O APEGO AO SOFRIMENTO - RAFAEL ZEN


O apego ao sofrimento

Apego: um nome tão pequeno pra algo tão complicado – e pegajoso!
O poeta Virgílio menciona que “mesmo que tivéssemos língua e palato de aço, não conseguiríamos enumerar cabalmente todos os nossos defeitos”. Mas não tenho dúvidas de que dentre todos, talvez este seja o mais persistente e, ao mesmo tempo, o mais transparente!
Já dizia Buda que o apego é a origem do sofrimento. E ele tem razão – afinal, a maioria sequer sabe que ele existe; e quando descobre, ainda fica sabendo que ele está em tudo!
Quando sentimos raiva ou nos entristecemos, percebemos facilmente que algo está errado porque nosso corpo não nos engana: seja por uma dor de cabeça ou um mal estar, ele sempre nos avisa. Mas o apego costuma ser tão sutil e comum que ignoramos os sinais. Não é que o corpo não avise, mas tapamos os olhos com a peneira pra manter tudo como está.
Por estarmos ainda inseridos no ambiente do inconsciente coletivo, por mais contraditório que possa parecer, achamos que é normal sentir-se bem com ele – e isso é uma doença! Como pode alguém sentir-se bem com algo que lhe faz mal?
Não consegue abandonar seus vícios (inclusive os emocionais)?
Você tem dificuldade de se alimentar melhor e recuperar seu peso ou vitalidade?
Sente saudades ou tem necessidade de manter por perto pessoas que nos são queridas?
Quando encontramos justificativas pra ficar onde estamos e continuar do mesmo jeito, comendo as mesmas bobagens, assistindo a mesma programação deprimente, mantendo relacionamentos desgastados ou falidos, percebendo o mundo da mesma forma e mantendo nossa mesma envelhecida percepção do “eu”, aí encontramos apego. Esta emoção se confunde com quem você é – e faz você pensar que é ele! É uma criatura que se passa pelo criador…
O apego é o ponto chave que nos impede de largar o velho e partir para o novo e, portanto, é um obstáculo para qualquer mudança verdadeira.
Agora preste bastante atenção: se você está buscando algo melhor em sua vida, gostaria de uma transformação mas por algum motivo desconhecido não consegue, sinto dizer que você está contaminado – o mosquito da inconsciência pegou você! rsrs… Por trás de sua aparente dificuldade existe algo mais profundo, uma variação deste mal chamada “apego ao sofrimento” – a raiz da procrastinação e de outros tantos hábitos destrutivos.
Vivemos profundamente identificados com este sentimento, e novamente acreditamos que é normal viver desta maneira. Essa identificação é a principal responsável pela criação de padrões e condicionamentos que somente são corrigidos através de esforços conscientes.
Apego a dor também cria o medo do novo, do desconhecido. Mudar significa empoderar-se de sua vida e realizar escolhas dos quais teremos que assumir total responsabilidade – e isso significa eliminar o papel de vítima.
A prática mostra, infelizmente, que as pessoas estão dispostas a tudo, menos a abrir mão de sua própria dor! Estão tão identificadas com seus papéis de vítimas do mundo que a simples possibilidade de uma mudança parece assustadora…
Quem pode dar fim a este ciclo? Apenas você.
O que pode ajudar? Meditação, trabalhos terapêuticos e um intenso desejo de mudança para melhor…
Existe algum remédio pra isso? Sim, mas é necessário um esforço: sacrificar seu próprio sofrimento, abrir mão de conceitos e sentimentalismos. É a única forma de evitar que a dor bata novamente em nossa porta…
Quanto mais se posterga esta decisão, quanto mais evitamos este confronto com aquilo que pensamos ser e nos decidimos a limpar nossa bagunça interna, mais dor e sofrimento iremos colher, porque este é o único mecanismo que irá despertar em nós a força que nos fará acordar para a realidade da vida.

por Rafael Zen

Fonte:http://www.eftbrasil.net.br/artigos/o-apego-ao-sofrimento/

Comentários