TRACEY EMIN : SEXO,ESCÂNDALO E ANGÚSTIA AMOROSA COMO ARTE - EXPOSIÇÃO EM SÃO PAULO

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    Tracey durante mostra individual na Hayward Gallery, em Londres, no ano passado. Um grito de dor por trás do deboche escancarado
  • 271112traceyeminwhitecube3Foto Divulgação
    Afetos perdidos são expostos em neon
  • Px
    Foto Divulgação
    O sexo solitário, em desenhos. A artista não tem pudor de mostrar
  • seu desalento


I don't Believe in Love but I believe in you - Tracey Emin - 2012 - 55437

Exposição em São Paulo exibe obras recentes de Tracey Emin, a inglesa de 49 anos que faz do sexo, do escândalo e da angústia amorosa o tema de sua arte

Do sexo ao amor, passando pela tristeza, pela solidão e por traumas. A artista britânica Tracey Emin é dona de uma trajetória intensa. Desde que despontou, na década de 1990, em meio aos excessos de um período caracterizado pela ansiedade de fim de século, Emin não tem produzido apenas arte, mas uma série de escândalos em torno de sua atração por drogas, por álcool e – talvez seu maior vício – por colunas sociais e jornais sensacionalistas do Reino Unido. Ela é uma celebridade. You Don’t Believe in Love But I Believe in You (você não acredita no amor, mas eu acredito em você) apresenta agora Tracey Emin ao Brasil. A exposição, que marca a chegada da galeria inglesa White Cube a São Paulo, reúne a produção recente da artista. Emin está em seu melhor. Algo que, no caso dela, significa um mergulho em seus piores momentos.
Uma celebridade, mas também uma artista sólida. Aos 49 anos, ela experimenta um forte processo de reconstrução de sua imagem e do entendimento de sua obra. Conhecida por exibir sem nenhum pudor as emoções provocadas por suas experiências sexuais (a imprensa adora publicar imagens de seus trabalhos lado a lado com fotos de sua vida noturna, retratando invariavelmente situações ofensivas ou estranhas), a britânica tornou-se no ano passado professora de desenho na tradicional e prestigiosa Royal Academy, fundada em 1768 em Londres. Suas entrevistas e seus encontros públicos ficaram mais previsíveis. No entanto, a delicada transição da exuberância juvenil para certa retidão típica da maturidade não alterou o que pode ser entendido como a essência de sua arte: atrás da mulher debochada, que revela tudo, está uma alma em dor, gritando.
Mais de uma vez, Emin declarou que seu artista preferido é o norueguês Edvard Munch (1863-1944), conhecido autor da tela O Grito. De fato, os dois partilham algumas coincidências e inquietações. Ela nasceu em 1963, e ele, exatos 100 anos antes. Ambos viveram, portanto, mudanças de século. Da mesma maneira que Munch, Emin procura resolver uma questão: como dar forma artística ao sentimento de desconforto diante do mundo, das pessoas e da memória? O que Munch expressou em telas e tintas, a inglesa mostra em objetos, instalações, filmes, fotos e, com frequência cada vez maior, desenhos. Em vez de pintar sua angústia em um quadro, ela a recria em três dimensões no espaço. Uma expressionista do século 21? Parte considerável da crítica europeia procura entendê-la desse modo. Mas há sempre muitas Emins, algumas vezes Emins demais.

Galho de bronze
As atenções começaram a se voltar para a artista em 1995 graças a uma obra intitulada Everyone I Have Ever Slept with 1963-1995 (todos com quem já dormi). Trata-se de uma tenda, dessas para acampamento, na qual Emin colou 102 nomes de variadas formas e cores. O título do trabalho é autoexplicativo. Mas o sentido de “dormir” transcende o sexual: a lista inclui uma avó, com quem a inglesa dormia quando criança, e traz duas vezes a palavra feto – referência aos abortos a que se submeteu. Alguns dos listados, personalidades da cena britânica, foram à TV reclamar da exposição de privacidade. A obra acabou destruída em 2004, no incêndio que atingiu a coleção do publicitário Charles Saatchi.
Quatro anos depois, quando a postura de confronto de Emin já era notória, surgiu talvez o mais conhecido e polêmico de seus trabalhos – um álibi tanto para os admiradores, que a elogiaram como genial e única, quanto para seus detratores, que logo a acusaram de charlatã e narcisista. My Bed (minha cama) revelou-se algo realmente espantoso. Mais uma vez, o título da obra, exibida pela Tate Gallery em 1999, a traduzia literalmente. A cama de Emin foi levada para a galeria e exposta a todos os visitantes. Pouco antes, em sua casa, a artista passara uma semana deitada nela, quase sem se levantar, mergulhada numa depressão profunda decorrente da falência de suas relações amorosas. Os lençóis estavam sujos e desarrumados, com marcas de fluidos corporais. No chão, perto da cama, havia cigarros e cinzas, objetos íntimos, roupas e todo tipo de resquício dos dias difíceis. Estar na cama com Tracey Emin pode ser um acontecimento de inimaginável desconforto.
Uma cama também será exibida em São Paulo. Dead Sea (mar morto), porém, tem outra dinâmica. Um galho, feito de bronze, descansa sobre um colchão. E é isso. O fator choque vai para a retaguarda. As criações mais recentes de Emin ultrapassam o limite do erotismo óbvio ou da necessidade de impressionar o espectador. Ao definir a instalação para a imprensa inglesa, ela deixou explícitos não apenas a já conhecida melancolia mas também o raciocínio que a levou a posicionar sua arte bem longe das expectativas das revistas de celebridades. Seu trabalho, afirmou, já não é sobre sexo, mas sobre a ausência e o fim dele. Segundo a artista, a proximidade dos 50 anos é a senha para dar adeus a muitas coisas, porque a vida precisa mudar. Emin acredita agora que sua arte deve confortar as pessoas.
Conforto é uma palavra difícil de associar à britânica. Sua ambição tem sido imensa. Do mesmo modo que o artista Damien Hirst, companheiro de geração e controvérsias, se viciou em dinheiro, ela não consegue resistir a ser manchete dos jornais – eis a piada. Emin muitas vezes é capaz de sabotar suas boas intenções. Mas ela agora crê no amor (e essa é a novidade dos anos recentes). A menopausa lhe trouxe uma incontornável sensação de morte, e seu medo da solidão continua enorme. Só que desta vez há o amor. Não exatamente por pessoas, ou por uma pessoa em especial, e sim pela arte e por suas possibilidades. Se ela e a arte mantiveram frequentemente uma relação difícil, tensa, cheia de brigas e abandonos de ambas as partes, neste instante Emin procura e encontra o caminho para uma reconciliação. Mesmo que a arte não acredite no amor, ela oferece seu amor à arte. E, agora, sem medo de em algum momento ser plenamente correspondida.

