O QUE É TEOLOGIA ?



Teologia (do grego θεóς, transl. theos = "divindade" + λóγος, logos = "palavra", por extensão, "estudo, análise, consideração, questionamento sobre alguma coisa ou algo"), no sentido literal, é o estudo sobre a divindade.
A origem histórica do termo em questão nos remete à Hélade, também chamada de Grécia Antiga. Era utilizada inicialmente para descrever o trabalho de muitos poetas, que tentavam dar uma noção de como eram os Deuses. Os teólogos eram os que faziam poesias sobre os deuses e sobre seus feitos, suas virtudes, suas emoções, sua vida particular e também seus vícios e erros. Entretanto, não era uma análise sobre os deuses e, sim, uma narração dos feitos deles que se pareciam com os feitos humanos e as virtudes dos mesmos. Somente na Idade Medieval é que o termo deixou de lado o conceito poético e passou a ser considerado como assunto de inquirição existencial e filosófica.
Partindo do princípio da definição hegeliana do termo "teologia", a teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades. Como toda área do conhecimento, possui então objetos de estudo definidos. Como não é possível estudar Deus diretamente, como sugere o termo literalmente observado, a definição de Hegel que, somente se pode estudar aquilo que se pode observar se torna pertinente e atual, conforme as representações sociais nas mais variadas culturas.

 Evolução do termo

No cristianismo, isso se dá a partir da Bíblia. O teólogo cristão-protestante suíço Karl Barth definiu a Teologia como um "falar a partir de Deus". O termo "teologia" foi usado pela primeira vez por Platão, no diálogo "A República", para referir-se à compreensão da natureza divina de forma racional, em oposição à compreensão literária própria da poesia, tal como era conduzida pelos seus conterrâneos. Mais tarde, Aristóteles empregou o termo em numerosas ocasiões, com dois significados:
  • Teologia como o ramo fundamental da filosofia, também chamada "filosofia primeira" ou "ciência dos primeiros princípios", mais tarde chamada de metafísica por seus seguidores;
  • Teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente anterior à filosofia, com uma conotação pejorativa e, sobretudo, utilizada para referir-se aos pensadores antigos não filósofos (como Hesíodo e Ferécides de Siro).
Santo Agostinho tomou o conceito de teologia natural da obra Antiquitates rerum humanarum et divinarum, de M. Terêncio Varrão, como única teologia verdadeira dentre as três apresentadas por Varrão: a mítica, a política e a natural. Acima desta, situou a Teologia Sobrenatural (theologia supernaturalis), baseada nos dados da revelação e, portanto, considerada superior. A teologia sobrenatural, situada fora do campo de ação da Filosofia, não estava subordinada, mas sim acima da última, considerada como uma serva (ancilla theologiae) que ajudaria a primeira na compreensão de Deus.
Teodiceia, termo empregado atualmente como sinonimo de "teologia natural", foi criado no século XVIII por Leibniz, como título de uma de suas obras (chamada "Ensaio de Teodiceia. Sobre a bondade de Deus, a liberdade do ser humano e a origem do mal"), embora Leibniz utilize tal termo para referir-se a qualquer investigação cujo fim seja explicar a existência do mal e justificar a bondade de Deus.
Na tradição cristã (de matriz agostiniana), a teologia é organizada segundo os dados da revelação e da experiência humana. Esses dados são organizados no que se conhece como teologia sistemática ou teologia dogmática.
A teologia é fortemente influenciada pelas mais diversas religiões e, portanto, existe a teologia hindu, a teologia budista, a teologia judaica, a teologia católica-romana, a teologia islâmica, a teologia protestante, a teologia mórmon, a teologia umbandista, entre outras.

Teologia cristã



Teologia cristã pode ser definida como as verdades fundamentais da Bíblia e de outras fontes reconhecidas como divinamente inspiradas apresentadas de forma sistemática; ou ainda, a filosofia que trata do nosso conhecimento de Deus e do relacionamento do Deus Altíssimo com o homem, compreendendo assim tudo quanto se relaciona a Deus, a Bíblia e os propósitos divinos.
Encontra-se expressa, basicamente, em quatro grandes seções: teologia sistemática, teologia bíblica/teologia exegética, teologia prática e teologia histórica. Os teólogos cristãos usam da exegese bíblica, a análise racional e argumentos para entender, explicar, testar, criticar e defender o Cristianismo.
A teologia também pode ser utilizada para atestar a veracidade do cristianismo, fazer comparações entre ela e outras tradições ou religiões, defender de críticos, corroborar qualquer reforma cristã, propagar o cristianismo, ou uma variedade de outras razões. A teologia cristã foi de grande influência na Europa ocidental, especialmente na Europa pré-moderna.


