FRANCISCO, O SANTO PANTEÍSTA
Lendas Franciscanas
Ensinam a Unidade de Todos os
Seres
Patrono da defesa dos
animais, Francisco (1181-1226) chamava
de
irmãos o sol, a lua, o fogo, a água, o vento, a terra e todos os seres
As antigas lendas
sobre santos, sábios e heróis são formas de ensinar cuja eficácia parece apenas
crescer à medida que passa o tempo. Elas falam diretamente à alma. Elas
transmitem informação ao hemisfério cerebral direito, que funciona como
instrumento da experiência mística na consciência humana.
Tais
narrativas devem ser reconhecidas e valorizadas como lendas: não é correto
encará-las como verdadeiras num sentido literal.
A prática
mais modesta da biografia documentada é recente. O que se ganha com ela em
documentação material perde-se, às vezes, em profundidade. Nem todos são capazes
de conciliar a linguagem da alma com uma documentação correta e verificável.
Há milênios
a história das vidas dos grandes instrutores religiosos tem sido quase sempre
lendária. Seu significado não é óbvio. Para a filosofia esotérica, as vidas de
sábios como Cristo, Osíris, Buddha, Krishna, Lao-tzu ou Zoroastro são exemplos
de linguagem simbólica. Elas devem ser lidas em profundidade, e Francisco de
Assis, o santo do século 13, está longe de ser uma exceção. A lenda franciscana
transmite lições universais, que podem ser colocadas criativamente em prática
pelos habitantes do século 21.
Espírito Vivo Transcende
Especulações
Quando vamos
além da letra morta, percebemos a unidade essencial entre os diferentes campos
de conhecimento. Cada religião ou filosofia pode ensinar algo valioso à alma
humana, mas nenhuma delas é suficiente em si mesma. O espírito da sabedoria está
acima das divisões e especulações intelectuais. Francisco de Assis mandou carta
a Antônio de Pádua pedindo que ensinasse teologia aos irmãos, “contanto que este
estudo não extinga o espírito da santa oração e da devoção”. [1]
A ideia
constitui um axioma central em filosofia esotérica. É imprescindível estudar os
aspectos teóricos da teosofia original, e eles são fascinantes; mas Helena
Blavatsky escreveu: “teosofista é aquele que age teosoficamente”. Na ausência de
uma devoção sincera à causa da humanidade, o discurso “espiritualizado” pode
fazer mais mal do que bem. A silenciosa contemplação interior das verdades
universais é necessária. A prática diária do ensinamento é igualmente decisiva.
Este é um dos pontos em que Francisco bate na mesma tecla que a filosofia
esotérica. No documento “Palavras de Santa Exortação a Todos os Irmãos”,
ele afirma:
“A
letra mata, mas o espírito vivifica (2 Cor 3:6). São mortos pela
letra os que tão-somente querem saber as palavras, a fim de parecer mais sábios
que os outros e poder adquirir grandes riquezas e dá-las aos parentes e amigos.
(.....) São porém vivificados pelo espírito das Sagradas Escrituras aqueles que
tratam de penetrar mais a fundo em cada letra que conhecem, e não atribuem o
seu saber ao próprio eu, mas pela palavra e pelo exemplo o restituem a Deus...”
[2]
Cabe
examinar o que significa a palavra “Deus”. Cada religião, cada igreja e até
cada crente individual fabrica Deus à sua própria imagem e semelhança. Para a
filosofia esotérica, porém, não existe qualquer coisa semelhante a um deus
monoteísta. Há, em todas as dimensões do cosmo infinito, uma imensa pluralidade
de energias e inteligências divinas.
A Lei
Universal ou Lei do Carma rege o universo inteiro. Toda a Natureza é sagrada, e
Francisco parece ter percebido este fato intuitivamente. Embora tenha procurado
manter-se obediente às instituições autoritárias da Idade Média, as suas
inclinações teosóficas e panteístas são evidentes, e são profundas.