Texto:Marcelo Rezende é jornalista e curador.

A exposição:You Don’t Believe in Love But I Believe in You. Até 23/2. White Cube (r. Agostinho Rodrigues Filho, 550, São Paulo, SP). De 3a a sáb., das 11h às 19h, exceto de 2 a 9/12, das 12h às 18h. Grátis.

Fonte:http://bravonline.abril.com.br/materia/vamp-na-menopausa

Hype das artes, mostra de Tracey Emin inaugura a White Cube de SP


Os entusiastas das artes estão em polvorosa. É que a White Cube, uma das maiores galerias do mundo, abre as portas em São Paulo no dia 1º de dezembro. E, para melhorar, com exposição de Tracey Emin, artista inglesa que caiu no gosto dos mais hypados mundo afora. Ela traz a mostra “You Don’t Believe in Love But I Believe in You”, famosa pelas instalações em neon, obras de teor feminista e autobiográfico. Frisson de culturette!



Fonte:http://glamurama.uol.com.br/hype-das-artes-mostra-de-tracey-emin-inaugura-a-white-cube-de-sp/


White Cube busca em SP 'porta para o sul'


Num mundo da arte "pós-colonial e fluido", como define Tim Marlow, já passou da hora de uma galeria do primeiro time das casas globais fincar pé em São Paulo.
Diretor da britânica White Cube, a segunda maior galeria de arte do mundo, Marlow anunciou na semana passada que a casa vai abrir um novo espaço na capital paulista em dezembro deste ano.
Operando em três endereços em Londres e também em Hong Kong, a White Cube escolheu São Paulo, lugar "vibrante" e "maravilhoso", nas palavras de Marlow, para abrir sua segunda sede fora do Reino Unido, descartando uma expansão na Europa ou mesmo nos Estados Unidos.
"Já temos uma porta de entrada para a Ásia em Hong Kong e queremos uma porta também para o sul", diz Marlow. "Mas São Paulo não será só isso, tem grandes artistas e uma base sólida de colecionadores. Nosso interesse definitivo é o Brasil."
Em São Paulo, a White Cube vai ocupar um galpão na Vila Mariana, fora do circuito das galerias paulistanas que povoam Jardins, Vila Madalena e Barra Funda. É o mesmo espaço usado pela galeria na mostra do escultor Antony Gormley, que a casa armou em paralelo à retrospectiva do artista no Centro Cultural Banco do Brasil.
Foi em maio, quando começou a mostra no CCBB e também a feira SP-Arte, que a White Cube decidiu alugar o espaço e abrir um entreposto paulistano. "É um prédio com muita luz e fica perto do parque e da Bienal", diz Marlow. "Nossos artistas adoraram a ideia de expor nesse lugar, então ficamos com ele."
Entre os artistas representados pela galeria estão algumas estrelas da arte contemporânea global, como Damien Hirst, Chris Marclay e a dupla Gilbert & George, que fez uma performance na Casa de Vidro no mês passado.
Tracey Emin, artista conhecida por suas instalações em néon e obras de teor feminista e autobiográfico, foi escolhida para inaugurar o espaço com uma mostra de obras inéditas, pensadas para ocupar a sede paulistana.

Divulgação
'I Promise to Love You', obra de Tracey Emin
'I Promise to Love You', obra de Tracey Emin

MILHARES DE LIBRAS
São peças que valem centenas de milhares de libras, o que representa um desafio para a White Cube na hora de vender no Brasil. Obras importadas para o país estão sujeitas a impostos que estão entre os mais altos do mundo, chegando a aumentar o preço da peça em até 50%.
"Se dependêssemos das vendas no Brasil, seríamos loucos", diz Marlow. "Nosso objetivo não é vender no Brasil e sim construir uma reputação e gerar interesse. Sabemos do sistema tributário do país, que dificulta muito os nossos negócios, mas não vamos agora ao Brasil apostando que as regras vão mudar."
Marlow diz ainda que muitos colecionadores brasileiros compram obras de seus artistas fora do país e mantêm coleções na Europa ou nos Estados Unidos, onde os impostos são menores.
"Nossas exposições nem sempre são viáveis do ponto de vista comercial", diz Marlow. "Seremos pioneiros no Brasil com grandes exposições, mas sabemos que o mercado de arte é global."
Tanto que a White Cube também planeja representar brasileiros em seus espaços de Hong Kong e Londres. Enquanto o espaço paulistano servirá de vitrine para o time internacional da galeria, brasileiros poderão ganhar novos mercados pelas mãos da casa britânica.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1163391-white-cube-busca-em-sp-porta-para-o-sul.shtml

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