Perspectiva católica
A Igreja Católica defende o uso da teologia enquanto ciência ou estudo racional, mas assente sempre na obediência à , que estuda sistematicamente e com método a Revelação divina na sua totalidade, que está compilada na chamada Tradição. A Tradição tem uma parte oral e uma parte escrita que está centrada na Bíblia. As conclusões da Teologia faz evoluir a compreensão e definição da doutrina católica.

Perspectiva protestante

O segmento protestante, ou evangélico, não crê em purgatório, nem classifica os pecados como venial, mortal ou capital. Seguindo os preceitos bíblicos, não existe pecado pequeno ou grande, pois «todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus» ((Romanos 3:23). O pecado nada mais seria do que a transgressão aos mandamentos de Deus (segundo I João 3:4). Todo aquele que pratica o pecado também transgride a Lei, porque o pecado é a transgressão da Lei. Pecado é um ato, pois «cada um é tentado, quando atraído e engodado pelo seu próprio desejo. Depois, havendo concebido o desejo, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.» (Tiago 1:14-15). Para que tenhamos salvação e desfrutemos da vida eterna, seria preciso então somente crer («Pela graça sois salvos, por meio da fé...» (Efésios 2:8) que Jesus é o único e suficiente salvador e confessar os pecados para que sejam perdoados («Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça» (I João 1:9). Outra necessidade seria o arrependimento, e não somente remorso, que levaria os fiéis a cometerem novamente os mesmos erros por não terem mais lembrança da "culpa" que os abateu.
Os métodos usados, os tópicos estudados e as suas disciplinas são semelhantes às outras teologias das principais confissões cristãs, algo que tem muito a ver com a sua base comum. Mas a sua interpretação das verdades reveladas e posterior definição das doutrinas apresentam diferenças em relação às suas congéneres cristãs, nomeadamente na questão da veneração dos santos e da Virgem Maria, da justificação, da infalibilidade e primazia do Papa, da noção de verdadeira Igreja de Cristo, da composição dos cânones da Bíblia e da validade da Tradição oral.

Divisões da teologia cristã

Síntese

Muitas vezes, as variadas disciplinas teológicas e suas respectivas sub-disciplinas associam-se e englobam-se umas às outras, inter-relacionando-se, podendo frequentemente um tema ou até um locus (área específica de estudo e reflexão) ser tratado em conjunto, sob aspectos diferentes, por várias disciplinas (e sub-disciplinas). Por esta razão, existe entre elas uma grande permeabilidade, intercâmbio e inter-disciplinidade.
De um modo resumido e geral, o relacionamento entre as disciplinas teológicas dá-se da seguinte maneira:

 Lista das disciplinas e loci

De um modo mais concreto, a Teologia cristã pode ser dividida em:[1]
Além destas disciplinas e sub-disciplinas, que podem ser classificados e ordenados de maneira diferente em relação à lista supra-mencionada, existem muitas outras dentro da tão diversa teologia.

Alguns temas tratados

Movimentos

Parte de uma série daHistória da teologia cristã
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Contexto
Quatro marcas da Igreja
Cristianismo primitivo · Cronologia
História do cristianismo
Teologia · Governo eclesiástico
Trinitarianismo · Não-trinitarianismo
Escatologia · Cristologia · Mariologia
Cânon bíblico: Deuterocanônicos e Livros apócrifos
Credos
Credo dos Apóstolos · Credo Niceno
Credo da Calcedônia · Credo de Atanásio
Patrística e Primeiros Concílios
Pais da Igreja · Agostinho
Nicéia · Calcedônia · Éfeso
Desenvolvimento Pós-Niceno
Heresia · Lista de heresias
Monofisismo · Monotelismo
Iconoclastia · Gregório I · Alcuíno
Fócio · Cisma Oriente-Ocidente
Escolástica · Aquino · Anselmo
William de Ockham · Gregório Palamas
Reforma
Reforma protestante
Lutero · Melanchthon · Calvino
95 Teses · Justificação · Predestinação
Sola fide · Indulgência · Arminianismo
Livro de Concórdia · Reforma Inglesa
Contra-reforma · Concílio de Trento
Desde a Reforma
Pietismo · Avivamento
John Wesley · Grande Despertamento
Movimento de Santidade
Restauracionismo · Existencialismo
Liberalismo · Modernismo · Pós-modernismo
Concílio Vaticano II · Teologia da Libertação
Ortodoxia radical · Jean-Luc Marion
Hermenêutica · Desconstrução-e-religião
P christianity.svg Portal do Cristianismo



