Teologia (do grego θεóς, transl. theos = "divindade" + λóγος, logos = "palavra", por extensão, "estudo, análise, consideração, questionamento sobre alguma coisa ou algo"), no sentido literal, é o estudo sobre a divindade.
A origem histórica do termo em questão nos remete à Hélade, também chamada de Grécia Antiga. Era utilizada inicialmente para descrever o trabalho de muitos poetas, que tentavam dar uma noção de como eram os Deuses. Os teólogos eram os que faziam poesias sobre os deuses e sobre seus feitos, suas virtudes, suas emoções, sua vida particular e também seus vícios e erros. Entretanto, não era uma análise sobre os deuses e, sim, uma narração dos feitos deles que se pareciam com os feitos humanos e as virtudes dos mesmos. Somente na Idade Medieval é que o termo deixou de lado o conceito poético e passou a ser considerado como assunto de inquirição existencial e filosófica.
Partindo do princípio da definição hegeliana do termo "teologia", a teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades. Como toda área do conhecimento, possui então objetos de estudo definidos. Como não é possível estudar Deus diretamente, como sugere o termo literalmente observado, a definição de Hegel que, somente se pode estudar aquilo que se pode observar se torna pertinente e atual, conforme as representações sociais nas mais variadas culturas.
Evolução do termo
No cristianismo, isso se dá a partir da Bíblia. O teólogo cristão-protestante suíço Karl Barth definiu a Teologia como um "falar a partir de Deus". O termo "teologia" foi usado pela primeira vez por Platão, no diálogo "A República", para referir-se à compreensão da natureza divina de forma racional, em oposição à compreensão literária própria da poesia, tal como era conduzida pelos seus conterrâneos. Mais tarde, Aristóteles empregou o termo em numerosas ocasiões, com dois significados:- Teologia como o ramo fundamental da filosofia, também chamada "filosofia primeira" ou "ciência dos primeiros princípios", mais tarde chamada de metafísica por seus seguidores;
- Teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente anterior à filosofia, com uma conotação pejorativa e, sobretudo, utilizada para referir-se aos pensadores antigos não filósofos (como Hesíodo e Ferécides de Siro).
Teodiceia, termo empregado atualmente como sinonimo de "teologia natural", foi criado no século XVIII por Leibniz, como título de uma de suas obras (chamada "Ensaio de Teodiceia. Sobre a bondade de Deus, a liberdade do ser humano e a origem do mal"), embora Leibniz utilize tal termo para referir-se a qualquer investigação cujo fim seja explicar a existência do mal e justificar a bondade de Deus.
Na tradição cristã (de matriz agostiniana), a teologia é organizada segundo os dados da revelação e da experiência humana. Esses dados são organizados no que se conhece como teologia sistemática ou teologia dogmática.
A teologia é fortemente influenciada pelas mais diversas religiões e, portanto, existe a teologia hindu, a teologia budista, a teologia judaica, a teologia católica-romana, a teologia islâmica, a teologia protestante, a teologia mórmon, a teologia umbandista, entre outras.
Teologia cristã
Teologia cristã pode ser definida como as verdades fundamentais da Bíblia e de outras fontes reconhecidas como divinamente inspiradas apresentadas de forma sistemática; ou ainda, a filosofia que trata do nosso conhecimento de Deus e do relacionamento do Deus Altíssimo com o homem, compreendendo assim tudo quanto se relaciona a Deus, a Bíblia e os propósitos divinos.
Encontra-se expressa, basicamente, em quatro grandes seções: teologia sistemática, teologia bíblica/teologia exegética, teologia prática e teologia histórica. Os teólogos cristãos usam da exegese bíblica, a análise racional e argumentos para entender, explicar, testar, criticar e defender o Cristianismo.A teologia também pode ser utilizada para atestar a veracidade do cristianismo, fazer comparações entre ela e outras tradições ou religiões, defender de críticos, corroborar qualquer reforma cristã, propagar o cristianismo, ou uma variedade de outras razões. A teologia cristã foi de grande influência na Europa ocidental, especialmente na Europa pré-moderna.
