MORTE DE HUGO CHÁVEZ DEIXA VAZIO NA ESQUERDA DA AMÉRICA LATINA



Morte de Chávez deixa vazio
na esquerda da América Latina

Influência de presidente venezuelano era sentida nos países latino-americanos, muito em parte por causa do petróleo; especialistas não enxergam um sucessor regional para Chávez.

A mortedo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na terça-feira (5), deixou um grande vazio na liderança de esquerda da América Latina e levantou dúvidas sobre a continuidade da "generosidade" do petróleo venezuelano pela região.
Aliados como o presidente boliviano, Evo Morales, prometeram continuar o sonho de Chávez de unidade "bolivariana" do hemisfério, mas em Cuba, muito dependente da ajuda venezuelana e de seu petróleo, o povo foi às lágrimas quando souberam que Chávez tinha perdido a batalha contra o câncer.


Mulheres acendem velas em
memória a Hugo Chávez em Santo
Domingo, República Dominicana (5/3)

Em luto, venezuelanos expressam dor nas ruas de Caracas após morte de Chávez.

Multidão lotou a praça Bolívar na capital do país durante a noite após o anúncio da morte do presidente venezuelano; episódios de violência isolados foram registrados no país.


Partidários de Hugo Chávez reagem
ao anúncio de sua morte em frente ao
hospital militar em que ele estava
internado, em Caracas.

Chávez morreu na terça-feira (5) às 16h25 locais (17h55 em Brasília). Ele havia voltado a Caracas no dia 18, após ter sido submetido em Cuba em 11 de dezembro a uma quarta cirurgia relativa a um câncer não especificado na região pélvica, que havia sido diagnosticado em junho de 2011.
Seu corpo será levado em procussão até a Academia Militar em Caracas, onde permanecerá até o funeral na sexta-feira. Todas as escolas e universidades do país ficarão fechadas durante toda a semana.

Desde a morte de Chávez, o clima nas ruas do país é de comoção, sobretudo em Caracas. No centro da capital, as pessoas caminham chorando, conversando ao telefone e comentando a notícia, que muitos dizem se esforçar para acreditar.
"Não pode ser. Chávez era a esperança do povo venezuelano. Era o líder, o irmão, o amigo, ele mudou nossa história. Não sei como vai ser agora", disse à BBC Brasil o professor Jonás Alcalá, visivelmente abalado.
Para ele, a "revolução bolivariana" liderada por Chávez durante 14 anos não termina com sua morte. "Ele lutou incansavelmente pelo país e nos deixou o caminho aberto para construir a pátria socialista, agora depende de nós", afirmou.

Anúncio da morte

A doença de Chávez impediu que o presidente tomasse posse em 10 de janeiro, depois de ter sido reeleito ao poder em outubro.
Com voz embargada e lágrimas escorrendo em seu rosto por diversas vezes, o vice-presidente Nicolás Maduro anunciou a morte do presidente "após uma dura batalha contra uma doença por quase dois anos" em um pronunciamento à TV. "Não vamos deixar existir fraqueza, nem violência. Que não haja ódio. Em nossos corações só deveremos ter um sentimento: amor."
O vice acrescentou que tropas e agentes policiais estarão nas ruas para "garantir a paz". Em comunicado, o Exército se comprometeu em permanecer leal a Maduro, que assume interinamente a presidência, e ao parlamento.

Sua influência foi sentida em toda a região, das pequenas ilhas do Caribe à empobrecida Nicarágua, na América Central, passando por economias emergentes como Equador e Bolívia e os pesos pesados da América do Sul, Brasil e Argentina, onde ele encontrou o apoio de governos próximos.
Sem a sua presença ideológica, a influência da Venezuela deve diminuir e o peso da economia brasileira poderia preencher a lacuna no realinhamento diplomático da região.

Chávez, 58 anos, deixa um legado misto de problemas econômicos e a polarização política venezuelana, mas, para muitos latino-americanos e caribenhos, ele ofereceu ajuda financeira e deu voz às aspirações regionais de superar mais de um século de influência dos EUA.
"Ele usou seu dinheiro do petróleo para construir boas relações com todos", disse Javier Corrales, cientista político dos EUA e especialista em Venezuela, da Amherst College.
A riqueza de petróleo também transformou a Venezuela em um grande importador de bens da região. "Sua conta de importação era tão grande que ele se tornou um grande parceiro comercial. É por isso que suas relações eram tão boas", disse Corrales.

Entre 2008 e o primeiro trimestre de 2012, a Venezuela forneceu US$ 2,4 bilhões em ajuda financeira à Nicarágua, de acordo com o banco central da Nicarágua - uma quantia enorme para uma economia no valor de apenas US$ 7,3 bilhões em 2011.

A Venezuela fornece petróleo em condições muito preferenciais para 17 países sob sua iniciativa Petrocaribe, e se juntou a projetos para produzir e refinar petróleo em países como Equador e Bolívia.
Chávez também ajudou a Argentina a sair da crise econômica, comprando bilhões de dólares em títulos enquanto o país lutava para se recuperar de um enorme calote da dívida. "Quando a crise de 2001 colocou em risco 150 anos de construção política, ele foi um dos poucos que nos deu uma mão", afirmou o ex-chefe de gabinete do governo da Argentina, Aníbal Fernández, no Twitter.

Criador de blocos

Em Cuba, dois terços do petróleo vem da Venezuela em troca dos serviços de 44 mil profissionais cubanos, a maioria da área médica. Combinando com investimentos generosos da Venezuela, isso ajudou Cuba a sair dos dias negros do "Período Especial" que se seguiram ao colapso em 1991 da União Soviética.

Chávez era pessoalmente e politicamente próximo ao ex-líder cubano Fidel Castro, com quem planejou a promoção de governos de esquerda e a solidariedade latino-americana contra o inimigo ideológico EUA.
Juntamente à Petrocaribe, Chávez incentivou a criação do bloco de esquerda Alba, a Aliança Bolivariana para os Povos da nossa América, e da Celac, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, ambas voltados para a integração regional e a redução da influência dos EUA no hemisfério.
 
"Chávez era um líder regional com a Alba e a Celac, mas a Alba está em um processo de deterioração gradual. Em parte como a saúde de Chávez se deteriorou, assim está a Alba", disse Frank Mora, ex-subsecretário adjunto de Defesa para Assuntos do Hemisfério Ocidental no primeiro governo do presidente dos EUA, Barack Obama.
"Para mim, é difícil acreditar que alguém como Rafael Correa ( presidente equatoriano) ou Raúl Castro ( líder cubano) possa pegar o manto que está sendo deixado pela ausência de Chávez e manter o mesmo nível de apoio e vibração que estes relacionamentos e organizações antiamericanas e bolivarianas tinham."

Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-03-06/

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