Pós-reforma

  • Adventismo
  • Anglicanismo.
  • Arminianismo (reação ao Calvinismo): soteriologia que afirma que o homem é livre para aceitar ou rejeitar o dom de Deus da salvação; identificado com o teólogo holandês reformista Jacobus Arminius, desenvolvida por Hugo Grotius, defendido pelos Remonstrantes, e popularizado por John Wesley. A doutrina chave das igrejas Anglicanas e Metodistas, adotada por muitos Batistas e alguns Congregacionalistas.
  • Calvinismo: Tipo de soteriologia avançada criada pelo Reformador protestante francês João Calvino, que defende as opiniões de Agostinho de Cantuária sobre a eleição e rejeição; Afirma a Predestinação, a soberania de Deus e a incapacidade do homem para realizar sua própria salvação por acreditar na regeneração;
  • Movimento carismático: Movimento em muitas igrejas protestantes e algumas católicas que enfatiza os dons do Espírito e no contínuo trabalho do Espírito Santo no corpo de Cristo; freqüentemente associada ao falar em línguas e a cura divina.
  • Congregacionalismo:Sistema utilizado por Congregacionalistas, Batistas, Pentecostais e igrejas, em que cada congregação se auto-regula e é independente de todos os outros.
  • Contra-Reforma (ou Reforma Católica): A resposta da Igreja Romana Católica a Reforma Protestante. (veja também Concílio de Trento)
  • Panenteísmo.
  • Deísmo: A doutrina geral que nenhuma fé é necessária para justificar a existência de Deus e/ou a doutrina de que Deus não intervém nos assuntos terrestres (contrasta com Fideísmo).
  • Dispensacionalismo: Crença hermenêutica bíblico e na filosofia da história que vê o desdobramento histórico em várias dispensações de Deus para a humanidade.
  • Evangelicalismo: Tipicamente conservadora, predominantemente protestante. Prioriza maiormente as perspectivas evangelistas das outras actividades da Igreja acima mencionadas (ver também neo-evangelicalismo).
  • Fideísmo: A doutrina que a fé é irracional, que a existência de Deus transcende a lógica, e que todos os conhecimentos de Deus funcionam na base da fé (contrasta com o Deísmo).
  • Liberalismo: Crença em interpretar a Bíblia de forma a permitir o máximo de liberdade individual.
  • Metodismo: Forma de funcionamento da igreja e doutrina usada na Igreja Metodista.
  • Modernismo: Crença que a verdade muda, assim a doutrina deve evoluir em função de novas informações ou tendências.
  • Mormonismo: Crença de que o Livro de Mormon e outros volumes literários poderão ser também considerados Escrituras divinas; crença em profetas e apóstolos; considerada como uma doutrina diferente ou pseudo-cristã por algumas outras denominações cristãs; refere-se especialmente às crenças de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
  • Novo pensamento: Movimento baseado na Inglaterra durante o século 19 que acredita no pensamento positivo. Várias denominações surgiram disso, incluindo a Igreja Unida e a Ciência Religiosa.
  • Anti-conformismo: Advoga a liberdade religiosa; inclui os Metodistas, Batistas, Congregationalistas and Salvacionistas.
  • Anti-trinitarianismo: Rejeição da doutrina da Trindade.
  • Pentecostalismo
  • Presbiterianismo: Forma de governança usada nas igrejas Presbiterianas e Reformadas.
  • Puritanismo: Movimento para purificar o Episcopalismo de qualquer aspecto ritual.
  • Supersessionismo: Acredita que a Igreja Cristã, o corpo de cristo, é o único povo eleito de Deus na era da Nova aliança.
  • Restauracionismo: Tentativa de retornar ao modelo de Igreja do Novo Testamento. Em que uma das doutrinas fundamentais considera a idade média como um período conhecido como apostasia, gerando a necessidade de um retorno à real teologia cristã em sua "totalidade" e "pureza" por meio de uma restauração divina da ordem sacerdotal cristã.
  • Tractarianismo: Movimento de Oxford. Levou ao Anglo-Catolicismo.
  • Ultramontanismo: Um movimento do século 19 da Igreja Católica romana para enfatizar a autoridade papal, particularmente durante a Revolução Francesa e a secularização do Estado.
  • Unitarianismo: Rejeita a Trindade e também a divindade de Cristo, com algumas exceções.
  • Universalismo: De várias formas, a crença que todas as pessoas no final serão reconciliadas com Deus.

