"Parece que você está lendo essas
palavras, possivelmente sentado em uma cadeira, respirando, ouvindo e talvez
pensando. O que está acontecendo está acontecendo com você... aparentemente. E
você é um indivíduo em um mundo cheio de indivíduos. Isso é normal, assim
parece. Há pessoas e a vida acontece para elas.
A vida está acontecendo e,
aparentemente, as pessoas fazem escolhas, a fim de lidar com a vida. Tentam
fazer sua vida funcionar. Parece que há vários modos das pessoas negociarem com
a vida... às vezes superficialmente e, às vezes, mais profundamente. Mas as
respostas parecem ser geradas fora da nossa livre vontade e escolha pessoal que,
em termos simples, evita a dor e busca prazer e realização pessoal. Acredita-se
que as pessoas têm a capacidade de influenciar, até certo ponto, o que acontece
em suas vidas.
E sobre a possibilidade do além ser uma
ilusão? Como você se sentirá se te for sugerido que você não está lendo estas
palavras, sentado, respirando ou pensando? É possível que a leitura destas
palavras, sentado, respirando e pensando seja tudo o que acontece, simplesmente.
Não há ninguém fazendo nada. É mesmo possível que não haja ninguém e que haja
apenas o espaço em que as coisas parecem acontecer?
E sobre a possibilidade desta
auto-surgida individualidade, que se sente tão no controle, ser, na verdade, uma
simulação?
Neurocientistas de todo o mundo
descobriram recentemente que o cérebro, como se desenvolve desde a primeira
infância, supõe que o mundo fora do corpo é separado, e possivelmente ameaçador
ao organismo no qual ele vive. E a fim de proteger-se, aparentemente, simula um
centro ou um ser a partir do qual as negociações e controle possam ser
representados. Obviamente este indivíduo simulado pareceria ter livre arbítrio,
poder de escolha e capacidade de agir. E tudo isso para poder lidar com um mundo
que se presume ser separado. Mas existe um mundo separado? Ou é uma simulação de
individualidade gerada a partir de uma premissa falsa?
É este aparente auto-nascimento para
fora um equívoco “divino”, que, por consequência, é a mãe de uma série de outros
equívocos “divinos”, para poder o indivíduo, junto com outros, em seu aparente
auto-surgimento, também vir a acreditar e experimentar o que percebe como a
realidade do tempo e do espaço, o propósito, o destino e mesmo a divindade? E
todas essas hipóteses parecem criar uma história pessoal no tempo que
normalmente envolve um tipo ou outro de busca.
Além deste senso de separação também
parece surgir uma insatisfação inerente. Uma sensação de perda de algo, a
separação de algo profundamente inerente, indefinível. E este descontentamento
subjacente gera uma necessidade de alívio ou solução.
É possível que toda essa estória de
separação seja apenas a totalidade - aparecendo como algo aparentemente separado
da totalidade - buscando plenitude. E porque a natureza da individualidade é
encerrar-se em uma estória aparentemente separada no tempo, ela só pode
funcionar a partir desta perspectiva pessoal, dentro das limitações de seus
próprios esforços para encontrar algo para si mesmo, incluindo a realização
espiritual. Daí a atração por caminhos, fórmulas, métodos e ensinamentos sobre o
vir a ser, que prometem ao candidato uma realização pessoal.
Os candidatos se sentem como algo no
todo e por isso sua busca por iluminação se torna uma busca por algo que eles
possam adquirir e possuir. E quanto mais o candidato se esforça por agarrar,
possuir aquilo que não pode ser possuído, mais ele reforça a sua sensação de
perda e desesperança.
Tony Parsons
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