NINGUÉNS...- EDUARDO GALEANO

NINGUÉNS.... 

As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
♦ Que não são, embora sejam.
♦ Que não falam idiomas, falam dialetos.
♦ Que não praticam religiões, praticam superstições.
♦ Que não fazem arte, fazem artesanato.
♦ Que não são seres humanos, são recursos humanos.
♦ Que não tem cultura, e sim folclore.
♦ Que não têm cara, têm braços.
♦ Que não tem nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata. 


Eduardo Galeano - O livro dos abraços
NINGUÉNS....

As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos
de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
...
♦ Que não são, embora sejam.
♦ Que não falam idiomas, falam dialetos.
♦ Que não praticam religiões, praticam superstições.
♦ Que não fazem arte, fazem artesanato.
♦ Que não são seres humanos, são recursos humanos.
♦ Que não tem cultura, e sim folclore.
♦ Que não têm cara, têm braços.
♦ Que não tem nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.


Eduardo Galeano - O livro dos abraços
 

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