A DIFÍCIL ARTE DE PERDOAR




A DIFÍCIL ARTE DE PERDOAR
No dia-a-dia, vivemos, acertamos, erramos e tantas vezes, ao menor sinal de erro, nos cobramos, mas nem sempre somos humildes o suficiente para pedir desculpas, ou mesmo capazes de desculpar...
Sempre me considerei uma pessoa simples, com enorme facilidade de relacionamento, seja com crianças, adolescentes, jovens ou idosos; de qualquer opção sexual ou credo, de qualquer raça ou cor.
Hoje percebo que essa simplicidade que tenho no “ mundo exterior” não é a mesma que tenho com as minhas relações internas.Nossa! Como busco a perfeição, quanto me cobro, quanto sofro... tantas vezes em vão.
Não é à toa que tenho dificuldades com o perdão... Como posso desculpar outrem, se não desculpo meus próprios erros, minhas falhas?
Sempre fiz o possível para não errar, para não ter do que pedir desculpas, por achar que desculpar não apaga da lembrança nem do coração o ato motivador da mágoa.
Hoje já não sou / estou tão radical, um amigo me fez ver que os atos de pedir desculpas / desculpar, são mais que exercícios de humildade, são atos de renovação / modificação, um refazer, um transformar...
Ainda não sou capaz de transformar o mármore nem o bronze em belas esculturas / obras de arte, não sou capaz de pedir / dar perdão com cores renovadas, formas específicas.
Estou em evolução, viva, e enquanto há vida, há esperança de mudar...
Um dia ainda serei capaz de dominar a difícil arte do perdão, sem mágoas e / ou culpas.




Fernanda Maria

POR QUE PERDOAR , NÃO GUARDAR MÁGOA


Em todos os caminhos de crescimento humano, tanto psicológico quanto espiritual, uma ênfase especial é dada à questão da mágoa. Não só pelo sofrimento que ela produz, mas também pelo transtorno que provoca nos relacionamentos.
Qualquer que seja o nome que damos a esse sentimento, seja mágoa, rancor, ressentimento ou vingança, ele se caracteriza pela amargura na alma, uma sensação de injustiça a partir do mal que alguém nos fez.
Além da dor, o componente fundamental da mágoa é a sua permanência. É uma incapacidade de parar de sofrer, mesmo com o passar do tempo.
E como é impossível levar nossas vidas sem sermos machucados pelas outras pessoas, de vez
em quando, tendo em vista a imperfeição da natureza humana,corremos o risco de acumular feridas e nos tornarmos pessoas amargas, desiludidas e sofredoras.
A mágoa é uma forma de guardarmos para depois coisas que não queremos resolver na hora.
Uma das características da vida é que ela só pode ser vivida no presente. O passado e o futuro, apesar de existirem na nossa cabeça, não têm existência real.
Seria uma grande tolice imaginarmos que podemos respirar para amanhã, que podemos viver ontem. O natural é que as coisas sejam vividas, mesmo as ruins, no momento em que elas ocorrem.
O sentimento de raiva, que é natural, tem o objetivo de nos ajudar a resolver nossos problemas, incluindo as ofensas, traições ou quaisquer outros atos que as pessoas produzam.
Quando somos inibidos na nossa raiva, quando temos medo de expressá-la, ela esfria dentro de cada um de nós e se transforma em mágoa.
Mágoa é toda a raiva que ficou para depois. É a raiva dentro da geladeira. É o medo de resolvermos nossos conflitos com outras pessoas no momento em que aparecem.
Guimarães Rosa define, magistralmente, a mágoa no seu livro Grande Sertão Veredas: “Mágoa é lamber frio o que o outro cozinhou quente demais para nós”.
A pessoa rancorosa apresenta as seguintes dificuldades: aceitar a imperfeição humana, idealizando uma realidade onde as pessoas nunca falhem com ela; expressar a raiva na colocação clara do seu desagrado diante do outro; viver o momento presente, sendo extremamente apegada ao passado.
Por isso, quem guarda mágoa, em geral, é também um saudosista e culposo, características dos que vivem no passado.
Uma vez, porém, instalada a mágoa, só nos resta uma saída: o perdão. Se a mágoa nos envenena e machuca, o perdão nos alivia e cura.
Pode-se medir a sanidade psicológica de alguém por sua capacidade de perdoar. O perdão é a ponte que nos faz sair da depressão para a alegria: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido”.
Por que tanta dificuldade em perdoar? Porque há equívocos em torno do perdão que dificultam o exercício dele.
Primeiramente há uma crença falsa de que o beneficiário do perdão
é a pessoa que nos ofendeu. O perdão é algo bom para quem perdoa. Perdoar é ficar livre da dor causada pelo outro. É ficar livre daqueles que nos magoaram. É um presente dado a mim mesmo.
Em segundo lugar, há uma idéia igualmente falsa de que, ao perdoarmos, devemos esquecer o mal que nos fizeram e voltar a ter com a pessoa o mesmo relacionamento de antes. Perdoar não é esquecer. É apenas parar de sofrer.
“Devemos, porém, aprender com a experiência e podemos, a partir daí, escolher qual relacionamento teremos com o ofensor”. Perdoar não significa fazer de conta que nada aconteceu. Pelo contrário, temos de levar em conta a experiência, revendo a relação, e por isso mesmo, nos livrando do sofrimento.
Perdoar os outros é o presente que oferecemos a nós mesmos.
Chega de carregar na alma as ofensas e os que nos ofenderam.


Texto  de Roy Lacerda do blog MomentoBrasil 

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