Nossa Senhora, a Pobreza
Uma
imagem de Santa Clara
Pouco antes
de morrer, Francisco fez algumas recomendações finais no chamado Testamento
de Sena. Ali aparece o conceito de “Nossa Senhora, dona Pobreza”. O sábio
afirma:
“Abençoo a
todos os meus irmãos, tanto os que estão na Ordem agora como os que nela
entrarem até o fim do mundo. E como por causa da minha fraqueza e de meus
sofrimentos já não lhes posso falar muito, quero elucidar em três frases a todos
os meus irmãos atuais e futuros qual o meu propósito e meu querer, a saber: que
em sinal de minha memória, de minha bênção e de nossa aliança sempre se amem
como eu os tenho amado e ainda amo; que guardem sempre amor e fidelidade a nossa
senhora dona Pobreza; que sempre se mantenham submissos e prontos a servir aos
prelados e clérigos da Santa Mãe Igreja.”
[3]
Na tradição
franciscana, Clara é a figura feminina que complementa o santo. Ela é uma
personificação da pobreza mística, isto é, do desapego em relação a situações
materiais.
Embora
obedecer externamente à Igreja fosse essencial para a sobrevivência do trabalho
franciscano, a divindade feminina da sua Ordem dos Frades Menores é “dona
Pobreza”, isto é, a simplicidade voluntária, o despojamento. O contraste é
profundo com a igreja, cujos clérigos e bispos viviam no luxo material, em meio
à extrema pobreza do povo.
Descontadas
as aparências, a verdade é que Francisco estava lutando de modo não-violento
contra a corrupção do clero. Ele também não acreditava em obediência cega.
Considerado por alguns um precursor da Reforma de Lutero, o santo de Assis
afirmou:
“Se (.....)
um dos ministros mandar a um irmão algo que for contrário ao nosso gênero de
vida ou à sua alma, o irmão não estará obrigado a obedecer-lhe. Pois não haverá
obediência onde se cometer uma falta ou um pecado. E mais, todos os irmãos que
forem súditos dos ministros e servos observem com diligente atenção o que fazem
os ministros e servos. E se acaso virem que um deles vive segundo a carne e não
espiritualmente, conforme corresponde à retidão de nosso gênero de vida, tratem
de adverti-lo por três vezes. Se apesar disso não se emendar, deverão
denunciá-lo (.....) ao ministro geral de toda a fraternidade, sem deixar-se
intimidar por contradição alguma.”[4]
Acostumado a
enfrentar pressões do alto clero corrupto, Francisco estabeleceu em seu
testamento para as irmãs de Santa Clara:
“Peço a
vocês, senhoras minhas, e dou-lhes o conselho de que vivam sempre esta
santíssima vida de pobreza. E evitem cuidadosamente afastarem-se dela nem pela
doutrina nem pelo conselho de quem quer que seja.”
[5]
Evitando a Escravização Pelo
Dinheiro
A
fonte deste retrato de Francisco é Tomás de
Celano, seu contemporâneo e seu primeiro biógrafo
Não se pode
calcular em dólares o valor de uma vida humana. Tampouco é possível comprar ou
vender conhecimento sagrado, ou felicidade. Ninguém encontra Ética nas estantes
dos supermercados. Quando uma sociedade se ergue até o nível em que a sabedoria
universal é compreendida, as pessoas vivem segundo valores mais importantes que
notas de papel emitidas por bancos centrais.
