Autoconhecimento: a porta da liberdade
Pergunta: Tereis a bondade de dizer-nos o que é liberdade? Não
é uma ilusão que andamos todos a perseguir?
KRISHNAMURTI: Só
desejamos a liberdade quando estamos cônscios de nosso cativeiro; e porque não
sabemos como nos libertarmos desse cativeiro, buscamos a liberdade. Mas, se
tivermos a capacidade de nos libertarmos do cativeiro, haverá então
liberdade; não teremos de procurá-la, nem de perguntar o que é liberdade — isso
pode ficar para os filósofos e especuladores. O importante é descobrirmos de
que maneira estamos sendo mantidos nesse cativeiro, porque na própria
compreensão do cativeiro encontra-se a liberdade. No momento em que lutamos
contra o cativeiro, criamos outro cativeiro. Mas, se pudermos compreender todo
o processo psicológico de nosso cativeiro — não apenas o que nos está
prendendo, mas como isso nasceu, os motivos, o seu alcance, todo o seu fundo,
tanto consciente como inconsciente — então, nesta própria compreensão, se
encontra a liberdade; não temos de "tornar- nos" livres.
Consideremos, por
exemplo, o medo. Em geral somos dominados pelo medo, sob esta ou aquela forma; e
este é um processo muito complexo, não achais? Sabemos que temos medo e como
nasce o medo? Ou apenas tecemos teorias a seu respeito? Por certo, o medo só
existe em relação com alguma coisa; não existe sozinho: tenho medo de alguma
coisa — da morte, da pobreza, do que se diz de mim, etc. E pode-se examinar,
profundamente, este problema do medo? Isso só é possível se não procuro fazer
alguma coisa em relação ao medo.
Que é o medo? Medo
do desconhecido? Ou temos medo de perder o conhecido — de ficarmos pobres, por
exemplo? Pode a mente libertar-se do medo de ser pobre? E a que damos mais
importância, à pobreza espiritual ou à pobreza material? Por certo, ao homem que
reflete, ao homem realmente empenhado em descobrir o que interessa é a pobreza
espiritual. E essa pobreza espiritual pode ser superada pelo saber, pela leitura
de livros? Pode a mente enriquecer-se por qualquer espécie de preenchimento? E
há realmente preenchimento, ou isso é apenas uma exigência da mente, que,
temendo sua própria pobreza, busca preencher-se?
O problema do medo,
por conseguinte, não é muito simples e se requer, por parte da mente, muita
investigação para descobrir a natureza de seu medo. Quando há compreensão de
todo o processo do medo, encontra-se a liberdade — não puramente liberdade do
medo, porém liberdade para a mente transcender a si própria. O homem que está livre de alguma coisa só conhece uma
liberdade limitada.
Está visto, pois,
que a investigação de tudo isso demanda muita energia, muita atenção, não
apenas por uma ou duas horas, mas a todos os momentos do dia — viajando de
ônibus, no escritório, no lar, ou num passeio solitário. Há necessidade dessa
constante investigação, de um constante indagar, uma constante vigilância, para
que se nos revele todo o conteúdo de nosso ser. Ver-se-á, então, que, no
descobrimento e na compreensão do que realmente somos, se nos abre a porta da
liberdade.
Krishnamurti —
Verdade libertadora - ICK
Fonte:http://nossaluzinterior.blogspot.com.br/2013/05/autoconhecimento-porta-da-liberdade.html
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