Ver também

Notas

  1. As disciplinas e loci que não têm explicação nesta secção, é porque já estão explicados na anterior secção Síntese.
  2. A Teologia dogmática estuda sistematicamente o conjunto dos dogma e das verdades fundamentais reveladas por Deus, às quais se deve em primeiro lugar o assentimento da .
  3. A Teologia moral ocupa-se do estudo sistemático dos princípios ético-morais subjacentes às verdades reveladas por Deus, bem como à sua aplicação posterior à vida quotidiana do cristão e da Igreja. Muitas vezes, a teologia moral está também intimamente associada à teologia prática.
  4. Por vezes, a Eclesiologia está também associada à teologia prática.
  5. A teologia litúrgica relaciona-se por vezes à teologia pastoral.
  6. A Teologia de Direito Canónico está mais relacionada com a Igreja Católica, que é uma das Igrejas cristãs mais hierarquizadas.
  7. A Teologia espiritual está por vezes associada à teologia especulativa e até à teologia sistemática.
  8. A apologética associa-se por vezes à teologia sistemática.

 Referências

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_crista


Teologia como a palavra sugere é o discurso sobre Deus e de todas as coisas vistas à luz de Deus. Constitui uma singularidade de nossa espécie que, num momento da evolução de milhões de anos, tenha surgido a consciência de Deus. Com essa palavra - Deus - se expressa um valor supremo, um sentido derradeiro do universo e da vida e uma Fonte originária de onde provêm todos os seres.
Esse Deus sempre habita o universo e acompanha os seres humanos. Os textos sagradas das religiões e das tradições espirituais testemunham a permanente atuação de Deus no mundo. Ele sempre atua favorecendo a vida, defendendo o fraco, oferecendo perdão ao caido e prometendo a eternidade da vida em comunhão com Ele.
Pertence à fé dos cristãos afirmar que Deus se acercou da existência humana e se fez Ele mesmo Deus em Jesus de Nazaré. Assim a promessa de união benaventurada com Ele se antecipa e será a destinação de todos os seres e da inteira criação.
Entre as muitas funções da teologia, hoje em dia, duas são mais urgentes: como a teologia colabora na libertação dos oprimidos que são nossos cristos crucificados hoje e como a teologia ajuda a preservar a memória de Deus para que não se perca o sentido e a sacralidade da vida humana, ameaçada por uma cultura da superficialidade, do consumo e do entretenimento. Devemos unir sempre fé com justiça donde nasce a perspectiva de libertação e importa manter a chama da lamparina sagrada sempre acesa, donde se alimenta a esperança humana de um futuro bom para a Terra e a humanidade"


Prof.Leonardo Boff


Teologia: Definições e áreas de estudo.


O que é Teologia? Frequentemente estudantes da bíblia se deparam com esta pergunta e, geralmente ela é respondida por muitos de modo muito simplista, “o termo teologia vem de duas palavras gregas: theós (Deus) e logia (estudo), logo, teologia é um estudo de Deus”. Acredito que esta resposta é simplista e distante do que realmente venha ser teologia. Primeiro, porque não se pode definir um ramo de estudo ou pesquisa apenas com base na etimologia das palavras; segundo, Deus é um ser incognoscível á mente humana e não pode ser concebido, dissecado ou analisado pelo homem; e terceiro muitas vezes o estudo e a concepção do estudante de teologia são influenciados pela cultura, por sua época e pela sua experiência pessoal com Deus.

E então, o que é teologia? Já que a mente humana não pode chegar ao conhecimento pleno da natureza de Deus qual é o alvo do estudo da teologia? Strong afirma que, “O alvo da teologia é a certificação dos fatos que dizem respeito á Deus e ás relações entre Deus e o universo, e a apresentação de tais fatos em sua unidade racional como partes conexas de um formulado e sistema de verdade”. Ou seja, teologia é o estudo das relações de Deus com o universo, com a natureza e com o homem durante o transcorrer da história. Esse estudo tem como base a bíblia (que é a narrativa da história do contato de Deus com os homens, em específico com o povo de Israel no Antigo Testamento e com a igreja no Novo Testamento), contudo o estudo da teologia não se limita á bíblia.