Na Idade
Média, a influência do dinheiro era menor do que no século 21. Muitas relações
sociais não eram intermediadas pela moeda, e podemos ler estas palavras de
Francisco no item quatro da “Regra Definitiva da Ordem dos Frades
Menores”:
“Ordeno
severamente a todos os irmãos que de modo algum aceitem moedas ou dinheiro, nem
por si nem por pessoa intermediária. Mesmo para prover as necessidades dos
irmãos enfermos ou vestir os demais irmãos, só os ministros e custódios tomem
solicitamente as devidas providências, inclusive recorrendo a amigos
espirituais, e levando em conta as condições de lugar, de tempo e de clima,
conforme a seu critério melhor convier à necessidade - salvo sempre, como já
ficou dito, que não aceitem moedas ou
dinheiro.”[6]
Francisco
era severo com a deslealdade. Depois de proibir a aceitação de dinheiro, ele
propôs na Regra Não-Aprovada, um texto em que o ideal franciscano brilha sem
mutilações:
“E se mesmo
assim acontecer (.....) que algum irmão ajunte ou possua dinheiro ou moedas
(.....), todos nós irmãos vamos considerá-lo como falso irmão e como apóstata,
como gatuno e como ladrão, e mais, como aquele que carrega a bolsa [Judas
Iscariotes].” [7]
Algumas Lições para o Século
21
Embora a
proibição do uso de dinheiro não possa ser aplicada literalmente no século 21,
há várias lições práticas a serem extraídas da ideia que inspirou as palavras de
Francisco.
O bom senso
ensina que é necessário valorizar o trabalho solidário e voluntário. As pessoas
bem informadas têm o dever de promover a opção pela vida simples, pela superação
do consumismo ecologicamente irresponsável e pela prática da ajuda mútua entre
os cidadãos, sem intermediação de moeda.
Deve-se
perceber aquilo que tem mais valor que o dinheiro. É recomendável estabelecer a
diferença entre o trabalho, de um lado, e a busca do dinheiro, de outro. As
duas coisas não estão necessariamente juntas. O trabalho altruísta é uma forma
de oração. A busca de dinheiro, em alguns casos, é o seu oposto.
A proposta
franciscana aponta para a economia solidária do futuro. Ela propõe relações
econômicas e sociais ecologicamente corretas, voltadas para o bem-estar de todos
os seres e não para o enriquecimento pessoal deste ou daquele. A prática do
franciscanismo original contrastava frontalmente com a corrupção do alto clero
no final da idade média, e ainda contrasta hoje com o luxo do Vaticano.
Nas décadas
seguintes à morte do sábio de Assis, o Vaticano perseguiu sem dó ou piedade os
franciscanos mais radicais e os partidários do Evangelho Eterno, que seguiam a
visão de fraternidade universal partilhada por Joachim de Fiore.
Trabalho ou
Ociosidade
O trabalho é
sagrado. O esforço criador e construtivo é fonte de felicidade, e a Regra
Definitiva dos franciscanos estabelece:
“Aqueles
irmãos que do Senhor receberam a graça de poder trabalhar, trabalhem com
fidelidade e dedicação, de modo a afugentar o ócio, inimigo da alma, sem contudo
perder o espírito da santa oração e devoção, ao qual devem subordinar-se todos
os demais assuntos temporais. Como salário do trabalho podem receber para si e
seus irmãos o necessário para sustentar a vida, exceto moedas ou dinheiro, e
isto com humildade, conforme convém a servos de Deus e seguidores da mais santa
pobreza.” [8]
Vivendo na
Idade Média, Francisco usava com naturalidade o termo “diabo”. Na realidade,
esta palavra é apenas uma personificação simbólica daquele nível de ignorância
humana acumulada que se resiste ativamente ao aprendizado espiritual. A
ignorância que visa eternizar-se existe subconscientemente. Como todo mau
hábito, ela luta pela sua preservação, e é capaz de usar uma astúcia traiçoeira
tanto no plano individual como no âmbito coletivo. O trabalho altruísta -
conhecido no Oriente pelo nome de Carma Ioga – é uma arma eficaz contra
este inimigo do peregrino espiritual. Assim, a Regra Não-Aprovada dos
franciscanos recomenda:
“Todos os
irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está escrito: ‘Vê
se estás sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para que o diabo te
encontre ocupado’; e ainda: ‘A ociosidade é inimiga da alma’.”
