REZAR OU ORAR , EIS A QUESTÃO

 


É sabido entre os brasileiros que os evangélicos 'oram' e os católicos 'rezam' para denotar uma conversa com Deus. Afinal, existe alguma diferença entre esses dois verbos?

O verbo rezar vem do latim recitare (que significa "recitar", como "recitar uma oração" ou "recitar uma súplica"), enquanto orar vem do latim orare (que significa simplesmente "falar", *um orador é aquele que fala a todos). No entanto, apesar dessas diferenças em suas origens, rezar e orar tomaram o mesmo significado com o passar do tempo. Em inglês, por exemplo, o verbo to pray é usada para as duas coisas, orar e rezar. Em italiano, usa-se pregare que significa suplicar.

Aqui no Brasil, os evangélicos consideram que rezar é uma oração tradicionalmente católica, em que a pessoa repete várias vezes as mesmas palavras para falar com Deus. Para os católicos, rezar pode ser recitar uma reza ou simplesmente falar com Deus.

Essa diferenciação acabou virando uma guerra desnecessária para saber quem fala melhor com Deus. Grande parte dos evangélicos argumentam que os católicos fazem errado em rezar repetindo as mesmas palavras, isso tudo por causa deste trecho da bíblia:

"Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos."
(Mateus 6, 7)

O terço católico, por exemplo, é uma repetição de orações; assim como é uma repetição as palavras "aleluia" e "senhor" nas orações e cultos evangélicos. No entanto, até Jesus 'rezou' ou repetiu várias palavras para falar com Deus-Pai. Vejam este trecho quando Ele estava no jardim de Getsemâni, antes de Judas o trair:

"E, afastando-se de novo, orava dizendo a mesma coisa."
(Marcos 14, 39)

Ou seja, se fosse aqui no Brasil, Jesus estaria 'rezando'. Então, devemos orar repetindo as mesmas palavras ou não? Depende.

Vou responder primeiro porque é bom rezar repetindo palavras:

Experimentos científicos com freiras no momento em que rezavam o terço já mostraram que a repetição de várias palavras durante um certo período de tempo funciona como uma meditação, em outros termos, segundo o significado tradicional de meditação cristã, funciona como um "instrumento facilitador de autoconhecimento e de ampliação da consciência para uma apreensão maior do conhecimento revelado por Deus em Cristo". Ou seja, nesse sentido, orar repetindo as mesmas palavras é bom, mas não é uma comunicação eficaz com Deus, é uma comunicação com a nossa alma, uma busca interior por conhecimento, uma forma de apaziguar nosso coração, elevar nossa espiritualidade, assim como fez Jesus no jardim do Getsemâni.

E porque não devemos repetir as mesmas palavras na oração na comunicação direta com Deus? Simples. Em uma conversa com Deus, a resposta é porque Ele já sabe do que queremos antes de Lho pedir. Isso é mostrado claramente na continuação de Mateus 6,7 exemplificado anteriormente:

"[...] Não sejais como eles (os gentios), porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes...[...]"
(Mateus 6, 8)

E depois disso Jesus nos ensina a oração do Pai-Nosso. É lógico, a oração do Pai-Nosso é um exemplo de como devemos orar, não significa que existe uma fórmula exata para uma oração bem-feita, o que importa é falarmos com Deus e estarmos buscando nossa ligação com Ele. Qualquer outra oração parecida é válida também. Jesus só nos alerta sobre as repetições nas orações exatamente para nos mostrar que Deus sabe perfeitamente do que nós precisamos antes mesmo de falar com Ele e que, portanto, que a nossa oração seja apenas de agradecimento, que não seja uma oração egoísta, que seja uma oração para glorificar Seu nome e de lembrar a nós mesmos que estamos entregues em Suas mãos. Se estamos repetindo essas palavras ou não, o que importa? São elas repetições vãs, inúteis? Afinal, quanto mais queremos estar em contato com Deus de maneira positiva, vale o esforço, não é verdade?

A paz a todos!

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