Perspectiva católica
Perspectiva protestante
O segmento protestante, ou evangélico, não crê em purgatório, nem classifica os pecados como venial, mortal ou capital. Seguindo os preceitos bíblicos, não existe pecado pequeno ou grande, pois «todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus» ((Romanos 3:23). O pecado nada mais seria do que a transgressão aos mandamentos de Deus (segundo I João 3:4). Todo aquele que pratica o pecado também transgride a Lei, porque o pecado é a transgressão da Lei. Pecado é um ato, pois «cada um é tentado, quando atraído e engodado pelo seu próprio desejo. Depois, havendo concebido o desejo, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.» (Tiago 1:14-15). Para que tenhamos salvação e desfrutemos da vida eterna, seria preciso então somente crer («Pela graça sois salvos, por meio da fé...» (Efésios 2:8) que Jesus é o único e suficiente salvador e confessar os pecados para que sejam perdoados («Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça» (I João 1:9). Outra necessidade seria o arrependimento, e não somente remorso, que levaria os fiéis a cometerem novamente os mesmos erros por não terem mais lembrança da "culpa" que os abateu.Os métodos usados, os tópicos estudados e as suas disciplinas são semelhantes às outras teologias das principais confissões cristãs, algo que tem muito a ver com a sua base comum. Mas a sua interpretação das verdades reveladas e posterior definição das doutrinas apresentam diferenças em relação às suas congéneres cristãs, nomeadamente na questão da veneração dos santos e da Virgem Maria, da justificação, da infalibilidade e primazia do Papa, da noção de verdadeira Igreja de Cristo, da composição dos cânones da Bíblia e da validade da Tradição oral.
Divisões da teologia cristã
Síntese
Muitas vezes, as variadas disciplinas teológicas e suas respectivas sub-disciplinas associam-se e englobam-se umas às outras, inter-relacionando-se, podendo frequentemente um tema ou até um locus (área específica de estudo e reflexão) ser tratado em conjunto, sob aspectos diferentes, por várias disciplinas (e sub-disciplinas). Por esta razão, existe entre elas uma grande permeabilidade, intercâmbio e inter-disciplinidade.De um modo resumido e geral, o relacionamento entre as disciplinas teológicas dá-se da seguinte maneira:
- A teologia exegética, usando a técnica da exegese, analisa profundamente a Bíblia, cujos princípios de interpretação são estudados pela hermenêutica bíblica.
- A teologia bíblica usa e organiza os resultados da teologia exegética e estuda também a evolução e o desenrolar da Revelação progressiva de Deus à humanidade, passando obviamente pelo Antigo Testamento e Novo Testamento.
- Com o encontro e o conhecimento das verdades reveladas na Bíblia e, no caso católico, em outras fontes válidas da Tradição, toda essa verdade bíblica é estudada, reflectida, debatida, explicada e posteriormente reunida num grande sistema explicativo unificado. Esse trabalho é reservado à teologia sistemática.
- As verdades, os princípios e os dogmas explicados e estudados pela teologia sistemática iriam ser depois defendidos pela Apologética perante a sociedade, as heresias, os ateus e as outras religiões.
- Depois do estudo puramente teórico, a teologia prática pretende aplicar as conclusões teológicas ao quotidiano e também estudar o modo como a Igreja comunica a sua fé e as suas verdades, bem como as variadas acções de santificação ou de outra natureza da Igreja no mundo. Neste contexto, a teologia moral tem simultaneamente aspectos sistemáticos e práticos.
- Finalmente, a evolução da teologia ao longo dos tempos e a História do Cristianismo são estudadas pela teologia histórica, que dá especial destaque à recepção e compreensão das verdades reveladas e à evolução na formulação da doutrina ao longo da História. Esta teologia estuda também, como por exemplo, a Patrística, a Escolástica e outras correntes e movimentos teológicos.
