FÉ EM DEUS MELHORA A RESPOSTA A TRATAMENTOS DE SAÚDE


 

Quem acredita em um poder maior costuma crer mais nos tratamentos também, segundo o estudo Luiz Ackermann / Agência O Globo

Mais novo estudo sobre o tema sugere que fé em Deus melhora a resposta a tratamentos mentais

· Crença das pessoas de que algo vá funcionar faz com que funcione na maioria dos casos, um efeito similar ao do placebo

NOVA YORK - Pesquisadores do Hospital McLean em Massaschusetts, nos Estados Unidos, inscreveram 159 homens e mulheres em um programa de terapia cognitivo comportamental de dez sessões de terapia em grupo, individual e, em alguns casos, medicamentos. Cerca de 60% dos participantes estavam em tratamento de depressão, enquanto outros tinham transtorno bipolar e ansiedade, para citar alguns dos diagnósticos. Todos tiveram que classificar sua espiritualidade respondendo à seguinte questão: “Até que ponto você acredita em Deus?”. Os resultados, publicados esta semana na “Journal of Affective Disorders”, revelaram que cerca de 80% dos participantes relataram alguma crença em Deus.

A força da fé não estava relacionada à gravidade dos sintomas iniciais. Acima de tudo, os que classificaram sua crença espiritual como mais importante pareciam ser menos deprimidos após o tratamento, em comparação com aqueles com pouca ou nenhuma crença. Eles também pareciam menos propensos a se envolver em comportamentos de automutilação.

- Pacientes com mais crença em Deus apresentaram resultados melhores no tratamento - disse o líder do estudo, David Rosmarin, psicólogo do Hospital McLean e diretor do Centro de Ansiedade em Nova York.

Uma possível razão para este fenômeno , segundo ele, é que “pacientes com mais fé em Deus também têm mais fé no tratamento. Eles têm mais probabilidade de achar que o tratamento pode ajudar, e têm mais tendência a ver esta possibilidade como real”.

Das 56 pessoas que expressaram uma forte fé em Deus, 27 também tinham expectativas muito altas em relação ao tratamento, enquanto nove tinham pouca esperança. Já entre 30 pacientes que disseram ter nenhuma crença em Deus ou em um poder maior, apenas dois acreditavam muito no tratamento.

- Este é um dos primeiros estudos que li que observa a relação entre a força do comprometimento religioso ou espiritual e melhores resultados - disse a psiquiatra Marilyn Baetz, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, e que estuda os efeitos da religião e da espiritualidade na saúde mental. Em um estudo anterior, a médica descobriu que pessoas com síndrome do pânico que classificavam a religião como “muito importante” respondiam melhor à terapia comportamental, mostrando menos estresse e ansiedade que aquelas que consideravam a religião menos importante.

Avaliar como as práticas religiosas afetam a saúde é difícil, em parte porque os pesquisadores não podem designar aleatoriamente pessoas a abraçarem uma religião ou não, da forma que podem escolher, em um teste de medicamentos por exemplo, os participantes que tomam a nova droga ou um placebo. A maioria dos estudos dessa relação são observacionais, e as pessoas que são mais ou menos religiosas podem diferir em outros aspectos importantes, o que torna difícil saber se a fé religiosa está realmente tendo efeito ou se é resultado de algum outro fator.

 

Padrão de pensamento

 

Trazer à tona os efeitos da fé sobre os resultados do tratamento pode, no entanto, ser uma meta importante. A maioria dos americanos acredita em Deus — 92%, de acordo com uma pesquisa Gallup de 2011, embora a porcentagem entre os profissionais de saúde mental seja consideravelmente menor. Um estudo de 2003 descobriu que 65% dos psiquiatras disseram que acreditavam em Deus, comparados com 77% de outros médicos.

Pesquisas anteriores já tinham associado a prática religiosa ao aumento de expectativa de vida e, alguns estudos, à redução dos riscos de depressão. Mas este estudo não observou a frequência com que os participantes iam à igreja, ou a que religião pertenciam, mas sua crença na existência de uma força maior.

- Eu acho que esta é uma boa maneira de medir cientificamente as coisas que têm a ver com a experiência da espiritualidade das pessoas - disse o professor de psicologia e psiquiatria Torrey Creed, da Universidade da Pensilvânia. - Acredito que este seja um estudo de estilos cognitivos, onde há um padrão de pensamento que ajuda as pessoas a se sentirem melhor no tratamento. E dois exemplos desse padrão de pensamento são ‘eu acredito no tratamento’ e ‘eu acredito em Deus’.

