O TALENTO : O GÊNIO EM TODOS NÓS - DAVID SHENK



“O GAROTO”, EM “O GÊNIO EM TODOS NÓS” (Zahar) – CAP. 1 [TRECHO]

Por David Shenk

O talento não é algo em si mesmo, e sim um processo.
Isso não se parece nem um pouco com o que costumávamos pensar sobre talento. A julgar por expressões como “ele deve ter um dom”, “boa genética”, “talento natural” e “[corredor/atirador/orador/pintor] nato”, nossa cultura vê o talento como um recurso genético raro, algo que você tem ou não tem. Testes de qI e de outras “competências” sistematizam essa ideia, e escolas desenvolvem seus currículos baseadas nela. Ela é constantemente corroborada por jornalistas e até mesmo por vários cientistas. Esse paradigma do dom genético se tornou parte essencial da nossa compreensão da natureza humana.
Ele combina com o que aprendemos sobre DNA e evolução: Nossos genes são o modelo de quem nós somos. Genes diferentes nos tornam indivíduos diferentes com habilidades diferentes. Se não fosse assim, como o mundo teria indivíduos tão variados quanto Michael Jordan, Bill Clinton, Ozzy Osbourne e você?
No entanto, todo o conceito do dom genético é, na verdade, um grande equívoco – tragicamente mantido em voga por décadas a fio por uma série
de mal-entendidos e metáforas enganosas. Nos últimos anos, tivemos o surgimento de uma montanha de evidências científicas que sugerem, de forma incontestável, um paradigma totalmente diferente: o que existe não é uma escassez de talento, e sim uma fartura de talento latente. De acordo com essa 18 A argumentação concepção, o talento e a inteligência humana não se encontram em níveis constantemente baixos, como os combustíveis fósseis, mas sim em níveis potencialmente abundantes, como a energia eólica. O problema não está nos nossos recursos genéticos inadequados, mas na nossa incapacidade, até o momento, de utilizar o que já possuímos.

Isso não quer dizer que não tenhamos diferenças genéticas importantes entre nós, que geram vantagens e desvantagens. É claro que temos, e essas diferenças trazem consequências profundas. Porém, a ciência contemporânea sugere que poucas pessoas conhecem seus verdadeiros limites, e que a grande maioria delas não chega nem perto de utilizar o que os cientistas chamam de “potencial irrealizado”. Ela também apresenta uma visão profundamente otimista da raça humana: “Não temos como saber quanto potencial genético irrealizado existe”, escreve Stephen Ceci, psicólogo do desenvolvimento da Universidade Cornell. Isso faz com que seja logicamente impossível insistir (como alguns de nós fazem) na existência de uma subclasse genética. A maior parte dos que possuem um desempenho abaixo da média muito provavelmente não é prisioneira de seu próprio DNA; essas pessoas têm sido apenas incapazes de alcançar seu verdadeiro potencial.
Esse novo paradigma não se limita a proclamar uma simples mudança do “inato” (nature) para o “adquirido” (nurture). Em vez disso, ele revela como na verdade essa dicotomia está falida e exige uma reavaliação a respeito de como nos tornamos nós mesmos. Este livro começa, portanto, com uma nova e surpreendente explicação de como funcionam os genes, seguida por uma análise detalhada das recém-descobertas matérias-primas do talento e da inteligência. quando juntamos tudo isso, o que surge é uma nova imagem de um processo de desenvolvimento fascinante, que podemos influenciar – embora nunca controlar por completo – como indivíduos, como famílias e como uma sociedade que incentiva o talento. Embora seja essencialmente auspicioso, esse novo paradigma também gera novas e inquietantes questões de ordem moral, com as quais todos nós teremos que lidar.
Seria um disparate afirmar que qualquer um pode literalmente fazer ou ser qualquer coisa, e esse tampouco é o objetivo deste livro. Porém, a ciência contemporânea nos diz que é igualmente absurdo pensar que a mediocridade Introdução 19 é inata à maioria das pessoas, ou que nós podemos saber quais são nossos verdadeiros limites antes de empregarmos nossa vasta gama de recursos e investirmos grande quantidade de tempo nisso. Nossas habilidades não estão gravadas de forma indelével em nossos genes. Elas são flexíveis e moldáveis, mesmo nas idades mais avançadas. Com humildade, esperança e determinação extraordinária, qualquer criança – dos oito aos oitenta anos – pode aspirar à grandeza.

O avanço da Genética é um marco na história da ciência mas nem tudo é tão líquido e certo (e pré-determinado) como pareceu ser no início, e  algumas abordagens opositoras ou complementares se fazem notar cada vez mais – se não médicas, ao menos culturais. No livro “O Gênio em Todos Nós” (Zahar), o escritor e cineasta americano David Shenks escolheu a seguinte linha de apoio para o título da sua obra: “Por que tudo que você ouviu falar sobre genética, talento e QI está errado”. Radical, mas ele explica, como no trecho do capítulo de introdução abaixo, onde ele explora o problema de aceitar simplisticamente que existe um “talento genético”, gerando mal-entendidos e equívocos culturais. “Todo o conceito de dom genético é um grande equivoco“, diz ele.



O talento não é algo em si mesmo, e sim um processo: trecho de “O Gênio em Todos Nós”, de David Shenk

Fonte:http://dharmalog.com/2012/11/26/

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