O estudo da teologia também utiliza meios racionais. Entendendo sempre que a razão pura do homem caído não pode chegar ao conhecimento de Deus sem a revelação divina. Ou seja, o conhecimento de Deus se dá numa relação Deus -> homem e não homem; Deus; o homem conhece á Deus na medida em que Ele se revela. O estudante utilizará a razão para interpretar a bíblia tentando buscar as raízes das expressões nas línguas originais; também associando ao estudo da teologia à filosofia, a psicologia, a sociologia, a antropologia, a arqueologia, a história etc.

Muitos no passado tentaram isolar a teologia das outras ciências, pensando que ela não poderia relacionar-se com outras áreas do conhecimento humano. Mas, com o passar dos anos os teólogos foram descobrindo que as diversas áreas do conhecimento humano só tinham á acrescentar ao estudo da teologia, ajudando a provar alguns eventos bíblicos (como a arqueologia) ou a interpretar o pano de fundo histórico das narrativas bíblicas (como a história). No entanto, não podemos utilizar esses recursos numa tentativa de racionalizar a fé. Pois, existem alguns elementos na teologia que são impossíveis de serem sustentados de modo racional e é aqui que entra a seguinte afirmação: “Creio, a fim de entender”.
 
Por Job. Nascimento
 
O QUE É TEOLOGIA

e sua importância para hoje

Osvaldo Luiz Ribeiro



Todo mundo faz teologia



Teologia é uma palavra usada nos seminários e nos livros. Mas teologia é coisa que todo mundo faz. Quando, por exemplo, uma pessoa próxima sofre algum infortúnio, e um crente aproxima-se numa atitude de conforto e diz: "Não se deixe abater: Deus sabe o que faz!", o que esse crente está fazendo é teologia. Quando Jó, diante de toda a desgraça que lhe caiu na cabeça, afirmou: "O Senhor deu, e o Senhor tirou" (Jó 1,21b), Jó fez teologia. Quando a mulher cananéia respondeu a Jesus, dizendo: "Sim, mas até os cachorrinhos comem das migalhas" (Mt 15,27b), também ela fez teologia



Teologia e Deus


O que é teologia? Será que é igual a biologia? Quer dizer, se biologia é o estudo da vida (bio = vida e logia = estudo), então teologia é o estudo de Deus (teo = Deus e logia = estudo)? Será?


Vamos pensar um pouco. A biologia estuda a vida dissecando organismos ou analisando pequenos pedaços de tecido orgânico no microscópio. O biólogo pega o ser vivo, leva-o para o laboratório, coloca-o sob determinadas condições e o examina. Assim aprende. Assim se faz biologia.


Será se dá para fazer isso com Deus? Colocá-lo numa mesa de laboratório e examiná-lo? Você consegue imaginar os teólogos sentados à mesa, com Deus ali esticado, um examinando o pé; outro, o olho; outro, o esôfago? Você acha que nos seminários estamos estudando Deus? E aqui, na classe, é Deus que estamos estudando?


Deixe-me contar uma história da Bíblia. Com certeza você já leu Ex 33,18-23. Leia novamente, mas com duas pequenas observações sobre o v. 19: 1) deve-se ler "Eu (é que) farei"; e 2) deve-se ler "e proclamarei o meu nome adiante de ti". Moisés pede que Yahveh lhe mostre a sua glória (v. 18). Yahveh lhe responde que vai fazer passar a sua bondade diante dele; vai proclamar o seu nome adiante dele; e vai ter misericórdia de quem ele, o próprio Yahveh, quiser ter misericórdia (v.19). A rigor, Moisés não tinha falado nada sobre a misericórdia. Por que na sua resposta Yahveh tem de falar a Moisés: "e terei misericórdia de quem (eu) tiver misericórdia, e compaixão de quem eu tiver compaixão"? Moisés queria ver a glória de Yahveh, e Yahveh responde que terá misericórdia de quem Yahveh quiser ter misericórdia. Faz sentido? Se pensarmos no objetivo do texto como sendo apresentar Yahveh como Deus Incontrolável faz sentido. Quem escreveu Ex 33,18-23 queria deixar claro que a intenção de ver a glória de Deus traduz a intenção de controlar as ações de Deus. Talvez fossem dias em que se estava tentando separar aqueles que se entendia merecerem a misericórdia de Yahveh daqueles que se entendia não a merecerem. Como fazer isso? Controlando o discurso sobre Deus. Geralmente, quando julgamos saber quem Deus é, logo tratamos de julgar que a vida desse ou daquele irmão não agrada a Deus. Teologia como estudo de Deus e julgamento caminham muito próximos um do outro. Para o autor de Ex 33,18-23, porém, ninguém, nem Moisés, pode decidir afinal de quem Yahveh terá misericórdia - porque Yahveh é incontrolável e tem compaixão de quem quiser.