De acordo com Randi McCabe, diretor do Centro de Tratamento e Pesquisa de Ansiedade na Clínica St. Joseph’s, nos Estados Unidos, a crença das pessoas de que algo vá funcionar faz com que funcione na maioria dos casos, um efeito similar ao do placebo.

- A crença do paciente em sua melhora, sua atitude em relação a isso influencia como ele se sente. E na terapia cognitivo comportamental este é o ponto que tentamos mudar: a crença da pessoa, como ela se vê em relação ao mundo, sua perspectiva.

Para o psicólogo David Rosmarin, líder do estudo, às vezes os medicamentos não funcionam, e às vezes a psicoterapia não funciona.

- Mas se a pessoa acredita em alguma coisa metafísica, espiritual, que pode ser eterna, permanente, onipotente, então esta coisa pode ser uma fonte importante para ela, particularmente em períodos de estresse emociona.

ASHLEY TAYLOR

DO NEW YORK TIMES

Publicado:12/07/13 - 21h36

Atualizado:12/07/13 - 21h37

 

Medicina de mãos dadas com a fé

· Espiritualidade e força são citadas por especialistas como responsáveis por aumentar em 29% as chances de sucesso em em tratamentos médicos.

 
RIO - Dez anos mantida em cativeiro desde a

adolescência não foram o bastante para liquidar a força de espírito de Amanda Berry, a americana de Cleveland que declarou pela primeira vez esta semana a receita de sua resistência: “Não vou deixar a situação definir quem eu sou. Eu vou definir a situação”. É essa força mental que, associada à fé — seja ela de qual religião for — dá, logo de cara, 29% mais chances de sucesso em qualquer tratamento médico, de acordo com pesquisa do psicólogo Harold Koenig, especialista nos efeitos da religiosidade na medicina e inspiração para os médicos que discutiram o tema na edição deste mês dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar.

Religiosidade entre as disciplinas médicas

O ciclo de palestras e debate, realizado na Casa do Saber O GLOBO, na Lagoa, teve a participação do cirurgião de cabeça e pescoço Ricardo Lopes da Cruz, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e o bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antonio Duarte, teólogo e médico graduado na USP. Sob coordenação do cardiologista Cláudio Domênico, o evento foi mediado pela editora de Saúde do GLOBO, a jornalista Ana Lucia Azevedo.

- É esta força (de Amanda) que nos serve quando estamos diante de uma enfermidade grave, por vezes incurável - disse Domênico.

O cardiologista começou a palestra com uma provocação. Ele mencionou Marcia Angell, antiga editora da “New England Journal of Medicine” que afirmou em 1985 que “nossa crença na doença como reflexo direto de um estado mental é, em grande parte, um folclore”. Na época ela era a chefe da revista médica entre as mais prestigiadas do mundo, mas o tempo tratou de contradizê-la. Hoje, mais de 70% das faculdades de medicina dos EUA já incorporaram pelo menos uma disciplina que associe religiosidade e saúde. E já há a tendência de que a cadeira seja obrigatória nas escolas médicas americanas.

- Os médicos têm que ser treinados para colher uma história espiritual. Assim como perguntamos “você fuma, faz exercícios?”, temos que perguntar também “você pratica alguma religião? Se ficar doente, gostaria de ter algum conforto espiritual?” Não podemos ignorar as necessidades espirituais. Estender cuidados àqueles com doenças graves para atenção pscicossocial, existencial e contra o sofrimento espiritual é um consenso do American College of Physicians - acrescenta Domênico, com menção à maior sociedade americana de especialidades médicas.

O bispo Dom Antonio expôs ao auditório que, ao contrário dos sinais de que a cultura contemporânea ocidental tenta passar, fé e ciência não são conceitos antagônicos.

- Fé é a certeza daquilo que ainda se espera. Demonstração das realidades que não se veem - disse o bispo auxiliar, parafraseando São Paulo. - O pensamento moderno, laico, compreende a fé como uma atitude subjetiva e não objetiva, como se as pessoas entrassem num mundo de escuridão, em que o luminoso é a ciência - explica o bispo auxilar. - A medicina avança para ter máquinas cada vez mais poderosas, mas não se pode viver na incerteza. E São Paulo fala em certeza. Fé não é escuridão intelectual.

Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude, Dom Antonio destaca que tanto melhor será o médico quanto melhor for a compreensão integral do paciente. Uma boa formação espiritual, anterior ao próprio ensino médico é o caminho, acrescenta o teólogo.

- Se o médico não é especialista no espírito, é porque se desumanizou, perdeu uma dimensão própria do ser humano. Para compreender a pessoa em sua dimensão integral, tem que ter um background de espiritualização para depois enriquecer-se com a experiência médica.