Lista das disciplinas e loci
De um modo mais concreto, a Teologia cristã pode ser dividida em:[1]- Estudos bíblicos:
- Teologia sistemática, que, pelo menos na perspectiva católica, pode ser dividida em 2 ramos principais: a teologia dogmática[2] e a teologia moral.[3] Esta teologia engloba várias áreas de estudo, como por exemplo:
- Prolegómenos, que introduz os princípios primários, básicos e fundamentais da Teologia;
- Teontologia, que trata do estudo de Deus e, especificamente, de Deus Pai;
- Cristologia, que estuda Cristo, bem como a sua vida, missão, natureza e relação com Deus e com a humanidade;
- Pneumatologia, que estuda o Espírito Santo;
- Antropologia teológica, que estuda a realidade do ser humano sob o ponto de vista teológico;
- Soteriologia, que estuda a salvação, nomeadamente a noção de justificação e de santidade;
- Eclesiologia, que estuda os múltipos aspectos e facetas da Igreja[4]
- Escatologia, que estuda o fim do mundo e o destino do Homem;
- Teologia dos sacramentos (ou teologia sacramental), que estuda os sacramentos;
- Hamartiologia, que estuda o pecado e o mal;
- Angeologia, que estuda os anjos e a sua missão.
- Demonologia, que estuda os demónios, particularmente Satanás.
- Mariologia, que é o estudo teológico sobre Maria (mãe de Jesus).
- Teologia especulativa, que tenta penetrar mais ainda no mistério contido nas verdades reveladas, mas não desejando ir mais além delas. Ela pretende mostrar a "sua inteligibidade e a conexão entre elas, com a ajuda das ciências ditas profanas ou naturais".
- Teologia prática, que pode ser dividida em:
- "Teologia litúrgica", que estuda os múltiplos ritos ou actos de adoração e culto da Igreja nas suas mais diferentes expressões - a liturgia;[5]
- "Teologia de Direito Canónico", que estuda o poder da Igreja de legislar, enquanto sociedade hierarquizada e instituída por Jesus (direito canónico);[6]
- "Teologia Pastoral", que cuida da aplicação prática dos ensinamentos teológicos à acção ou pastoral da Igreja e à vida quotidiana de cada crente, incluindo a sua formação.
- "Teologia espiritual", que estuda a caminhada de configuração da personalidade humana até esta atingir a santidade e, inclusivamente, a perfeição. Esta teologia engloba a teologia ascética e a teologia mística.[7]
- Apologética.[8]
- Teologia histórica.
Alguns temas tratados
- Santíssima Trindade
- Ecumenismo
- Indulgência
- Sucessão apostólica
- Purgatório
- Virgem Maria
- Transubstanciação e Corpus Mysticum
- Santidade e canonização
- Sacramentos
- Sacerdócio
- Doutrina Social da Igreja
- Tradição católica
- Batismo infantil
- Criação (teologia)
- Anjos
- Igreja
- Reino de Deus
- Novíssimos e vida eterna
- Salvação
Movimentos
Pós-reforma
- Adventismo
- Anglicanismo.
- Arminianismo (reação ao Calvinismo): soteriologia que afirma que o homem é livre para aceitar ou rejeitar o dom de Deus da salvação; identificado com o teólogo holandês reformista Jacobus Arminius, desenvolvida por Hugo Grotius, defendido pelos Remonstrantes, e popularizado por John Wesley. A doutrina chave das igrejas Anglicanas e Metodistas, adotada por muitos Batistas e alguns Congregacionalistas.
- Calvinismo: Tipo de soteriologia avançada criada pelo Reformador protestante francês João Calvino, que defende as opiniões de Agostinho de Cantuária sobre a eleição e rejeição; Afirma a Predestinação, a soberania de Deus e a incapacidade do homem para realizar sua própria salvação por acreditar na regeneração;
- Movimento carismático: Movimento em muitas igrejas protestantes e algumas católicas que enfatiza os dons do Espírito e no contínuo trabalho do Espírito Santo no corpo de Cristo; freqüentemente associada ao falar em línguas e a cura divina.
- Congregacionalismo:Sistema utilizado por Congregacionalistas, Batistas, Pentecostais e igrejas, em que cada congregação se auto-regula e é independente de todos os outros.
- Contra-Reforma (ou Reforma Católica): A resposta da Igreja Romana Católica a Reforma Protestante. (veja também Concílio de Trento)
- Panenteísmo.
- Deísmo: A doutrina geral que nenhuma fé é necessária para justificar a existência de Deus e/ou a doutrina de que Deus não intervém nos assuntos terrestres (contrasta com Fideísmo).
