COMPLEXO PIER : NENHUMA MULHER É SUA MÃE

Complexo Puer

Nenhuma mulher é sua mãe. Sua mãe é única! A mulher idealizada existe na imaginação ou fantasia, e se projetada na mulher real causa decepção quando ela se mostra como realmente é se distanciando da imagem da mulher idealizada pelo homem.
Em geral, o homem, nesse caso, permanece durante muito tempo como adolescente, isto é, todas as características normais em um jovem de dezessete ou dezoito anos continuam na vida adulta, juntamente com uma grande dependência da mãe, na maioria dos casos. Para o heterossexual, a imagem da mãe (a imagem da mulher perfeita que tudo dá ao homem, e que não tem nenhum defeito) é procurada em todas as mulheres. Ele é atraído sexualmente pela mulher e se apaixona, mas toda paixão desaparece, ele se decepciona e a deixa, apenas para projetar a imagem da mãe novamente em outra mulher, sempre repetindo a mesma história. Eternamente sonha com a mulher maternal que o tomará nos braços e realizará todos os seus desejos, frequentemente acompanhado pela atitude romântica da adolescência.
Geralmente ele encontra dificuldades de adaptação a situações sociais; em alguns casos, há um tipo de individualismo associal: sendo alguém especial, ele não tem necessidade de adaptar-se, pois são as pessoas que devem se adaptar à um gênio como ele. Assume uma atitude arrogante em relação aos outros devido tanto ao complexo de inferioridade como a falsos sentimentos de superioridade; assim como, tem dificuldade de encontrar o trabalho certo, pois tudo o que aparece nunca é exatamente o que queria ou procurava. A mulher nunca é a ideal. Há sempre um “mas”… Isso tudo leva a uma forma de neurose: uma constante recusa interior em viver o presente. Isso pode progredir para uma megalomania patológica, ou a ideia de que o tempo dele ainda não chegou: a única situação que ele teme é a de se ligar a qualquer coisa. Geralmente gosta de esportes perigosos, e não, de esportes que requerem paciência e treinamento longo, devido ao seu temperamento impaciente. A qualidade positiva é um certo tipo de espiritualidade que vem de um contato relativamente próximo com o inconsciente coletivo. Ele costuma ser agradável para conversar, tem assuntos interessantes com um efeito interessante sobre o ouvinte, não gosta de situações convencionais, faz perguntas profundas e vai direito à verdade, procura a religião autêntica, uma procura típica do final da adolescência. Geralmente, seu charme juvenil se prolonga até os últimos estágios da vida.
Há outro tipo que não exibe o charme da juventude, pelo contrário, vive em estado de alheamento, que é também uma característica da adolescência: sonolento, indisciplinado, fica à toa, mente vagando; o ar desligado é apenas exterior, em seu íntimo encontra-se uma intensa vida fantasiosa.
Ele geralmente tende a evitar o confronto de suas fantasias com a realidade; vivencia certa quantidade de vida instintiva, mas bloqueia a realização psicológica; vive suas experiências automaticamente, isto é, não vive suas experiências totalmente. Dessa forma, sua fascinação pela ideia do grande amor permanece apenas na fantasia: um dia ele encontrará a mulher ideal que lhe dará amor perfeito, leal e eterno, o que é uma idealização da figura materna. Enquanto isso não acontece, ele não se abstém de manter relações sexuais com as mulheres, não se guardando para o amor ideal, mas também não se entregando às suas vinte ou trinta amantes. Ele mantém uma reserva mental dizendo a si mesmo que isso não é o que estava esperando, mas que precisa de sexo; realiza essa união física, mas psicologicamente é como se ele não a tivesse vivido: separa seus sentimentos de suas ações.
Através da transferência ele começa a ter esperanças que talvez possa confiar e amar de novo, mas o amor é inútil e traz desilusões. Ele lida com seus sentimentos de maneira infantil: sente-se abandonado e desapontado; pessoas adultas dizem ter consciência de que tal reação é idiota e irracional, mas não consegue agir de outra maneira.
O que é realmente importante é ele perseverar em alguma atividade: que ele faça algo do princípio ao fim. O perigo, ou o comportamento neurótico, ao realizar tais atividades é: simplesmente colocar tudo dentro de uma “caixa” e fechar a tampa com um gesto de impaciência. É por isso que ele diz que mudou de ideia e que tem outros planos, que não é aquilo que estava procurando, sempre que as coisas ficam difíceis. É essa infindável mudança que é perigosa e não o que ele faz.
 
Fonte: Puer Aeternus, de Marie-Louise von Franz.

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