[9]
O Usufruto do Universo
Pertence a Todos
Há uma
simetria inevitável no Universo. A cada renúncia externa corresponde uma
aquisição interna, e vice-versa. Em consequência disso, é morrendo para a vida
material que se nasce para a vida espiritual. E Francisco
recomendou:
“Os irmãos
não adquiram propriedade de coisa alguma, nem de casa, nem de residência, nem de
outra coisa qualquer. E como peregrinos e forasteiros neste mundo, servindo a
Deus em pobreza e humildade, peçam esmola com confiança, nem se envergonhem
disso, pois o Senhor se fez pobre por nós neste mundo (2Cor: 8,9). É nisto que
consiste a sublimidade dessa extrema pobreza, que transforma vocês, caríssimos
irmãos, em herdeiros e reis do reino dos céus, e os torna pobres de bens, mas
nobres de virtudes (Tiago, 2:5).” [10]
O “reino dos
céus” é uma imagem simbólica, que representa os níveis superiores de
consciência. O mundo do espírito é cósmico. Um trecho de uma regra desaparecida
da ordem franciscana afirma que os frades menores “nada querem possuir sob o céu
senão a santa pobreza, por meio da qual o Senhor os alimenta neste século com
alimento corporal e possuirão no século futuro a herança celestial”.[11]
A ausência
de posses não produz apenas uma recompensa futura, mas é fonte de felicidade e
libertação imediatas. O pensador francês Ernest Renan, que identificou-se
pessoalmente com o ideal franciscano, escreveu no século
19:
“Assim como
o patriarca de Assis, atravessei o mundo sem apegar-me seriamente ao mundo, mas
- ouso dizer - na situação de simples locatário. Nós dois, sem nada termos que
seja nosso, somos ricos. A divindade nos deu o usufruto do universo, e estamos
contentes por desfrutá-lo sem posse.” [12]
A Lenda do
Lobo
A força da
renúncia desperta o poder da unidade com todos os seres, e a lenda franciscana
mostra numerosos exemplos deste fato. Conta a tradição que um lobo de grande
porte aterrorizava o condado italiano de Gúbbio, devorando tanto animais como
seres humanos. Ninguém mais tinha coragem de sair da cidade, quando Francisco
foi à procura do animal. Ao vê-lo, o santo fez o sinal da cruz, concentrou-se
mentalmente e disse:
“Venha cá,
irmão lobo”.
O lobo
aproximou-se de Francisco como um cordeiro e lançou-se aos seus pés.
Francisco
deu-lhe uma ordem em nome de Cristo para que parasse de perseguir as pessoas.
Fez um elaborado discurso ao lobo, enumerando um a um os seus erros. Finalmente,
estabeleceu as condições de uma paz futura entre o animal e os habitantes do
condado.
Duas imagens da lenda
franciscana do lobo
O lobo
respondeu com humildade, fazendo sinal afirmativo com a cabeça. Prestou
juramento solene, e prometeu nunca mais atacar pessoas. Em troca disso, o santo
anunciou que os habitantes da cidade lhe dariam o alimento necessário para sua
sobrevivência. Francisco selou o acordo apertando a mão do lobo.
[13]
Para os mais
diferentes povos, o lobo é, desde a antiguidade, um símbolo das paixões animais
que perseguem os seres humanos menos sábios e “devoram” tudo o que veem pela
frente.
Maldade Não é Mau Carma Para
Quem a Sofre
Os
desinformados pensam que o egoísta e o mentiroso prejudicam de fato suas
vítimas.