- Dispensacionalismo: Crença hermenêutica bíblico e na filosofia da história que vê o desdobramento histórico em várias dispensações de Deus para a humanidade.
- Evangelicalismo: Tipicamente conservadora, predominantemente protestante. Prioriza maiormente as perspectivas evangelistas das outras actividades da Igreja acima mencionadas (ver também neo-evangelicalismo).
- Fideísmo: A doutrina que a fé é irracional, que a existência de Deus transcende a lógica, e que todos os conhecimentos de Deus funcionam na base da fé (contrasta com o Deísmo).
- Liberalismo: Crença em interpretar a Bíblia de forma a permitir o máximo de liberdade individual.
- Metodismo: Forma de funcionamento da igreja e doutrina usada na Igreja Metodista.
- Modernismo: Crença que a verdade muda, assim a doutrina deve evoluir em função de novas informações ou tendências.
- Mormonismo: Crença de que o Livro de Mormon e outros volumes literários poderão ser também considerados Escrituras divinas; crença em profetas e apóstolos; considerada como uma doutrina diferente ou pseudo-cristã por algumas outras denominações cristãs; refere-se especialmente às crenças de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
- Novo pensamento: Movimento baseado na Inglaterra durante o século 19 que acredita no pensamento positivo. Várias denominações surgiram disso, incluindo a Igreja Unida e a Ciência Religiosa.
- Anti-conformismo: Advoga a liberdade religiosa; inclui os Metodistas, Batistas, Congregationalistas and Salvacionistas.
- Anti-trinitarianismo: Rejeição da doutrina da Trindade.
- Pentecostalismo
- Presbiterianismo: Forma de governança usada nas igrejas Presbiterianas e Reformadas.
- Puritanismo: Movimento para purificar o Episcopalismo de qualquer aspecto ritual.
- Supersessionismo: Acredita que a Igreja Cristã, o corpo de cristo, é o único povo eleito de Deus na era da Nova aliança.
- Restauracionismo: Tentativa de retornar ao modelo de Igreja do Novo Testamento. Em que uma das doutrinas fundamentais considera a idade média como um período conhecido como apostasia, gerando a necessidade de um retorno à real teologia cristã em sua "totalidade" e "pureza" por meio de uma restauração divina da ordem sacerdotal cristã.
- Tractarianismo: Movimento de Oxford. Levou ao Anglo-Catolicismo.
- Ultramontanismo: Um movimento do século 19 da Igreja Católica romana para enfatizar a autoridade papal, particularmente durante a Revolução Francesa e a secularização do Estado.
- Unitarianismo: Rejeita a Trindade e também a divindade de Cristo, com algumas exceções.
- Universalismo: De várias formas, a crença que todas as pessoas no final serão reconciliadas com Deus.
Ver também
- Teologia da Igreja Ortodoxa Oriental
- Teologia da libertação
- anexo:Terminologia da cristologia
- Nova Perspectiva sobre Paulo
Notas
- ↑ As disciplinas e loci que não têm explicação nesta secção, é porque já estão explicados na anterior secção Síntese.
- ↑ A Teologia dogmática estuda sistematicamente o conjunto dos dogma e das verdades fundamentais reveladas por Deus, às quais se deve em primeiro lugar o assentimento da fé.
- ↑ A Teologia moral ocupa-se do estudo sistemático dos princípios ético-morais subjacentes às verdades reveladas por Deus, bem como à sua aplicação posterior à vida quotidiana do cristão e da Igreja. Muitas vezes, a teologia moral está também intimamente associada à teologia prática.
- ↑ Por vezes, a Eclesiologia está também associada à teologia prática.
- ↑ A teologia litúrgica relaciona-se por vezes à teologia pastoral.
- ↑ A Teologia de Direito Canónico está mais relacionada com a Igreja Católica, que é uma das Igrejas cristãs mais hierarquizadas.
- ↑ A Teologia espiritual está por vezes associada à teologia especulativa e até à teologia sistemática.
- ↑ A apologética associa-se por vezes à teologia sistemática.