O cirurgião de cabeça e pescoço Ricardo Lopes da Cruz tem como rotina cuidar de pacientes com traumas e tumores na face, parte do corpo mais associada à identidade visual. Um dos integrantes no Into do programa Humaniza SUS, do Ministério da Saúde, Cruz contou sobre a influência da fé em sua experiência profissional:

- Sabemos que há pessoas que, durante o enfrentamento de uma doença, evoluem muito bem. Aí dizem: ele só poderia ter evoluído assim, ele é alto astral. Assim como ocorre o contrário, quando, durante o tratamento, há a morte inesperada de quem é pessimista. O astral é o espírito.

À luz da medicina, desde 1988 o espírito venceu os céticos e ganhou status oficial como parte do bem-estar humano, quando a Organização Mundial de Saúde mudou a definição de saúde. Deixou de ser apenas o fato de não ter doença para ser o bem-estar biológico, psicológico, sociológico e — vejam só — espiritual.

Força do espírito ajuda na recuperação

Cruz prosseguiu a explicação com a afirmação de que não existe alto ou baixo astral, mas sim a capacidade de enfrentamento, o que pode ser interpretado como a força do espírito. Mesmo assim, de acordo com o cirurgião, uma pesquisa feita entre médicos pelo Humaniza SUS mediu que 56% de médicos entrevistados acreditam que religião e espiritualidade poderiam ter muita influência na saúde, mas só 6% gostariam de introduzir o método na sua rotina de trabalho.

Marcos Knibel, médico intensivista do Hospital São Lucas, do Rio, estava na plateia e foi convidado a tentar explicar por que tanta resistência entre os colegas em discutir espiritualidade:

- Jovens médicos hoje têm imensa dificuldade em conversar com o paciente, em colher a história da doença do paciente, que dirá de sua história espiritual - acredita, e culpa a formação médica: - A universidade médica está falida, não só não ensina a religiosidade, como não ensina também filosofia, comunicação, nada.

 

 

 
Preces e mantras podem agir sobre coração e câncer

· Aceitação da doença e crença de ter que enfrentá-la como parte de um plano maior é fator positivo em pacientes religiosos, praticantes ou não.



Orações agem na recuperação de doenças

 

RIO - A fé e o estilo de vida têm tanto efeito na saúde cardiovascular que ganharam duas mesas redondas no 68º Congresso Brasileiro de Cardiologia, no Rio de Janeiro, em setembro. A aceitação da doença e a crença de ter que enfrentá-la como parte de um plano maior é observada pelos médicos como fator positivo em pacientes religiosos, praticantes ou não.

- A gente não aprende isso na faculdade, mas eu vejo muito nas UTIs coronarianas pacientes graves que, com fé, enfrentam a doença com muita determinação - conta o médico Roberto Esporcatte, da Sociedade de Cardiologia do Rio.

Não há estudos científicos definitivos sobre o poder da prece, é difícil documentar o índice de mortes de pessoas mais ou menos religiosas, mas até agora, o que se sabe é que a crença em um poder superior tem ação benéfica na qualidade de vida dos pacientes.

- Em relação ao bem-estar, pacientes que têm uma espiritualidade em tratamento costumam apresentar pressão arterial melhor, melhores taxas, menos calcificação coronariana, mas isto é uma dedução - explica o cardiologista. - Esta ponte entre a formação ortodoxa e a vida religiosa dos pacientes será tratada no congresso, porque por mais que se estude novos medicamentos não se sabe porque alguns respondem a eles e outros não.

No tratamento de tumores há uma comprovação de alteração cognitiva de 40% relacionada à quimioterapia, em mulheres que sobreviveram ao câncer de mama. Mas nas que praticam ioga essa alteração é menor, segundo a Mônica Klemz, do Centro Oncológico de Niterói. Pode ter a ver com o exercício, com os mantras, com a respiração, com a meditação durante as aulas ou com o conjunto desses fatores.

- É difícil definir e medir a fé das pessoas. Até agora nos estudos não há aumento de sobrevida em religiosos, a não ser nos adventistas do sétimo dia, mas neste caso é relacionado a uma vida mais regrada praticada por quem é desta religião - observa a oncologista.

Mônica alerta para resultados conflitantes em relação ao tema, já que a situação de doença quando vista como punição pode atrapalhar a recuperação do paciente. Mas ela conta que em reuniões com pacientes oncológicos a figura de um padre ou religioso costuma emocionar.

- Em geral, quando há uma prece, a equipe médica e os pacientes se emocionam, acho que porque a gente lembra da fé na recuperação


Fonte: http://oglobo.globo.com/saude/preces-mantras-podem-agir-sobre-coracao-cancer-9021850#ixzz2YxOPIycZ 

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