STONEHENGE NÃO ESTARIA LIGADA À RITUAIS PAGÃOS E UFOLOGIA


 (Manul Vaquero Lefanso/Divulgação)



Pesquisas desbancam teses que ligam o Stonehenge à religiosidade e à ufologia

 Nem observatório astronômico nem templo de rituais pagãos. E, muito menos, um complexo construído por extraterrestres. O misterioso e fascinante monumento de Stonehenge, na Inglaterra, teria sido erguido para unificar os muitos povos que, entre 5 mil e 2,5 mil anos atrás, viviam na Grã-Bretanha. Foram 10 anos de pesquisas arqueológicas envolvendo cinco universidades britânicas para se chegar a essa conclusão. A equipe de cientistas fez escavações, analisou dados históricos e, sob a luz do contexto socioeconômico e cultural da época, descartou as muitas teorias que, até agora, dominavam a origem dos enormes blocos de pedras azuis localizados a 135 quilômetros de Londres.

Há cerca de 6,5 mil anos, a Grã- Bretanha e ilhotas próximas emergiram do oceano, onde permaneceram por milênios depois de um período de aquecimento global. No fim da Idade da Pedra, populações do continente começaram a migrar para lá e, já na Idade do Bronze, havia diversas tribos, sobre as quais pouco se sabe devido à falta de registros escritos e aos poucos remanescentes arqueológicos. Algumas boas pistas nos arredores, porém, ajudaram o grupo de cientistas do Projeto Stonehenge Riverside, iniciado em 2003, a construir uma nova teoria.

Mike Parker Pearson, pesquisador da Universidade de Sheffield e porta-voz do grupo, conta que, ao longo de uma década, foram escavadas regiões próximas, revelando um interessante padrão sociocultural. Diferentemente de outros aglomerados populacionais da época, na Grã- Bretanha, os habitantes pareciam seguir um padrão. “Das casas aos artefatos e materiais usados, das Ilhas Orkney à costa Sul, nós temos um mesmo estilo, um sinal de coesão muito forte. Você não encontra diferenças regionais. Só o fato de Stonehenge ter sido construído já nos mostra que o esforço foi coletivo. Imagine centenas de homens erguendo e movendo milhares de pedras de lugares muito longe até lá. E, diferentemente do Egito, cujo trabalho era executado por escravos, não havia escravidão nessa época na Grã-Bretanha. As pessoas estavam fazendo aquilo porque queriam”, explica.

De acordo com o especialista, cada pedra significava, provavelmente, uma tribo dominante da região. “Era como se quisessem mostrar: ‘Veja, nós fizemos isso juntos, somos muitos grupos, mas de um povo só’”, diz. Pearson afirma que, apesar de todas as teorias místicas, não há nada de sobrenatural no monumento. “Quem conhece a pré-história britânica sabe que há muitos outros complexos monolíticos na região, construídos antes mesmo de Stonehenge. Não há nada de anormal em Stonehenge, trata-se de um estilo arquitetônico muito característico da ilha”, diz.

Isso exclui uma outra possibilidade já levantada, a de os antigos britânicos terem se inspirado no Egito para construi-lo. “Isso, absolutamente, não é verdade. Se Stonehenge foi inspirado em outros complexos, a inspiração estava lá mesmo, na Grã-Bretanha. Aliás, no Período Neolítico, os bretões nem tinham contato com o restante da Europa, imagine com o Egito. Eram povos muito isolados e não parecem ter trocado influências nem tecnologias. Enquanto os demais europeus já usavam ferramentas de metal e a roda, por exemplo, eles não pareciam, naquela época, conhecer essas novidades. Quanto à teoria dos extraterrestres, bem, isso é algo que sempre me perguntam e acho engraçado. Não há motivos e muito menos evidências para acreditarmos nessa teoria nonsense.”

Astronomia Se o motivo da construção foi uma prova da unificação dos bretões, isso não exclui a ideia de que Stonehenge também está associado à astronomia. Embora, de acordo com o Projeto Stonehenge Riverside, um observatório planetário não tenha sido a função original do complexo, o local tampouco foi escolhido a esmo. “As pedras realmente se alinham com o sol, nos solstícios de verão e de inverno”, diz. “Achamos que, para as pessoas daquela época e que viviam naquela região, Stonehenge parecia ser o centro do mundo.”

Líder do Grupo de Estudos de Arqueologia na Universidade de Bournemouth, que também faz parte do projeto, Timothy Darvill acredita que, além das observações astronômicas, Stonehenge foi usado posteriormente, por populações que não participaram de sua construção, como centro de cura e peregrinações. Autor do livro Stonehenge: A biografia de uma paisagem (tradução livre, obra não publicada no Brasil), Darvill defende que, nos solstícios de inverno, pessoas de toda a Grã-Bretanha rumavam para lá, como romarias.

Temos estudado há muitos anos as montanhas de Preseli, que pareciam bastante especiais para os povos pré-históricos. Nessa região, há fontes consideradas sagradas, que jorram das pedras azuis e, há até pouco tempo, no século 18, as pessoas achavam que essas pedras tinham poder curativo”, diz. Para ele, os antigos bretões acreditavam em uma divindade que se mudava para a Grã-Bretanha no inverno e teria capacidade de curar os males do corpo. ]

“Muitos dos esqueletos escavados nas proximidades de Stonehenge apresentam sinais de doenças, como fraturas. Então, isso nos leva a pensar que elas se dirigiram para lá com o objetivo de pedir um auxílio a essa divindade.”

Ao longo dos séculos
O mais importante complexo monolítico da Inglaterra não foi criado de uma só vez. Confira as principais etapas da construção:

3.100 a.C.: na primeira fase de construção, havia um fosso e os buracos de Aubrey, 56 buracos que formam um círculo de 284m de diâmetro, com cerca de 1m de largura e de profundidade cada um. Em algumas dessas valas, cobertas por terra e cal, foram encontrados ossos. Isso não quer dizer que Stonehenge fosse um cemitério, mas, provavelmente, foi palco de alguns ritos religiosos. Por um milênio, aparentemente o local ficou abandonado.

2.150 a.C.: pedras vulcânicas chamadas de pedras azuis são transportadas das montanhas Preseli, no Sudeste de Gales, até o monumento. Algumas pesavam 4t e, provavelmente, foram carregadas primeiramente por trenós até o porto de Milford Haven e, depois, transportadas por jangadas ao destino final, Salisbury. Era uma viagem de 240 quilômetros. Uma vez no sítio arqueológico, as pedras foram dispostas na estrutura circular.

2.000 a.C.: chegam blocos de arenito, trazidos de Malborough Downs, a 25 quilômetros de distância de Stonehenge. O maior deles pesava 50t e deve ter sido transportado por trenós e cordas. Cálculos mostram que seriam necessários 500 homens para puxar uma única pedra e mais
100 para colocá-la no trenó. As pedras de arenito também foram dispostas no círculo.

1.500 a.C.: na fase final, o círculo tomou a forma que se mantém
até hoje. O número original de pedras de arenito deveria ser 60, mas muitas foram removidas ou quebradas.

Fonte:
www.stonehenge.co.uk, site oficial do complexo

Paloma Oliveto - Correio Braziliense
Publicação: 15/07/2012

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