Referências
- Doutrina Católica - Teologias
- Instituto Teológico São Tomás de Aquino
- Spiritual Theology, de Jordan Aumann. Págs 13-16
- Introduction to Theology - What is Theology: um apontamento resumido sobre as principais disciplinas da Teologia e o seu relacionamento.
Teologia como a palavra sugere é o discurso sobre Deus e de todas as coisas vistas à luz de Deus. Constitui uma singularidade de nossa espécie que, num momento da evolução de milhões de anos, tenha surgido a consciência de Deus. Com essa palavra - Deus - se expressa um valor supremo, um sentido derradeiro do universo e da vida e uma Fonte originária de onde provêm todos os seres.
Esse Deus sempre habita o universo e acompanha os seres humanos. Os textos sagradas das religiões e das tradições espirituais testemunham a permanente atuação de Deus no mundo. Ele sempre atua favorecendo a vida, defendendo o fraco, oferecendo perdão ao caido e prometendo a eternidade da vida em comunhão com Ele.
Pertence à fé dos cristãos afirmar que Deus se acercou da existência humana e se fez Ele mesmo Deus em Jesus de Nazaré. Assim a promessa de união benaventurada com Ele se antecipa e será a destinação de todos os seres e da inteira criação.
Entre as muitas funções da teologia, hoje em dia, duas são mais urgentes: como a teologia colabora na libertação dos oprimidos que são nossos cristos crucificados hoje e como a teologia ajuda a preservar a memória de Deus para que não se perca o sentido e a sacralidade da vida humana, ameaçada por uma cultura da superficialidade, do consumo e do entretenimento. Devemos unir sempre fé com justiça donde nasce a perspectiva de libertação e importa manter a chama da lamparina sagrada sempre acesa, donde se alimenta a esperança humana de um futuro bom para a Terra e a humanidade"
Prof.Leonardo Boff
Teologia: Definições e áreas de estudo.
O que é Teologia? Frequentemente estudantes da
bíblia se deparam com esta pergunta e, geralmente ela é respondida por muitos de
modo muito simplista, “o termo teologia vem de duas palavras gregas: theós
(Deus) e logia (estudo), logo, teologia é um estudo de Deus”. Acredito que esta
resposta é simplista e distante do que realmente venha ser teologia. Primeiro,
porque não se pode definir um ramo de estudo ou pesquisa apenas com base na
etimologia das palavras; segundo, Deus é um ser incognoscível á mente humana e
não pode ser concebido, dissecado ou analisado pelo homem; e terceiro muitas
vezes o estudo e a concepção do estudante de teologia são influenciados pela
cultura, por sua época e pela sua experiência pessoal com Deus.
E então, o que é teologia? Já que a mente
humana não pode chegar ao conhecimento pleno da natureza de Deus qual é o alvo
do estudo da teologia? Strong afirma que, “O alvo da teologia é a certificação
dos fatos que dizem respeito á Deus e ás relações entre Deus e o universo, e a
apresentação de tais fatos em sua unidade racional como partes conexas de um
formulado e sistema de verdade”. Ou seja, teologia é o estudo das relações de
Deus com o universo, com a natureza e com o homem durante o transcorrer da
história. Esse estudo tem como base a bíblia (que é a narrativa da história do
contato de Deus com os homens, em específico com o povo de Israel no Antigo
Testamento e com a igreja no Novo Testamento), contudo o estudo da teologia não
se limita á bíblia.
O estudo da teologia também utiliza meios
racionais. Entendendo sempre que a razão pura do homem caído não pode chegar ao
conhecimento de Deus sem a revelação divina. Ou seja, o conhecimento de Deus se
dá numa relação Deus -> homem e não homem; Deus; o homem conhece á Deus na
medida em que Ele se revela. O estudante utilizará a razão para interpretar a
bíblia tentando buscar as raízes das expressões nas línguas originais; também
associando ao estudo da teologia à filosofia, a psicologia, a sociologia, a
antropologia, a arqueologia, a história etc.
Muitos no passado tentaram isolar a teologia
das outras ciências, pensando que ela não poderia relacionar-se com outras áreas
do conhecimento humano. Mas, com o passar dos anos os teólogos foram descobrindo
que as diversas áreas do conhecimento humano só tinham á acrescentar ao estudo
da teologia, ajudando a provar alguns eventos bíblicos (como a arqueologia) ou a
interpretar o pano de fundo histórico das narrativas bíblicas (como a história).