Voltando ao nosso tema: teologia é o estudo de Deus? Há teólogos que julgam que sim, e afirmam que a teologia é o estudo de Deus e das coisas de Deus. Isso significa, que o conteúdo da teologia - as doutrinas e os dogmas - são uma espécie de descrição de Deus e das coisas de Deus. Para esse tipo de teologia e de teólogo, Deus não só pode ser conhecido, mas descrito (ainda que parcialmente).


Mas voltemos ao texto de Ex 33,18-23. Moisés é colocado na fenda da rocha. Yahveh tapa a fenda com a sua mão e faz passar a sua glória. Moisés está lá dentro, sem poder ver nada ("até que (eu) passe", v. 22). Yahveh termina de passar; retira a mão e, então, diz a Moisés que Moisés verá as costas de Yahveh, mas que "as minhas faces não serão vistas" (v. 23).


Yahveh diz a Moisés que, se quiser ver a sua glória, que veja as suas costas - o que deve ser compreendido como "se quiser ver a minha glória, siga-me" (cf. Ex 3,1-15). Yahveh vai à frente, proclamando o seu nome adiante, e Moisés vai atrás, seguindo, com os olhos fixos nas costas de Yahveh. Yahveh é Deus que se conhece nas experiência da vida. Yahveh não está disponível na teologia.


Compare essa história com a de Elias na caverna (1 Re 19,8-13). Elias está na caverna (v. 9); Yahveh passa enquanto Elias ainda está lá dentro (v. 11-13a); Yahveh chama Elias para fora: Elias cobre o rosto com a capa e sai (v. 11a.13a); Elias não Yahveh: apenas ouve uma voz (v. 13b). Yahveh não pode ser apreendido pelo homem. Elias cobre o rosto (cf. Jz 13,20-23; Is 6,5). Moisés tem que ser colocado na fenda da rocha e Yahveh tem que tapar o buraco, porque ele queria ver a sua glória. Como a teologia deve se comportar: como o Moisés de Ex 33,18 ou como o Elias de 1 Re 19,8-13?



Teologia e vida



O texto de Ex 33,18-23 poderia nos ajudar a pensar uma teologia que não se comporta como um estudo de Deus. 1 Re 19,8-13 poderia nos ajudar a pensar que a presença de Deus ultrapassa nossa capacidade de apreensão, compreensão e manipulação. Sim, ouvimos "uma voz", mas com o rosto coberto.


Mas se teologia então não deve ser tratada como estudo sobre Deus, como deve ser tratada? Ora, como um falar sobre Deus, sobre a vida, e sobre o que cremos que Deus faz na vida. Não foram esses os exemplos com que começamos esse estudo: o crente, Jó e a mulher cananéia falaram. A sua fala que era? Nos três casos, interpretação dos fatos da vida a partir de suas convicções pessoais a respeito de Deus. Teologia então, não seria compreendida como estudo sobre Deus, mas como estudo sobre o que os homens pensam sobre Deus. Teologia tem a ver com a compreensão que os homens têm sobre Deus e não com o próprio Deus. Teologia é pura vida e história pessoal pulsando no coração. É o concurso de tudo quanto somos e fazemos, tudo isso concentrado em nosso discurso sobre Deus. E então se diga: boa vida e bom coração, boa teologia; vida má e mau coração, má teologia.


Teologia é importante. Tanto que todos nós fazemos teologia, uns sem saber que fazem, outros sabendo. A teologia, no entanto, pode servir para uma adaptação (o caso de Jó) ou para uma confrontação (o caso da mulher cananéia). A teologia pode servir para conformar-nos com modelos prontos, mas também pode e deve servir para transformar-nos. Sim, sim: teologia pode e deve ser transformadora. Quando Paulo em Rm 12,2 diz: "não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente", Paulo está a dizer: façam teologia transformadora! A transformação começa na "vossa mente". Teologia começa na nossa mente. Teologia e transformação começam no mesmo lugar.
Fonte:http://www.ouviroevento.pro.br/outraspublicacoes/o_que_e_teologia.htm




 

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