O MANTRA INDIANO DA PLENITUDE - PURNAMADAH


Um dos mantras que mais me inspiram em minha prática diária (sādhana) é o Pūrṇamadaḥ. Na primeira vez que li sua tradução fui arrebatado por sua poesia repleta de significados, os quais nos elevam a um novo nível de interação com a vida.

Ele é classificado como śāntiḥ Mantra (Mantra da Paz). Sua recitação evoca uma atmosfera de tranquilidade, em meio á turbulência de pensamentos e ações que por vezes povoam nosso estado mental, assim removendo obstáculos diários (colocados pela mente).

Estes hinos fazem parte das Upanishads e seus significantes estão incorporados na mitologia hindu, seja em forma de prece, poesia ou filosofia.

Uma de suas características é a repetição palavra śāntiḥ três vezes no término de sua recitação. A palavra śāntiḥ significa paz e à cada repetição evocamos três diferentes planos:

Adhi Bhautika – Físico
Adhi Daivika – Divino
Adhyātmika – Interno.

Estes três aspectos representam o tapa-traia, ou seja: as três classes de problemas que permeiam nossas vidas.

Em uma interpretação livre podemos dizer que esta invocação nos remete: “Que a paz esteja presente nas ações que realizamos (físico). Que sobre nós (e nossos queridos) recaiam Bênçãos (divino) de paz e que ela viva em nossos corações e mentes (interno).


No texto é dito:



pūrṇam – perfeito, pleno
adas – aquilo
idaṁ – isso
pūrṇat – do perfeito
udacyate – que vem
pūrṇasya – da perfeição
ādāya – retirando
eva – permanece
avaśiṣyate - permanece

Neste mantra a palavra mais utilizada é pūrṇa, palavra esta que evoca plenitude e/ou perfeição.

Sua tradução é:

Om. Isto é perfeito*, aquilo é perfeito. Do perfeito surge o perfeito. Se retirarmos do perfeito tudo aquilo que é perfeito, mesmo assim, o que permanece é perfeito.

obs: * na tradução deste mantra temos duas opções de palavras: perfeito Pūrṇa e/ou pleno.


Certa vez recitei este mantra para uma amiga, que disse: -“ ah, isso é demais pra mim!” para ela nada daquilo fazia o menor sentido. “- Como assim: se retirarmos o que é perfeito, mesmo assim, aquilo que permanece ainda é perfeito?”

Realmente. Temos aí um paradoxo. A filosofia hindu nos mostra que, em meio a essa dicotomia, na verdade não há falta, nem divisão e que tudo está conectado (yoga).

Para explicar melhor este mantra trago duas imagens:

O oceano

Podemos contemplar toda a vastidão oceânica e dizer que ele é pleno e perfeito em riqueza mineral e vida. No entanto, se tirarmos tudo dele, deixando apenas uma simples gota, mesmo assim, o que permanece representa o todo (sua plenitude em riqueza mineral).

Gosto também da imagem do ser humano.
Podemos compreender a vastidão biológica como algo realmente misterioso e perfeito. Sangue, água, células, ossos, tecidos, fibras, etc... mas se retirarmos tudo isso, deixando apenas um simples fio de cabelo, seu DNA irá representar toda a estrutura genética daquele indivíduo.

Na vida passamos constantemente por situações onde nos deparamos com perdas e julgamos que tudo foi por água abaixo, contudo, no momento em que contemplarmos a plenitude (pūrṇa) percebemos que tudo é perfeito e, mesmo quando tudo é retirado, ainda sim, o que permanece é perfeito.

Conecte-se com este lindo mantra e traga a plenitude para as suas ações diárias.

Fonte:texto por Sandro Shankara

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