No entanto, não podemos utilizar esses recursos numa tentativa de racionalizar a
fé. Pois, existem alguns elementos na teologia que são impossíveis de serem
sustentados de modo racional e é aqui que entra a seguinte afirmação: “Creio, a
fim de entender”.
Por Job. Nascimento
O QUE É
TEOLOGIA
e sua importância para hoje
Osvaldo Luiz Ribeiro
Todo mundo faz teologia
Teologia é uma palavra usada nos
seminários e nos livros. Mas teologia
é coisa que todo mundo faz. Quando, por exemplo, uma pessoa próxima sofre
algum infortúnio, e um crente aproxima-se numa atitude de conforto e diz: "Não
se deixe abater: Deus sabe o que faz!", o que esse crente está fazendo é teologia. Quando Jó, diante de toda a
desgraça que lhe caiu na cabeça, afirmou: "O Senhor deu, e o Senhor tirou" (Jó
1,21b), Jó fez teologia. Quando a
mulher cananéia respondeu a Jesus, dizendo: "Sim, mas até os cachorrinhos comem
das migalhas" (Mt 15,27b), também ela fez teologia
Teologia e Deus
O que é teologia? Será que é igual a biologia? Quer dizer, se biologia é o
estudo da vida (bio = vida e logia = estudo), então teologia é o estudo de Deus (teo = Deus e logia = estudo)? Será?
Vamos pensar um pouco. A
biologia estuda a vida dissecando organismos ou analisando pequenos pedaços de
tecido orgânico no microscópio. O biólogo pega o ser vivo, leva-o para o
laboratório, coloca-o sob determinadas condições e o examina. Assim aprende.
Assim se faz biologia.
Será se dá para fazer isso com
Deus? Colocá-lo numa mesa de laboratório e examiná-lo? Você consegue imaginar os
teólogos sentados à mesa, com Deus ali esticado, um examinando o pé; outro, o
olho; outro, o esôfago? Você acha que nos seminários estamos estudando Deus? E
aqui, na classe, é Deus que estamos estudando?
Deixe-me contar uma história
da Bíblia. Com certeza você já leu Ex 33,18-23. Leia novamente, mas com duas
pequenas observações sobre o v. 19: 1) deve-se ler "Eu (é que) farei"; e 2)
deve-se ler "e proclamarei o meu nome adiante de ti". Moisés pede que Yahveh
lhe mostre a sua glória (v. 18). Yahveh lhe responde que vai fazer passar a sua
bondade diante dele; vai proclamar o
seu nome adiante dele; e vai ter
misericórdia de quem ele, o próprio Yahveh, quiser ter misericórdia (v.19). A
rigor, Moisés não tinha falado nada sobre a misericórdia. Por que na sua
resposta Yahveh tem de falar a Moisés: "e terei
misericórdia de quem (eu) tiver misericórdia, e compaixão de quem eu tiver
compaixão"? Moisés queria ver a
glória de Yahveh, e Yahveh responde que terá misericórdia de quem Yahveh quiser
ter misericórdia. Faz sentido? Se pensarmos no objetivo do texto como sendo
apresentar Yahveh como Deus
Incontrolável faz sentido. Quem escreveu Ex 33,18-23 queria deixar claro que
a intenção de ver a glória de Deus
traduz a intenção de controlar as ações
de Deus. Talvez fossem dias em que se estava tentando separar aqueles que se
entendia merecerem a misericórdia de Yahveh daqueles que se entendia não a
merecerem. Como fazer isso? Controlando o discurso sobre Deus. Geralmente,
quando julgamos saber quem Deus é,
logo tratamos de julgar que a vida desse ou daquele irmão não agrada a Deus. Teologia como estudo de Deus e julgamento caminham muito próximos um do
outro. Para o autor de Ex 33,18-23, porém, ninguém, nem Moisés, pode decidir
afinal de quem Yahveh terá misericórdia - porque Yahveh é incontrolável e tem compaixão
de quem quiser.
