. Todos os tipos de comportamentos não amorosos teriam a permissão de persistir, com a presunção de que nos tornaremos afetuosos, abertos, confiantes e íntimos através de um simples toque da varinha mágica do amor. A voz interior sem amor nos mantém na inércia total dizendo "não importa como você trata todas essas pessoas. Afinal de contas, elas não amam você e, quando a pessoa ideal aparecer, essas pessoas importarão ainda menos". A crença subjacente, nesse caso, é que podemos escolher quem vamos amar, deixando os rejeitados num limbo de indiferença.
Podemos encontrar outra maneira de abordar o romance, sem fantasia ou medo, sem escutar a voz assustadora dentro de nós mesmos que encontra uma maneira de afastar o amor?

"PARA AMAR, SEJA AMÁVEL"
Podemos começar, não podemos continuar confinando o romance a um estado emocional; temos que redefini-lo como uma entrega ao mistério do nosso próprio espírito - sat chit ananda - pois, por baixo da turbulência de emoções é que está o romance. É um estado em que nosso relacionamento primário não é com o ser amado, mas com o nosso Eu Superior. O romance, portanto, começa quando podemos mostrar nossa alma para outra pessoa.

O segredo de ser atraente, se consultarmos os registros passados da experiência humana, é notavelmente simples. É resumido num aforismo do poeta latino Ovídio, que afirmou: "para amar, seja amável". Uma pessoa amável é alguém que é natural, tranqüilo consigo mesmo, irradiando a humanidade simples e sem afetações que torna qualquer um verdadeiramente atraente.
Às vezes, contudo, as soluções mais simples são as mais difíceis de alcançar. As pessoas ficam presas na busca ansiosa pelo amor precisamente porque não se sentem amáveis. A condição primordial que permitiria o romance está ausente. É triste dizer, mas muitos de nós nunca nos sentimos dignos do amor, nem na infância, quando tínhamos pouquíssimas defesas contra o amor e portanto, poderíamos nos aproximar dele com a inocência mais espontânea. Uma criança que não pede facilmente afeição e atenção, que não floresce quando elas são oferecidas, ou que vive com seus apelos ignorados, foi privada da própria essência da infância.
Até mesmo aqueles dentro de nós que fomos amados adequadamente na infância e portanto que estamos em contato em nossa capacidade de sermos amados, sentimos que é incrivelmente difícil trazê-la à tona no clima social da atualidade.
Ser amável não é uma qualidade superficial; é uma qualidade do espírito. Ananda não pode ser destruída, só encoberta. No final, se você se vê como um espírito, não importa que condicionamento ocorreu no passado, se você teve sorte suficiente para ser criado com valores amorosos ou o azar de ter sido desencorajado e forçado a sentir-se feio e sem valor.
Lembre-se: em nosso ser mais íntimo, somos todos completamente adoráveis porque o espírito é amor. Além do que qualquer um possa fazer você pensar ou sentir quanto a si mesmo, seu espírito não-condicionado está de pé, brilhando com um amor que nada pode manchar.
Se ser amável é realmente o segredo para a atração, então não há necessidade de uma busca ansiosa, porque seu próprio ser, que nunca pode ser perdido, não precisa ser encontrado. Todo o processo fútil de tornar-se atraente para os outros, de esperar constantemente a resposta de outra pessoa, de comparar-se desesperadamente a uma imagem ideal pode chegar ao fim. O único requisito é uma mudança na percepção, pois aqueles que não podem encontrar o amor se percebem como indignos do amor. Isso não é verdade, mas eles fazem com que pareça verdade ligando sua percepção a um poderoso sistema de crenças.
O que cria o romance é a capacidade de ver a si mesmo como digno do amor.
Essa alteração na percepção acontece não alterando quem você é, mas vendo quem você é e passando isso luminosamente adiante. Se você fosse capaz de exibir toda a grandeza de seu ser, toda a sua vida seria um romance, uma longa história de amor dedicada ao êxtase e à alegria. Rumi coloca essa idéia de uma maneira elegante quando declara,
"Por Deus, quando você enxerga sua beleza
Será seu próprio ídolo."

Nada é mais belo do que a naturalidade. Só ela contém o mistério e a atração que despertam o romance. Tentar ser atraente cosmeticamente não é a questão, pois estamos falando de autenticidade.
Todos nós ambicionamos imagens de pessoas intensamente desejáveis, geralmente astros e modelos que ganham a vida parecendo ser desejáveis. Na realidade, contudo, eles provavelmente são extremamente inseguros quanto à sua sedução, já que seu valor está sujeito aos caprichos de um público que nunca encontraram. Aspirar a essas imagens é aspirar a ser algo que você não é.
Quanto mais longe você está da imagem desejada, mais duramente precisa suprimir quem você realmente é. A tendência é tornar-se cada vez mais inautêntico, até que, caso tenha "sucesso" em tornar-se tão desejável quanto sua imagem, terá jogado fora o que é mais desejável em você - seu único e multifacetado.
Este ser não corresponde a uma única imagem, feia ou bela, desejável ou indesejável, porque expressa a mutável e cambiante luz da vida. Esta luz é totalmente ambígua. Seu ser contém sombras e pistas de significado; é misterioso até o âmago.
Para ser autêntico, você precisa ser tudo que realmente é, sem omitir nada. Dentro de todos existe luz e sombra, bem e mal, amor e ódio. O jogo desses opostos é o que constantemente faz a vida avançar; o rio da vida se expressa em todas as suas alterações, de um oposto ao outro. Se você puder verdadeiramente abraçar esses opostos dentro de si, será autêntico, e à medida que sua auto-aceitação se expandir até que não haja nada de que se envergonhar, nada a esconder, sua vida assumirá a generosidade e o calor que marca todo grande amante.
Ser desejável significa estar confortável com sua própria ambigüidade.
A suprema ambigüidade que cada um de nós expressa não é que possamos ser bons ou maus, amorosos ou sem amor, mas que somos espírito e carne ao mesmo tempo. Nada pode ser mais ambíguo do que isso, ou mais atraente.

Texto do livro
O caminho para o amor
Autor:
Deepak Chopra

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