TEXTO MITOLÓGICO SOBRE O BAOBÁ DE MARIA STELLA DE AZEVEDO SANTOS - IYALORIXÁ DO ILÊ AXÉ OPÔ AFONJÁ

 
 
Vou postar um texto sobre um mito da nova imortal da Academia Brasileira de Letras:

Maria Stella de Azevedo Santos

No dia 22 de setembro começa uma nova estação. No hemisfério sul (onde se localiza o Brasil) é o início da Primavera, quando todos se vinculam à beleza colorida e passageira das flores. Geralmente, as árvores são esquecidas. Lembramos, então, que este ser vivo, tão fundamental para a existência da espécie humana, deverá ser comemorado, em 2013, no dia 21 de setembro.
Diferentemente das flores, algumas árvores são tão longevas que guardam segredos do início dos tempos. Tal é o caso de Baobá, uma das mais grandiosas árvores, que vive milênios, e foi imortalizada pelo francês Antoine de Saint-Exupéry, em seu famoso livro O Pequeno Príncipe. É dito, inclusive, que a inspiração surgiu quando, em visita ao Brasil, o escritor conheceu um exemplar de Baobá, na cidade de Natal-Rio Grande do Norte. Baobá, considerada mãe de todas as árvores, é originária do Continente Africano, existindo poucos exemplares em nosso país. Um deles é, exatamente, o que ainda vive em Natal.
Homenagearei todas as árvores através do seguinte mito africano, que como todos os mitos precisam de uma reflexão profunda, a fim de que seus importantes ensinamentos possam ser internalizados: No centro da África, habitava uma alta e frondosa árvore – Baobá. Foi nela  que Coelho encontrou o conforto que buscava. Exausto, ele se abrigou à sombra da árvore que mais parecia uma Grande Mãe. Extasiado, Coelho exclamou: “Que sombra acolhedora e amiga você tem, muito obrigado!”.
A árvore, que não costumava receber palavras de agradecimento, ficou muito alegre e confiante. Coelho procurou logo aproveitar-se do momento e disse: “Sua sombra é muito boa, mas seus frutos não me parecem tão bons”. Aquela foi uma forma indecente de Coelho fazer com que a árvore lhe desse seus frutos. Baobá sentiu em seu coração a desnecessária artimanha de Coelho, mas preferiu pensar que ele agia daquele jeito por inocência. Ela lhe deu seu delicioso e nutritivo fruto. Coelho voltou a usar uma fala doce para suas atitudes mesquinhas:
“Sua sombra é boa, seu fruto é bom, mas nada sei sobre seu coração. Será ele doce como o interior de seu fruto ou duro e seco como sua casca?”. A árvore hesitou em mostrar quão belo era seu coração. Abrir o coração para alguém é sempre perigoso, mas também é tão divino, que a árvore não resistiu: lentamente foi abrindo seu tronco, até deixar que fosse visto seu lindo coração; um tesouro, que a árvore transformou em moedas, joias, e ofereceu a seu “amigo” Coelho.
Foi para sua esposa que Coelho entregou o tesouro para ser guardado, mas ela preferiu usar as joias: ela queria matar de inveja suas amigas. A primeira que ela encontrou foi Hiena, que quis saber onde aquele tesouro tinha sido encontrado. Coelha, manifestando ostensivamente sua arrogância, disse a Hiena que fosse falar com seu marido. Com medo do agressivo animal, Coelho contou seu segredo. No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, Hiena repetia passo a passo o que Coelho havia feito para conquistar o tesouro: deitou-se e elogiou a sombra da frondosa árvore; pediu-lhe um fruto e o elogiou; finalmente, pediu para ver seu coração. Contente, por pensar que tinha conseguido um outro amigo, a árvore, desta vez, nem hesitou: foi abrindo seu tronco lentamente, agora para poder saborear cada minuto de entrega.
Mas Hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco da árvore, gritando: “Abra logo esse coração, eu não aguento esperar! Eu quero todo esse tesouro para mim!”. A generosa árvore ficou apavorada, fechando imediatamente seu tronco, deixando Hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma joia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu.
A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro. Ela não conseguiu entender que esse tesouro só existe dentro dos corações puros, que batem forte por amor ao próximo. Baobá, a partir de então, só permite que entre em seu imenso tronco, pessoas sábias e íntegras, que conhecem seus mistérios e por isto podem respeitá-los.
Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Quinzenalmente, ela escreve em A TARDE, sempre às quartas-feiras.

por Paulinho Apolonio

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