Há vários movimentos de mulheres, aliás devia dizer
antes, várias actividades em curso, em algumas cidades do País, e devemos
gratificar-nos com isso, promovidas e dirigidos por mulheres que sem dúvida se
empenham no que fazem e fazem-no com muita seriedade...como haverá outras que o
não farão certamente com esse mesmo espírito e de quem sinceramente duvido da
profundidade, tal como haverá outras de que eu duvido totalmente e que apenas se
aproveitam da "onda" e do modismo para fazer negócio ou coisa que o valha. Mas
queria alertar para o facto de que, tal como neste grupo há mulheres diferentes
e de diferentes níveis de consciência e entendimento assim se passa em todo o
lado.
Queria salientar no entanto, no que me diz
respeito, toda a minha tentativa vai para um FOCO específico E que é, como todas
já sabem, a união das duas mulheres em cada uma de nós. A união coma nossa Alma
e a nossa Essência.
Já vi muitas mulheres nesta área do feminino
sagrado se intitularem sacerdotisas, deusas, especialistas do sexo, filósofas,
psicólogas, astrólogas, mestras, etc. Algumas são verdadeiras, outras não tanto
ou então são "especialistas" na farsa ou na representação de rituais
artificiais...
Há um vasto leque de mulheres a trabalhar por
suposto em nome da deusa e do feminino sagrado…alastram-se grupos Wicca e
encontros e seminários e círculos e rodas e workshops e todas elas falam a mesma
linguagem, abordam os mesmos conceitos, têm as mesmas ideias e usam as suas
variantes e as suas varinhas mágicas, as suas poções, de acordo com as ditas
especialidades.
Há, inevitavelmente, no meio disto tudo muitas
lutas, muitas intrigas, muita rivalidade, muita bajulação, muita inveja e
competição ou mesmo muita paixão assolapada…afinal é normal…entre mulheres…que
somos um poço sem fundo de surpresas e emoções recalcadas...inconscientes dos
nosso complexos e medos muitas vezes, pois é este o nosso drama, a nossa
inconsciência de nós, e então se meterem uns cavalheiros, pelo meio, perdão, uns
cavaleiros do Graal ou de Mariz, um Iluminado, ou um líder de um partido
político até, então é seguro que as raivas e os ódios são desencadeados com mais
fulgor…
Enfim acabei por me desviar do assunto que queria
aqui tratar, e que era…eu não ter um tema, um programa, umas técnicas a
assegurar o meu trabalho…De facto não tenho…o que eu tenho - e não saio deste
raio de acção - é apenas uma Consciência de uma Cisão que afecta todas as
mulheres e sei, que enquanto essa cisão não for tida em conta pelas mulheres,
todas as mulheres, enquanto não houver uma consciencialização desse facto e isso
não for encarado por si para se possa entrar no processo de integração das duas
mulheres divididas dentro de si mesma…bem podem apelar à Deusa e a todas as
deusas ou as deusas de todos os tempos…ou a todas as forças do cosmos…que lhes
valham… que isso não acontecerá! Porque só unindo essas duas partes cindidas ela
poderá ser a mediadora das forças cósmico
telúricas...
Assim, minhas amigas, espero que não se sintam a
desperdiçar o vosso tempo pelo vosso FOCO aqui e a tratar dessa ferida
emocional, dessa fissura energética (que atravessa todos os vossos corpos,
principalmente o físico e emocional) pois sem uma coesão do ser mulher em si,
sem a fusão das duas mulheres antagónicas que dentro de nós, esses dois lados
que se odeiam e rivalizam projectando o ódio na “outra”, dificilmente ou nunca
poderão chegar a um ponto de união com a Deusa que não é senão o ponto de
encontro em que as duas mulheres cindidas pela religião patriarcal, a “santa e a
puta” em nós, casam…e dão o nó górdio que a torna uma mulher integral ou faz
LIlith renascer das cinzas da nossa memória…
Minhas amigas, sem esse matrimónio
interior, não há casamento com os opostos, feminino e masculino, sol e lua, yin
e yang, porque a mulher não tem a sua feminilidade integrada, e sem essa
completude de si e vivência…ela não está em contacto com a sua Anima.
Porque o engano Junguiano vem de se pensar que o animus é o representante da
mulher e a anima do homem…essa inversão psicológica dos contrários a partida,
baseada numa realidade das mulheres analisadas por Jung e Freud que na época
estavam totalmente presas do Pai e do Mestre, educadas em estritas regras de
comportamento, numa projecção parcial de si, ou seja exclusivamente regidas por
padrões do masculino, sem qualquer sentido da sua identidade profunda enquanto
mulher-fêmea, impede ainda hoje que a mulher em vez de animus que é o aspecto
oposto que nela foi desenvolvido e em que ela se expressa neste sistema, chegue
à sua anima uma vez que a vai procurar fora e no homem
sistematicamente…
Portanto e para concluir…julgo em definitivo que a
coisa principal e mais urgente que a mulher tem e pode e deve fazer por ela, é
tomar consciência da sua cisão interior, vendo como cada mulher é apenas uma
metade de si, e procurar integrar a totalidade dessa natureza divida na sua
psique de forma consciente e natural num trabalho permanente de atenção e
intenção de se tornar uma mulher integral.
Resta-nos saber SE as terapias ou curas e outros
meios ao nosso dispor podem ajudar a curar as feridas profundas dessa parte do
feminino anulado…sim, digo que sim, podem ser muito úteis e necessárias, mas sem
essa consciência activa e a atenção permanente na sua própria divisão ela será
constantemente presa nas armadilhas que a sociedade e as emoções lhe
pregam…porque, por mais que faça e ande, ela será sempre ou agirá sempre como
uma só parte de si… deixando a outra parte nos esconsos da sua psique…e
projectando-a fora na “outra” ou contra a “outra”…a rival e a inimiga,
eternamente separadas e perdidas no mito do amor romântico á espera de que o
homem a complemente…sem nunca poder colmatar o grande vazio de si
mesma!
rosaleonorpedro
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