Desde um
ponto de vista teosófico, porém, a maldade e a injustiça prejudicam sobretudo
quem as comete. Também neste caso, o desapego e a atenção fazem a diferença. A
vítima só é seriamente prejudicada quando se apega ao sofrimento, ou quando
reage com um ódio cego e um rancor primário. Francisco, que possuía bom senso,
fez registrar na Regra Não-Aprovada:
“E saibam
que a humilhação não é imputada aos que a sofrem, mas aos que a
infligem.”[14]
Em outro
trecho ele cita Mateus, 5:10-12:
“Bem-aventurados os que
sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, insultarem e perseguirem, e
vos expulsarem e escarnecerem, e injuriarem vosso nome como réprobos, e
falsamente disserem contra vós todo gênero de maldade, por minha causa.”
[15]
Jesus, o
autor simbólico destas palavras, representa o Caminho.
Aquele que
trilha o Caminho da ética e da sabedoria pode ser desprezado no mundo, porque
sua vida segue uma lógica que não é compreensível desde o ponto de vista do
materialista. No entanto, o sofrimento causado pela incompreensão é fonte de
mais aprendizado. Em última instância, todo o sofrimento “probatório” do
aprendiz culmina na felicidade incondicional que emerge da sabedoria
consolidada.
Os
materialistas, em compensação, trilham o verdadeiro caminho do sofrimento. A
obra “I Fioretti”, uma coletânea de lendas franciscanas, ensina este princípio
teosófico:
“Muitas
dores terá o homem mísero, o qual põe o seu desejo nas coisas terrenas, pelas
quais abandona e perde as celestes, e finalmente perderá também as terrenas. A
águia voa muito alto, mas se tivesse algum peso ligado às asas, não poderia voar
muito alto; e assim o homem, pelo peso das coisas terrenas, não pode voar ao
alto, isto é, não pode chegar à perfeição; mas o homem sábio, que prende o peso
da lembrança da morte e do julgamento [16] às asas do seu coração, não
pode, pelo seu grande temor, discorrer nem voar para a vaidade nem para os bens
deste mundo, que lhe são causa de danação”.
[17]
O Cântico do Sol: uma Oração
Panteísta
O manifesto
mais vigoroso da filosofia franciscana é o Cântico do Sol. Baseado em grande
parte no testemunho de gratidão aos deuses que faz parte de uma obra clássica de
Xenofonte, “Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates” [18], o Cântico é uma
prova indiscutível das raízes panteístas da mais elevada mística cristã.
Assim como a
tradição esotérica, o franciscanismo ensina a comunhão imediata com todos os
seres, sem a intermediação burocrática da missa, de uma igreja, ou de
sacerdotes. O planeta inteiro é um templo, e a presença divina está em todas as
partes.
A teosofia ensina a unidade de todos os seres
Segundo a
lenda, o Cântico do Sol foi composto por Francisco pouco antes de morrer. A
oração é nominalmente dirigida ao Senhor Deus dos católicos; porém esta aparente
personalização do princípio divino universal faz parte de um enfoque panteísta
em que também o sol, a água, a lua e outros elementos da natureza são
personalizados e chamados de irmãos.
Para a
teosofia de Helena Blavatsky, assim como para o cristianismo de Francisco, não
há coisa alguma destituída de vida ou inteligência no universo. As forças
naturais estão unidas a cada ser humano por laços de uma afinidade sutil mas
incondicional. Nas Cartas dos Mahatmas, é possível encontrar estas
palavras de um sábio dos Himalaias:
“A natureza uniu todas as
partes do seu império por meio de fios sutis de simpatia magnética, e há uma
relação mútua até mesmo entre uma estrela e o homem...”
[19]
Este
princípio da filosofia oriental é desenvolvido em forma de oração no Cântico do
Sol:
Louvado
sejas, meu Senhor,
com todas as
tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão
Sol,
pois ele é
dia
e nos
ilumina por si.
E ele é belo
e radiante com grande esplendor.
E porta teu
sinal, ó Altíssimo.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pela irmã
Lua e as estrelas;
no céu as
formaste luminosas
e preciosas
e belas.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pelo irmão
vento e o ar e as nuvens,
e o céu
sereno e toda espécie de tempo
pelo qual às
tuas criaturas dás sustento.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pelo irmão
fogo,
pelo qual
iluminas a noite;
e ele é belo
e alegre
e vigoroso e
forte.