Voltando ao nosso tema: teologia é o estudo de Deus? Há teólogos
que julgam que sim, e afirmam que a teologia é o estudo de Deus e das coisas de
Deus. Isso significa, que o conteúdo da teologia - as doutrinas e os dogmas -
são uma espécie de descrição de Deus e das coisas de Deus. Para esse tipo de
teologia e de teólogo, Deus não só pode ser conhecido, mas descrito (ainda que
parcialmente).
Mas voltemos ao texto de Ex
33,18-23. Moisés é colocado na fenda da
rocha. Yahveh tapa a fenda com a sua mão e faz passar a sua glória. Moisés está
lá dentro, sem poder ver nada ("até que (eu) passe", v. 22). Yahveh termina de
passar; retira a mão e, então, diz a Moisés que Moisés verá as costas de Yahveh,
mas que "as minhas faces não serão vistas" (v. 23).
Yahveh diz a Moisés que, se
quiser ver a sua glória, que veja as suas costas - o que deve ser compreendido
como "se quiser ver a minha glória,
siga-me" (cf. Ex 3,1-15). Yahveh vai à frente, proclamando o seu nome adiante, e Moisés vai atrás, seguindo,
com os olhos fixos nas costas de Yahveh. Yahveh é Deus que se conhece nas experiência
da vida. Yahveh não está disponível na teologia.
Compare essa história com a de
Elias na caverna (1 Re 19,8-13). Elias está na caverna (v. 9); Yahveh passa enquanto Elias ainda está lá
dentro (v. 11-13a); Yahveh chama Elias para fora: Elias cobre o rosto com a capa
e sai (v. 11a.13a); Elias não vê
Yahveh: apenas ouve uma voz (v. 13b). Yahveh não pode ser apreendido pelo
homem. Elias cobre o rosto (cf. Jz 13,20-23; Is 6,5). Moisés tem que ser
colocado na fenda da rocha e Yahveh tem que tapar o buraco, porque ele queria
ver a sua glória. Como a teologia
deve se comportar: como o Moisés de Ex 33,18 ou como o Elias de 1 Re
19,8-13?
Teologia e vida
O texto de Ex 33,18-23 poderia
nos ajudar a pensar uma teologia que
não se comporta como um estudo de Deus. 1 Re 19,8-13 poderia nos
ajudar a pensar que a presença de Deus ultrapassa nossa capacidade de apreensão,
compreensão e manipulação. Sim, ouvimos "uma voz", mas com o rosto coberto.
Mas se teologia então não deve ser tratada como
estudo sobre Deus, como deve ser tratada? Ora, como um falar sobre Deus, sobre a vida, e sobre o que cremos que Deus faz na vida.
Não foram esses os exemplos com que começamos esse estudo: o crente, Jó e a
mulher cananéia falaram. A sua fala
que era? Nos três casos, interpretação dos fatos da vida a partir de suas
convicções pessoais a respeito de Deus. Teologia então, não seria compreendida
como estudo sobre Deus, mas como estudo sobre o que os homens pensam sobre
Deus. Teologia tem a ver com a
compreensão que os homens têm sobre Deus e não com o próprio Deus. Teologia é
pura vida e história pessoal pulsando no coração. É o concurso de tudo quanto
somos e fazemos, tudo isso concentrado em nosso discurso sobre Deus. E então se
diga: boa vida e bom coração, boa teologia; vida má e mau coração, má
teologia.
Teologia é importante. Tanto que todos
nós fazemos teologia, uns sem saber
que fazem, outros sabendo. A teologia, no entanto, pode servir para
uma adaptação (o caso de Jó) ou para
uma confrontação (o caso da mulher
cananéia). A teologia pode servir
para conformar-nos com modelos
prontos, mas também pode e deve servir para transformar-nos. Sim, sim: teologia pode e deve ser transformadora. Quando Paulo em Rm 12,2
diz: "não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente", Paulo está a dizer: façam teologia transformadora! A transformação começa na "vossa mente".
Teologia começa na nossa mente. Teologia e transformação começam no
mesmo lugar.
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Fonte:http://www.ouviroevento.pro.br/outraspublicacoes/o_que_e_teologia.htm
Cristianismo |
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