SOBRE A PSICOLOGIA BUDISTA - RYOTAN TOKUDA

 
Se for certo que no Budismo o que vale não é cultuar a Imagem de Buda, mas sim aplicar na vida diária os ensinamentos que ele nos legou, é fato também que a imagem viva de alguém que os incorpore, nos ensina mais que as palavras de toda uma enciclopédia.
É o caso do mestre Ryotan Tokuda, que mesmo antes de emitir palavras se sabe que ali está alguém que transpôs as barreiras que nós ainda estamos lutando para transpor.
Tokudasan, como é informalmente tratado pelos amigos veio do Japão para o Brasil como missionário do Zen, em 1968. Desde então tem semeado o Budismo Zen pelo território brasileiro, abrindo centros e fundando mosteiros, nos quais permanece em determinados períodos do ano, uma vez que o pais é grande e muitas são as regiões que o requisitam. É também um grande conhecedor da medicina chinesa, especializado em acupuntura e fitoterapia, tendo, em função desta última, estudado profundamente a flora brasileira. Formou muitos profissionais nessa área.
Sou um tanto suspeita para falar do mestre Tokuda pois tendo sido minha porta de entrada para o Budismo Zen sou, além de grata, afetivamente ligada a ele.
Encontrei-o há vinte e três anos quando, participando de um seminário anual promovido pelo professor Kikuchi, Mairiporã, São Paulo, ao passar por uma porta, vi anunciada uma palestra sobre algo que desconhecia: Budismo Zen. Entrei por curiosidade e ali estava o então monge Tokuda falando de questões existenciais sobre as quais eu vivia indagando sem jamais encontrar eco. Senti, no âmago de meu ser, que ali se abria uma fonte de descobertas para mim. No final da palestra, fui até ele e seus acompanhantes, pedindo informações de como ter novo contato.
Não, não encontrei nele, como o leitor pode imaginar, alguém que passou a mão em minha cabeça, como aliás eu gostaria, mas que, em compensação, não me faria crescer. Encontrei, sim, alguém que se dava por inteiro em qualquer coisa que estivesse fazendo, fosse um evento ou um simples cortar de legumes.
Percebia, através de seus atos, como tudo era igualmente importante, uma vez que merecia a totalidade de alguém, e ao mesmo tempo como nada era importante, já que não havia discriminação entre o extraordinário e o comum.
Outro aspecto seu, marcante, era o de não se deixar idolatrar. Sempre que percebia em alguém a tendência para idolatrá-lo, puxava logo o tapete debaixo, para que o discípulo caísse na realidade.
Sendo a impermanência a única coisa permanente no mundo, o próprio Budismo não escapa dessa lei natural. À medida que passa o tempo, a doutrina vai se ramificando em diferentes direções, como afluentes de um rio adaptando-se as condições do solo.
No Brasil, algumas correntes, as que não puderam contar com a continuidade do mestre Tokuda, queixam-se por ele não permanecer em um só lugar, ao invés de abrir vários centros pelo país e, agora, também na Entupa. Uma vez que eu mesma lhe fiz essa queixa, ele argumentou que era monge itinerante. Não tive como contra-argumentar já que eu também sou itinerante por natureza. Sorte para os novos, que têm a chance de conhecê-lo, lástima para os antigos discípulos que se vêem na condição
 
de Ryotan Tokuda Igarashi
Gryfus Editora
 

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