Louvado
sejas, meu Senhor,
por nossa
irmã e mãe terra,
que nos
alimenta e governa
e produz
variados frutos
e coloridas
flores e ervas.
Louvado
sejas, meu Senhor,
por nossa
irmã, a morte corporal
da qual
ninguém pode escapar.
Ai daqueles
que morrem em pecado mortal. [20]
Felizes os
que estão na tua santíssima vontade,
que a morte
segunda não lhes fará mal. [21]
Oitocentos
anos depois da vida biológica do sábio de Assis, a visão franciscana da vida é
uma ponte dinâmica da tradição cristã com outras religiões, e com a filosofia
universal.
As lições
que ele deixou constituem um dos aspectos em que o cristianismo se ergue até o
nível da antiga teosofia do Oriente, e ensina a prática da fraternidade sem
fronteiras que marcará a civilização do futuro.
Texto por Carlos Cardoso Aveline
NOTAS:
[1] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1979, 289 pp., ver p.
162.
[2] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
Editora Vozes, p. 142.
[3] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
p. 117.
[4] “Regra Não-Aprovada”, publicada no volume
“São Francisco de Assis”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1991, 1.372 pp., ver p.
144.
[5] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
obra citada, p. 111.
[6] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
obra citada, p. 102.
[7] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
p. 76.
[8] “Os Escritos de São Francisco de Assis”,
mesma p. 102.
[9] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p.
75.
[10] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p.
103.
[11] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p.
96.
[12] “Nouvelles Études D’Histoire Religieuse”.
Ernest Renan, 1884, Calmann-Lévy, Editeurs, 533 pp., ver pp. III-IV.
[13] “I Fioretti”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ,
sétima edição, 1985, 254 pp., ver pp. 59-62.
[14] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p.
77.
[15] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p.
83.
[16] Julgamento; esotericamente, o “julgamento”
do cristianismo convencional simboliza o início do processo pós-morte. Através
dele é definido o rumo da alma durante todo o processo entre duas vidas físicas,
isto é, até a próxima encarnação. A qualidade deste longo processo entre duas
vidas depende da qualidade ética das ações da alma durante a vida física.
[17] “I Fioretti”, Ed. Vozes, sétima edição,
1985, 254 pp., ver p. 231.
[18] Veja o capítulo III do Livro IV da obra
“Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates”, incluída no volume “Sócrates”, coleção
“Os Pensadores”, Nova Cultural, Círculo do Livro S.A., 1996, 303 pp., pp.
175-177. O tema é abordado também no capítulo dedicado a Sócrates de meu livro
“Conversas na Biblioteca”, Edifurb, 2007, 170 pp., ver pp. 18-22. A obra contém
um capítulo dedicado ao santo de Assis (ver pp. 47-53).
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[19] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica,
Brasília, 2001, Carta 47, Volume I, pp. 217-218.
[20] “Morrer em pecado mortal”. Esotericamente,
essa expressão significa concluir a encarnação enquanto há um contato nulo, ou
insuficiente, entre a alma mortal e a alma imortal. Assim, quando ocorre a
“segunda morte” - a morte astral - a consciência do indivíduo não se transfere
para o eu superior e não tem lugar a vivência do “Devachan”, o “local dos
deuses”; na linguagem cristã, a alma não vai para o “paraíso”, antes de
reencarnar.
[21] Conforme sugere o verso final, os que estão
de acordo com a vontade divina do seu próprio eu superior nada têm a temer com a
“segunda morte”, a morte astral. Quando ela ocorre, a consciência se transfere
para o nível superior, o local divino ou “paraíso individual”, tecnicamente
chamado de “Devachan” em teosofia.
Fonte:http://www.vislumbresdaoutramargem.com/2012/10/francisco-o-santo-panteista.html
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